Fiquei sentada no balanço por um longo tempo pensando. Apesar de tudo fui muito feliz aqui, costumava correr por esse jardim, plantar flores, gostava de sentar no balanço e empurrar o mais alto que conseguisse, me dava a sensação de que estava voando, sempre almejei minha liberdade, queria crescer e conhecer o mundo.
Começo a empurrar o balanço cada vez mais alto, é tão bom sentir o vento em meu rosto, parece realmente que estou voando, isso me faz esquecer todos os problemas, sou somente eu, o sol e o vento soprando em meu rosto. Quando paro de balançar, abro os olhos e vejo Lucian me encarando com uma cara estranha não muito longe, desço do balanço e vou em sua direção.
- O que você faz aqui ? - Ele me olha com uma cara de desgosto.
- Quantos anos você tem, 5? - Um sorriso sarcástico surge no canto de seus lábios.
- O que isso tem haver com você ? - Retruco dando lhe as costas e indo em direção a casa. Ele me segura pelo braço e me puxa para trás, me assusto com seu movimento repentino.
- Acho que terei que lhe ensinar boas maneiras. - Ele me diz com um olhar frio.
Puxo meu braço para sair de seu aperto.
- Não me toque. - Digo limpando o lugar onde ele havia tocado. Posso ver seus olhos queimarem de raiva, viro-me e ando em direção a casa, um sorriso triunfante aparece em meu rosto. Ele acha que serei fácil de intimidar, acha que terei medo dele?
Entro na sala, papai e Otto haviam terminado de conversar e estão se despedindo, Lucian entra logo atrás de mim, os dois velhos se olham e sorriem um para o outro, minhas bochechas queimam de vergonha e raiva, quanto tempo ele ficou me observando lá fora ? E o que esses dois acham que estávamos fazendo ? Abaixo a cabeça para esconder o rubor em meu rosto.
- Minha querida, estamos indo! Mas espero vocês para jantar. - Diz Otto se despedindo, Lucian acena com a cabeça e os dois entram no carro onde o motorista já os esperava e partem.
- Onde está mamãe? - Pergunto ao meu pai sem olhar para ele.
- Foi visitar a família Wilson, mas estará aqui para o jantar. - Ele responde sentando no sofá e acendendo um cigarro, eu odiava esse costume que ele tinha de fumar.
- O que passou pela sua cabeça quando anunciou um casamento que eu havia dito que não iria acontecer? . - Pergunto em uma voz firma, enquanto sento em sua frente lhe encarando.
Ele traga novamente o cigarro, solta lentamente a fumaça. Senta a beira do sofá, olha nos meus olhos.
- Você tem 20 anos, em 20 anos o que você fez por essa família além de tentar me enfrentar em qualquer escolha que fizesse, ou algo que lhe pedisse? Você saiu daqui dizendo que seria independente mas viveu do dinheiro de sua mãe, dinheiro esse fruto do meu trabalho, antes disso estudou nas melhores escolas, teve a melhor educação, empregadas a seu dispor, dinheiro, viagens, roupas, fruto das noites em claro que passei, fruto do meu trabalho, aquele que você sempre odiou e fez questão de jogar na minha cara o quanto eu o amava mais que a você. Emma, eu te dei o mundo aos seus pés, tudo o que eu podia, e você fala tanto que te critiquei a vida toda mas você sempre fez o mesmo, não pude ser um pai presente pois estava ocupada criando uma vida estável pra você, sua mãe e depois Louise. Você nunca foi independente Emma, você não sabe o que é isso, nunca passou por dificuldades, nunca precisou fazer concessões. Eu não durmo a dias preocupado com o p*******o de meus empregados que está atrasado, pensando nas famílias que passam necessidade enquanto você brinca de ser a pobre menina injustiçada e sacrificada pela família. Você é minha única filha Emma, tudo o que eu quero é o melhor para você, mas preciso pensar além de nossa família, em todas as outras que dependem de nós.
Ele então se levantou e subiu as escadas. Fiquei ali pensando em suas palavras de cabeça baixa, ele tinha razão, minha mãe não me deixou uma enorme fortuna, mas deixou o suficiente para que eu não precisasse trabalhar e vivesse bem e com conforto, não sei o que é depender de um salário para manter minha família, nunca tive dificuldades, Louise mandava empregadas para cuidarem de mim mesmo no dormitório da faculdade. Eu nunca me sacrifiquei por nada! Mas agora, minha família, e outras famílias, dependiam de mim.
Subi as escadas, bati na porta do quarto de meu pai, ele a abriu.
- Eu aceito me casar com ele. - Reuni toda coragem que tinha para dizer essas palavras, parecia que minha garganta estava em chamas quando elas saíram.
Ele suspira, parece estar aliviado, me abraça, eu assusto, não me lembro qual foi a última vez que ele havia me abraçado. Ficamos assim por um tempo, me sinto estranha pois nunca fui íntima de meu pai, ele nunca foi de demonstrar afeto, muito menos por mim. Após o silêncio constrangedor ele fala:
- Obrigada Emma, e espero que me perdoe por isso. - Ele diz sem me soltar de seus braços. Ele então se afasta.
- Irei ligar para Otto. - anda direto para o escritório, não vou atrás dele, volto para o meu quarto, uma sensação de pânico começa a tomar conta de mim quando lembro dos meus encontros com Lucian, ele não me parecia que gostava muito de mim, o que acabei de fazer? Mas que escolha eu tinha?
Entro no meu quarto e fecho a porta atrás de mim, me jogo na cama e parece que uma tonelada de concreto foi jogada sobre meu peito.
Sabe aquele penhasco que imaginava estar na beira? Acho que acabei de me jogar nele!