Três dias depois...
Eu não conseguia acreditar que estava aqui, ainda mais depois de não receber um convite. Mas, não tinha nada melhor que eu pudesse fazer. Eu preciso conversar com Kaio, o mais rápido possível.
Meu coração bate com força em meu peito enquanto ando até ele com a taça entre os dedos, passando por entre todas aquelas pessoas fúteis, que conversavam umas com as outras.
Desde que Kyle me deixou e foi embora, eu tenho pensando no que Kaio disse sobre o meu segredo. Até onde eu fui capaz de abrir a minha boca?
— Kaio! — Exclamo, assim que o vejo. — Finalmente encontrei você!
Eu bufo, andando até ele com passos rápidos e nada sutis.
— Procurei muito por você. — Eu franzi a testa.
— Gosto de saber que tem procurado por mim, cunhadinha. — Ele me dá um sorriso de canto.
Quase reviro os meus olhos, mas preciso que ele me diga o que ele sabe. Que tipo de informações ele tem e de qual maneira ele pode acabar me afetando negativamente.
Eu não quero que ninguém saiba coisas sobre mim — ainda mais, quando eu não sei quais são essas coisas.
— Eu gostaria muito que você me dissesse tudo o que você... — Começo, mas sou interrompida.
— O que você está fazendo aqui? — A voz grave de Kyle ecoa pelos meus ouvidos, e eu giro, o encarando.
— Kyle. — Digo, com certo desgosto na voz.
Ele tem o costume de aparecer em momentos inoportunos. Definitivamente, estou começando a perder a minha paciência com toda a sua inconveniência.
— Não me lembro de ter convidado você. — Ele faz uma careta. — Não sabe que na é qualificada para estar em um lugar de alto nível como esse? Quero dizer, olhe para você. Tenho certeza que não receberia um convite de nenhum outro parente meu.
Eu engulo em seco, sentindo diretamente toda aquela humilhação destinada a mim — mesmo que eu não tenha feito nada para merecer isso.
— Eu a convidei. — Kaio diz, chamando a atenção do irmão.
— Você o que? — Ele pergunta, levantando a sobrancelha.
— Isso mesmo, eu a convidei. — Kaio dá um gole em seu whisky. — Você tem algum problema quanto a isso?
Kyle comprime os olhos em direção ao irmão.
— Claro que sim, que direito acha que tem de convidar essa mulher para qualquer coisa? — Ele diz, a contragosto.
— Essa mulher, até onde eu me lembre, é a sua esposa. — Kaio rebate.
Não, não era. Não depois do acordo de divórcio devidamente assinado.
— Cale a merda da sua boca, antes que eu perca todo o restante da minha paciência com você. — Bufa.
— Kyle, pelo amor de Deus, não quero problemas. Preciso conversar com Kaio a sós, sem você... ainda não percebeu isso? — Franzi a testa. — Tem sido inconveniente e intrometido, está sentindo ciúmes?
— Eu? Ciúmes? De você? — Ele dá uma risada amarga. — Nunca!
— Então, saia daqui. Tenho coisas muito importantes para conversar com a minha cunhadinha. — Kaio toca meu queixo, me obrigando a olha-lo. — Já que não se importa.
Eu apenas devolvo seu olhar, tão intensamente quanto ele. Era um jogo. Bem, eu gosto de jogos... mas, definitivamente, não é esse tipo de jogo que quero jogar com alguém como Kaio.
Não sei, algo me afasta dele.
— Holly; — A voz da mãe de Kyle preenche o ambiente. — Minha querida, minha amada. Ah, como senti saudades suas.
— Senhora Mancini. — A voz enjoada me faz contorcer o rosto. — Está linda.
— Linda está você. Você brilha nesse ambiente... diferente de algumas, é claro. — Ela ri.
— Ah, assim me deixa envergonhada. — Holly dá uma risadinha, tampando a boca. — Kyle, oi!
— Holly. — Ele diz, com toda a sua devoção.
