Capítulo 11
JADE NARRANDO
Fico desesperada sem saber o que fazer quando vejo que a roupa dele está suja de sangue. Vejo o irmão dele descendo, quando ele me vê e olha para o Guerreiro, ele vem correndo na nossa direção.
Frajola - O que aconteceu? Guerreiro, fala comigo - Ele fala se abaixando perto do Guerreiro e dando tampas leves no seu rosto.
Jade - Ele está machucado. - Falo então o Frajola olha para mim e depois para o corpo do irmão, ele levanta a camisa dele e sinto algo estranho no meu coração quando vejo uma perfuração de bala, bem no mesmo local que eu estava sentindo dor.
Jade - Como isso é possível? - Acabo falando em voz alta ao me espantar com a tamanha coincidência.
Frajola - Eu vou levar ele pra sua casa para tentar estancar o sangue. Me ajuda aqui. - Ele fala levantando o irmão
O Frajola fala, então eu apoio ele em um dos meus ombros, carambä, ele é muito pesado.
Jade - Precisamos levar ele para o hospital e não para a minha casa. - Falo preocupada.
Frajola - Ele não pode ir para o hospital, se ele for sai de lá preso.
Assim que chegamos na porta da minha casa, bato e a minha mãe abre.
Rubi - O que aconteceu? - A minha mãe pergunta assustada ao ver o Guerreiro sangrando.
Jade - Ele levou um tiro, bateu com a moto e está sangrando muito. - Falo então ela abre passagem para entrarmos.
Rubi - Vai para o quarto Ravi. - A minha mãe fala tirando os brinquedos do Ravi de cima do sofá e mandando a gente colocar o Guerreiro nele.
Jade - O que vamos fazer? - Pergunto olhando para o Alex que está olhando para o irmão preocupado.
Frajola - Precisamos estancar o sangue e retirar a bala, aqui tem alguma tesoura? - Ele pergunta olhando para nós duas.
Jade - O que você quer fazer? Você vai cortar ele como uma tesoura qualquer, sem estar esterelizada, para tirar a bala? Se você fizer isso ele pode ter uma infecção e morrer.
Frajola - Eu não sei o que eu estou fazendo, mas eu preciso fazer alguma coisa, eu não posso deixar o meu irmão morrer. - Ele fala nervoso.
Rubi - Se eu tivesse as minhas ervas, faria essa bala sair por si só, mas o seu pai jogou todas fora. - A minha mãe fala então eu me lembro das ervas que a Eika me deu.
Deixo eles na sala e vou até o meu quarto, pego uma caixa que eu coloquei embaixo da cama para a minha mãe e nem o meu pai ver. Pego algumas folhas, vou até a cozinha, coloco a folha no pano de prato, e depois bato com o machucador no mesmo por diversas vezes, até ele esfarelar. Volto para a sala com o pó enrolado no pano, me abaixo, levanto a camisa do Guerreiro e coloco um pouco do pó no seu ferimento. De repente ele acorda e segura forte no meu braço, tento me soltar dele, mas não consigo. Ele começa a gemer de dor, vejo a bala saindo aos poucos. Quando a bala sai, ele olha para mim e depois apaga novamente. Começo a sentir novamente aquela mesma dor, coloco a minha mão no local. Vejo a minha mãe olhando pra mim e em seguida ela olha para o Guerreiro.
Frajola - O que você fez com ele?
Jade - Isso vai fazer o ferimento fechar rápido. - Falo colocando o restante do pó no local que a bala estava. Ele apagou, mas a mão dele continuou ao redor do meu pulso. O Frajola me ajuda a soltar a mão dele doeu pulso e percebo que o local que ele apertou ficou vermelho.
Frajola - Você está bem? Machucou?
Jade - Nao machucou, eu estou bem, não precisa se preocupar.
Frajola - Eu vou chamar os vapores para me ajudar a levar ele para casa. - Ele fala olhando para o irmão.
Jade - Acho melhor você não fazer isso agora, espera ele acordar primeiro. - A minha mãe fala então eu olho para ela.
Jade - Onde está o meu pai?
Rubi - Eu não sei, ele saiu e não falou para onde ia. - Ela fala tentando não demonstrar a tristeza no seu olhar.
Jade - Ele não vai gostar de ver eles dois aqui. - Falo baixo só para a minha mãe ouvir.
Rubi - Vamos no quarto Jade, eu quero conversar com você. - Ela indo em direção ao quarto, e eu deixo o Frajola na sala e a sigo.
