3 - Perséfone

1052 Words
Ahhh, por que a adrenalina tem que ser tão boa? É como droga, quanto mais você usa, mais quer. Sinto meu sangue correr quente pelas minhas veias e meu coração bombear forte, me sinto elétrica, capaz de ser e fazer qualquer coisa, é uma emoção viciante ao mesmo tempo que é perigosa. — Perséfone — o timbre rouco de sua voz chama por mim e me viro para Cosmo, que me observa como se fosse a própria encarnação do Diabo — Dê o encerramento. De qualquer forma, ele não vai aguentar por muito tempo. — Eu vou fazer isso quando quiser — digo e vejo-o apertar os lábios em uma linha fina, demonstrando como estava irritado comigo. — Claro, senhora. — Senhora? Ainda não sou uma mulher casada — ele continua lançando-me aquele olhar impassível e dou de ombros. Às vezes, falar com Cosmo era a mesma coisa que falar com uma porta. Olho para o meu trabalho e fico orgulhosa de mim mesma, meu pai se sentirá da mesma forma. — Chame meu pai — ordeno e Cosmo segue para cima. O belo sorriso que lhe dei junto a falta de alguns dentes o deixaram pronto para ser levado ao braço de Hades. Chuto os dentes e os dedos para o lado e observo se posso deixar meu trabalho melhor, afinal, precisamos melhorar constantemente. Como meu pai diz, nós nunca devemos achar que somos perfeitos, esse é o caminho para a queda de qualquer pessoa. — Querida, esse é o inferno de um bom trabalho! — papai diz ao meu lado e admira o atual estado desse homem imundo, com a palavra “TRAIDOR” exposta em grandes letras no seu tórax. Ele não aguentava mover sequer um musculo, a cabeça estava caída em sinal de derrota e o sangue ainda escorria por seu queixo se juntando as partes cortadas de seu corpo no chão. Meu pai coloca a arma entre meus dedos e eu a aperto, sentindo-me poderosa ao segurar um instrumento que pode acabar com uma vida em questão de segundos. — Faça as honras, minha filha. Aponto a arma no meio da sua testa e atiro um tiro certeiro e limpo. Manipular uma arma me transmitia sensação de poder, mas também sentia a sensação de pertencimento. Eu fui feita para isso. — Agora Cosmo irá te levar para casa, irei pegar sua mãe na clínica e chegaremos a tempo do jantar — assinto e o abraço, planto um beijo em sua bochecha e sigo Cosmo para o carro. Não consigo me segurar e ando o caminho inteiro assistindo sua b***a. Por que mulheres sentiam uma “tara” louca em bundas masculinas? Confesso que nunca reparei muito na b***a de outros homens, porém reparava muito nos glúteos de Cosmo, firmes e redondinhos, que flexionavam conforme ele andava, por que o homem teve que nascer perfeito? Podia ter 45 anos, mas ainda estava no auge da vida, era nítido que se cuidava bastante, só não gostaria de saber se esse cuidado consigo mesmo eram para outras mulheres, me sentia capaz de cortar a garganta de qualquer c****a que se colocasse no meu caminho. Entro no carro e Cosmo começa a dirigir somente quando coloco o cinto de segurança. Tento limpar as mãos na minha calça, todavia o sangue o sangue já estava seco e teria que tomar um longo banho para me livrar do sangue sujo desse traidor. Sinto que estou sendo observada e olho o espelho retrovisor, encontro os olhos de Cosmo e ele me encara por alguns segundos antes de desviar o olhar. — Seu rosto está sujo — diz. — Não deve ter uma parte de mim que deve estar limpa — sorrio pelo espelho retrovisor — Você também deve se identificar — ele assente e abre aqueles lábios cheios para me responder. — Trabalho há mais de 20 anos para o seu pai, já passamos por nossa cota de torturas, você ainda está apenas começando. — Não Cosmo, é aí que você se engana. Aos cinco anos já assistia minha tia “literalmente se fodendo” nas mãos do meu pai, aos 12 já está com uma arma nas mãos e aprendendo a lutar, e aos 15 anos participei da minha primeira tortura. Agora estou com 18 anos e está na hora de todos pararem de me ver como criança, inclusive você. — Inclusive você? O que quer dizer com isso, Perséfone? — Você é esperto, talvez algum dia compreenda — corto o contato de nossos olhos e viro-me para a janela observando a imponente Southward Angel. E se ele não compreendesse o que estava querendo dizer, eu fazia questão de lhe mostrar. Cosmo entra no condomínio e logo estaciona em frente a casa, destravo o cinto e saio andando sem olhar para trás, precisava urgentemente de um banho e pensar. Passo pela cozinha e vejo meu irmão lançar-me um olhar atordoado enquanto sigo para o segundo andar. Tranco a porta do quarto e vou direito para o banheiro, ligo o chuveiro e começo a me despir enquanto observo meu reflexo pelo espelho, agora entendo o olhar de Azazel, realmente pareço a definição do capeta. Entro no chuveiro e sinto meu corpo relaxar instantaneamente debaixo da água quente, o sangue se mistura com a água e desce pelo ralo me deixando hipnotizada. Nunca tive muito contato com outras pessoas, frequentei a escola ou tive amigos, o contato que tive com outras pessoas foram quando precisávamos comparecer a algum evento social e através da vida que foi imposta e mim desde cedo, e apesar de não ter contato direto com a sociedade, já sabia que eu não era “normal”, sempre fui intensa. Meu pai me dizia que sabia que eu nasci para grandes propósitos e que não ser o que a sociedade espera não é r**m, só é diferente, e eles tem medo do que é diferente, da mudança. Apesar de ser privada de muitas coisas conforme crescia, não me arrependo ou me ressinto da forma como fui criada. Apesar de não ter muito contato com o exterior, isso não queria dizer que não sou inteligente, posso fazer uma rota segura para as nossas cargas em dez segundos até o outro lado do país. Eu sou única. E preciso mostrar isso para Cosmo.  
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