O final de semana finalmente chegara e assim como prometido por sua mãe, Theodore fora deixado no ginásio da escola onde ocorreria o amistoso do time de vôlei. Depois de pegar a imensa bolsa térmica e a outra bolsa contendo toalhas limpas, o rapaz loiro apenas se abaixara na janela para acenar em despedida.
— Me ligue quando terminar, eu venho te buscar.
— Está tudo bem, provavelmente eu vou a pé.
— Você sempre trás mais coisas nos finais das partidas. Apenas deixa que eu te ajudo, hm?
Pete com seu sorriso amigável tornava difícil rejeitar sua oferta. Apertando a alça em seu ombro o garoto loiro apenas concordara com a cabeça acenando novamente, não se esquecendo de mandar um beijo no ar para Lisa.
Assim que o carro escuro virara a esquina saindo de sua vista, Theodore respirara fundo checando a hora em seu relógio no pulso. Tinha chego uma hora e meia antes do combinado. Olhando ao seu redor não encontrara nenhum outro estudante por ali.
Deveria ser o primeiro.
Seguindo o caminho até o ginásio silenciosamente, Theodore repassava em mente todas as suas tarefas. Apesar de ser uma partida amistosa, suas tarefas eram iguais as partidas oficiais. As garrafas com água de todos os jogadores estavam geladas na bolsa térmica. As toalhas que lavara no dia anterior estavam passadas e dobradas na segunda bolsa que carregava. Além disso também trouxera um kit de primeiros socorros e cadernos para fazer avaliações – certamente Nico lhe encarregaria disso.
O que precisava cuidar era pedir os lanches da tarde para os atletas, mas esperaria o técnico do outro time chegar para saber se também iriam querer alguma coisa. E então ao final do dia ajudaria na limpeza da quadra guardando as bolas e a rede.
Retirando uma cartela de comprimidos da calça de moletom, retirou um comprimido o enfiando na boca engolindo em seco enquanto seguia o seu caminho. Pisando na porta do ginásio logo encontrara o seu professor de educação física, que abria a porta.
— Eaí Moss, chegou cedo hoje.
— Boa tarde professor. Vim mais cedo pra ajudar na arrumação da quadra.
— Sempre de prontidão, não é garoto? Venha, venha, eu te ajudo com a rede.
Portas abertas e o cheiro amadeirado lhe davam as boas vindas. Aluno e professor logo deixavam seus pertences em um canto do ginásio, seguindo para o depósito onde eram guardados os instrumentos esportivos. A rede era grande e um tanto quanto pesada, mas Theodore conseguia lidar muito bem com o seu trabalho.
Para a sua sorte o professor Marcus era alguém com espírito esportivo que só se importava com jogos. Mesmo que os rumores sobre a sexualidade do loiro circulavam entre os atletas, Marcus apenas cuidara do assunto de modo a não interferir no time.
Se não tinha a ver com jogos, não lhe interessava.
Theodore, então, sentia confortável ao lado do seu professor.
Depois de montada a rede e o carrinho com as bolas posicionadas ao lado da quadra, os primeiros jogadores chegavam à quadra. Como de praxe, Theodore ficava em silêncio sentado no banco de madeira retirando as toalhas da sua bolsa e as deixando empilhadas na ponta do outro banco, o mais longe possível de si.
Se alguém começasse a fazer piadinhas sujas só por ter entregue uma toalha, Theodore imaginava que renderia em uma grande discussão mais tarde. Quanto menos contato com os jogadores, melhor.
— Theodore, você veio!
Erguendo os olhos claros para o alto, encontrara o rapaz cujo sorriso era gentil. Aquele que lhe dominara os pensamentos desde o momento em que sentira um abraço quente e uma respiração próxima de si. Piscando algumas vezes para acordar de seus devaneios, o loiro erguera a mão acenando.
— Eaí!
— Pensei que não fosse vir.
Gabriel jogara a bolsa esportiva no chão e se sentara ao lado de Theodore, retirando a blusa de moletom que usava.
— Nico pediu que eu fizesse uma nova análise do time, já que vai ser a sua primeira partida.
— Ah é? Ele pediu isso mesmo?
A surpresa de Gabriel fizera o loiro soltar um riso nasalado.
— Ele é seu capitão, é claro que vai querer tirar o seu melhor desempenho em quadra.
— Digamos que ainda não encontrei uma forma de me relacionar bem com esse capitão.
