BRUNO
Saio da pequena janela e volto pro canto que estava antes, o fedor daqui me causa enjoos constantes, esse cheiro de mofo me irrita, os caras fazendo brincadeiras e rindo de tudo como se aqui fosse o melhor lugar pra se estar, acaba comigo, qualquer dia desse acabo matando uns três só no soco mesmo, bando de i****a! Odeio esse presídio, odeio essa cela. Pra falar a verdade "ódio" é apenas o que sei sentir! A vida toda!
A merda que eu fiz pra estar aqui jamais vou voltar a fazer, eu tava tão drogado que não tive idéia do que tava aprontando. Mas também, não tinha como deixar aquela vagabunda fazer aquilo comigo, quem ela pensa que é?!
Aperto o cigarro em minha mão até esfarelar por completo, tenho tanto ódio da vida, nojo imenso de viver, de ter sido posto no mundo pra sofrer e pra ter me tornado esse bosta que me tornei! Posso ter tudo nessa maldita vida, mas ao mesmo tempo não tenho nada!
Eu me odeio, simplesmente assim
****: O viado ta na noia paceiro? -
Esfrego o p*u e cuspo no chão. To fazendo de o que posso pra não da atenção a essa desgraça na minha frente. Eu sei que ele quer me que eu perca a paciência e assim, fique aqui alguns anos a mais. E aí o chefe dela lá invade minha favela e toma conta dos meus baguio, meu p*u no cu dele! To dormindo de touca não!
Ta um barulho do c*****o aqui no corredor, a minha cela é uma das mais tranquilas mas mesmo assim tem seus bretes.
Hoje pela manhã um detento foi encontrado morto por um parceiro de cela, foi depois da hora do banho de sol, ele estava enforcado com uma calça, ela foi amarrada no pescoço dele pelas pernas o cara tava atirado bem na entrada da cela. O fiw que viu, foi logo chamar um agente, mas esses caras daqui são tudo uns p*u no cu tá ligado?
Os agente acham que foi ele me quem matou, e depois de fazer nos voltar pra dentro, colocaram o menino lá pra cela que nós chamamos de castigo. Quem chega no presídio fica lá trancado sem comida ou água dependendo do crime, os que tem sorte tem uma refeição e um copo de água uma vez por dia, claro eles não podem fazer isso mais fazem. Se acham os donos da cocada preta!
Já faz, umas duas horas que eles levaram o cara e estão até agora batendo nele, por isso o barulho aqui no corredor. E com certeza tá em todos os corredores do presídio, as notícias se espalham rápido por aqui. Parece as velhas fofoqueiras da favela, vo te conta!
Os estão indignados, com o que os p*u no cu estão fazendo, e eu também mas não vou ser burro nem xingar e gritar não, porque já sei que daqui a pouco entram com tudo aqui e vão meter bala de borracha e gás em tudo que é i****a que agora tá gritando, isso se não for em todo mundo.
Acendo mais um cigarro e fico tentando ficar de boa no meu canto, o calor tá insuportável mano, e com esse cara morto não muito longe da minha cela tá pior ainda, o cheiro é horrível.
Dou uma tragada no cigarro e ouço um agente xingar o homem aqui da cela que grita na porta. O carinha revida com alguns palavrões e ele bate varias vezes com a ponta do c****e na cara do viado que tava se achando o machão, e agora chora feito criança. A ponta do nariz dele ta quase na orelha, o bagulho tá irreconhecível, e eu? Apenas do risada no meu canto. Esse agente só fez o que eu mesmo queria ter feito a mó cota ta ligado?
Mano te liga, se tu acredita em inferno, pode crer que eu vivo nele agora, por que o presídio nada mais é que o próprio inferno.
//////
Dias depois…
JÚLIA
Tudo ocorreu bem, a cirurgia da minha foi um sucesso.
Porém eu não tô completamente feliz, deveria né?! Mas não estou! Eu não queria ir pro Rio, tem algo em mim dizendo que não vai ser muito bom lá. Mas não tem jeito, devo afastar esses pensamentos da minha cabeça, eu tenho que ir, preciso pagar o Carlos e ajudar a manter minha família. Como tudo ocorreu bem, já está tudo normal, vou aproveitar a noite. Open Bar não dá pra perder! Fora que preciso curtir com minhas irmãs e algumas amigas. Vou viajar na segunda, e tudo o que fiz por esses dias é aproveitar muito bem minha família e meus amigos.
