03

2235 Words
Após vestir uma roupa, voltei para a sala. Eu carregava comigo a esperança de que a garota e, principalmente, Kai, tivessem ido para bem longe daqui. O que tinha dado na cabeça do Kai de trazer uma garota para o apartamento, mesmo sabendo que eu estava aqui? Será que ele estava com tanto fogo que não conseguiu esperar para reservar um quarto em um motel? Adentrei ao cômodo, e como eu desejava, ele estava vazio. Abri um largo sorriso. Eles haviam saído. E, graças aos céus, eu estava sozinha novamente. E agora, eu poderia ficar tranquila. Aproximei-me do sofá, com uma imensa vontade de jogar-me relaxadamente nele, mas... Aquela voz... Aquela maldita voz, interrompeu o meu ato, fazendo-me cair de lado, de modo desconfortável, no sofá. ― Você tem alguma toalha para emprestar? ― perguntou a garota. E, então, eu percebi que me animei à toa ao achar que eu estava sozinha. ― Você ainda está aqui? ― arqueei as sobrancelhas e suspirei pesadamente. ― Eu não tenho toalha. Peça ao seu namorado. Respondi um pouco áspera, colocando os meus pés sobre o centro de madeira. ― Ele está no banho. Pude notar um tom de timidez em sua voz, o que soou hilário, já que há momentos atrás, se eu não tivesse os interrompido, ambos estariam transando agora. ― Relaxa, se você tiver sorte, poderá arrancar a toalha da cintura dele, e ainda, poderá ver o que tanto quer. E que está localizada entre as pernas dele. ― Acomodo-me espaçosamente no sofá. A garota apenas grunhe. ― Pode usar o banheiro, Tiffany. Como o esperado, Kai estava apenas de toalha. Ligeiramente desvio o meu olhar do seu peitoral, guiando-o à tela do meu celular sobre o meu colo. ― K-Kai! ― diz envergonhada ao vê-lo seminu. ― Está apenas de toalha. ― Não se preocupe. ― Disse suave. ― Está tudo bem. Tento prender o riso. É sério? Aquela garota ficou envergonhada porque o viu apenas de toalha? Para onde foi a garota cheia de desejo e fervor? ― E olha que estava querendo se entregar para ele há momentos atrás. E agora está surtando porque só viu a parte de cima... Imagine se visse a de baixo. ― Cochichei para mim mesma, deixando os meus pensamentos falarem alto. Kai suspira. ― Eu irei vestir uma roupa e já entrego a toalha para você. ― Avisou e seguiu caminho ao quarto. ― Tão cavalheiro... ― Cochichei novamente e ri nasalado. ― Qual o seu problema? A garota olhou para mim, completamente incrédula. ― Não tenho problema nenhum, Tiffany. ― Forcei a minha voz ao pronunciar o seu nome. ― Eu estou bem tranquila. ― Movo os ombros, em desdém. ― Por que está agindo assim? Como se não gostasse de nós? O seu questionamento quase me faz gargalhar. ― E eu deveria gostar? ― franzi o cenho e a olhei. ― Desculpa, mas, quase encontrei vocês transando. Fora que... Nem conheço vocês, para saber se gosto ou não!  ― E o que está fazendo no apartamento do Kai? ― Eu me pergunto a mesma coisa, acredita? ― digo em um ar irônico. ― Estar dividindo o apartamento com ele, foi um baita engano, mas... Infelizmente, no momento, estou precisando muito dele. Então, eu tenho que ficar. Kai volta à sala. ― Aqui está a toalha. ― Obrigada! ― a garota agradece, radiante, e depois, segue ao banheiro. ― Casais sempre tendem a serem tão irritantes assim? ― resmungo. ― E garotas, como você, tendem sempre a serem tão intrometidas assim? ― O que? ― lancei o meu olhar em sua direção. ― O que você disse? ― arqueei as sobrancelhas. ― Você deveria procurar a sua turma, Louise. E nos deixar em paz! Não consigo segurar o pequeno riso cínico que insistia em fugir de mim. Levanto-me do sofá e coloco-me frente a frente com Kai. ― Você já pensou em ir também? Huh? ― o encarei, apesar de ter que ficar com a cabeça erguida por conta da sua altura desproporcional a minha. ― Acho que conheço uma turma perfeita para você! ― Você só está perdendo o seu tempo aqui. ― Sabe... ― Pausei por um instante, fingindo estar pensativa. ― Só porque você disse para deixá-los em paz... Me deu uma vontade ainda maior de atormentá-los. ― Você é louca. ― Não vejo problema algum em possuir um pouco de loucura. Se