Theodore concordava com a cabeça, engolindo a pequena ponta de culpa que surgia. Claro que os dois poderiam se dar bem, mas por conta do ômega ter deixado tão claro o seu interesse sobre o aluno novo, Nicolas seria protetor. Provavelmente os dois nunca teriam conversado sobre o que ocorrera no refeitório semanas antes.
Se Theodore não fosse amigo de Nicolas, provavelmente eles seriam bons amigos.
Percebendo o silêncio do loiro, Gabriel esticou as pernas preguiçosamente.
— Então, como costuma funcionar esses amistosos?
Respirando fundo para abandonar os pensamentos incômodos, pela segunda vez, Theodore erguera o rosto para a quadra.
— É uma partida treino. Daqui à duas semanas começam as eliminatórias do intercolegial. Você pode encarar isso como uma forma de se acostumar à jogar contra outras pessoas.
— Acho que agora fiquei um pouco ansioso.
Rindo baixo, Theodore virava o rosto para o amigo bonito dando uma leve ombrada em seu braço.
— Fique de boa. Você é bom, por isso está no time.
Percebendo ter elogiado o rapaz, Theodore sentira suas orelhas queimarem. Imediatamente ele desviou o olhar, puxando a bolsa térmica para perto de seus pés tentando focar em outra coisa que não fosse no rapaz ao seu lado.
No entanto, Gabriel lhe dera um aperto no ombro, aumentando o nervosismo do rapaz.
— Valeu Theodore.
— Pode ir tirando suas patas do meu assistente.
O resmungo ganhara a atenção dos dois rapazes, que se depararam com a figura mais sonolenta vista na face da terra. Nicolas estava com boné e moletom, carregando uma bolsa e um Kapo de uva. As imensas olheiras roxeadas já alertavam Theodore de que seu melhor amigo se encontrava no péssimo humor.
Contrário do aviso baixo, mas repleto de intenção assassina, Gabriel não soltara o ombro de Theodore. Muito bem pelo contrario, apoiara o braço ali, encarando o capitão.
— Boa tarde pra você também, capitão.
Nicolas espreitava os olhos.
— Boa tarde o meu r**o. — Resmungava o rapaz segurando o pulso de Gabriel o obrigando a tirar o braço sobre Theodore. — Se já está pronto, vá se aquecer.
— Não adianta tentar me expulsar daqui, capitão.
Theodore suspirou passando a mão sobre os fios loiros, e então encarara o amigo.
— Não dormiu essa noite? Parece mais cansado do que o normal.
— Acordei agora.
— Agora? — Surpreendia Theodore, olhando o relógio de pulso, percebendo ser quase duas da tarde. — E que horas foi dormir?
Nicolas bebia do seu suco de uva, piscando tão lentamente quanto um bicho preguiça. E então erguera seis dedos das mãos.
— Tá brincando comigo, não é? — Questionava Theodore indignado, recebendo uma negativa do amigo. — Nico! Deveria ter ido dormir cedo pra não ficar todo sonolento na partida.
— Quer que eu durma agora, então?
Theodore bufara em resposta. Com um sorriso debochado no rosto, o alfa se inclinava no banco encarando Nicolas.
— Isso não é muito saudável, capitão. Pode acabar jogando mal...
— De novo, querem que eu durma agora?
O olhar sonolento de Nicolas logo se tornara raivoso. Gabriel e Theodore entreolharam-se e negaram com a cabeça. A conversa fora interrompida pelo grupo de garotas que entraram no ginásio com seus gritinhos e conversas paralelas espalhando feromônios pra todo canto. Os três rapazes, assim como todos os jogadores que haviam chego, acompanharam aquele imenso grupo de meninas entrarem e subirem para arquibancada.
Os poucos lugares que haviam ali foram completamente preenchidos. Faixas e cartolinas com o nome de Milles predominavam o ginásio.
— Mas o que está acontecendo aqui?
— Parece que meus saques já tem um alvo. — Rosnava Nicolas com o canudinho na boca.
Ignorando o amigo, Theodore aproximara de Gabriel para lhe sussurrar.
— É o fã clube do Milles. Mesmo que a gente tente manter em segredo essas partidas de treino, elas dão um jeito de descobrir e vir assistir.
— O cara tem um fã clube?
— Não iria me surpreender se ele fosse capa da revista Capricho de tão popular que ele é. — Respondia Theodore, que desviava o olhar para o capitão do time. — O problema é outro...
Seguindo o olhar do loiro, Gabriel percebia a aura assassina de uma pessoa que parecia sonolenta. Em pé tomando o suco de uva, um baixinho fitava as arquibancadas com um olhar tão vazio que parecia um buraco pronto pra sufocar alguém em seu abismo.
