A noite passada foi terrível, eu e Olívia brigamos, conversamos, ela chorou muito ao saber do meu casamento e de que meu pai quer que eu abra mão dela e do nosso relacionamento.
Quase não dormi e estou com uma dor de cabeça terrível.
Nesse momento estou saindo do galpão depois de torturar e matar um infeliz estuprador, terei que passar em casa, acabou sujando minha camisa branca de sangue. Pego meu terno e entro no carro.
— Theo? — Chamo meu chefe de segurança.
— Sim chefe?
— Retire esse lixo daí e jogue em qualquer lugar.
— Pode deixar comigo.
Apenas aceno e arranco com o carro.
Já é noite e estou sem vontade nenhuma de ir para casa, não quero ter que ver Olívia chorando e ter que ouvir suas lamentações. Sei que ela está sofrendo, também estou, mas neste momento eu não posso fazer nada.
Meu pai nem quis conhecê-la, não me deu nem chance de falar e explicar direito a situação. Amo meu coroa, po, meu pai é meu ídolo, mas é difícil demais lidar com ele, cabeça dura.
Não quero e não vou abrir mão da Olívia, me casarei, conforme meu pai quer, vou herdar o trono e continuarei com minhas obrigações, como sempre, mas eu não vou conseguir esquecê-la e nem deixar que ela vá embora.
É complicado, posso até decepcionar meu pai, coisa que eu não quero, mas não posso largar essa mulher, eu a amo.
Estou andando em zigue-zague com o carro, não sei para onde ir, quando me dou conta estou em frente ao escritório da minha mãe, decido estacionar e entro.
A secretária não anuncia minha entrada, ela me informa que minha mãe está sozinha e eu aviso que não precisa informar que estou aqui.
— Mãe? — A chamo quando entro na sua sala.
— Filho, que bom que você veio — Ela se levanta e me abraça.
— Está linda mamãe, como sempre.
— Coisa linda — Acaricia meu rosto com delicadeza, como sempre faz — O que te trouxe aqui? Senta, vamos conversar um pouco. Quer beber alguma coisa?
— Não, obrigado. — Me sento e ela se senta ao meu lado.
— O que está te afligindo meu filho?
— Me conhece tão bem, né?
— Você saiu de mim.
Quase não consigo acreditar que fui gerado dentro dessa mulher tão linda, minha mãe é magnífica demais!
— Estou com problemas mamãe.
— Que problemas? Com seu pai?
— Digamos que sim.
— O que houve? — Ela parece ansiosa para saber o que está acontecendo.
— Terei que me casar…
— É, to sabendo.
— Papai já havia te falado? E ele falou quem era?
— A filha do Tom.
— Você já a viu?
— Só quando era bebê.
— Por que escondem essa garota?
— Isso seu pai não me falou, está com medo de que ela seja feia? — Pergunta rindo.
— Não mãe, não é isso. Estou apaixonado, apaixonado por outra pessoa.
— Deixe-me adivinhar, a menina que mora no seu apartamento?
— Como sabe?
— Meu filho, eu te conheço. Você se afastou, soube que tinha algo de errado, seu pai também sabia, só estávamos esperando você nos contar.
— Por que nunca disseram nada?
— Como eu disse, estávamos esperando você nos falar.
— Ah mãe, não queria jantar vocês com isso, sabia que papai não ia gostar.
— Não me chateia meu bem, mas agora você tem um problema, um enorme problema para resolver.
— Eu sei, na verdade eu não sei o que fazer.
— Já foi sincero com a garota?
— Olívia, o nome dela é Olívia.
— Já foi sincero com a Olívia?
— Sim.
— E ela?
— Chorou muito, está sofrendo tanto quanto eu com essa situação, aliás, eu diria que está sofrendo até mais.
— Filho, infelizmente não é possível, você será um homem comprometido, essa moça não pode viver com você, que futuro poderá dar a ela? Nenhum. E outra, a moça com quem se casará não pode passar por isso, ela não tem culpa de nada, pensa que sofrimento você trará para essas duas? E até mesmo para você?
— Não sei o que fazer mãe — Passo as mãos pelo rosto nervoso — Não consigo abrir mão dela, não consigo.
— Filho, me casei com seu pai contra minha vontade, eu tinha pavor dele — Sorri ao lembrar o início do seu relacionamento com meu pai — Eu queria me casar com alguém por amor, queria me apaixonar e escolher com quem fosse me casar, não podia imaginar que meu pai faria isso comigo, me entregaria para um homem tão c***l, mas sabe que hoje eu agradeço por isso? Eu amo seu pai, não consigo imaginar minha vida sem ele e sabe o que eu descobri? — Presto atenção em tudo que ela está falando — Descobri que amor é construção, a gente precisa construir todos os dias, colocar tijolo por tijolo, consegue compreender? Ninguém olha para outra pessoa e fala “eu a amo” assim do nada, é preciso conhecer, é preciso conviver. Agora paixão não, paixão é diferente. Tente diferenciar o que sente por essa menina, a Olívia.
— Obrigada mãe, eu te amo! — Beijo o dorso da sua mão.
— Eu te amo muito mais meu filho, estarei sempre aqui, estarei sempre ao seu lado.
— Vou indo nessa, quer carona para casa?
Me levanto e ela se levanta também.
— Não, seu pai vai me buscar, vamos sair para jantar.
— Tá bom.
Beijo sua testa e vou embora.
Minha mãe e meu pai são muito apaixonados e estão sempre fazendo programas de casal românticos.
Decido ir para casa, estou cansado.
Passo em frente a loja e vejo a mesma menina sentada, olhando para o céu, como na noite anterior.
Estaciono do outro lado da rua e vou até ela.
— Boa noite — Me sento ao seu lado e ela sorri.
— Boa noite Luigi, sempre por aqui.
— Olha, você lembra meu nome — Brinco.
— Como esqueceria? Você me disse ontem — Agora ela me olha e seus olhos são tão brilhantes, tem cor de mel/folha seca, não sei explicar — O que faz aqui?
— Passei por aqui e te vi sentada, fica aqui todas as noites?
— Gosto de olhar a noite, me sinto livre.
— Entendo — Olho para o céu como ela está fazendo — Se sente presa?
— Bastante. Consigo sair um pouco durante a noite e então gosto de vir pra cá, olhar para o céu, a imensidão deste céu azul me faz acreditar que existe um mundo imenso e lindo.
— E existe.
— Já viajou muito Luigi? — Sua atenção retorna para mim.
— Um pouco.
— Muitos lugares bonitos?
— Bastante. Nunca viajou?
— Não.
— Uma pena, o mundo realmente é muito grande e tem lugares muito bonitos.
— Um dia irei conhecer — Sorri doce e esperançosa.
— Espero que sim — Me levanto — Já está tarde, vou indo nessa, acho melhor você entrar, pode ser perigoso.
— Tá bom — Ela se levanta e eu fico encantado, essa garota é muito bonita, olha esse cabelo — Boa noite Luigi! — Abre um sorriso mais iluminado do que a luz que nos ilumina.
— Boa noite Jasmine.
— Olha, você lembra meu nome — Me imita.
— Como esqueceria? Você me disse ontem — A imito também — Estará aqui amanhã? — Não sei porque fiz essa pergunta.
— Sim, estarei.
— Então até amanhã Jasmine.
— Até Luigi.
Volto para o carro, a olho mais uma vez antes de sair. Não sei porque disse que iria voltar amanhã, não sei porque me sinto bem quando me sento aqui nesses poucos minutos e converso com ela.
Eu m*l a conheço, que coisa estranha.