Jade - O que foi mãe? A senhora está estranha desde cedo.
Rubi - Porque você trouxe ele pra cá? Eu nem tinha pensado no seu pai.
Jade - Não tive outra escolha, aqui era a casa mais perto, não dava para subir o morro com ele.
A minha mãe está estranha, não é só por causa do meu pai, é desde a hora que ela me fez aquelas perguntas.
Rubi - Você sentiu novamente aquela dor, não foi?
Jade - Sim mãe, a senhora sabe me dizer porque eu estou sentindo essa dor?
Rubi - Você viu que o ferimento do Guerreiro foi no mesmo lugar da sua dor? - Ela pergunta me fazendo pensar.
Agora minha mãe falando isso, eu lembro que quando a bala saiu do corpo do Guerreiro, ele sentiu dor e eu também. Será que estamos ligados de alguma forma, que quando ele sente dor eu também sinto, será que é porque somos primos, só pode ser isso.
Jade - O que significa isso mãe? É porque somos primos? - Pergunto tentando entender o que está acontecendo.
Rubi - É mais complexo do que isso Jade, você não vai gostar do que eu vou falar.
Jade - É o que mãe? - Pergunto sentindo algo estranho dentro do meu peito.
Rubi - Você e o Guerreiro estão ligados.
Jade - Como assim mãe? Eu não estou entendendo, de que forma estamos ligados?
Rubi - A alma de vocês está ligada querida, sinto muito, mas você não vai se casar com um cigano, o seu destino já foi escrito. - Quando a minha mãe fala isso, os meus olhos se enchem de lágrimas, eu não queria entender totalmente o que ela queria dizer, mas no fundo eu sabia que entendia.
Jade - Não mãe, eu não quero saber de destino, eu não quero saber, eu vou casar com um cigano, vou morar em uma linda casa, terei uma família e serei muito feliz. - Falo com lágrimas nos olhos.
Rubi - Não se pode fugir do destino Jade, eu sinto muito. - Ela fala sentida.
Jade - Mas eu vou fugir. - Falo saindo do quarto.
Limpo as minhas lágrimas antes de aparecer na sala.
Frajola - Ele está acordando.
Olho para o Guerreiro que está se mexendo no sofá, ele abre os olhos e olha para mim. Na mesma hora desvio o meu olhar, eu não quero que o meu olhar se encontre com o dele nunca mais.
Frajola - Você está sentindo algo Guerreiro?
Guerreiro - Porque eu estou aqui? - Ele pergunta se sentando no sofá.
Frajola - Você levou um tiro e acabou batendo a moto, mas agora você está bem, a Jade cuidou de você. - Quando o Frajola fala isso, o Guerreiro levanta a camisa e vê que o seu ferimento está seco com o pó que eu coloquei.
Ele aperta o local com o dedo, depois olha para mim, se levanta do sofá e anda na minha direção. Sem eu esperar, ele coloca a mão no meu pescoço e eu olho para ele sem entender. Eu salvei a vida dele, então porque ele está fazendo isso comigo.
Frajola - Solta ela Guerreiro, você está machucando ela.
Começo ficar sem ar e seguro na mão dele na tentativa de tentar afastar ele, mas não consigo.
Guerreiro - Que porrä você fez comigo? Cigana do caralhö! - Ele pergunta me encarando.
Jade - Por.. Favor... - A minha voz sai entrecortada.
Frajola - Você está matando ela Alessandro! - O Frajola fala o nome dele, então ele me solta.
Caio ajoelhada no chão com a mão no pescoço e começo a tossir sem parar.
Guerreiro - Nunca mais chega perto de mim sua cigana amaldiçoada! - Ele fala e vai embora.
Frajola - Você está bem, Jade? - Ele pergunta vindo até mim.
Jade - Vai embora daqui. - Falo com lágrimas nos olhos, eu não quero que ele olhe pra mim.
As palavras do Guerreiro me machucaram demais, foi direto no meu coração, porque isso está acontecendo comigo?
Rubi - O que aconteceu Jade? - A minha mãe pergunta vindo correndo até mim.
Jade - Eu não sei, do nada ele me enforcou e me chamou de cigana amaldiçoada, o que está acontecendo mãe? - Pergunto olhando para ela.
Rubi- Ele carrega um passado doloroso, e você conseguiu tocar ele, quando sarou a sua ferida, isso fez ele lembrar da ferida interna que ele tem, que ninguém nunca foi capaz de curar.