NATHALIE
Nunca imaginei que ficar frente a frente com o homem que você amou tanto e te magoou seria tão penoso. Pensei que seria fácil, mas enganei-me completamente. Eu sei que ainda amo o Christian, mas não imaginei que seria na mesma intensidade de antes. Sinto que poderia até perdoá-lo, porém do que iria valer a minha promessa? A minha mágoa pelo que ele fez é enorme, gigantesca, e sabe uma coisa que me dá raiva? Eu não consigo sentir raiva dele! Irônico, não? A única coisa que tenho por ele é um grande ressentimento. Sabe o que me motiva mais a ir adiante com essa vingança? As p************s que ele me disse. Cada uma daquelas palavras reverbera em minha mente e são como facas no meu peito. Sei que posso parecer estar exagerando, mas é só se colocar no meu lugar para entender o que sinto.
O que você faria se, além de levar um grande fora do homem que você ama, ele também a humilhasse no dia do seu aniversário?
Sou tirada dos meus devaneios quando Holly aparece na porta do meu quarto; ela se aproxima e senta-se ao meu lado na cama.
– Ninguém entendeu o que houve lá embaixo, mas eu entendi. – Ela diz segurando a minha mão e com a outra me estende um prato com cinco fatias de queijo.
– Você ainda se lembra! – Sorri pegando uma fatia de queijo e levando à boca.
– Como não lembrar? Foi a primeira garota que vi querendo afogar as mágoas em queijo. – Completou fazendo-me dar risada.
É, realmente quando estou triste o que me acalma é queijo, muito estranho. Eu sou apaixonada por queijo, gosto de chocolate também, mas prefiro o queijo quando estou m*l.
– Ei, sou diferente. – Tento me defender.
– Sabemos disso.
– Minha mãe vai me encher de perguntas. – Prossigo com nossa conversa, já imaginando o interrogatório de Dona Nicol.
– Ninguém mandou dizer aquelas coisas na frente deles. – Minha amiga me alfineta e com toda razão.
– Eu não consegui segurar, Holly. Eu senti necessidade de falar aquilo para ele. Eu sei que já se passaram dez anos, mas mesmo assim… – Eu desvio o olhar.
– Eu entendo você. – Ela tenta me consolar. – Christian é meu irmão, mas o que ele falou para você foi duro demais, ele não tinha o direito de dizer aquelas coisas.
– Eu ainda gosto dele, Holly, e isso me faz sentir raiva de mim mesma. – Estou visivelmente desapontada com meus sentimentos.
– Eu sei. – Ela prossegue. – E, se isso te fizer se sentir melhor, um dia depois do seu aniversário eu dei uma bronca no meu irmão e ainda lhe dei um tapa na cara. – O quê?!
– Você o quê? Holly, não...
– Precisava sim, não foi essa a educação que meu pai deu a ele. Meu pai teria ficado decepcionado caso soubesse disso.
– Obrigada, você não imagina como senti sua falta. – Ela sorri com minhas palavras.
– Eu também senti a sua, Nath. – Era recíproco.
– Holly, eu quero te pedir um grande favor.
– Que favor?
– Quero que você me ajude a me vingar do seu irmão. – Ela me olha surpresa. Não era para menos.
– O quê? Como assim?
– Quero fazer seu irmão se apaixonar por mim a ponto de tê-lo comendo na palma da minha mão.
– A sua volta foi para isso? – Ela mostrava um misto de confusão e surpresa.
– Não, voltei pelos meus pais e amigos, mas a sede de vingança que tenho é enorme. Quero que seu irmão sofra o que eu sofri.
– Olha, Christian é meu irmão e isso é meio errado, mas ele merece. Ele já fez várias mulheres sofrerem e confesso que ver meu irmão caindo de amores por uma mulher é algo que nunca imaginaria ver, então sim, eu topo. – Holly diz com um sorriso travesso.
– Você é demais. – Fiquei feliz em ter o apoio de minha amiga.
