Capítulo 3
JADE NARRANDO
Depois que o dono do morro apareceu e ficou me olhando, eu senti algo estranho quando esse tal Guerreiro me encara, não sei explicar, mas tem algo por trás desse olhar de ódio dele.
Não sei explicar exatamente, mas parece que eu consigo enxergar e sentir uma tristeza enorme escondida no olhar dele que faz o meu coração doer, e eu não consigo conter as minhas emoções, e meu olhos enchem de lágrimas é se o que ele está sentindo passasse pra mim, como se a energia da dor dele estivesse vindo pra mi.
O que está acontecendo?
Isso nunca aconteceu antes, mas eu consigo sentir uma dor muito forte, uma dor na alma dele.
Minha cabeça fica confusa com tantos pensamentos e emoções e ele fica olhando pra mim sem falar nada. Eu tento desviar o olhar mas parece que estou hipnotizada por ele.
Frajola - Guerreiro ... - O tal Frajola chama ele fazendo a gente quebrar o contato visual e enquanto eles conversam eu fico analisando ele.
E nossa ...
Começo perceber o quanto ele é bonito! E bota bonito nisso! Olhos castanhos, barba por fazer, braços fortes e a camiseta que ele tá usando marca direitinho os músculos do corpo dele, ele tem uma tatuagem enorme de uma fênix que cobre o braço todo dele.
Cara ... Nunca me sentir tão ... nem explicar ... resumindo nunca prestei tanta atenção em um homem assim.
Mas logo sou tomada pela raiva quando ele começa a conversar com o meu pai e escuto ele falar com desrespeito com a minha mãe e o babaca do meu pai vai na onda.
Dois sem educação!
Mas na minha opinião meu pai é o pior, ele fala como se fosse um favor ter casado com a minha mãe, ou que seja bom demais para ela, sendo que é ao contrário, a minha mãe além de ser muito bonita para ele, foi expulsa de casa por se envolver com ele, perdeu o contato com a família e mesmo com tudo isso ele ainda quer tratar ela dessa forma, como se ela não fosse nada e falando essas merdäs.
Por isso não aguentei e já fui defendo a minha mãe, e eu jurava que o meu pai já me bater, mas por sorte ou não, o tal Guerreiro não deixou e ainda me defendeu. Não sei como minha mãe aguenta o meu pai, desde sempre eu vejo o meu pai destratar a minha mãe por ser cigana e eu também por querer seguir uma vida como cigana. Só que a minha mãe aceita ser tratada mäl e não fala nada, mas eu não sou obrigada a isso e nunca vou aceitar ele fazer isso com a minha mãe também, ele sempre soube que ela era cigana, então ele não tem direito nenhum de querer tratar ela mäl por isso. Por isso minha mãe vive falando para medir as minhas palavras com o meu pai, porque eu não aceito nada disso, eu não tenho medo dele, como eu já falei na cara dele, a minha mãe fala que eu puxei o meu avô.
Observo eles conversarem e o meu pai pergunta se pode morar aqui no morro na casa da minha avó. Fica nítido que ele fica com um pé atrás, mas vejo a sua fisionomia mudar quando o mentiroso do meu pai fala um grande absurdo que entristece o meu coração e o pior, a minha mãe não deixou eu me defender.
Me sobe uma raiva misturada com tristeza quando o meu pai fala que saímos do lugar que morávamos por minha causa, que eu me envolvi com pessoas erradas, como ele teve a coragem de falar um negócio desse, onde morávamos eu mäl saia de casa, eu só ia para o meu curso.
Meus olhos enchem de lágrimas com a mentira do meu pai, faço um esforço enorme para não falar mais nada, quando a minha mãe manda eu ficar quieta, o tal do Guerreiro olha para mim estranho, não que eu me importe, mas com certeza ele acreditou no que o meu pai falou. Logo ele vai embora e eu olho para o meu pai com raiva.
Jade - Porque você falou aqui? Porque você mentiu? - Pergunto o encarando.
