Eles nunca mais se viram desde então. Piettro respeitou a decisão de Graziella, e não voltou a procurá-la. Mas depois daquela separação inesperada, morreu algo dentro de si. Entregar-se a sentimentos não era do seu feitio, mas diante dela, ele se sentiu vulnerável. Estava disposto a se entregar totalmente. A rejeição o deixou devastado, já que sempre foi um homem acostumado a ter tudo nas suas mãos. Nunca foi negado por nenhuma mulher, mas Graziella não era uma mulher qualquer. Ela era a mulher que lhe tirou do eixo e a primeira — e única — a despertar sentimentos mais profundos. Era ela, ele sabia. Ela que levaria a sua alma do inferno para o céu. Mas, ela o negou. E nada podia ser feito para mudar essa realidade.
Depois daquela noite, Portinari passou a ocupar os seus pensamentos com os negócios e dedicar-se inteiramente à máfia. Tornou-se ainda mais c***l e impiedoso com os inimigos e traidores. Com Antonella não foi diferente. Ele, de uma certa forma, a culpava pela sua infelicidade. Ele não a procurava mais, não importava os esforços que a loira fizesse. Tentou se divorciar várias vezes, mas ela não aceitava. Preferia suprir o amor pelos dois e sustentar o casamento frustrado a se separar dele. Para ela, o divórcio nunca seria uma opção. Se era por amor ou status, isso não importava. Aquela situação era sufocante demais para o loiro e o deixava uma pilha de nervos.
Com um tempo, Antonella também mudou, se tornou uma mulher má, c***l, fria e calculista, ela não tolerava as vadias que davam em cima do seu homem, e quando descobria, ela castigava-as deixando claro a quem o loiro pertencia. Ela era amarga e desprezível, usava da sua posição para humilhar todos ao seu redor, na verdade, ela nunca foi uma pessoa boa, sempre fez papel de boa moça para conquistar a sogra, porém se existia alguém que Carlota Portinari detestava era a sua querida norinha. Luiggi e Alessandro estavam ao lado do amigo desde sempre, e puderam presenciar a sua mudança. Era como se não mais existisse Piettro Portinari, ali habitando o corpo do amigo, só existia o Boss, dom da Cosa Nostra.
O tempo foi passando e Antonella não engravidava, também o seu marido não mais a possuía e isso ficava cada vez mais impossível de acontecer. Piettro já não ansiava em ter um herdeiro, apesar da sua mãe sempre ficar no seu pé quanto a isso, mas ele não conseguia se ver como figura paterna, como um bandido, assassino e c***l iria cuidar de algo tão puro quanto uma criança? Preferia deixar as coisas como estavam.
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Decorreram 2 anos desde que Graziella saiu daquele baile, deixando o seu coração para trás. Até hoje, não sabia explicar o que sentia quando estava ao lado dele. Não sabia se era apenas desejo, t***o ou algo mais. Sentia como se o seu corpo e a sua alma não a pertencessem. Era como se Piettro a possuísse de todas as maneiras. Quando ela viu ali a dor estampada nos olhos daquela mulher, ela não suportou e partiu. Afinal, ele pertencia a outra mulher e ela era a amante, por mais que desejasse se entregar a esse sentimento avassalador era errado. Então, mentiu para si, para ele, e negou o seu amor. O que mais doeu em Graziella, foi o olhar de tristeza naqueles lindos olhos azuis. Só existiu uma coisa que a fez suportar estar longe dele, naquela noite em que eles fizeram amor, rendeu frutos, um lindo menininho que por ironia do destino era a cara do pai.
No início foi difícil, ela até tentou procurar Piettro, mas parece que o destino resolveu brincar com os amantes desafortunados. Nunca se encontraram.
Então, resolveu seguir sua vida, teria o seu bebê e o amaria intensamente. Era um pedaço do seu grande amor que crescia dentro dela, e apenas isso a fazia feliz. Teve o apoio das suas amigas-irmãs, Mia e Carina, que foram fundamentais.
A gestação de Graziella foi bem delicada, Matteo era muito grande para o corpo da morena, ela teve que se afastar do seu trabalho e isso mexeu um pouco com o seu emocional. Quando segurou o seu filho nos braços pela primeira vez, e viu as semelhanças com o pai, chorou, por algo que nunca teve, e desejou por um momento que ele estivesse ali, ao lado deles. A sua mãe Patricia, quis saber quem era o pai do seu neto, Graziella sempre desconversava sobre isso, e quando o seu pequeno raio de sol nasceu, pode saber o que era amar incondicionalmente alguém pela primeira vez, e prometeu com o seu filho nos braços que o protegeria.
Atualmente Graziella morava em Tóquio, assim que descobriu a gravidez achou melhor se mudar, não queria arriscar cruzar com o loiro pelas ruas da Itália. A sua melhor amiga Mia foi com ela, sabia da dificuldade da amiga em conseguir alguém de confiança para cuidar de Matteo e como não tinha laços que a prendessem na Itália, resolveu partir com a amiga e o afilhado. Carina também foi junto, se formou em ‘design’ e se tornou sócia da amiga.
–- Grazi, o senhor Giovanni ligou novamente. Ele quer que você desenhe as peças da coleção de Semana de moda de Paris. — disse Carina. Graziella suspirou. Estava correndo desse contrato, porque se assumisse, teria que ir para Itália e temia o encontrar novamente.
— Não sei …. Não tô querendo aceitar.
— Grazi, está maluca? Garota, isso é um salto que você daria na sua carreira amiga. A semana de moda em Paris. Carina suspirou e falou logo em seguida: — Grazi amiga, já se passaram 3 anos, acha mesmo que ele vai lembrar de você se a ver novamente? A morena olhou para a amiga e não conseguiu disfarçar a sua tristeza. — Sei que não gosta de falar sobre isso, mas o Matteo está crescendo e ele vai querer conhecer o pai um dia. Será que não é esse o momento?
— Carina… eu não sei amiga. Tenho medo da reação dele… e se ele não aceitar o meu filho ou duvidar da paternidade?
— Fala sério né Grazi, olha, eu nunca conheci esse tal de Piettro ,mas o Matteo não tem nada seu, então deve ser no mínimo a cara do pai. — Falou Carina sendo sarcástica. — olha só amiga, faz o seguinte, aceita essa proposta, voltamos para Itália e você deixa as coisas acontecerem. O que me diz?
— Acho que você tem razão. Chega de fugir, eu tenho que encarar os meus medos por mim e pelo meu filho.
— Muito bem garota! Agora, vou ligar para confirmar que você aceitou e acho melhor organizar o passaporte do loirinho, porque Paris, aí vamos nós! — gritou Carina. Graziella apenas sorria da empolgação da amiga, mas por dentro o seu coração batia de forma descompensada no peito. Será que ele havia esquecido? Ou será que ele também como ela lembrava? Será que essas sensações que ela sentia, eram sentidas por ele também? Não importa mais, ela iria para Paris ,e teria que ficar cara a cara, com o seu maior medo e com o seu maior desejo.