Capítulo 2
GUERREIRO NARRANDO
Eu, Alessandro, mais conhecido como Guerreiro, tive a minha infância roubada. Desde pequeno, fui obrigado a trabalhar no morro. Mas não era qualquer trabalho. A minha mãe me forçava a ser vapor, levando drogäs para os clientes dela. Quando eu me recusava, ela me espancava.
A minha mãe passava a maior parte do tempo se drogändo com os caras da boca e nem ligava pra mim e para o meu irmão mais novo, Alex. Sempre fui protetor, e sempre que ela mandava o Alex fazer alguma entrega, eu passava na frente. Mesmo sendo tão jovem, eu já entendia das coisas e não queria essa vida para o meu irmão.
Eu apanhava por ele. E o protegia com a minha vida, se fosse preciso.
Uma noite, a minha mãe mandou o Alex fazer uma encomenda. Ele só tinha sete anos. Era tarde demais para ele sair por aí, então eu fui no lugar dele. Fui... mas não voltei no mesmo dia. A minha mãe nem se importou comigo, mas o Alex ficou o tempo todo na porta, esperando eu voltar.
No dia seguinte, voltei para casa. Mas não era o mesmo. As minhas roupas estavam sujas de sangue. O Alex me perguntou o que tinha acontecido, mas eu não respondi. E isso já faz dezesseis anos. Desde aquele dia, eu nunca mais fui o mesmo. Uma tristeza tomou conta de mim, mas poucos conseguem ver isso nos meus olhos.
Hoje, com 26 anos, sou o homem mais temido do morro do Dendê. Comando os bairros, as favelas e ainda forneço drogäs para os playboys da região.
TEMPO ATUAL
Estou na boca quando o Alex, vulgo Frajola, me chama no rádio bem na hora que a Karla esta tirando a roupa para mim.
Enquanto escuto o Frajola, que é o meu sub e também o meu irmão, mantenho os meus olhos fixos na Karla, que está dançando só de calcinhä. Quando o Frajola menciona que são ciganos, me levanto para ir até lá expulsá-los. Não gosto de cigano.
Eles são espertos demais pro o meu gosto. Uma vez, uma cigana mais velha me parou e pediu para ler a minha mão e falou um monte de merdä. Eu não acredito nessas coisas, mas deixei ela ler. Me arrependi na mesma hora em que ela começou com umas porrä de ideias nada a ver.
FLASHBACK ONN
XXX — Uma mulher dos olhos verdes como esmeraldas vai cruzar o seu caminho. Ela vai tirar essa dor do seu passado e, com sua pureza e bondade, vai trazer alegria à sua vida. Você vai sorrir de verdade — A cigana falou, enquanto lia a minha mão.
Na hora, puxei a minha mão de volta.
Guerreiro — Sai fora carälho, cigana filha da putä que porrä de mulher o quê! — falei, irritado.
Isso nunca vai acontecer. Nunca deixei nenhuma mulher se aproximar de mim, porque elas não são confiáveis. Lembro da minha mãe, de como ela era c***l comigo e com o Alex.
XXX — Não adianta fugir do seu destino. Ela vai quebrar as barreiras da sua mente e do seu coração. Não resista, não se pode lutar contra o amor — A filha da putä falou me encarando.
PORRÄ DE AMOR! AMOR NÃO EXISTE!
Eu não acredito nisso, eu nem sei que merda essa palavra significa, eu nunca fui amado por ninguém, nem mesmo pela minha mãe. Foi com ela que eu aprendi que não se pode confiar em mulher nenhuma e que esse tal amor não existe. Eu nunca amei e nunca vou amar, porque esse sentimento não existe em mim, eu sou sujo demais para ter esse sentimento ou até mesmo para alguém gostar de mim. Cansado de ouvir as merdas que essa cigana tá falando, pego a minha arma e aponto pra ela.
Guerreiro — Mete o pé daqui para eu não meter uma bala na sua cara filha da putä ! — Falo já sem paciência.
FLASHBACK OFF
Por isso eu não gosto de cigano e eu não quero esse povo morando aqui no meu morro.
Guerreiro - Veste a roupa e vai embora daqui Karla — Falo levantando, pegando a minha arma e a chave da moto e a putä da Karla fica me olhando com cara de cuu, já que eu nunca dispensei ela assim.
Karla - Eu pensei que você estava gostando Guerreiro ... __ Ela fala vindo tentando me beijar.
Ela levanta a mão para colocar no meu rosto, mas eu seguro e encaro a vädia com raiva.
Guerreiro — Você tá louca cä ralho! E outra eu já falei que não gosto que coloca a mão em mim! — Falo empurrando ela e saindo da boca.
Subo na moto, saio a milhão e vou em direção a entrada do morro, quando eu estou próximo, vejo um pequeno caminhão e duas mulheres usando roupas de ciganas.
Tomar no cuu viu !
Essas porrä s não vão ficar aqui!
Mas conforme vou me aproximando uma delas me chama atenção, acelero mais a moto e vou para cima delas, paro bem em cima da que chamou a minha atenção. Ela olha nos meus olhos e eu sinto um bagulho estranho com o olhar dela.