— Kaio! — Ela dá um sorrisinho.
Ele não responde, na verdade, a encara de cima abaixo com o rosto retorcido.
O silêncio foi um pouco constrangedor, mas o pior ainda estava por vir:
— Catherine, ouviu alguem falando comigo? — Ele perguntou. — Não sei, pensei ter ouvido um pss pss pss, igual de uma cobra... espero que não tenha nenhuma aqui! — Ele apoiou a mão no meu ombro.
Segurei o riso, enquanto Kyle e a sua mãe pareciam explodir pela raiva.
Kyle deu um passo em nossa direção e disse, entredentes:
— Leve ela embora! Imediatamente!
• Kyle •
— Holly, venha! Quero que conheça o meu avô! — Eu digo, enquanto seguro a sua mão com cuidado.
— Ah, sério? — Ela sorri abertamente.
Aqui estava ela. A única mulher capaz de me fazer largar tudo sobre mim para adora-la totalmente.
Holly; a mulher dos meus sonhos.
Doce, gentil, bondosa e linda. Amada por minha mãe. Não tão adorada pelo meu irmão, mas não é como se eu me importasse.
A única pessoa que eu procurava aprovação, era do meu avô. O patriarca da família. O homem que fez de nós quem somos.
O homem que ergueu e carregou divinamente — ao lado da minha avó — o nome Mancini.
Nós nos aproximamos lentamente dele, que tomava seu suco tranquilamente, sentado sobre um dos sofás, observando todas aquelas pessoas andando por todo o salão.
Ele não tinha um sorriso no rosto. Na verdade, eram poucas as vezes que sorria em público.
A sensação que tive quando seus olhos caíram sobre Holly foi ainda pior. Ele contorceu seu rosto e depois me encarou.
— Kyle. — Sua voz era rabugenta.
— Vovô, essa é Holly, minha futura esposa. — Eu digo, obrigando-a a dar um passo a frente.
— Sua o que? — Ele franze a testa enrugada. — Não me lembro dessa informação ter chegado até mim. Quero dizer, qual é a porcaria do seu problema, Kyle?
— Vovô... — eu digo, arregalando os olhos.
— A única que é capaz e que aceitarei como sua esposa é Catherine, Kyle. Nenhuma outra. — Ele se levanta, dando um suspiro longo. — Se essa mulher for se tornar a sua esposa, não precisa mais frequentar a minha casa e pode esquecer tudo, Kyle.
Ele vira de costas para mim, saindo.
— Kyle. — Holly se vira para mim, seus olhos estão marejados.
Eu nunca tinha visto meu avô ser tão duro com alguém como está sendo agora. Na verdade, não consigo acreditar que ele disse tudo aquilo mesmo.
• Catherine •
Fecho meus olhos depois de algum tempo. Agora, eu estava sozinha. Estava sozinha e podia respirar.
Não consegui falar com Kaio. Ele tinha ido embora sem me permitir perguntar mais uma vez.
Isso era horrível. Eu estava no escuro. Não conseguia entender o que é que estava acontecendo.
— Qual é o seu propósito? — Kyle perguntou, andando em minha direção.
O encarei por algum tempo e passei a mão na minha testa, exausta.
— O que quer, Kyle? — Perguntei.
— Qual é o seu propósito? — Eu pergunto. — O que você quer comigo?
— Foi você quem quebrou seu juramento, Kyle! — Reviro os olhos. — Foi você e somente você... Me prometeu um mês para que eu pudesse entregar a droga do divórcio, um mês e só foram três dias. — Faço três com os dedos. — E você já quer apresentar outra mulher para a sua maldita família.
Ele parou por algum tempo, me analisando. Em silêncio. Ou, ele podia estar em choque também.
— Você não tem direito de me questionar, Catherine. — Disse, dando as costas para mim e me deixando sozinha.
Observei enquanto ele andava até Holly, a dona de todo o seu amor e devoção.