Um arrepio passara pela espinha do aluno novo.
— Ele não teria coragem de jogar bola nas meninas propositalmente, teria?
Os gritos eufóricos ganharam força e ecoaram até fora do ginásio quando o principal motivo dos hormônios pisara em quadra descendo do seu skate. Milles em sua calça de moletom e camisa regata acenava para a arquibancada, espalhando o seu belo sorriso em agradecimento às doces meninas que suspiravam aos seus pés.
Angelicalmente também cumprimentara os demais jogadores do seu time e o técnico, olhando em volta da quadra com um sorriso satisfeito com sua fama.
— Vamos nos aquecer — Comandava Nicolas ao apertar a caixinha de suco já vazia.
Nicolas deixara sua mochila ao lado de Theodore e logo retirou o boné e o moletom, ficando apenas de shorts escuro e a camisa acinzentada. Ignorou por completo toda a doçura que irradiava um certo atleta alfa loiro, indo até o técnico discutir alguns planos de treinamento.
Já Gabriel, que amarrava o tênis, olhava aquele cenário com curiosidade.
— Sinto que se eu pisar na quadra irei morrer.
— Você não, mas o seu amigo já não tenho tanta certeza. — Ria Theodore dobrando a blusa de Nicolas com cuidado.
Percebendo tamanho cuidado com a blusa do amigo, Gabriel engolira em seco olhando a sua própria jaqueta jogada no banco ao seu lado.
— Você vai ficar aqui o tempo todo?
— Sim, por quê?
Gabriel puxara a própria bolsa para os pés de Theodore, e então lhe estendia a blusa que usara ao chegar no ginásio.
— Pode cuidar pra mim?
O aroma perfumado daquela blusa fora um verdadeiro tapa na face de Theodore. Encarando o rapaz de cabelos escuros à frente, não lhe respondera de imediato como gostaria. Talvez fora o seu silêncio que fizera Gabriel aproximar ainda mais a blusa perfumada em sua direção.
Pigarreando para forçar a sua voz a sair nítida, Theodore encontrara coragem pra responder diretamente.
— Tem certeza? Digo... Podem entender que estou mexendo nas suas coisas.
— Estou te entregando na frente de todo mundo. É só um pedido pra cuidar das minhas coisas enquanto treino.
Mordendo o lábio inferior, Theodore estendera as mãos segurando a blusa e a deixando em seu colo. Gabriel alargava um estonteante sorriso nos lábios, bagunçando os cabelos loiros do seu colega de classe. E então, como se aquilo fosse nada, ele seguia para a quadra junto de seus colegas de time.
Sentado no banco com uma blusa perfumada e uma sensação acalorada em sua cabeça, Theodore tentava não ficar envergonhado na frente dos demais. Só que era impossível.
Doce perfume que lhe envolvia como um verdadeiro convite para sonhar. Se não estivesse em público, provavelmente afundaria seu rosto no tecido e inalaria aquele perfume como uma droga viciante. Teria de se conter.
Contenha-se!
Dobrando a blusa e a deixando em seu colo, Theodore obrigara-se a focar na quadra quando o time da outra escola havia chego no ginásio. O treino estava prestes a começar, e como lhe fora pedido que analisasse os jogadores, então teria de se concentrar.
Após o aquecimento dos jogadores eles formaram fileiras e se cumprimentavam estabelecendo as regras daquela partida. Fariam três sets de vinte e cinco pontos, e depois os técnicos conversariam com os times adversários para lhe darem conselhos. Em seguida eles fariam um treino físico em conjunto.
A partida dera início e Theodore logo anotava os jogadores em suas posições. Os olhos meticulosos acompanhavam os atletas com exímia atenção, sem precisar olhar o caderno enquanto escrevia rapidamente.
Tanto Gabriel quanto Nicolas não participaram do primeiro set. E pelo jeito que o capitão sussurrava alguma coisa pro novo jogador sem tirarem os olhos da quadra, imaginava que ele já fazia seus apontamentos e conselhos. O ômega não deixara de ficar aliviado que seu melhor amigo tivesse deixado a picuinha de lado, pelo menos em quadra.
Apesar do primeiro set dando a vitória ao time visitante, Milles havia encerrado a partida com um excelente ataque. Os gritos eufóricos das meninas na arquibancada rechearam o ginásio, causando uma onda de reclamações por parte dos jogadores adversários.