Roni - Cala a porrä da sua boca e vamos para casa Jade, lá eu me acerto com você. - Ele fala indo para o caminhão.
A minha mãe entrou no caminhão e eu também, cruzo os meus braços chateada e sinto as minhas lágrimas escorrerem no meu rosto.
Rubi - Me desculpa Jade, sabemos que não é verdade o que o seu pai falou, eu só impedi você de falar, porque eu não quero que o seu pai faça nada com você. - A minha mãe fala olhando para mim.
Jade - Não quer que ele faça nada comigo, mas eu posso ficar mäl falada né mãe? Todos desse lugar vão pensar mäl de mim mãe, e eu não tenho medo dele, eu odeio o meu pai. - Falo limpando as minhas lágrimas.
Rubi - Não fala isso filha, o seu pai te ama. - Ela fala segurando na minha mão.
Nunca que ele me ama, nunca vi um pai fazer isso com a própria filha, ele fez eu me sair como rüim para livrar a própria pele.
XXX - O Roni falou que era aqui. - O dono do caminhão fala parando o carro em frente uma casa bem humilde que já está quase sem pintura.
Descemos do carro e esperamos o meu pai descer também, ele tira a chave do bolso e abre a porta, entramos na casa para ver como ela é por dentro.
Tem alguns móveis, mas já estão bem velhos, tem uma televisão daquelas de tubo bem antiga, vou em direção ao corredor, e fico feliz quando vejo que tem dois quartos e ainda tem porta.
Me aproximo e abro a porta de um dos quartos e sobe uma poeira terrível, mesmo assim entro nele e fico observando o cômodo, o quarto é pequeno e tem uma cama de solteiro e uma cômoda que está intacta, deve ser madeira mesmo, acho que esse será o meu quarto então.
Na outra casa só tinha um quarto, eu dormia na sala e o Ravi no quarto com meus pais. Fico feliz que agora eu vou ter um quarto só pra mim, mesmo sabendo que vai precisar de uma reforma.
Rubi - Jade, vamos limpar a casa para tirar as coisas do caminhão. - A minha mãe fala, então eu saio do quarto e já encontro ela com as vassouras na mão.
Pego a vassoura e vou logo limpar o meu quarto, tiro os lençóis da cama, limpo tudo e tiro a poeira, depois eu vou ajudar a minha mãe.
Colocamos os móveis na casa, eu arrumei o meu quarto com alguns ursos e uma pantufa, mesmo ainda precisando de uma pintura, ficou arrumadinho.
( ... )
Quando acabamos de arrumar a casa, já eram três horas da manhã e eu estava morrendo de sono e fome.
Jade - Mãe, eu estou morrendo de fome. - Falo sentada no sofá com o Ravi no meu colo mexendo no celular.
Ravi - Eu também tô com fome, mãe. - O Ravi fala olhando para ela.
Rubi - As crianças estão com fome Rony. - A minha mãe fala chamando a atenção do meu pai que está mexendo no celular.
Roni - Vão ter que aguentar a fome até amanhecer, porque uma hora dessa não tem nada aberto. - O meu pai fala, então ele olha para mim e sua fisionomia logo muda.
Rubi - As crianças não vão conseguir dormir com fome. - A minha mãe fala, porém ele não liga, levanta da cadeira e se aproxima de mim.
Roni - Eu não esqueci do que você fez Jade, eu vou falar uma coisa pra você garota, se você abrir essa sua boca grande, para falar merdä pro Guerreiro, que é mentira o que eu falei sobre você, eu quebro você no päu, está me ouvindo garota? - Ele fala me encarando.
Jade - Eu não fiz nada, você que mentiu com o meu nome, e ainda achou que eu ia ficar quieta? Eu tenho certeza que tivemos que sair da onde morávamos porque o senhor deve ter aprontado algo, eu sei muito bem o que o senhor faz pai, acha que eu já não escutei as conversas? E se for verdade mesmo, você deveria ter vergonha na cara, devendo drogäs que bonito! - Falo com raiva e minha mãe me olha fazendo sinal para eu parar de falar.