Imediatamente, me vem à mente o que aquela cigana disse. Porque os olhos dessa mulher são verdes, como esmeraldas.
"Uma mulher dos olhos verdes como duas esmeraldas vai cruzar o seu caminho."
Não consigo desviar o olhar dos dela. Parece que os seus olhos me enfeitiçaram. Que porrä tá acontecendo?
" Será que essa cigana jogou alguma macumba em mim? "
Frajola — Tá me ouvindo, Guerreiro? — O Alex fala, me chamando de volta à realidade.
Finalmente, consigo para de olhar pra ela.
Guerreiro — Eu não quero porrä de cigano no meu morro. Pode voltar pra casa do carä lho da onde vocês vieram. — digo, evitando olhar para a mulher novamente.
Senti algo estranho quando olhei para ela. Parecia que ela estava desvendando tudo o que eu escondo através dos meus olhos.
E seu olhar também mudou. Quando olhei rápido ara ela de novo, vi que os olhos dela estavam cheios de lágrimas. Que porrä de cigana é essa? O que ela fez comigo?
Eu não quero essa mulher aqui. Ela traz à tona lembranças do meu passado, e o pior, de um jeito que não me faz lembrar com dor.
Essa cigana me cegou por um momento. Eu só conseguia enxergar ela e mais nada na minha frente, essa p***a deve ser bruxa.
Frajola — Guerreiro elas são família do nosso primo, Rony, mais especificamente mulher e filha. — o Frajola fala, me fazendo olhar para ele.
Então, eu vejo o meu primo, que faz muito tempo que eu não via. Pra que merda ele voltou pro morro?
Guerreiro — Porrä , Rony, tantas mulheres no mundo e você foi comer logo uma cigana, é pra f***r mesmo viu! — digo, soltando uma risada sem graça.
Roni — Foi o que eu achei, primo — ele responde, me cumprimentando.
O Roni é primo da minha mãe. Saiu do morro há tempos, fugido porque devia drogäs pro antigo chefe.
XXX — Não fala assim da minha mãe. Você teve sorte dela ter olhado pra você, porque eu mesmo nunca olharia. — Pela primeira vez, a cigana dos olhos verdes fala.
Sua voz é como um canto de sereia. E isso me faz olhar para ela de novo. Mas agora ela está encarando o Roni, com raiva do jeito que ele falou da mãe dela.
Roni — Me respeita, que eu sou seu pai, Jade. Acha que eu não te quebro aqui mesmo? — ele diz, levantando a mão para bater nela, mas eu seguro antes que ele consiga.
Ela me olha, e ele também, eu nem sei porque fiz isso, mas em vez dela ficar quieta, a porrä fala mais merdä .
Jade — Eu não tenho medo de você, pai. Quando você aprender a respeitar a minha mãe, eu aprendo a te respeitar — ela fala, firme, encarando o pai e ele tenta ir pra cima dela de novo.
Guerreiro — Aqui no meu morro, não.
Roni — Foi mäl, Alessandro — ele responde, me olhando, mas percebo uma certa fúria no olhar.
Guerreiro — Guerreiro, pra você. Fala logo que porrä você quer e mete o pé do meu morro — Falo, empurrando ele para trás.
Roni — Eu queria pedir pra você deixar a gente morar aqui no morro, na casa da minha mãe, se ainda estiver de pé. Ou então alugo uma casa aqui — ele diz, todo sonso.
Pra ser sincero, nunca gostei do Roni. Desde moleque, eu levava drogä pra ele.
Guerreiro — Que porrä você aprontou pra sair de onde você morava uma hora dessas? — pergunto, já sabendo que ele fez alguma merdä.
Roni — A Jade se envolveu com um cara barra pesada. Fugimos de lá pra ele não matar ela. — Quando ele fala isso eu olho para ela.
Ah, então ela só tem cara , mas não é santinha. Viu só ? Aparências enganam . É por isso que eu não confio em mulher nenhuma .
Jade — Pai, eu não fiz ... — ela começa a falar, mas ele interrompe .
Roni — Cala a porrä da boca, Jade . Estamos aqui por sua causa ! — Ele fala, olhando pra ela com raiva .
Rubi — Jade, querida, faça o que o seu pai mandou . Não se intrometa e deixa ele conversar com o primo dele . — A mãe dela fala, se aproximando .
Ela obedece, mas eu vejo algo mudar nos seus olhos . Parece que a cor deles tinha mudado .
Guerreiro — Vou deixar vocês ficarem maqui . Mas se qualquer um de vocês aprontar, é poucas ideias e já era! Não vou me importar que você é da família e vou esculachar se for preciso. — Digo, subindo na moto e indo para casa.
( ... )
Coloco a moto na garagem e entro em casa. Me jogo no sofá e, quando fecho os olhos, aqueles olhos verdes aparecem na minha mente.
Guerreiro — Que porrä está acontecendo comigo? Será que aquela cigana colocou algum feitiço em mim?