– Sim, eu sei, mas Nathalie, se eu notar que isso está passando dos limites eu acabo com tudo em um instante. Independentemente do que Christian fez com você e com outras mulheres. – Ela fez uma pausa e suspirou. – Ele é meu irmão mais velho e o amo muito, estou te ajudando não por querer vingança e sim para dar uma lição nele. – Avisou.
– Tudo bem. Que os jogos comecem.
Antes de Holly ir embora junto com a sua família, ela disse que ia passar à noite para me levar para sair e conhecer uma boate que abriu aqui há cinco anos. Ela é a mais frequentada, pois é a única boate moderna na cidade. Depois de me despedir de todos, menos de Christian, fui para meu quarto. Observo meu antigo quarto e reparo que tudo está exatamente como deixei quando fui embora.
– Pedi para que deixassem tudo no mesmo lugar, só mantemos limpo. – Concluiu minha mãe, parada na porta ao notar que eu analisava o lugar. Sento-me na cama e a chamo para sentar-se ao meu lado.
Meu quarto é todo roxo e branco. As paredes são brancas com detalhes de flores de diversas cores e espécies. Minha cama é grande e com as cobertas roxas, meu closet é enorme, de duas portas grandes. A escrivaninha, que ficava ao lado da cama, continua no mesmo lugar. Deus! Como senti falta disso.
– Fico feliz por isso, mãe. São muitas lembranças. – Eu estava grata pelo carinho.
– Umas boas e outras ruins. – Ela diz me chamando a atenção, sabia que ela ia querer saber.
– Mãe, olha, o que aconteceu lá em baixo não foi nada demais. – Óbvio que ela não acreditou nisso.
– Vou te dar outra chance. – Cruzou os braços.
– Mãe, você está tão linda. – Brinco. Ela me olha séria, o que me faz encolher.
– Nathalie, o que o Christian te fez? – Nossa, ela é direta.
– Ele me magoou muito, mãe, mas por favor deixa isso para lá. Já faz dez anos, então esqueça isso.
– Tudo bem, afinal você agora é uma mulher adulta e dona do próprio nariz, não precisa mais desta pobre e velha mãe aqui. – Faz drama.
– Oh mãe, eu te amo. Sempre vou precisar de você. Você e o papai são as razões da minha vida. – Eu a abraço no intuito de demonstrar o quão profundo era o sentimento.
– Você diz isso agora porque ainda não tem sua própria família.
– Claro que tenho, você e o papai. – Finjo-me de desentendida.
– Nathalie, você entendeu. Quando é que você vai arrumar um namorado e me dar netos? – Ela logo começou.
– Mãe, já conversamos sobre isso. Tudo tem seu tempo, e eu ainda não me sinto pronta para formar uma família.
– Sabe que pai e mãe não são eternos.
– Não diga isso, é jogar sujo, mãe.
– Não é jogar sujo e sim a realidade. Você não tem nenhum namorado em Los Angeles?
– Não, mãe. Não tenho tempo para isso. – Tento me justificar. – Já namorei três vezes durante esses anos e todos eles queriam apenas uma coisa, sexo, e nada mais. Eles não sabem esperar meu tempo. – Quando termino de falar, minha mãe me encara com os olhos arregalados e logo entendi o que eu acabei de falar.
– Filha… Você ainda é virgem? – Ela perguntou chocada.
– Sim. – Claro que eu coro. Sinto meu rosto ferver.
– Isso é raro. Eu não sei se fico preocupada ou feliz. – Mamãe completa. – Bom, quer dizer, você tem vinte e seis anos e ainda é virgem! Nossa, seu pai faria um carnaval se soubesse disso.
– Sim, eu sei. Nunca me senti à vontade a ponto de t*****r com um cara. Nunca consegui sentir aquelas sensações gostosas a ponto de t*****r, aquele friozinho na barriga, a excitação. – Droga! Acho que falei demais outra vez.
– Se você nunca sentiu então como sabe dessas coisas? – Questionou desconfiada.
– Bom... Eu senti, uma vez, mas já faz anos. – E foi com o Christian, mas ela não precisa saber disso.
– Entendi. – Falou ainda mais desconfiada.
