CAPÍTULO 04

1984 Words
NATHALIE Nunca imaginei que ficar frente a frente com o homem que você amou tanto e te magoou seria tão penoso. Pensei que seria fácil, mas enganei-me completamente. Eu sei que ainda amo o Christian, mas não imaginei que seria na mesma intensidade de antes. Sinto que poderia até perdoá-lo, porém do que iria valer a minha promessa? A minha mágoa pelo que ele fez é enorme, gigantesca, e sabe uma coisa que me dá raiva? Eu não consigo sentir raiva dele! Irônico, não? A única coisa que tenho por ele é um grande ressentimento. Sabe o que me motiva mais a ir adiante com essa vingança? As p************s que ele me disse. Cada uma daquelas palavras reverbera em minha mente e são como facas no meu peito. Sei que posso parecer estar exagerando, mas é só se colocar no meu lugar para entender o que sinto. O que você faria se, além de levar um grande fora do homem que você ama, ele também a humilhasse no dia do seu aniversário? Sou tirada dos meus devaneios quando Holly aparece na porta do meu quarto; ela se aproxima e senta-se ao meu lado na cama. – Ninguém entendeu o que houve lá embaixo, mas eu entendi. – Ela diz segurando a minha mão e com a outra me estende um prato com cinco fatias de queijo. – Você ainda se lembra! – Sorri pegando uma fatia de queijo e levando à boca. – Como não lembrar? Foi a primeira garota que vi querendo afogar as mágoas em queijo. – Completou fazendo-me dar risada. É, realmente quando estou triste o que me acalma é queijo, muito estranho. Eu sou apaixonada por queijo, gosto de chocolate também, mas prefiro o queijo quando estou m*l. – Ei, sou diferente. – Tento me defender. – Sabemos disso. – Minha mãe vai me encher de perguntas. – Prossigo com nossa conversa, já imaginando o interrogatório de Dona Nicol. – Ninguém mandou dizer aquelas coisas na frente deles. – Minha amiga me alfineta e com toda razão. – Eu não consegui segurar, Holly. Eu senti necessidade de falar aquilo para ele. Eu sei que já se passaram dez anos, mas mesmo assim… – Eu desvio o olhar. – Eu entendo você. – Ela tenta me consolar. – Christian é meu irmão, mas o que ele falou para você foi duro demais, ele não tinha o direito de dizer aquelas coisas. – Eu ainda gosto dele, Holly, e isso me faz sentir raiva de mim mesma. – Estou visivelmente desapontada com meus sentimentos. – Eu sei. – Ela prossegue. – E, se isso te fizer se sentir melhor, um dia depois do seu aniversário eu dei uma bronca no meu irmão e ainda lhe dei um tapa na cara. – O quê?! – Você o quê? Holly, não... – Precisava sim, não foi essa a educação que meu pai deu a ele. Meu pai teria ficado decepcionado caso soubesse disso. – Obrigada, você não imagina como senti sua falta. – Ela sorri com minhas palavras. – Eu também senti a sua, Nath. – Era recíproco. – Holly, eu quero te pedir um grande favor. – Que favor? – Quero que você me ajude a me vingar do seu irmão. – Ela me olha surpresa. Não era para menos. – O quê? Como assim? – Quero fazer seu irmão se apaixonar por mim a ponto de tê-lo comendo na palma da minha mão. – A sua volta foi para isso? – Ela mostrava um misto de confusão e surpresa. – Não, voltei pelos meus pais e amigos, mas a sede de vingança que tenho é enorme. Quero que seu irmão sofra o que eu sofri. – Olha, Christian é meu irmão e isso é meio errado, mas ele merece. Ele já fez várias mulheres sofrerem e confesso que ver meu irmão caindo de amores por uma mulher é algo que nunca imaginaria ver, então sim, eu topo. – Holly diz com um sorriso travesso. – Você é demais. – Fiquei feliz em ter o apoio de minha amiga. – Sim, eu sei, mas Nathalie, se eu notar que isso está passando dos limites eu acabo com tudo em um instante. Independentemente