Alana: Ju, com que roupa tu vai? - como furacão vejo ela entrar no quarto
Júlia: Ah, sei lá. Shorts e cropped e tênis?
Alana: É, tá bom. Eu já revirei meu guarda roupas e não achei nada pra vestir! Que p***a! - Alana, sendo Alana kkkkk
Aline: Que drama meu Deus, affs
Bom depois de muito escândalo de Alana e Aline brigando por roupas. Nós saímos de casa, isso já era quase meia noite e ainda tenho que passar na Amanda, só espero que aquela criatura esteja pronta.
Entro no carro, e dirijo direto e rápido em direção a casa da Amanda, que já estava à nossa espera, sorte dela!
(...)
A festa foi ótima dançamos e nos divertimos muito, mas o que me deixa muito intrigada é que em momento algum o sentimento de que algo r**m irá me acontecer me abandona, pensei que lá, dançando e bebendo eu iria esquecer esse “pressentimento” mas me enganei. Eu estava super de boa, por mais que havia bebido umas Skol Beats não estava bêbada, e talvez o erro esteja aí, bebi pouco demais. Nós chegamos em casa era quase sete da manhã, e a primeira coisa que fui fazer foi ir até o quarto da minha mãe, queria garantir que ela estivesse bem. Deve ter algo errado comigo, esse aperto no peito, essa sensação de que algum m*l virá sobre mim. Que droga! A Amanda dormiu na minha casa, pra aproveitar o churrasco de domingo que meu pai sempre faz, em casa de gaúcho, tem que ter churrasco de domingo. Porque caso contrário, nem parece domingo. E o que me deixa triste é saber que será meu último churrasco em casa.
Ah, mas daqui três meses estou de volta ao lar, não é?
Tenho feito essa pergunta a mim mesma a dias, e a resposta sempre é sim. Mas não tenho certeza disso. Parece que estou apenas tentando enganar a mim mesma.
**************************
AMANDA
Estar na casa da Júlia, e ótimo. Eu me sinto em Família, aqui tem amor. Coisa que nunca tive.
Eu nunca conheci de perto uma família, sempre foi só eu e o Rael, ele sempre me protegeu desde sempre, tivemos que lutar pra sobreviver mesmo quando era para apenas estar brincando sem preocupação. Não conheço uma infância normal, sempre foi luta, e mais luta. Lembro de uma vez no orfanato quando um guarda veio tentar me estuprar e o Rael foi pra cima dele com tudo, mesmo não podendo com o mesmo, ele tentou. Ele sempre tentou.
Agora desde que eu vim morar no sul estamos mais afastados, mas sempre nos falamos sempre, tô louca pra voltar pro Rio e ver meu amado irmão de novo. Ele me disse que está em uma nova fase da vida dele, não sei bem que fase é essa mais espero que seja longe das drogas e que ele esteja feliz, é o que importa. Nós já passamos por tanta coisa nessa vida, felicidade é muito mais que merecida. Mas desde que seja longa de favelas e drogas, não quero isso pra ele justamente por causa da maldita droga que já nos fez sofrer tanto.
Pensar nele me deixou com uma saudade imensa, resolvo liga pro meu mano.
Ligação on:
Amanda: E ai mano lindo...
Rael: Oi princesa, e aí, quando vem?
Amanda: Segunda agora pego o vôo, mas me diz uma coisa Rael que voz estranha é essa?
Rael: Isso se chama ressaca boneca
Amanda: Hummm então a vida tá ótima mesmo - suspiro pensativa, preocupada - Toda vez que te ligo, você tá bebendo ou de ressaca aff Rael!
Rael: Para menina fica sussa Amanda, eu sei o que tô fazendo. - ele sorri sem graça
Amanda: Eu fico preocupada menino, você sabe, perdemos os nossos pais e fomos abandonados, porque eles eram alcoólatras, e usuários de drogas, e não quero isso pra você, olha por tudo que você já passou, tudo de novo não Rael! Tenho de você cair - nesse momento já estou chorando, eu não tinha muita mania de lembrar do passado, meu objetivo é fazer de conta que nunca aconteceu! Mas tem horas que é impossível
Rael: Amanda, fica tranquila, eu sei tudo o que nós passamos, e o que eu já passei e prometo não cair de novo e também não vou me tornar igual a eles. Bjsss tenho que ir
Amanda: Bjsss gato se cuida
Ligação off:
Eu só espero que o Rael não esteja metido em encrenca! Assim que chegar no Rio vou ter uma boa conversa com ele, e se precisar, arranco as orelhas!