Duas noites seguidas que vejo o mesmo homem, o conheci no dia em que ele veio comprar bolo na loja da minha mãe, seu nome é Luigi, bem bonito, feito para ele, combina perfeitamente, o homem é um gato, meu Jesus, além de lindo, é cheiroso ao extremo.
Alto, bem alto, ele é forte, não muito musculoso, eu diria musculoso na medida certa, seus cabelos são pretos, olhos claros, barba bem feita, terno feito sob medida — sei disso pois são parecidos com o do meu pai.
O cheiro que emana dele é fascinante, bem másculo, mas ao mesmo tempo suave, dá para entender? Nem eu estou entendendo direito.
Estou aqui deitada na cama pensando nele e sentindo seu cheiro que ficou impregnado em minhas narinas.
Amanhã é meu aniversário, faço dezoito anos e sinceramente? Não sei o que me espera.
Meu pai sempre deixou claro que eu já estava prometida a um homem, apenas concordei, minha mãe me criou para obedecer e não ficar fazendo perguntas ou questionando meu pai ou qualquer outra pessoa.
Ou seja, nunca vi, não sei o nome e nem quantos anos meu futuro marido tem.
Tenho um relacionamento muito bom com meu pai e meu irmão, já não posso dizer o mesmo da minha mãe, não posso ser ingrata e dizer que ela me maltratou ou deixou coisas materiais faltarem para mim, mas acho que ela deixou o principal, o amor. Mamãe sempre se manteve um pouco mais distante de mim do que do meu irmão, penso que ela não queria ter uma menina.
Fisicamente não me pareço com ninguém da minha família, sou morena, cabelos negros e olhos cor de mel — essa é a forma como meu pai sempre me define —, totalmente diferente do meu irmão, Theo é branco como nossos pais, olhos negros e cabelos claros, quando era nova eu ficava mais encucada com isso, papai sempre me disse que eu pareço muito com a minha vó, mas também nunca vi uma foto para comparar.
Deixo esses pensamentos bobos de lado e volto a pensar no homem que conheci a duas noites atrás.
Gosto de ir ver a noite, me sinto livre nesses momentos, fujo pela janela do meu quarto quando meus pais estão dormindo, o guarda que faz a ronda aqui em casa não liga, ele fica de longe me vigiando, mas nunca contou para meu pai ou minha mãe, ainda bem, pois mamãe seria capaz de me colocar trancada em qualquer quarto e nunca mais me deixar sair.
Fico alguns minutos olhando para o céu e apreciando a beleza da noite, nesses poucos minutos eu consigo ser eu, verdadeiramente, consigo me sentir bem, me sinto livre e isso me faz tão bem.
Acordo assustada ouvindo alguém bater na porta do meu quarto, peguei no nosso ontem que nem percebi.
— Pode entrar.
— Desce, estamos te esperando — É a voz do meu irmão.
Me levanto, tomo um banho e faço toda a minha higiene matinal, coloco um vestido florido na cor azul — minha cor preferida —, e desço para tomar café da manhã.
Assim que chego na sala de jantar, sou recebida por meus pais e meu irmão, acendem uma vela que está em cima de um lindo bolo e começam a cantar parabéns.
Agradeço o carinho recebido e os presentes que eles me entregam.
— Te amo irmãzinha — Meu irmão me abraça forte.
— Também te amo!
— Feliz aniversário minha filha, eu te amo — É a vez do meu pai me parabenizar.
— Obrigada papai.
Minha mãe se aproxima com uma caixinha bem bonita e me entrega.
— Feliz aniversário filha, eu te amo — As únicas vezes que escuto isso da mamãe é no meu aniversário.
— Obrigada mamãe, eu te amo!
Abro a caixinha e fico encantada com o cordão que ela me deu, nele tem um pingente com a foto da nossa família, uma foto antiga, de quando eu e meu irmão éramos pequenos ainda.
— Lindo, eu amei — Peço para que ela coloque em meu pescoço e assim ela faz.
O restante do dia foi tranquilo, passamos em família, tomamos café da manhã juntos, com o bolo delicioso que minha mãe fez, depois ficamos na piscina, almoçamos, assistimos filme, jantamos juntos e agora estou aqui, esperando todos dormirem para que eu possa ir onde gosto de estar.
Troco de roupa e desço, passo pelo guarda que finge nem me ver e vou olhar a noite, hoje está um pouco nublado, mas a beleza ainda é nítida.
Fico alguns minutos e Luigi não aparece, ele disse que ia aparecer.
— Oi — Olho para o lado e vejo meu pai.
— Pai? — Meus olhos se arregalam, fico com medo dele brigar comigo.
— Pensou que fosse quem? — Se senta ao meu lado.
— Ninguém, só estou surpresa em vê-lo, eu já ia entrar… — Tento me explicar, mas ele me interrompe.
— Sem problemas minha filha, sei que gosta de olhar para o céu à noite.
— Sabe? — Arqueio uma sobrancelha confusa.
— Sei — Sorri docemente — Você não pensou que estava vindo aqui escondida de mim, pensou?
— Não, claro que não — Dessa vez sou eu quem abro um sorriso.
É claro que meu pai sabe, meu pai sempre sabe de tudo. Não sei como pensei que estava fazendo algo escondido.
— Tenho uma notícia e não sei se vai ser tão boa para você.
— O que?
— Amanhã vamos oficializar seu noivado.
Meus ombros caem, fico decepcionada e não consigo disfarçar minha cara de insatisfação.
— Tá bom — Volto a olhar para o céu.
— Vai ficar tudo bem filha.
— Quem é ele papai?
— O filho do Dom — Olho desacreditada.
— O que? Por que ele papai? Ele é um homem muito perigoso, porque vai fazer isso comigo?
— Ele é um homem importante, muito importante e você também é importante filha, merece alguém a sua altura, não poderia e jamais a entregaria para qualquer um, confie no seu pai, sei o que estou fazendo.
Apenas balanço a cabeça, não digo nada.
— Você é tão linda minha filha — Acaricia meus cabelos — Se parece tanto com a sua… — De repente ele para de falar e eu o encaro.
— Com quem papai? Me pareço tanto com quem?
— Sua avó.
— Sente falta dela?
— Sinto.
— Queria ter conhecido-a.
— Vamos entrar? — Muda de assunto.
— Já?
— Você precisa descansar, amanhã terá muita coisa para fazer.
— Vamos.
Nos levantamos e entramos juntos.
— Boa noite filha, eu te amo, te amo muito — Beija minha testa.
— Boa noite papai, também te amo.
Ele fecha a porta do quarto e eu fico sozinha, não consigo me conter e deixo as lágrimas rolarem.
Não quero me casar, tenho medo de que esse homem seja um monstro.