Marcel
Safira é uma criança bonita e muito nova. Mesmo com essa pouca idade ela já carrega as marcas de uma sociedade maldosa e corrupta.
Infelizmente existem milhões de Safiras pelo mundo, e não somente em organizações mafiosas como a minha ou a do México, existem no mundo inteiro.
Quando ela colocou os pés na mansão seus olhos assustados percorreram tudo, procurando o perigo iminente.
_ Não precisa ficar preocupada, aqui ninguém vai maltratar você.
Falei enquanto colocava minha mão em seu ombro gentilmente. Ela me olhou e sorriu. Senti algo dentro de mim esquentar. É como se eu tivesse me tornado pai, e espero ser o pai que eu nunca tive.
_ Vou lhe mostrar a cozinha. Mandarei deixarem sempre um pote de sorvete no refrigerador pra você.
Ela me seguiu quase que correndo. Alguns soldados subiram com uma única mala. Pensei que meninas tivessem mais coisas que homens.
Apresentei para safira as cozinheiras, empregadas mas não apresentei os soldados, achei desnecessário porém ela olhou atentamente para cada um deles.
_ Não precisa se preocupar com eles. Temos alguns soldados de Olivia na nossa organização, eles vão proteger você cegamente se necessário, mas acredito que não vá precisar.
_ Eu sei, é que.. bom, eu sou boa em decorar rostos.
Disse ela com a voz docemente baixa.
_ Ah é? Isso é bom. Talvez um dia você assuma a sua organização. Saber quem sao seus soldados é muito importante.
_ Eu sei, meu pai não era bom com isso, por isso morreu.
Disse ela com naturalidade. Caminhamos em direção às escadas e depois para os quartos.
_ Sinto muito que voce tenha passado por tanta coisa com essa pouca idade. Uma criança deveria ser defendida com unhas e dentes. A infância deveria ser a melhor parte.
Ela deu uma risada baixa e eu a encarei curioso. Safira olhou dentro dos meus olhos.
_ Eu sou uma adolecente. E bom, nunca fui criança de verdade. Mas tudo bem, não me faz falta.
Disse ela com um leve sorriso no rosto. Ela realmente não parecia incomodada com o fato de ter tido uma parte importante da vida usurpada.
Se eu pudesse teria tido uma infância. Eu queria muito ter jogado games, corrido em praças e ter recebido um pouco de carinho. Mas ao invés disso recebi cobranças, treinamentos e crueldades. Foi um início de vida difícil, só espero viver o suficiente para conseguir aproveitar um pouco.
_ Muito bem então senhorita adolecente, aqui é seu quarto.
Abri uma porta e mostrei a ela o enorme quarto que pedi de última hora que decorasse com ursos de pelúcia e cobertores e tapetes rosa. Safira começou a rir e eu cocei a cabeça. Escolheram um rosa gritante que fez meus olhos doerem. Haviam ursos de pelúcia de vários tipos, tamanhos e cores.
_ Aquilo é uma giraffa?
Perguntou Safira enquanto encarava um animal de pelúcia enorme ao lado da cama.
_ Acho que sim. Tem um pescoço longo..
Me aproximei da pelúcia, é ridiculamente grande e é quase do meu tamanho. Safira correu e o abraçou. Pra mim com certeza foi a coisa mais bonita que já vi em anos. Ela com um sorriso enorme enquanto afundava o rosto do bicho.
_ Se quiser podemos comprar mais.
Falei enquanto procurava lugar no quarto para se colocar ursos de pelúcia, mas pelo o que vi já estava tudo repleto de bichos.
_ Se entrar mais um ursinho nesse quarto terei que dormir do lado de fora.
Disse ela rindo. A risada mais bonita que já ouvi em toda minha vida. Ela largou a girafa e me deu um abraço. Confesso que fui pego desprevenido.
_ Obrigado senhor Marcel.. obrigado..
Disse ela meio chorosa. Agora o sorriso bonito havia sido substituído por lágrimas. Espero que sejam de alegria. Sentei na cama ainda com ela agarrada a mim. Sou um cara comprido e a cama é alta. Safira é pequena então facilmente continuamos nosso abraço.
_ Não há o que agradecer. Darei tudo o que você precisa petit.
Acariciei os cabelos dela e a apertei contra meu peito. Ela soluçou, chorou mais um pouco e quando se acalmou a coloquei sentada na cama.
_ Você tem somente aquilo?
Perguntei enquanto apontava para uma mala pequena.
_ Sim.
Disse ela enquanto limpava as lágrimas.
_ Mas.. tão pouco?
_ Papai não tinha muito dinheiro para comprar roupas e essas coisas de mulher. As meninas que trabalhavam na casa me presentearam às vezes.
Disse ela sem parecer dar muita bola. Observei que a roupa dela parecia velha, mas mesmo em trapos ela ainda é a criança mais bonita que já vi. Ou melhor, adolecente.
_ Vamos dar um jeito nisso. Não posso dizer que no momento minha máfia é multimilionária, mas darei a você tudo que estiver ao meu alcance. Ainda amanhã vamos comprar roupas para você e outras coisas que uma adolecente precisa.
Levantei e caminhei até a porta.
_ Sinta-se à vontade para andar pela casa. Você está segura petit, fique tranquila !
Fechei a porta e a deixei ter privacidade. Algumas coisas que ela falou estão martelando na minha cabeça e preciso descobrir mais. Talvez um psicólogo possa ajudar. Não acho que o pai dela tenha feito algum tipo de ato com ela, mas outra pessoa sim..
Espero profundamente estar errado.