o seu medo é esse... ― Expandi o meu sorriso cínico. ― Cuidado. Loucos fazem loucuras. ― Seus pais não te ensinaram nada sobre brincar com fogo? ― Huh! ― ri. ― Nesse caso, você que seria o fogo, certo? Mas acho que para você ser o fogo... Você não tem nada de quente. ― Desci o meu olhar debochadamente por seu corpo, de sua camisa azul marinho até a calça moletom, que apesar de ser um pouco maior que o seu tamanho original, marcava um pouco as suas coxas. ― É? ― logo um sorriso intrigante apareceu em sua boca. ― Ah, entendi. ― Umedeceu os lábios, depositando uma breve mordida em seu inferior. ― Se essa era a sua intenção, por que não disse logo? Se queria me ver como vim ao mundo, era só dizer. ― Disse astucioso, fazendo-me paralisar. ― E, então, eu teria o prazer de dizer que apenas mostro para as garotas por quem eu me sinto e******o. Que i****a! ― E-E quem disse que eu iria querer ver esse seu corpo magricela, huh? P-Pois é! E-Eu não queria! E... Nem quero! ― Nervosa? ― sorriu de canto de boca. ― Não brinque comigo! Não tenho paciência o suficiente para essas brincadeirinhas! ― Não? ― inclinou-se em minha altura, deixando a sua face rente a minha. ― Pois eu adoraria vê-la com a paciência esgotada. ― E-Ei! O-O que pensa que está fazendo? Kai aproximava cada vez mais o seu rosto do meu. ― E-Está louco? ― gaguejei ao ver os seus lábios virem em direção aos meus. Fechei os meus olhos, optando por não ter que ver aquela cena. O meu primeiro beijo seria daquela forma? Uma gargalhada ecoa pelos meus ouvidos. ― Esperava que eu a beijasse? ― diz sarcástico. Abri os meus olhos e o vi voltar a ficar em sua postura normal. ― Não se iluda. ― Disse. Acabo soltando um riso irônico. ― Eu apenas não queria olhar para essa sua cara f**a! ― justifico e reviro os olhos. Kai finge acreditar e permanece com um ar de ironia. ― Você se acha o melhor, não é? O espertalhão. ― Digo indignada. ― Mas, cuidado, Kai, para você não acabar se frustrando. Lancei e direcionei os meus passos para fora do apartamento, seguindo reto pelas escadas do prédio até o andar de baixo. Eu esperava, profundamente, que o Kai fosse para a put* que pariu. ― "Esperava que eu a beijasse?" "Não se iluda". Argh! ― repito as suas palavras e serro os punhos, irritada. ― Só porque ele é bonito, ele acha que todos irão cair aos pés dele? Perdidamente apaixonados? ― reviro os olhos. ― Lamento, mas o mundo não gira em torno de você, Kai Walker! Caminhei até o estacionamento do prédio e sentei em uma parte um pouco mais escondida da região, entre dois pilares que impediam que as pessoas pudessem me ver, mas que eu pudesse vê-las. ― Mas, não se preocupe, aparecerá alguém que abaixe a sua guarda! E, de preferência, poderia ser agora. Bem que alguém poderia aparecer agora e ensinar uma boa lição a esse metido! ― bufo. Apertei os olhos e joguei a minha cabeça para trás, tentando controlar a minha indignação. De repente, escuto vozes ecoaram pelo estacionamento. Inclino-me um pouco para o lado, vendo depois do pilar, um pouco distante, um grupo de homens. Eles pareciam discutir sobre algo, planejando fazerem alguma coisa. ― É o da foto? ― perguntou um dos cinco homens. ― Sim. A imagem está tremida. Não dá para ver o rosto dele nitidamente, mas, segundo o nosso chefe, ele mora neste prédio e também nos informou que ele estava vestindo uma camisa azul marinho, quando foi visto entrar no prédio pela última vez. ― Será que ele não trocou a camisa? ― lançou intuitivo. ― Para o azar dele, eu espero que não. Vamos nos dividir. Vocês três ficam aqui e você vem comigo. Vamos bater em cada porta desse prédio e encontrá-lo. ― Certo. Observei os cinco homens dividirem-se. ― São da máfia? ― comentei para mim mesma, curiosa. ― Talvez o cara por quem estão procurando... Esteja ferrado. ― Observei-os de longe. Desci o meu olhar pelo relógio em meu pulso e vi que já estava tarde, e que eu tinha que ter posto o lixo para fora. ― Ah não, eu esqueci disso. Agora o Sr. Bonitão, lá em cima, vai encher o meu saco. ― Suspiro. Coloquei impulso para levantar, prestes