Depois de conversar mais um pouco com a minha mãe, recebo uma ligação de Holly dizendo que irá passar às vinte horas em casa para sairmos. Olho no relógio e vejo que são 17h30, então decido ir me arrumando com calma. Primeiro vou até minhas malas, despejando o conteúdo delas em cima da cama. Escolho um vestido preto, com um decote em V nas costas e um pequeno decote na frente, que vai até a metade das minhas coxas e modela bem minhas curvas. Pego meus famosos e preferidos saltos pretos com o solado vermelho e os coloco em cima da cadeira afastada. Direciono meu olhar para a escrivaninha e acabo vendo uma foto em um porta-retratos que me chama a atenção e traz boas lembranças.
Na foto estamos Christian e eu, juntos e felizes. Foi tirada cinco meses antes do meu aniversário, no dia em que eu, ele e Holly fizemos um piquenique na fazenda dos Mello. Ele viu Holly e eu sentadas no jardim fazendo o piquenique e acabou juntando-se a nós. Eu já o amava bem antes disso, contudo ele me tratou com imensurável carinho nesse dia, nunca me esqueço.
“– Gente! Me esperem um pouco, preciso ir ao banheiro. – Falou Holly saindo em disparada para casa, deixando somente Christian e eu; adorei ficar a sós com o homem que amava, queria que fosse recíproco...
– Como você está, Nath? – Perguntou Christian, me fazendo sair dos meus devaneios naquele momento.
– Estou bem. – Sinto corar, como ele é lindo!
– Holly me falou que você está tentando conseguir uma bolsa de estudos em uma faculdade.
– Sim, mas acho que não vou conseguir... quero dizer, eu sou muito nova e já terminei os estudos e há pessoas que não aceitam isso.
– Mas é claro que você vai conseguir! Além de ser um doce de menina é muito inteligente, eles seriam idiotas se não te aceitassem. – Quando Christian pega na minha mão, sinto uma eletricidade passar pelo meu corpo e acabo corando ainda mais; olho para ele, que tem os olhos fixos em mim, e não sei o que acontecia de fato, mas nenhum dos dois conseguia desviar os olhos do outro.
– Você é tão bonita. – Ele diz tocando o meu rosto. Nossa, seu toque é tão suave e bom.
– Obrigada.
– Por que você tem que ser tão nova? – Ele perguntou, mas acho que ele estava indagando a si mesmo. Era estranho o modo como falava.
– Desculpe, não entendi. – Finjo-me de desentendida.
– Nada! Deixa, estou pensando alto... Vamos tirar uma foto para lembrarmos deste momento? – Pegou a câmera.
– Por quê?
– Porque sim, quero sempre me lembrar deste dia. – Christian parecia rir de uma piada interna.
Ele pega a câmera Polaroid e tira uma selfie de nós dois, ele tira mais outra e me entrega uma delas.
– Uma para mim e outra para você.
– A foto ficou boa. – Digo olhando para a foto.
– Sim, ficou. Agora eu vou tirar uma só sua, você está linda. – Ele posiciona a câmera.
– Chris, não, eu não...
– Por favor. É só uma, eu prometo. – Como dizer não para esse homem?
– Está bem. – Me posiciono e sorrio para a câmera. Ele tira a foto e a pega colocando-a no bolso.
– Ei! Deixe-me ver como ficou. – Protesto.
– Não. Deixa-a aqui, eu quero ela para mim.
Quando eu ia perguntar o porquê, Holly acaba chegando e não consigo mais perguntar...”
NÃO MUITO LONGE DALI...
CHRISTIAN
Deito na minha cama com a foto que tirei de Nathalie em um piquenique meses antes do seu aniversário. Ela estava linda com um vestido estampado e com os cabelos loiros presos em uma trança de lado. Simplesmente nunca vou me esquecer dessa data, pois foi o dia em que percebi que eu realmente gostava de você, minha doce Nathalie!
– Por que não corri atrás quando tive chance? – Pergunto-me, mesmo já sabendo a resposta.
Porque foi um covarde que teve medo do que todos iriam pensar de você, porque é um infeliz covarde. Você perdeu, Christian. Você a perdeu para sempre por ser um i*****l covarde.