Cerca de quinze minutos antes do ocorrido, Lewinski se encontrava impaciente na fila da farmácia. Ele odiava aquela rotina medicamentosa por mais que ela já fosse parte da sua vida há 12 anos. E, como se não fosse o bastante, estava acompanhado de Diego Diaz.
— Vai, me conta. É remédio de quê? — o novato cruzou os braços e o encarou.
Robert apenas virou o rosto com cara de poucos amigos. Ele não o responderia por nada nesse mundo. Quando a sua vez chegou, Lewinski pegou o crachá que prendia no bolso das calças e bateu o código de barras no leitor ao lado do balcão. Isso era necessário para o controle da farmácia.
O técnico de enfermagem já o conhecia e nem precisava olhar a lista de medicamentos no sistema. Diego, ainda curioso, debruçou sob o balcão na tentativa de ver a tela e acabou levando um empurrão do polonês irritado.
— Ei! Qual é o seu problema?! — Diaz gritou chamando a atenção dos agentes penitenciários por perto.
— Você! — ele disse furioso e tomou os medicamentos em seguida.
— Tudo bem por aqui, detento? — a guarda que fazia a vigília se aproximou.
Robert a olhou brevemente e continuou em direção ao refeitório. Diego respirou fundo e o seguiu, agora consciente de que deveria tomar cuidado com o comportamento do seu colega.
Os dois serviram-se e sentaram numa mesa isolada num canto. Diaz imaginou que os outros detentos não costumavam interagir com Robert e o seu temperamento hostil. Lewinski não estava nem um pouco interessado em comer, ele só queria encontrar o preso da ala Norte com quem fechou um acordo em troca das doses.
— Vai comer isso aqui? — mas uma voz inconfundível o interrompeu.
Olivier Blanc sentou-se ao seu lado, de olho na sobremesa, com um sorriso sarcástico no rosto.
— Que cara é essa, Lewy? — o barbudo logo percebeu que havia algo de errado.
O sangue de Robert ainda fervia de raiva só de vê-lo. E o pior de tudo era o fato de Blanc agir como se não fosse culpado por sua prisão. De forma impulsiva, o polonês abriu a embalagem do doce e o despejou dentro da sopa de legumes. Diego e Olivier fizeram uma expressão confusa enquanto o polonês encarava o barbudo.
— Olha… não precisava ter estragado a sua janta e… — Olivier foi interrompido.
— Sopa nem é janta! — ele falava baixo mas estava dominado pela fúria — Agora, vaza daqui!
O mais alto não teve outra opção a não ser obedecer e dar-lhe espaço. Ele conhecia Robert há anos e já havia o visto daquele jeito.
O polonês abaixou a cabeça, cobriu o rosto com as mãos e assim permaneceu por alguns minutos até se acalmar. Ou pelo menos tentar.
— Hm… Lewinski? — Diego disse após achar que muito tempo já havia passado.
Robert apenas levantou a cabeça e separou os dedos para olhá-lo.
— É que… eu sou vegano e tem pedaços de carne nessa sopa. Sabe se tem algum outro lugar que eu possa comer?
Se fosse num dia típico para seu humor, Robert apenas iria gargalhar bem alto e fazer o rapaz entender, da forma mais grosseira possível, que uma prisão não funcionava feito um hotel.
— Tem sim! — ele abaixou as mãos e forçou a cara mais simpática que conseguia fazer — Ali atrás fica um segundo refeitório com opções vegetarianas e veganas.
— Tá me zoando?
— Juro que não!
Diaz achou a mudança de humor repentina bem suspeita, mas mesmo assim se levantou para checar a informação. Tirar a dúvida aparentemente não iria-lhe custar nada.
Então, sem nem mesmo pensar, Robert esperou até que ele passasse ao seu lado para esticar a perna e derrubá-lo de cara no chão.
Foi quando os outros detentos pararam o que estavam fazendo para olhar na sua direção.
Diego havia quebrado os dentes da frente e nem conseguiu se levantar imediatamente após o impacto.
— Lewinski! — o guarda que fazia a vigia gritou ao se aproximar assustado ao ver sangue vindo da boca do detento caído — Solitária!
Robert não tinha como prever as consequências de seus atos impulsivos. O jeito era levantar e colher o que havia plantado. O vigia fez questão de puxá-lo com força e prendê-lo com um par de algemas bem apertados. Lewinski deixou escapar uma expressão de dor ao sentir o metal ferir a sua pele.
— Anda! — o guarda o empurrou para que caminhasse logo.
Diego Diaz preferiu permanecer no chão quando recuperou as forças, ainda mais porque ouviu alguém usar o rádio e chamar o enfermeiro de plantão.
— Hm... Ele vai surtar lá dentro, certeza — Blanc comentou de boca cheia e Mark, que acabara de ver o desfecho da confusão, escutou.
— Quem é aquele cara? — o detetive infiltrado tentou conseguir novas informações.
Olivier somente o olhou quando perdeu o polonês de vista.
— Aquele doido? É o Lewy, meu irmãozinho.
Wolff teve que disfarçar a sua cara de surpresa. Não havia nenhuma informação na polícia de que Robert tinha um irmão, e muito menos de que ele também estava detido no mesmo presídio.
Mark ainda tinha muitas perguntas a fazer e devia ser cauteloso ao puxar assunto sem levantar suspeitas. Ele ainda queria questionar o francês mais alto pelo menos mais uma vez, mas outros dois guardas deram a ordem de recolher.
Todos se encaminharam para suas celas, Antoine despediu-se com um aceno rápido enquanto Olivier só conseguia pensar em Lewinski.
De volta ao bloco Norte, Mark tirou seus calçados e trocou o macacão pela calça laranja. Dentro de sua cela ele podia ouvir os outros detentos conversando no andar de baixo, mas preferia ficar a sós com sua mente. Não havia motivos para se preocupar. Ele sabia que ninguém ficava muito tempo na solitária em um presídio de segurança mínima e em breve conheceria Lewinski pessoalmente.
Ele jogou-se na cama e lembrou que a revista de carros ocupava o seu espaço de descanso. Então, puxou o objeto o removendo debaixo de suas costas e acabou deixando algo cair no chão.
Wolff se virou para olhar e deparou-se com um pedaço de papel dobrado.
Era um bilhete escrito a lápis, Mark imaginou que o detento que lhe deu a revista fosse cobrá-lo de alguma forma já que nada na prisão era de graça. Mas sua surpresa ao lê-lo foi muito maior.
"Eu sei quem você é. Sei para quem trabalha e sei o que quer com Lewinski.
Não somos amadores. Então não tente nada contra ele, caso não queira se machucar."