Dois jogadores saíram da quadra e deram lugar para Gabriel e Nicolas. No instante em que ele pisara em quadra, a mesma parecera pegar fogo. Theodore apertava a blusa em seu colo junto com o caderno lembrando-se de não deixar enganar pela fisionomia sonolenta de Nicolas.
O outro time começara sacando e o jogo para manter a bola no ar se iniciara. Milles continuava em quadra sendo alvo dos gritos das meninas, principalmente quando ele começara a ser mais exibido. Ele e Gabriel formavam uma boa dupla de bloqueio devido suas alturas, ainda assim o primeiro ponto fora para o time adversário.
Se antes aquela quadra estava pegando fogo, agora era o próprio inferno. Os gritos das meninas diante do biquinho manhoso de Milles enfurecera o capitão do time. Quando o outro time fizera o saque, um jogador recebera a bola e Gabriel se preparava para levantar.
Em questões de segundos Gabriel analisara a quadra encontrando um rapaz de pele pálida e ombros curvados, com suor escorrendo em sua testa grudando os fios escuros em sua pele. Aquele mesmo rapaz cuja aparência era tão desleixada e preguiçosa, tinha um ódio profundo em seus olhos.
Fora para aquele sujeito, da qual chamava de capitão, que Gabriel direcionou a bola.
Da mesma forma que o novo jogador fora ligeiro em escolher o seu companheiro de corte, Nicolas fora rápido para tomar a decisão.
As meninas da torcida se agitavam em perceber que Milles, estando o mais perto de Gabriel, se preparava para pular e cortar a bola.
Porém a bola fora cortada pelo jogador mais baixo.
E fora espetacular.
Theodore mau piscara, ficando boquiaberto junto com o seu professor de educação física quando Nicolas correra tão rapidamente e saltara bem mais alto que sua altura cortando a bola com tamanha força. Força essa que ecoara o som por todo o ginásio, silenciando absolutamente todo mundo.
O time adversário não se movera. Encaravam o outro lado da rede como se ainda esperasse por algum ataque. Fora tudo tão rápido e grotesco que não haveriam neurônios suficiente pra compreender como aquilo acontecera.
O capitão virara para a arquibancada, fuzilando o grupo de garotas emudecidas.
— Se eu ouvir mais um pio acabo com a raça de vocês e ainda coloco aquele demônio no banco por todo o campeonato.
— Ei, não precisa falar assim com elas!
— Isso aqui não é um desfile de moda, seu i*****l. — Rosnava Nicolas segurando a gola da camisa de Milles, que havia se aproximado ameaçadoramente. — Se quiser se exibir feito um modelo de revista cai fora, está atrapalhando.
— Rapazes voltem ao jogo ou eu expulso os dois! — Gritava o técnico, aproveitando quando os demais jogadores afastavam os briguentos.
A partir de então a partida fora silenciosa na arquibancada, mas barulhenta em quadra. Nicolas havia perdido por completo sua paciência fazendo questão de descontá-la em todos os cortes que poderia fazer.
Theodore suspirava baixo em anotar no caderno que seu melhor amigo deveria trabalhar mais o seu temperamento quando estivesse em quadra. O problema disso era que o baixinho era incomparável quando irritado.
Sempre que assistiam as partidas e acontecia de Nicolas ficar irritado, ele jogava acima de sua capacidade. Certamente gastava mais energia, o que o fazia dormir por mais de doze horas, mas era a peça chave do time. Por conta disso era difícil encontrar um levantador que pudesse lhe passar a bola com tamanha precisão, a ponto de acompanhar a alta velocidade de Nicolas.
Até a chegada de Gabriel.
Todo contente fora um Theodore fazer anotações sobre como aqueles dois poderiam, e deveriam, trabalhar como uma dupla chave do time. Se Gabriel conhecesse melhor sua capacidade como levantador, poderia deixar o bloqueio com Milles e ajudar o capitão no ataque.
Ah... As ideias simplesmente surgiam em sua mente. Theodore rabiscava tanto naquele caderno que mau vira as horas passarem. Somente sentira os dedos doerem de tanto escrever, quando o apito final do segundo set soara e os times foram descansar.
— Conseguimos empatar, mas já estou cansado demais pra aguentar um terceiro set. — Reclamava o professor aproximando de Theodore. — As bebidas estão aí?
— Aqui.
Marcus se agachara pegando a alça da bolsa térmica, parando logo depois de dar as costas ao aluno.
