Capítulo 7
JADE NARRANDO
A voz dele ecoa atrás de mim, antes mesmo de me virar pra ele, eu já fico morta de vergonha pelo que aconteceu mais cedo.
Guerreiro - Que porrä tá acontecendo no meu morro, eu já deixei claro que eu não quero confusão aqui cäralho! - Ele fala sem paciência, a minha mãe olha pra mim, e eu sei o que esse olhar significa, ela quer que eu fique calada.
XXX - Já íamos até você mesmo Guerreiro, queremos que você expulse essas duas ciganas ladras do morro. - A mulher fala olhando pra mim e pra a minha mãe.
Guerreiro - O que você fez dessa vez cigana, já não basta ser mentirosa, agora você é ladra também ?
Jade - Não somos ladras, não fizemos nada, elas estão nos acusando injustamente .
Guerreiro - Porque eu acreditaria em você, seus pais falaram que você é mentirosa e que você gosta de chamar atenção. - Ele fala fazendo eu fechar a minha cara.
Manu - Ela está falando a verdade Guerreiro, essas velhas fofoqueiras que começaram a falar um monte de coisas delas, chamaram de ladras e ofenderam de graça , só porque elas são ciganas. - A Manu fala chamando a sua atenção.
Guerreiro - Isso é verdade? - Ele pergunta olhando para mim.
Jade - Agora você quer me escutar? Do que adianta eu falar que é verdade, se você não acredita em mim, você mesmo acabou de me chamar de mentirosa. - Falo evitando olhar pra ele.
Rubi - Vamos embora Jade, depois pedimos para o seu pai vir comprar as coisas. - A minha mãe fala segurando na minha mão.
Rosa - Isso mesmo, vão embora daqui. - A tal da Rosa fala.
Não sei porque esse ódio todo, não fizemos nada pra ela, só viemos aqui fazer as nossas compras.
Jade - Eu não vou sair daqui antes de comprar as nossas coisas mãe, essas pessoas preconceituosas vão ter que nos aceitar, não vamos nos retirar só porque elas não gostam da nossa presença, somos seres humanos como qualquer um aqui, temos o direito de ir e vir, igual a eles. - Falo já chateada com essas mulheres.
Manu - É isso aí, eu estou de acordo com você, ninguém tem o direito de tratar vocês dessa forma, só porque são ciganas . - A Manu fala completando a minha fala.
XXX - Vocês não vão ficar na nossa comunidade, não queremos ser amaldiçoados com a presença de vocês, nunca nenhuma cigana morou aqui, vocês não serão as primeiras, expulse elas daqui Guerreiro! - A mulher fala olhando pra mim e pra minha mãe.
Guerreiro - Eu vou deixar bem claro! Aqui nessa porrä eu não quero ninguém mexendo com elas duas, se eu souber que alguém está incomodando elas, vai ser poucas ideias! - O Guerreiro fala me fazendo olhar para ele.
Rosa - Você vai deixar essas ciganas aqui no morro Guerreiro? Você sabe o perigo que elas são? Elas podem jogar alguma praga em você, roubar crianças, ou até mesmo fazer feitiço, eu soube através de uma sobrinha, que um dia uma cigana pediu dinheiro pra ela, e como ela não deu, a cigana jogou um feitiço na minha sobrinha, ela perdeu tudo, casa, trabalho e o marido. - A mulher fala nos encarando com raiva, como se nós fossemos as culpadas pelo que aconteceu com a sobrinha dela.
Manu - Para de ser língua preta dona Rosa, a sua sobrinha só perdeu o emprego porque estava dando para o chefe, a mulher descobriu e deu uma surra nela, e o cornö do marido dela, só separou dela porque soube o que ela estava aprontando, ele a colocou pra fora de casa, já que a casa era dele, então não vem colocar a culpa na pobre da cigana, ela perdeu tudo porque era descarada e sem vergonha!
Guerreiro - Eu não quero saber de porrä de fofoca, o aviso já está dado, se alguém mexer com vocês, falem comigo. - O Guerreiro fala e sai do estabelecimento.
Manu - escutaram né fofoqueiras? - A Manu fala então elas voltam a fazer o que estavam fazendo e nos deixam em paz. A minha mãe voltou a fazer as compras enquanto eu fico conversando com a Manu, agora do lado de fora do mercado.
Jade - Mais uma vez, obrigada por ter nos defendido. - Falo realmente agradecida.
Manu - Qualquer coisa se alguém mexer com você, pode falar comigo que eu falo com o meu primo. - Ela fala, então eu olho pra ela sem entender.
Jade - Quem é o seu primo? - Pergunto curiosa.
Manu - Aquele chato que estava aqui, o Guerreiro, ele que é dono daqui. Você já conhecia ele? Eu vi ele olhando pra você diferente.
Jade - Eu conheci ele na noite que cheguei aqui, ele mandou aquele outro rapaz que parece com ele, matar eu e a minha mãe. - Falo me lembrando do que passamos.
