Capítulo 4 - Safira

1073 Words
Safira Eu estava quieta no meu quarto, lendo um livro qualquer enquanto meu pai estava ocupado, como sempre. Eu nunca convivi com a minha mãe e sempre que eu pergunto sobre ela meu pai fala alguma coisa diferente. Eu já desisti a muito tempo de enfrentá-o, eu sempre tomo uns tapas porque ele não tem um pingo de consideração comigo. Pra ele eu sou apenas uma mercadoria, uma coisa que se possa trocar por outra coisa, e nesse caso eu sei exatamente qual será o negócio. Nessa noite acontecerá um jantar, meu pai me pediu para ficar impecável. Limpa e bem arrumada. Eu passo oitenta por cento dos meus dias aqui dentro desse quarto, e por passar tanto tempo certo dia decidi mudar algumas coisas de lugar e encontrei uma passagem secreta. Parece coisa de filme, mas é real ! Nossa casa é muito antiga, nem sei ao certo quem construiu, mas duvido que meu pai saiba sobre a passagem. Eu ando bem pensativa, ainda sou uma criança e não conseguiria me virar na rua, preciso esperar mais alguns anos. Sei que as meninas da máfia se casam aos 18 anos, então até lá preciso estudar uma maneira de fugir dessa vidinha. Provavelmente, me amando da maneira que me ama, meu pai me casará com um maluco, velho e f**o. É o que mais tem na nossa organização falida. Ah é, esqueci de mencionar que meu pai é um péssimo administrador e que estamos quase falidos. Eu escuto apenas sussurros pelos corredores, mas o pouco que eu sei já diz bastante sobre a *m***a que vivemos. Conforme o dia ia passando eu me sentia mais nervosa. Alguns carros estacionaram e eu não tive tempo de ver quem era. Me arrumei rápido e da maneira que dava, até porque minhas roupas não são novas, mas eu procuro cuidar bem delas. Coloquei um vestido rodado que ganhei no ano passado, mas ainda me servia. Penteei meu cabelo e coloquei um par de brincos que gosto muito. _ Entre. Falei quando ouvi uma batida na porta do quarto. Uma das poucas empregadas que restou na casa, Adelaide, entrou com um sorriso forçado nos lábios. _ Esta na hora minha menina. Disse ela com ternura. _ Você sabe porque o papai quer me apresentar assim? Tão repentinamente? Eu sabia, ela sabia, todos sabiam. _ Não. Disse ela. Eu apenas balancei a cabeça concordando. Descemos as escadas em silêncio, de longe eu conseguia ouvir a voz enjoativa do meu pai. _ E por falar em jovem, aí está minha menina, Safira. Disse ele enquanto apertava meus ombros. Observei todos na mesa, todos extremamente esquisitos. Principalmente a mulher sentada na ponta da mesa. É nítido que ela é perigosa, será que meu pai não percebeu? Olhei para os soldados e não reconheci deles, será que são novos? Eu conheço quase todos, são gentis mas cegos e apoiam meu pai em suas loucuras. _ Safira é minha jóia preciosa, e quero entregá-la a você em casamento. Se fecharmos negócios hoje, você já pode levá-la. Disse meu pai com a maior naturalidade e com um sorriso no rosto. O pavor começou a me consumir. Como assim me levar ainda hoje ? Ele está tão desesperado assim por poder ? _ E quantos anos ela tem? Perguntou à mulher estranha. _ Treze. Respondi com a voz mais baixa do que o desejado. _ Me parece uma proposta excelente! Disse o homem sentado próximo da mulher. Ele estava com um sorriso zombeteiro nos lábios, mas seus olhos azuis são bem expressivos. Sou uma menina que repara muito nas pessoas, talvez esse seja meu erro. _ Concordo plenamente querido. Disse ela ao secar a taça. _ E então, temos um acordo? _ Claro, temos sim! Meus olhos se encheram de lágrimas. _ Ótimo, faça suas malas. Disse papai. Subi as escadas correndo. Adelaide veio atrás de mim me pedindo calma. _ Calma? Como posso ter calma? Você viu aquele homem?Aquela mulher? Comecei a amontoar as poucas roupas dentro das malas que Adelaide estava me dando, mas precisei de uma só. _ Eu vou fugir, não posso ir com aquele homem e muito menos com aquela mulher.. tem alguma coisa estranha Adelaide.. _ Ah menina, pare de reparar,você tem que parar! Está ficando cada dia mais perigosa essas suas deduções. Ouvimos um barulho estranho. _ Nos trancaram.. Sussurrou Adelaide ao tentar abrir a porta. Eu sabia, eu sabia que tinha alguma coisa estranha. (...) Um soldado me trouxe pra um hotel estranho. Tentei fugir pela passagem, mas Adelaide me segurou e disse que seria pior, que era melhor eu esperar. Óbvio que achei uma ideia ridícula mas quando eu ia fugir o soldado entrou no quarto. Não consegui ver e nem ouvir nada, foi tudo muito rápido.. A porta do quarto foi aberta. Meu coração quase disparou ao ver a mulher, agora, suja de sangue. Mas sangue de quem ? _ Vou ser rápida e objetiva. Você pode ir comigo para a Colômbia, ficar até os dezoito anos em um convento, ou iniciar um treinamento de soldado e quando terminar estará pronta pra me *m***r e vingar seu papai querido.. Ofereceu a mulher com um sorriso horroroso no rosto. Acho que agora sei quem ela é.. _ Ou você pode vir comigo e viver em minha casa por quanto tempo precisar. Não vou tocar em você, não gosto de crianças. Pode escolher em quais escolas quer estudar e vou lhe prestar suporte no que você quiser e precisar. Ofereceu o homem, calmamente. A dúvida estava dançando em meu rosto e o medo também. _ Escuta garota, ele não vai tocar em você porque se ele fizer isso ele vai ter um fim muito trágico, mas se quiser vir comigo não posso manter você na minha casa, é perigoso e você pode decidir me *m***r a qualquer momento. Enfim, quero que você escolha logo, não tenho a noite toda. Disse a mulher com raiva. Ela fez uma cara tão assustadora que eu quase caí pra trás. Minha única reação foi correr e abraçar aquele homem estranho. Ele era o único ali que parecia ser um pouco normal. _ Très bien, vamos partir. Disse ele acariciando meus cabelos. Caminhamos até outro carro preto e fizemos um trajeto curto até um aeroporto. Ele me lançou um sorriso carinhoso mas infelizmente não consegui retribuir. Imagino o que aconteceu com meu pai, só não imaginava que fosse acontecer tão cedo..
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