Capítulo 5 - Pote de sorvete

1155 Words
Safira Peguei no sono umas duas vezes e logo em seguida acordei, por algum motivo estava muito inquieta. Bom, colocando na balança tudo o que está acontecendo nas últimas horas, duvido que qualquer pessoa normal fosse conseguir dormir tranquilo. O homem estranho, que nem sei o nome, estava mexendo no celular e depois pegou um notebook. Pode soar engraçado, mas eu nunca tive acesso a internet e a nenhum tipo de tecnologia. Meu pai era um homem limitado e eu m*l e porcamente sei ler e escrever. Me sinto envergonhada por isso, muito envergonhada, mas sei que a culpa não é minha e sim da pessoa arcaica que me criou. Em sua visão mulheres tinham que ser limitadas mesmo. Acredito que o medo dele era que eu fosse como aquela mulher assustadora do jantar, mas eu jamais seria daquele jeito, duvido muito que eu leve jeito para ser *assassina, pegar em facas e armas. _ Tu vas bien? _ Que ? As palavras dele soaram como uma pergunta mas não entendi nada. Ele me pegou em flagrante encarando suas mãos ágeis no teclado. Eu estava sentada em poltronas mais distantes dele, nem percebi que ele me viu encarando-o. _ Ah, perdão, esqueci que você não fala minha língua. Perguntei se você está bem. _ Ah, sim, estou sim. Ele deu um sorriso gentil e eu retribui. Pouco tempo depois ele levantou de seu assento e eu pude perceber que ele é um homem bem alto, mas não é nada assustador. Ele caminhou pro fundo do avião e eu me afundei na minha poltrona confortável, mas não havia nenhuma chance de eu conseguir dormir. Olhei pela janela e acabei deixando uma lágrima rolar. Infelizmente não tenho para quem correr, nem sequer tenho uma mãe. _ Petit, você gosta de sorvete? A voz dele se fez presente ao meu lado. Virei meu rosto e ele estava com um pote enorme de sorvete e duas colheres. Sorri largamente. _ Nossa, eu adoro sorvete! Falei enquanto me ajeitava no banco. Ele sorriu e sentou ao meu lado, colocou o sorvete entre nós dois e me deu a outra colher. Começamos a comer e a cada colherada era como se minha alma viajasse pra um mundo encantado de sabor e alegria. _ Nossa, nem me lembro a última vez que comi sorvete.. Falei enquanto enfiava outra colher cheia na boca. _ Mas você é uma criança, crianças comem sorvete. Disse ele com tranquilidade. Eu dei uma risada meio amarga, mas o doce na minha boca me fez arrepiar inteira. Que *delícia ! _ Sou uma criança diferente então. Respondi. _ Sinceramente, seu pai não parecia ser um bom homem. Disse ele. _ Ele não era. Era pai porque foi obrigado a ser, eu acho. Ele precisava de uma moeda de troca, por isso me deixou viva todos esses anos. Falei tranquilamente. Esse sempre foi o único objetivo dele e todos sabiam, ele nunca teve amor por mim. _ Hum, então ele não era afetuoso com você? _ Não, nunca foi. Ele não pareceu ficar incomodado com a nossa conversa, então aproveitei que minha boca estava quase congelada e soltei a língua. _ Eu recebi mais carinho das empregadas do que dele, minha vida inteira foi assim. Graças a elas que eu aprendi a ler e a escrever. Ele virou bruscamente o rosto em minha direção. Ele ergueu uma sobrancelha e eu encarei bem seus olhos. Que lindo.. _ Você não frequentava a escola? Perguntou ele. _ Não. Nem aulas particulares, papai não queria pagar mas também não queria arriscar que eu fugisse ou virasse uma *p********a. Bom, pelo menos era isso que ele sempre dizia. Agora sim vi um desconforto nele e me senti incrivelmente culpada. Eu nem sei se esse homem é como meu pai, como eu posso ser tão descuidada em falar essas coisas pra ele? Um estranho.. _ Desculpa, não queria incomodar você.. Me desculpei enquanto largava a minha colher na bandeja. _ Não precisa se desculpar Safira, em minha casa você terá tudo o que foi privada de ter até agora. Disse ele enquanto bagunçava meus cabelos. Acabei sorrindo. Será que realmente ele vai ser bom?? Bom, Olivia não me entregaria pra qualquer um. Só espero que ela esteja certa. _ O que deseja fazer petit? Qual é seu maior sonho? Perguntou ele enquanto entregava o pote de sorvete e as colheres para um soldado que estava passando. _ Hum, acho que ler e escrever melhor, talvez tocar algum instrumento.. ah, eu queria muito aprender a dançar. Falei tudo junto e com entusiasmo. Ele sorriu e assentiu. _ Então, você fará tudo isso, e se quiser ainda mais ! Vamos realizar seus sonhos, faço questão! Disse ele com um sorriso meigo no rosto. _ Obrigado.. qual o seu nome? _ Marcel. Disse ele enquanto levantava. Ele sorriu mais uma vez e caminhou para o lado oposto que havia caminhado quando foi buscar o sorvete. Acabei rindo feito uma i****a. Eu nem sei se ele vai cumprir mesmo, mas poxa, eu acho que tenho o direito de sonhar né? Me afundei no banco mais uma vez e fechei meus olhos. (...) Meus olhos estavam fechados, eu estava em um sono profundo, mas senti mãos em mim. _ Hum.. Resmunguei ao abrir os olhos. Um homem gigante e careca estava tentando mexer no meu sinto, acabei tomando um susto ao ver seus olhos vazios e negros. Ele me encarou me deixando totalmente em pânico. _ Safira? A voz de Marcel preencheu meus ouvidos. Olhei para o lado e ele estava nas outras poltronas me encarando. Eu estava totalmente em pânico, totalmente. Marcel soltou seu sinto e fez um sinal para o homem que saiu. _ Pode ficar tranquila, aqui ninguém tocará você de maneira maliciosa. Ele estava apenas fechando seu cinto pois estamos prestes a pousar. Explicou Marcel enquanto habilmente apertava meu cinto. As mãos dele me incomodaram bem menos do que as mãos do homem careca. _ D-desculpa.. a última vez que acordei assim, com alguém mexendo em mim acabei tomando um susto.. Ele parou o que estava fazendo e olhou nos meus olhos. Será que falei demais? _ Alguém.. alguém mexendo em você? _ Sim, mas não vem ao caso. Desconversei olhando para a janela. Ele terminou de apertar o cinto, só que dessa vez sentou ao meu lado. _ Benicio é grande e assustador, mas será meu braço direito. Não precisa ter medo dele. Eu sorri meio forçado, então Marcel se aproximou do meu ouvido e sussurrou. _ E ele nem gosta de meninas. Disse ele com um sorriso gentil. Acabei rindo feito uma boba. Meu pai *odiava *homossexuais e eu nunca entendi o motivo. Cada um sabe o que faz do próprio corpo. Enquanto o avião pousava, fechei meus olhos e fiz uma prece rápida. Senti Marcel segurar minha mão carinhosamente. Espero que ele seja um homem realmente bom, estou depositando minhas esperanças nele..
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