do que Christian fez com você e com outras mulheres. – Ela fez uma pausa e suspirou. – Ele é meu irmão mais velho e o amo muito, estou te ajudando não por querer vingança e sim para dar uma lição nele. – Avisou. – Tudo bem. Que os jogos comecem. Antes de Holly ir embora junto com a sua família, ela disse que ia passar à noite para me levar para sair e conhecer uma boate que abriu aqui há cinco anos. Ela é a mais frequentada, pois é a única boate moderna na cidade. Depois de me despedir de todos, menos de Christian, fui para meu quarto. Observo meu antigo quarto e reparo que tudo está exatamente como deixei quando fui embora. – Pedi para que deixassem tudo no mesmo lugar, só mantemos limpo. – Concluiu minha mãe, parada na porta ao notar que eu analisava o lugar. Sento-me na cama e a chamo para sentar-se ao meu lado. Meu quarto é todo roxo e branco. As paredes são brancas com detalhes de flores de diversas cores e espécies. Minha cama é grande e com as cobertas roxas, meu closet é enorme, de duas portas grandes. A escrivaninha, que ficava ao lado da cama, continua no mesmo lugar. Deus! Como senti falta disso. – Fico feliz por isso, mãe. São muitas lembranças. – Eu estava grata pelo carinho. – Umas boas e outras ruins. – Ela diz me chamando a atenção, sabia que ela ia querer saber. – Mãe, olha, o que aconteceu lá em baixo não foi nada demais. – Óbvio que ela não acreditou nisso. – Vou te dar outra chance. – Cruzou os braços. – Mãe, você está tão linda. – Brinco. Ela me olha séria, o que me faz encolher. – Nathalie, o que o Christian te fez? – Nossa, ela é direta. – Ele me magoou muito, mãe, mas por favor deixa isso para lá. Já faz dez anos, então esqueça isso. – Tudo bem, afinal você agora é uma mulher adulta e dona do próprio nariz, não precisa mais desta pobre e velha mãe aqui. – Faz drama. – Oh mãe, eu te amo. Sempre vou precisar de você. Você e o papai são as razões da minha vida. – Eu a abraço no intuito de demonstrar o quão profundo era o sentimento. – Você diz isso agora porque ainda não tem sua própria família. – Claro que tenho, você e o papai. – Finjo-me de desentendida. – Nathalie, você entendeu. Quando é que você vai arrumar um namorado e me dar netos? – Ela logo começou. – Mãe, já conversamos sobre isso. Tudo tem seu tempo, e eu ainda não me sinto pronta para formar uma família. – Sabe que pai e mãe não são eternos. – Não diga isso, é jogar sujo, mãe. – Não é jogar sujo e sim a realidade. Você não tem nenhum namorado em Los Angeles? – Não, mãe. Não tenho tempo para isso. – Tento me justificar. – Já namorei três vezes durante esses anos e todos eles queriam apenas uma coisa, sexo, e nada mais. Eles não sabem esperar meu tempo. – Quando termino de falar, minha mãe me encara com os olhos arregalados e logo entendi o que eu acabei de falar. – Filha… Você ainda é virgem? – Ela perguntou chocada. – Sim. – Claro que eu coro. Sinto meu rosto ferver. – Isso é raro. Eu não sei se fico preocupada ou feliz. – Mamãe completa. – Bom, quer dizer, você tem vinte e seis anos e ainda é virgem! Nossa, seu pai faria um carnaval se soubesse disso. – Sim, eu sei. Nunca me senti à vontade a ponto de t*****r com um cara. Nunca consegui sentir aquelas sensações gostosas a ponto de t*****r, aquele friozinho na barriga, a excitação. – Droga! Acho que falei demais outra vez. – Se você nunca sentiu então como sabe dessas coisas? – Questionou desconfiada. – Bom... Eu senti, uma vez, mas já faz anos. – E foi com o Christian, mas ela não precisa saber disso. – Entendi. – Falou ainda mais desconfiada. Depois de conversar mais um pouco com a minha mãe, recebo uma ligação de Holly dizendo que irá passar às vinte horas em casa para sairmos. Olho