Manu - Nossa, sério que o Guerreiro ia fazer isso? Você está falando do Frajola, aquele gostoso, eles são irmãos e meus primos. - Ela fala me fazendo rir.
Jade - Acho que também somos primas, porque o meu pai é primos deles e eles são seus primos . - Falo tentando entender esse parentesco.
Manu - A minha mãe é tia deles dois, por parte de pai eu acho, não sei direito é tudo uma bagunça.
Jade - Se for assim, então não somos primas, o meu pai falou que é primo da mãe deles.
Manu - Não somos primas, mas podemos ser amigas, se você quiser. - Ela fala um pouco envergonhada.
Jade - Você realmente quer ser a minha amiga?
Manu - Claro que sim, porque eu não iria querer ser sua amiga? Você parece ser bem legal. - Ela fala sorrindo pra mim.
Jade - Por eu ser cigana, as pessoas vão falar de você quando te ver andando comigo. - Falo um pouco triste.
Manu - Eu não ligo pra isso, se alguém falar alguma coisa com você, vai estar caçando briga comigo. - Ela fala séria.
Jade - Você é legal. - Falo então ela sorri.
Manu - Você também, mas me fala uma coisa, você tem namorado?
Jade - Eu não namoro, estou me guardando para o meu marido. - Falo então ela dá um grito.
Manu - Não me diga que você é virgëm? - Ela pergunta um pouco alto.
Jade - Sim, já era para eu estar casada, mas como isso ainda não aconteceu, eu estou me guardando para o meu futuro marido. - Falo suspirando, eu ainda tenho esperanças de encontrar um marido cigano, porque se o meu pretendente não for igual a mim, eu não quero nunca namorar e nem me casar.
Manu - Quantos anos você tem? - Ela pergunta curiosa.
Jade - Eu tenho dezoito e você?
Manu - Eu tenho dezenove, você parece ser bem novinha, pensei que você tinha quinze anos.
Rubi - Vamos Jade. - A minha mãe fala saindo do mercado com algumas sacolas na mão, e eu vou até ela ajudar.
Manu - Vou ajudar vocês levarem as compras em casa, assim fica mais leve.
Jade - Obrigada. - Falo e vamos andando.
Manu - Você falou que chegou ontem a noite, mais ou menos que horas vocês chegaram?
Jade - Eu não sei exatamente a hora, mas já era tarde, fomos dormir praticamente hoje arrumando as coisas que trouxemos.
Manu - Alguém foi na sua casa de madrugada levar comida? - A Manu perguntou me fazendo olhar pra ela.
Jade - Sim, como você sabe? O irmão do Guerreiro foi até a nossa casa levar comida pra gente, eu fiquei até receosa em aceitar, mas estávamos com muita fome que acabamos aceitando. - Falo pensativa, até agora eu não entendi o motivo dele ter levado aquela comida pra gente.
Manu - Aquele idiotä acordou a minha mãe pra fazer comida, mas ele não falou pra quem era, agora eu já sei.
Jade - Desculpa, ele chegou lá de surpresa, eu ainda estou tentando entender o motivo dele ter feito isso.
Manu - Ele deve ter gostado de você . - Ela fala séria.
Jade - Acho que não, ele deve ter pensado no meu irmão pequeno. - Falo então ela olha para mim.
Manu - Você tem irmão?
Jade - Sim, eu tenho dois irmãos, o mais velho que tem vinte anos e um pequeno, porém o mais velho não veio, ele mora com a minha vó . - Quando eu falo do meu irmão Calin, a minha mãe olha pra mim.
Ela não gosta que eu falo do Calin, porque isso trás remorso pra ela, já que ela teve que deixar ele recém-nascido com a minha vó, porque ela e o meu pai não tinham condições de criar meu irmão. Quando ele já estava grande, a minha mãe foi até a comunidade que ele vivia buscá-lo, mas o meu pai não deixou ela trazer ele para viver conosco.
Manu - O seu irmão é bonito? Pena que ele não veio com vocês? Eu ia gostar de conhecer um cigano e ainda mais bonito. - Ela fala empolgada do nada.
Jade - Eu não tive convívio com ele, mas eu sei que ele é muito bonito, os seus olhos são iguais aos meus, bem verdes. - Falo lembrando do Calin, eu fiquei muito triste quando estava arrumando as minhas coisas pra vir morar aqui, por causa dessa mudança eu não consigo mais ter contato pessoalmente com o meu irmão.
Manu - Eu adoraria conhecer ele. - Ela fala sorrindo .
Rubi - Chegamos, obrigada por ter nos ajudado, qualquer dia desse vou falar para a Jade chamar você para almoçar conosco .
Manu - Tá certo, vou indo então . - Antes dela ir, ela me passa o seu número para conversarmos e fico muito feliz, por finalmente alguém querer ser minha amiga, mesmo eu sendo cigana.
Assim que colocamos o pé dentro de casa ouvimos o meu pai reclamar.
Roni - Porque vocês demoraram tanto? Porrä eu tô morrendo de fome ! - Ele fala com uma latinha de cerveja na mão.