Hakan Demir
Pai que é pai, passa a vida toda se preocupando com os filhos, vive por eles e morre por eles também. A lei natural da vida é que o filho enterre seu pai e não o contrário
Eu entendo o porque disso, a dor de ter que enterrar a sua semente é tão grande que um coração velho quase que não é capaz de aceitar, de suportar
É isso que estou tendo que passar agora, é essa dor que eu sinto, todos os dias, por causa de um maldito que se achou no direito de acabar com a vida do meu primogênito, no meu amado filho Amir
Comandante do Inferno chamado CDD, pra onde eu olho, pra onde eu pergunto, é somente essa frase que eu escuto, que o tal desgraçado que ousou contemplar o último suspiro do meu filho, atende pelo nome de Dante e comanda o tal inferno
Mal sabe ele que o inferno que ele comanda não chega em perto do inferno que eu vou fazer ele passar
Me lembro até hoje o dia em que recebi a notícia, eram onze da manhã na Turquia, um dia lindo, ensolarado. Eu estava com meu filho, minha esposa e minha filha em uma cordilheira próximo a um lago cristalino, onde eu tinha uma casa de veraneio, nos estávamos tomando o nosso chá
Minha filha estava sorrindo, não me lembro bem o motivo, só que eu estava contemplando a sua beleza e a maravilha de poder estar próximo à minha família enquanto o Amir, meu filho mais velho, tomava conta dos negócios
Asker – Senhor, uma ligação urgente do Brasil
Hakan – Sim, deve ser o Amir
Não percebi naquele momento o semblante de desespero daquele soldado, atendi a ligação esperando escutar a voz imponente do meu varão, mas a única coisa que recebi em troca, foi a notícia de um dos seus Asker, de que ele tinha morrido enquanto trazia mais uma mercadoria para a Turquia
Meu mundo caiu, perdi o rumo, fiquei sete dias e sete noites me lamentando, joguei cinzas na minha cabeça e rasguei as minhas roupas em sinal de indignação
Só depois desse período, me agarrei à vida novamente, depois de ver o choro desesperado da minha Hira, minha filha, me implorando para voltar. Aquilo me deu fôlego, mas também determinação, foi naquele momento que decidi ir atrás do desgraçado, naquele momento, decidi que não morreria antes de acabar com o tal de Dante
• * *
Hira – Tem certeza, baba?
Hakan – Sem me questionar, coloque – se no seu lugar, eu estou te dando uma ordem e você vai cumprir, só isso
Hira – Sim, baba
Ibrahim – O que o senhor ordenar, eu estou pronto para atender
O Ibrahim era o meu filho mais novo, o único filho que me sobrou, o que deveria carregar nos ombros a herança da família. A gente continuou com o negócio, a máquina não podia parar, as meninas tinhas que ser recrutadas e os leilões, continuar acontecendo
Eu fiquei nesse comando, mas mandei o Ibrahim junto com a irmã e mãe para o Brasil. O plano era se aproximar do Dante e matar ele, aos poucos, com muito sofrimento
Meu filho me enviava relatórios semanalmente, e foi assim que descobri que o homem logo teria um filho, não só ele, mas o seu sub também, vi a minha oportunidade escancarada
Hakan – Está na hora de vocês irem para o tal do CDD, seja espero. A família tem que parecer oprimida, sem recursos, como refugiados, precisando de ajuda. Você tem que dar um jeito, ouviu Ibrahim? Ao vou aceitar um não como desculpa
E nisso já se passaram dois anos, dois malditos anos comigo tendo que lembrar da notícia de que um desgraçado qualquer não aceitou perder e por isso meu filho morreu. Quem é ele para não ter punição?
Meu filho conseguiu se infiltrar nos negócios do Dante e minha filha, na casa do seu sub, mas foi só, eu nada consegui a mais depois disso. Foi por este motivo que fui para o Brasil, por este motivo que intensifiquei o recrutamento das meninas, principalmente das virgem, com fico no CDD
Hakan – Está na hora de mandar J. recado direto para o Dante
Asker – O que o senhor ordena?
Hakan – As próximas meninas, tragam para mim, eu tenho algo em mente
• * *
Bruna – Não, pelo amor de Deus, me deixa ir, por favor
Elas sempre faziam isso, sempre pediam por favor. Por isso que eu gosto das mulheres turcas, elas aceitam o seu destino, nunca discutem com o seu homem
Aquele Asker me trouxe três mulheres. Uma, a que mais gritava, estava na cara que era rodada. Aquelas roupas curtas, maquiagem carregada, como eu disse, estava na cara, mas as outras duas . . .
Hakan – Aquela ali, pode matar
No mesmo minuto, sem dar tempo para mais súplicas, ela foi ao chão, com o sangue escorrendo no meio da testa, pelo buraco feito pela bala
Os gritos ecoaram pelo lugar
Hakan – Silêncio
Eu nunca precisei levantar a voz, mas me pareceu que o tiro fez mais efeito do que ei esperava
Hakan – SILÊNCIO!
Sim . . . O silêncio ecoou pelo escritório
Hakan – Não adianta chorar pelos mortos, eles não voltam mais, podem acreditar, mas . . . vocês estão aqui por um motivo, uma de vocês, deve mandar um recado meu para a pessoa que comanda o território onde moram
Felícia – O Dante? Mas . . . mas . . . ninguém chega perto dele
Hakan – Não se preocupe, tenho certeza que você dará um jeito. Parabéns, você foi a escolhida da noite
Quatro homens entraram no escritório, em silêncio, pegaram a menina que, por falta de coragem, só tinha soltado o som do choro, uma pena
Dois dos meus homens a pegaram, e os outros dois, a espancaram. Gritos e mais gritos, o sangue jorrava pela sua boca, os dentes foram ao chão, tufos e mais tiros de cabelo também. A outra, a que tinha conversado comigo, segurou a boca com a mão, mas contemplou cada detalhe da morte da amiga, aliás, da outra amiga
Depois de alguns minutos sendo atingida por todos os lados, a menina, a vítima, foi ao chão, já sem vida
Hakan – Qual o seu nome?
Ela tremia, ainda com a mão na frente da boca, e suava e babava, completamente impressionada
Asker – Responda ao chefe
Felícia – Fê . . . Fel . . . Felícia
Hakan – Felícia . . . esse é o recado que eu quero que leve ao Dante
Por alguns segundos ela tirou seus olhos da menina morta e olhou para mim
Hakan – Não, esse não, o recado é o que o Hassan vai de dar
Hassan era um dos meus melhores soldados, normalmente, treinava os demais.
Ele retirou um canivete do bolso, e se aproximou da Felícia, que agora estava sendo imobilizada pelos outros askers, mas acredito que nem precisava, o medo já a travava
E mais uma vez . . . gritos, muita dor, desespero, mas era compreensível, que moção tão desprezaram, aguenta a retirada de um olho, assim, na raça, mas ela aguentou, quase morreu, mas aguentou
Hakan – Agora você vai voltar para o Dante e dizer que isso aqui – Apontei para as duas mulheres mortas ao chão – É só o começo. Diz para ele que o Hakan Demir estar chegando e vai matá – lo, com muita dor
Não sei se ela teve noção que estava concordando comigo com a cabeça, mas ela assim o fez e depois, foi levada pelos meus homens
Até que enfim um pouco de satisfação, até que enfim vou colocar as minhas mãos naquele desgraçado. A sua punição só está começando