a seguir caminho de volta para o apartamento, mas cessei os meus passos ao ver Kai sair com um saco de lixo em mãos. ― Será que vai ser necessário um contrato para aquela garota seguir com as obrigações dela? ― reclama, m*l-humorado. ― Ei! ― afasto dos pilares e aproximo-me dele. ― Você está aí. ― Olhou de relance para mim. ― A obrigação não é só minha. ― Cruzei os braços. ― Se você diz que o apartamento também é seu, você também possui obrigações nele! E colocar o lixo para fora, é uma delas! Kai se vira para mim, confrontado. ― Você... ― Ele é interrompido. ― Achamos você. Os homens de antes, surgiram ao nosso redor. ― Posso ajudar? ― Kai questionou, observando-os. Três dos cinco caras, que tinham ficado no estacionamento, usavam roupas completamente pretas. ― Entre na van. ― Ordena. ― Como? ― os olhou confuso. Kai está vestindo azul marinho... E eles estão procurando por um cara assim! ― Meu Deus! ― quase surtei. ― Você é da máfia? ― o olhei espantada. ― O que? Está louca? ― diz incrédulo. ― Deve estar ocorrendo algum engano. ― O nosso chefe deseja terminar o que começou. ― Eu sinto muito. Mas não conheço vocês. Com licença, eu preciso ir. ― Desafia a ordem deles. Mas antes que Kai pudesse sair daquele círculo de três homens brutamontes, eles o impedem. ― Entre na van. ― Repetiu. ― Eu não vou entrar. ― Confronta, olhando seriamente para o homem que havia ordenado. ― Escuta, Kai... Se você tem algo com eles... Acho melhor ir logo. ― Sussurrei próximo dele. ― Mas eu não tenho nada! ― É melhor você fazer o que a sua namorada está mandando, ou pode sobrar para ela também. ― Namorada? ― ri em desespero. ― Não, não. Se vocês quiserem m***r alguém... Que seja apenas ele. Eu tenho uma longa vida pela frente. ― Sorri nervosa. ― Cala a boca, Louise! ― rosnou Kai. Espera... Ele disse o meu nome? Não me lembro de ter me apresentado para ele. ― Por favor, entre na van. Irei pedir pela última vez. ― Eu não entrarei em van alguma. ― Confronta novamente. Os olhares que os dois trocavam eram intensos. Kai tinha a mesma altura que aquele trio de mafiosos ― ou capangas, bandidos, seja lá o que fossem ―, o que lhe dava um ar de ameaça também. ― Ok. ― Suspirou. ― Se você não vai entrar por bem... Vai entrar por m*l. Os homens aproximaram-se mais um pouco de nós, fechando o círculo de três homens, prestes a forçar Kai a entrar na van... E eu também. ― Esperem! Deve ter algum engano. Eu não tenho nada a ver com isso... ― Tentei me afastar. ― Ele que é o procurado, não eu! ― Fica quieta! ― Kai bufou. O seu olhar percorreu ligeiramente pelos homens. ― Se prepare para correr. ― Cochichou para mim. ― O que? Como assim? Eu não sou... Inesperadamente, Kai desceu a sua mão até a minha, puxando-me para correr por todo o estacionamento até a saída. ― Peguem eles! ― gritou atrás de nós. ― Eu não sou esportiva! ― concluo a minha frase anterior, justificando que eu cansaria rapidamente.  ― E... E por que estamos correndo? Por quê? ― surtei com as palavras ao me deparar em uma perseguição. Kai era extremamente rápido. m*l havíamos começado a correr e eu já estava cansada. Por sorte, os homens eram mais lentos e conseguimos nos afastar de certa distância deles. ― Pare! Eu estou exausta! Não consigo mais correr! ― digo quase sem ar. Paramos em frente a um beco. Fechei os olhos e levei minhas mãos até os joelhos, tentando recuperar o fôlego. ― Quem... São eles? ― questionei. ― Você acha que eu sei? ― arqueou as sobrancelhas. ― Eu não acredito que eu entrei nessa. ― Resmunguei. ― E agora... Eu posso estar sinceramente encrencada. Por culpa sua! ― esbravejei, voltando a minha postura ereta. ― Se eu me der m*l por causa de você, eu... Kai puxa-me para dentro do beco escuro. Envolvendo um de seus braços por volta da minha cintura e imprensando o seu corpo ao meu contra a parede de tijolos, ele levou o seu dedo indicador aos meus lábios, impedindo-me de falar algo. Sua cabeça inclinou-se a minha e os seus olhos fitaram os meus, deixando um clima silencioso entre nós.
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