Perséfone - Livro 2

2 - Perséfone

— Então Cosmo, o que tem feito fora do trabalho? — pergunto despretensiosamente enquanto ele dirige, a verdade é que estava ansiosa por qualquer migalha de informação.

— Praticamente vivo e respiro o trabalho, Perséfone — ah, mas que homem sem graça. Que tipo de resposta é essa? A única coisa que salva é sua voz rouca que eriça cada terminação do meu corpo.

— Mas você não trabalha 24 horas, Cosmo. Senão teria certeza de que já seria um morto vivo, um zumbi — seu sorrisinho de canto me desarma completamente. Cosmo ainda não sabe, porém cedo ou tarde ele vai cair na minha isca.

— Tenho uma casa no mesmo condomínio que vocês moram. Então sim, eu descanso, mas sempre estou alerta caso surja algum problema — quase resfolego no banco traseiro, como ele mora no mesmo condomínio que moramos e nunca soube disso?!

— Não sabia que morava perto de nós — murmuro ainda chocada com essa informação, seria uma informação que iria agarrar literalmente com os dentes!

— Algumas quadras antes — ele diz e vira o carro para o galpão, um de muitos que meu pai tem disposto para uso na cidade e estaciona o carro.

Salto para fora do carro e Cosmo imediatamente se coloca ao meu lado, como o bom cão de guarda que ele é.

Southward Angel é uma cidade linda, cresceu muito e virou umas das maiores e melhores cidades do país para morar, contudo eles não observavam seu lado obscuro, como este, um dos bairros mais afastado do centro da cidade, que meu pai nunca quis reformar para servir para os seus propósitos, quase não há uma alma viva aqui, apenas alguns moradores de rua que sabiam que não deveriam meter seus narizes onde não eram chamados.

Cosmo abre a porta de aço e entra na minha frente fazendo uma rápida verificação, enquanto eu também faço uma rápida verificação da sua parte traseira.

— Minha princesa chegou! — ouço meu pai dizer e sigo até ele, rodeando sua cintura e lhe dando um abraço apertado, inspiro seu cheiro e me aconchego no seu peito, esse homem é incrível e o melhor pai que uma garota poderia sonhar.

— Você disse que precisava de mim, então aqui estou pai, sempre — ele sorri e acaricia meu rosto, apesar de ser um sorriso genuíno, consigo detectar a ponta de crueldade em seu olhar.

— Tenho um presente. E vejo que já veio pronta para isso — ele me observa da cabeça aos pés. Apesar de não saber especificamente por que meu pai me chamou, tenho o hábito de usar um colete preto que valorizava meus s***s, calças pretas que realçavam minhas curvas e botas de saltos médios.

Quando era mais jovem, sempre acabava me sujando, então adquiri o preto para esconder um pouco da sujeira, e honestamente? Esse conjunto de roupa me deixava gostosa, Cosmo só podia estar com uma venda nos olhos para não perceber isso.

— Pai, sempre estou pronta, aprendi com o melhor — e sorrio de volta para ele, provavelmente demonstrando a mesma crueldade.

Eu nasci para ser o reflexo do pai.

E finalmente era.

— Quero que faça algo para mim, querida — ele pega minha mão e me leva para o porão do prédio, onde todas as interrogações e torturas aconteciam, onde aprendi a não ter misericórdia por traidores — Um dos nossos distribuidores de drogas estava nos roubando há muito tempo e revendendo para outros países. O que fazemos com aqueles que traem?

— Nós punimos — digo friamente ao ver o homem sentado na cadeira e ainda ileso de qualquer ferimento.

Nós punimos.

É isso o que minha família faz.

O que meu pai sempre fez.

E que agora faço com prazer.

— Você irá punir — meu pai diz e beija minha têmpora — Me chame quando terminar, e então iremos para casa, Cosmo ficará com aqui até o fim.

Assinto e vejo meu pai subir de volta para a parte superior do galpão.

Olho para Cosmo e ele olha-me de volta com uma expressão insondável, era impossível captar qualquer emoção em seus olhos, odiava quando não conseguia captar qualquer emoção de seus lindos olhos cor de mel, ele se tornava impenetrável.

Respiro fundo deixando qualquer emoção positiva que habita meu corpo ir embora, minha mente se concentra naquele homem na cadeira que me encara com uma expressão debochada.

É uma pena que estivesse olhando assim para mim, agora teria que deixar seu sorriso ainda maior.

Todos olhavam para mim e viam somente uma garota i****a que sempre teve tudo, ou viam apenas a filha de Axel Devenuto, uma mulher que um dia irá liderar a cidade.

Uma mulher que não teve a sorte de nascer homem.

Todos que pensavam assim estavam com os dias contados quando assumisse o meu lugar.

Posso ser uma garota entrando na fase adulta agora e me tornando uma mulher, mas jamais fui tola, e eles apenas descobrem isso quando percebem o que minhas mãos podem fazer.

— Então você traiu a lealdade do meu pai — digo ao parar na sua frente e agarrar seu cabelo fazendo-o olhar para mim, é um homem muito bonito, com cabelos negros sedosos e feições sedutoras, com certeza muitas mulheres caíram na teia dele com esse sorriso volátil e malvado.

Bom, não cairiam mais.

Antes mesmo que ele perceba, coloco as mãos dentro da sua boca, uma segurando a parte superior e a outra a parte inferior da sua mandíbula e começo a força a a******a dos seus lábios.

Ele grita facilitando ainda mais o processo e fico fascinada ao assistir a costura dos seus lábios se abrindo e lhe dando um sorriso ainda maior.

Me afasto e observo-o com satisfação se contorcer de dor, agora lhe dei um digno sorriso do Coringa!

— Você é louca — ele balbucia enquanto o sangue escorre por seu queixo e mancha o chão.

— Concordo! — digo anestesiada, sentindo a adrenalina percorrer meu corpo — Me chamar de louca não é uma ofensa, na verdade, é quase um elogio. O que foi uma ofensa foi esse seu olhar de deboche para mim. O que você achou? Que mulheres não fazem o trabalho sujo?

Pego o alicate na mesa e coloco seu polegar em posição para ser decepado.

— Agora vou ter que te mostrar que posso fazer esse trabalho melhor que qualquer homem.

Corto seu dedo e seu grito de agonia percorre o ambiente.

Essa tortura nem ia demorar tanto... Agora vou ter que dar o meu melhor para tirar o preconceito desse homem sobre as mulheres...

De canto de olho vejo Cosmo me escrutinando de forma bem detalhada e fico feliz de ter sua atenção somente em mim.

Iria dar o melhor show da sua vida.