Então sem eu esperar, o meu pai me puxa com ódio, fazendo eu levantar e começa apertar meu braço com muita força, a sorte é que nessa hora o Ravi já estava no sofá.
Roni - CALA A PORRÄ DA SUA BOCA SUA VAGABUNDÄ! - O meu pai fala me encarando com raiva.
Rubi - Não fala isso da nossa filha Roni, solta ela! - A minha mãe fala tentando fazer ele me soltar, mas ele empurra ela, fazendo ela cair no chão.
Jade - Você é louco? Não encosta na minha mãe! - Falo me soltando e empurrando ele.
Vou até a minha mãe e ajudo ela a levantar.
Jade - A senhora está bem mãe? - Pergunto preocupada olhando pra ela.
Rubi - Está tudo bem, eu não me machuquei. - A minha mãe fala olhando para o meu braço, bem no lugar que o meu pai apertou e quando olho vejo que ficou a marca.
Rubi - Está doendo minha filha? - Ela pergunta preocupada.
Jade - Está tudo bem mãe, não se preocupe. - Falo ajudando ela sentar no sofá.
Jade - Se você fizer qualquer coisa com a minha mãe, eu vou até a boca, atrás do tal Guerreiro e falo que você está agredindo a gente! - Falo me virando para o meu pai.
Roni - Se você fizer isso, Jade, eu te mato! - Ele fala me encarando com raiva, saindo de casa e batendo a porta com força.
Rubi - Não irrita o seu pai Jade, você sabe como ele é ! - Ela fala olhando para mim.
Jade - Porque a senhora ainda está com esse homem mãe, ele só maltrata a senhora. - Falo olhando para ela triste.
Juri que não consigo entender nada disso. Essa atitude da minha mãe não entra na minha cabeça.
Rubi - Como eu vou cuidar de vocês dois sozinha, minha filha, precisamos do seu pai. - Ela fala com um olhar triste.
Jade - Eu já tenho dezoito anos mãe, eu posso trabalhar para ajudar em casa, amanhã mesmo eu vou atrás de trabalho aqui no morro. - Falo decidida.
Rubi - Não, Jade, eu não quero que você trabalhe, você vai retomar o seu curso de enfermagem para realizar o seu sonho.
Jade - Mãe! Não adianta, eu vou trabalhar sim e ponto final, dessa forma o meu pai não vai mais humilhar a senhora, por causa de dinheiro. - Falo seria.
Rubi - Você é a melhor filha que eu poderia ter, Jade, me perdoa por ter te dado esse destino miserável para você e o seu irmão. - Ela fala com a voz triste.
Jade - Mãe não fala assim, a senhora é a melhor mãe do mundo, dona Rubi e nunca duvide disso! Nunca! - Falo beijando a mão dela.
Sento do lado dela e a minha barriga começa roncar bem alto, e a minha mãe me olha mais triste ainda.
Rubi - Eu sinto muito filha. - Ela fala olhando para o Ravi que também está com fome.
Jade - Tudo bem mãe, vamos dormir que a fome passa. Amanhã será um novo dia. - Falo me levantando.
Rubi - Eu vou esperar o seu pai, mas leva o seu irmão, por favor . - Ela fala cabisbaixa.
Quando eu estava indo para o quarto, escutei o barulho de uma moto parar na nossa porta, então eu olho para a minha mãe.
Jade - Quem será? Será que é alguém que vai chamar aqui? - Pergunto olhando para a minha mãe, então eu escuto alguém buzinar, coloco o Ravi no sofá e vou ver quem é.
Rubi - Espera Jade, não abre a porta de vez, nós não conhecemos ninguém aqui e nem sabemos como as coisas funcionam. - Ela fala levantando também .
Abro a porta só um pouco e vejo o mesmo homem da entrada do morro na moto .
Rubi - Quem é? - A minha mãe pergunta perto de mim .
Jade - É aquele homem que estava na entrada do morro mãe .