SAMY
A noite que passei com Nico e tudo que ele havia me contado estava martelando em minha cabeça desde a noite de sábado.
Passei a semana inteira pensando naquilo, e com ele longe de mim, tudo ia se amontoando mais ainda, formando uma enorme bola de neve que ia descer a montanha e destruir tudo.
Nico foi sincero comigo, compriu o que eu pedi na nossa conversa. Mas eu, eu não. Eu não me sentia capaz de falar nada pra ele, nada do meu passado. Eu era covarde demais pra contar a ele. Eu não queria. Era doloroso. Mas eu senti o quanto havia sido r**m para ele me contar tudo aquilo. Meu drama não chegava nem perto do que ele já tinha passado com tão pouca idade.
— Eu preciso… - murmurei segurando o lápis com força. Só percebi que usava força demais quando ouvi o estalar do lápis se quebrando ao meio — que inferno…! - tentei não gritar.
— Toma… - Klaus me entregou um lápis. Ele estava sentado ao meu lado.
— Obrigada, Klaus - sorri amarelo, desviando meu olhar do seu.
— Tudo bem, Sam, você sabe, amigos são pra isso… - ele me mostrou um dos seus sorrisos perfeitos. Klaus aprecia ter saído de uma capa de revista adolescente. Ele era lindo, parecia que a cada dia ele ficava ainda mais. — Me fala, você tá bem? Tá meio voada a semana inteira…
— Ah, muita coisa na minha cabeça... - foi o que eu respondi, mas não era mentira, mesmo que não fosse verdade totalmente.
— Eu etava pensando em m***r as duas últimas aulas do dia e dá uma volta no centro, o que você acha? Podemos comprar umas roupas, comer alguma coisa... - sugeriu e eu assenti.
— Mas e a festa de mais tarde, Klaus? É sexta, esqueceu?
— Vamos toda sexta para festas, e outra, seu namorado nem está.
— Me convenceu.
Assim que a aula em que estávamos acabou, saímos.
Eu tinha chamado um uber que estava a nossa espera a pouco metros. Eu nem me dei o trabalho de avisar as meninas, eu só queria paz e uma loja cheia de roupas novas e bonitas faria isso.
Eu podia ser bem fútil e mimada sempre que eu queria. Era uma das partes mais odiosas da minha personalidade. Eu era assim antes de tudo acontecer. E ao que parece, depois daquela conversa com Noah, meu passado havia decidido me assombrar outra vez.
Quase quarenta minutos depois, o uber parou em frente ao shopping do Centro e eu e Klaus entramos no lugar praticamente correndo.
— Eu sou tão indeciso… - ele murmurou segurando duas jaquetas idênticas nas mãos. O garoto olhava com cara de choro pra mim.
— A da esquerda… - chutei ganhando um sorriso satisfeito dele.
— Ela é realmente perfeita… - Klaus jogou uma das jaquetas no sofá e vestiu a outra.
Deixei Klaus se admirando no espelho e saí andando na loja, procurando algo que me agradasse. Estava difícil. Podia não parecer, mas eu era bem exigente.
— Então, me conta… - Klaus surgiu ao meu lado e eu quase gritei assustada. - Como vai o namoro pra você? Nico praticamente anda vomitando flores.
Eu ri imaginando a cena, mas ao mesmo tempo, senti um aperto no coração.
— Bem melhor do que eu pensei que seria… - assumi pegando um vestido preto e colocando a peça na minha frente.
— Vai ficar lindo em você - ele bateu palmas — Experimenta esse também, é a sua cara - ele me disse pegando um vestido cinza de lantejoulas e eu fiz careta. Era chamativo demais, mas uma garota precisava ter algo assim no guarda-roupa. — Brincadeiras a parte, é muito bom ver meu amigo feliz, Nico é muito importante pra todos nós.
— Sim. Ele é. Ele faz falta…
— Faz. Aquela casa fica uma bagunça sem ele pra limpar! Eu não sei se eu já te falei ou se você já percebeu, mas o Nico, ele é super organizado, enquanto o Jason, parece mais um chiqueiro do qus um quarto…
Eu caí na gargalhada, vendo Klaus fingir que vomitava.
Nicolas havia ido viajar na segunda e voltaria só sábado. Era coisa da faculdade, ele e toda a turma dele iriam acompanhar um professor em uma exposição. Algo ligado à arquitetura. Ele estava muito animado para o evento.
Klaus eu compramos tudo que queríamos, rodamos o shopping inteiro, compramos de vestidos a bijuterias. Eu tinha me esquecido de como era gostoso entrar em uma loja e levar tudo que quisesse. E Klaus, deixava ainda tudo melhor. Ele era incrível, além de engraçado e dono de um bom gosto pra roupas e tudo em geral.
No final, eu paguei tudo no meu cartão, com o dinheiro da minha querida família. Klaus não gostou muito, mas depois de eu muito insistir, ele acabou cedendo aos meus encantos. Eu disse a ele que era meu agradecimento, por ele ter levantando meu astral, que estava para baixo do fundo do poço.
Estávamos na praça de alimentação. Klaus comia um hambúrguer com refri, enquanto eu, afogava minhas maguas em um milkshake de Oreo, era tudo que eu precisava, além de claro, coragem. Muita coragem.
— Klaus?
— Oi?
— Sabe, tem uma coisa que eu quero contar pro Noah. - limpei a garganta. — Essa coisa é relacionada ao meu passado, sabe, eu não gosto nem de lembrar, e eu estou com medo de falar a ele, mas, eu pedi sinceridade acima de tudo, e eu sinto que esconder isso é totalmente o contrário…
— Conta, Samy. - Klaus afastou o prato e cruzou os braços. Me senti em um sessão de terapia. — A melhor alternativa é sempre contar a verdade, mesmo que ela seja dolorosa pra caramba. É melhor que Nico saiba por você do que por outra pessoa… Eu não sei você, mas eu assisto muita novela e já vi muitos casais terminarem ou brigaram por conta se um segredo de um dos lados que foi revelado pelo vilão ou vilã da história… Então, vai por mim, conta antes que alguém chegue na sua frente e atrapalhe as coisas com ele.
— Tem razão.
— E lembra, que, o segredo pode ser o pior do mundo, mas Nico, ele vai te entender, sabe por que? - neguei. - Ele gosta de verdade de você.
— Eu também. - Sussurre.
Eu também gosto demais dele. Mais do que um dia eu imaginei que gostaria. Nico tinha de certa forma, me trazido a vida outra vez. Eu era grata a ele, e por isso e outros mil motivos, eu iria contar tudo a ele. Era o mínimo. Nico merece toda a minha sinceridade, meu afeto e também, o meu amor.