— Ah... Faça ele dormir. Quero testar o líbero no lugar do capitão.
— Sim senhor.
Os jogadores se dispersavam da quadra e o barulho das conversas retornaram. No segundo banco amadeirado estava o professor distribuindo as garrafas geladas e as toalhas para enxugarem os suor. Theodore observava-os de longe, ficando feliz por seu trabalho ser bem aproveitado pelo time.
— Ah, estou tão cansado!
Virando a cabeça para o lado encontrara Nicolas sentado no banco com os cotovelos apoiados nas pernas. Tendo duas toalhas guardadas consigo, Theodore usara uma delas para cobrir a cabeça de seu amigo enxugando o suor de sua nuca.
— Perdeu a paciência de novo cara.
— Não reclame comigo.
— Eu reclamo, a sua sorte é que o Gabriel foi genial em te acompanhar. Se não o professor estaria puxando a sua orelha.
Nicolas rosnara estendendo a mão pro amigo. Bufando, Theodore entregava uma garra de água pro amigo, que a virou de imediato bebendo um grande gole. Desviando o olhar, o ômega percebera a chegada de Gabriel com seu sorriso gentil e bem humorado de sempre.
O rapaz alto vinha em sua direção se sentando do outro lado livre de Theodore, também se apoiando nas pernas. Silenciosamente o loiro lhe entregara uma toalha e a outra garrafa d’água, que foram bem recebidos.
— Valeu, Theodore. Eaí, como me saí?
— Muito bem eu acho. O professor quase sai pulando de alegria. — Ria o loiro.
— É muito mais intenso que os nossos treinos. Curti muito a adrenalina.
Theodore arqueara a sobrancelha, reprimindo o riso ao olhar de canto pro amigo que estava silencioso à sua direita.
— Vai se acostumando, as partidas oficiais podem ser piores que isso.
A conversa fora interrompida pelo grito eufórico das meninas. Milles conversava com elas, tendo a proeza de fazê-la se aglomerarem perto da quadra.
— Moleque exibido, tomara que quebre essa maldita cara...
— Está resmungando de novo, Nico. — Reclamava Theodore, tornando a esfregar a toalha nos cabelos escuros do amigo. — O professor mandou você ir dormir. Deita aí e bons sonhos.
— Como você quer que eu durma como esse griteiro digno de um puteiro?
— Mate ele nos seus sonhos.
— Boa ideia.
Balançando a cabeça, Theodore ia para o lado dando mais espaço pro amigo deitar no banco, porém ele já estava se encostando em Gabriel quando Nicolas o segurou.
— Fica aí, eu deito no teu colo.
— O quê?
Nicolas percebera a blusa de Gabriel sobre o colo do amigo e rapidamente a segurou jogando-a na cara de seu dono. Resmungando ele se deitara no banco aconchegando a cabeça no colo de Theodore, fechando os olhos e cruzando os braços.
Balançando a cabeça, Theodore não ousara contradizer o baixinho irritado. Apenas ajeitara o boné dele em sua cara e jogara o moletom sobre seus braços para não pegar friagem.
E então virou-se para o outro jogador ao seu lado quando ele o questionara.
— Ele não vai jogar mais?
— Pode dar briga.
Apontando com o queixo para o jogador alto que paquerava ao lado da quadra, Theodore deixava claro a mensagem. Gabriel assentira compreendendo, mesmo não gostando muito de ver a facilidade que aquele capitão baixinho tinha de ignorar os rumores e permanecer tão próximo do seu salvador.
Sem dizer uma única palavra, Gabriel teve que voltar para a quadra e participar do último set da partida treino. Mas seus olhos, de vez em quando, fugiam para um certo banco de madeira onde havia um garoto dormindo no colo de um certo ômega loiro.
E vendo-o zelar aquele sono, fez com que um sentimento novo surgisse no peito daquele aluno transferido. Sem saber exatamente o que lhe desagradava tanto, aquele aluno alto e gentil dava lugar à um jogador irritadiço, mas silencioso se comparado ao seu capitão.
Fora a vez de Gabriel ser agressivo no jogo, mesmo usando uma máscara da bom moço. Seus bloqueios eram certeiros, seus levantamentos eram precisos, e seus cortes eram fortes. Não chegava ao nível de Nicolas, mas era o melhor da quadra naquela rodada.
Toda vez que marcava um ponto e comemorava com os seus colegas de time, Gabriel dava uma espiada naquele banco se amargurando cada vez mais com a visão.
A inveja fora o motivo para a grande vitória do time da casa.