no relógio e vejo que são 17h30, então decido ir me arrumando com calma. Primeiro vou até minhas malas, despejando o conteúdo delas em cima da cama. Escolho um vestido preto, com um decote em V nas costas e um pequeno decote na frente, que vai até a metade das minhas coxas e modela bem minhas curvas. Pego meus famosos e preferidos saltos pretos com o solado vermelho e os coloco em cima da cadeira afastada. Direciono meu olhar para a escrivaninha e acabo vendo uma foto em um porta-retratos que me chama a atenção e traz boas lembranças. Na foto estamos Christian e eu, juntos e felizes. Foi tirada cinco meses antes do meu aniversário, no dia em que eu, ele e Holly fizemos um piquenique na fazenda dos Mello. Ele viu Holly e eu sentadas no jardim fazendo o piquenique e acabou juntando-se a nós. Eu já o amava bem antes disso, contudo ele me tratou com imensurável carinho nesse dia, nunca me esqueço. “– Gente! Me esperem um pouco, preciso ir ao banheiro. – Falou Holly saindo em disparada para casa, deixando somente Christian e eu; adorei ficar a sós com o homem que amava, queria que fosse recíproco... – Como você está, Nath? – Perguntou Christian, me fazendo sair dos meus devaneios naquele momento. – Estou bem. – Sinto corar, como ele é lindo! – Holly me falou que você está tentando conseguir uma bolsa de estudos em uma faculdade. – Sim, mas acho que não vou conseguir... quero dizer, eu sou muito nova e já terminei os estudos e há pessoas que não aceitam isso. – Mas é claro que você vai conseguir! Além de ser um doce de menina é muito inteligente, eles seriam idiotas se não te aceitassem. – Quando Christian pega na minha mão, sinto uma eletricidade passar pelo meu corpo e acabo corando ainda mais; olho para ele, que tem os olhos fixos em mim, e não sei o que acontecia de fato, mas nenhum dos dois conseguia desviar os olhos do outro. – Você é tão bonita. – Ele diz tocando o meu rosto. Nossa, seu toque é tão suave e bom. – Obrigada. – Por que você tem que ser tão nova? – Ele perguntou, mas acho que ele estava indagando a si mesmo. Era estranho o modo como falava. – Desculpe, não entendi. – Finjo-me de desentendida. – Nada! Deixa, estou pensando alto... Vamos tirar uma foto para lembrarmos deste momento? – Pegou a câmera. – Por quê? – Porque sim, quero sempre me lembrar deste dia. – Christian parecia rir de uma piada interna. Ele pega a câmera Polaroid e tira uma selfie de nós dois, ele tira mais outra e me entrega uma delas. – Uma para mim e outra para você. – A foto ficou boa. – Digo olhando para a foto. – Sim, ficou. Agora eu vou tirar uma só sua, você está linda. – Ele posiciona a câmera. – Chris, não, eu não... – Por favor. É só uma, eu prometo. – Como dizer não para esse homem? – Está bem. – Me posiciono e sorrio para a câmera. Ele tira a foto e a pega colocando-a no bolso. – Ei! Deixe-me ver como ficou. – Protesto. – Não. Deixa-a aqui, eu quero ela para mim. Quando eu ia perguntar o porquê, Holly acaba chegando e não consigo mais perguntar...” NÃO MUITO LONGE DALI... CHRISTIAN Deito na minha cama com a foto que tirei de Nathalie em um piquenique meses antes do seu aniversário. Ela estava linda com um vestido estampado e com os cabelos loiros presos em uma trança de lado. Simplesmente nunca vou me esquecer dessa data, pois foi o dia em que percebi que eu realmente gostava de você, minha doce Nathalie! – Por que não corri atrás quando tive chance? – Pergunto-me, mesmo já sabendo a resposta. Porque foi um covarde que teve medo do que todos iriam pensar de você, porque é um infeliz covarde. Você perdeu, Christian. Você a perdeu para sempre por ser um i*****l covarde.
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