Vânia
O vestido da minha irmã me sufocava de maneira esquisita, assustadora. Era como se ela estivesse me dizendo para não me casar com o seu prometido.
A minha consciência começou a pesar pela madrugada, mas agora era tarde demais para mudar de ideia, não n**o que a imagem da minha pessoa abrindo a porta do carro e correndo sem os sapatos na estrada, ganharam destaque na minha mente. Porém, não poderia abandonar o acordo, minha família dependia dos Castilier. Evandro uniria as empresas, a do meu pai, quase falida. Contendo dívidas bancárias e tal. Escutei eles conversando sobre o rombo nas contas dos Lenar.
— Vânia, lembra do que te falei?
Virei o rosto apreensivo, mas por causa da vergonha que me consumia, não tive coragem de olhá-la nos olhos.
— Sim, Helena.
— Então repita comigo. — Mandou altivamente.
— Não há necessidade disso agora, querida.
Disse-me ele com a voz mansa.
— Tudo bem... Eu vou dizer.
— Nossa. — Comentou desanimado, buscando olhar para o outro lado.
Estamos a caminho da catedral, nossa família é muito tradicionalista, além de frequentar as missas pelo menos uma vez ao mês.
— Quando estiver em quatro paredes com o meu esposo devo obedecê-lo cegamente na cama, deixá-lo satisfeito para que não venha procurar outras usurpadoras na rua. Basicamente, é me deitar no leito do casal, vestida ou não, fica a critério dele. Depois o... — Engoli em seco sentindo as bochechas queimarem. — ... órgão genital fará todo o resto. A primeira vez de uma moça dói e pode acontecer sangramento, porém se ela se manter imóvel ele saberá o que fazer. E somente mulheres vulgares sentem prazer. Eu não sou uma sem vergonha, e nem desejo ser.
— Ensinou essa baboseira para ela?! — Resmungou papai olhando severamente a dama em questão.
Ergui o rosto, parte da timidez se esvaindo. Os dois trocaram farpas com aqueles olhares.
— Pegou isso daquelas notas machistas do século quinze, Helena? Acorda para a vida.
— Melhor do que deixar a Vânia pensar que pode agir feito uma Virgínia, estou tentando me prevenir ao máximo.
Eles se enfezam, fazendo bico.
— Trarei orgulho aos Lenar. — Falei confiantemente. Despertando a atenção deles sobre mim.
— Já está fazendo isso, minha filha.
Abriu um sorriso, e quase me permitir chorar pela emoção.
— Não vou decepcioná-los. Eu prometo a vocês dois.
— Confio na sua palavra. — Disse-me sem reservas.
***
Meia hora depois o grande momento havia chegado, e os portões se abrem ao som nupcial. A multidão se levantou, mesmo com a mudança de noiva veio bastante convidados, o que alegrou ainda mais ao Adriano. Meu pai.
— Olhe só... Toda essa gente importante...
Dei uma rápida olhada para ele, após isso me concentrei no meu noivo, no homem que ia me desposar horas depois da cerimônia. Sabia o quanto Evandro Castilier era bem afeiçoado, belo, e pragmático. Sempre me mantive distante dele, pois me sentia inferior.
Aos poucos fui chegando, notando seus olhos azuis cravados em mim, ele parecia um tanto surpreso pela minha imagem feminina, isso não passou despercebido.
Assim que nos aproximamos, Adriano fez as honras e me entregou a ele. Todos se sentaram, e seguimos com a cerimônia normalmente. Fiquei feita uma estátua, olhando o sacerdote realizar tudo conforme o combinado, porém, vez ou outra sentia seu olhar me queimando, desejando. E fiquei extremamente incomodada por isso, tanto que sentia minhas pernas fracas, os joelhos moles. Sorte estar numa posição servil, desse jeito não notaria o meu nervosismo.
A troca de alianças foi rápida, mas sentia como se fosse em câmera lenta, pois a sua mirada penetrante não mudava. Parecia estar impressionado comigo, será que eu agradei logo de cara o meu marido?
O beijo foi modesto, na testa. Gostei desse gesto, confesso que não esperava. E juro que na hora que o responsável do casamento perguntou se haveria alguém presente capaz de dizer contra essa união, que era para se levantar ou se calar para sempre, temi que a Virgínia iria aparecer, reivindicando seu amor perdido. Mas nada aconteceu, seguindo o fluxo normal.
****
A festa bombou, mas por alguma razão eu e o Evandro pareciamos duas estátuas que somente complementam os demais convidados. Não existiu nenhuma represália, talvez o nome e o rosto parecido tenham confundido eles.
— Quero te apresentar uma pessoa. — Disse ele, era o primeiro diálogo que tivemos.
— Ah, sim.
Sua mão pegou a minha, e me senti uma boba por isso.
Sentamos numa mesa com um só convidado. Olhei de um para o outro.
— Meu irmão mais novo, Thomas.
— Oh! Muito prazer.
Apertou imediatamente a minha mão oferecida, beijando-a como se quisesse me seduzir. Ou algo do tipo.
— Prazer somente na cama, cunhada. Satisfação seria a palavra correta, embora esteja um tanto e******o.
Abismada pela ousadia do comentário, afastei imediatamente daquele calor.
— Olha os modos, acabamos de nos casar, você viu? Estava lá?
Sorriu descaradamente. Esse tinha a cara de macho solto da matilha.
— Sim, só estou quebrando o gelo entre nós.
— Se depender de mim quero ficar de boa com os Castilier.
— Está vendo?!! Podemos socializar. — Discorreu ele.
— A lua de mel será num hotel aqui mesmo, não quero viajar. Adiei todas depois da... Você sabe.
E como eu sei...
Toquei em sua mão, e logo o nosso tato ficou urgente. Trocamos olhares, lotados de expectativa.
Torço para continuar sendo o alvo do seu agrado.
— Quer ir embora dessa comemoração? Reparei que não quis comer nada. — Falou meigo, gostava quando usavam esse tom comigo. Somente Virgínia que utilizava.
— Estou sem fome.
— Está certa, vão namorar logo e produzir um herdeiro, assim essa gente babaca para de falar nas redes sociais.
— Perái! Estou na boca do povo?
— Em todas as bocas. Querida cunhada.
Não sei o porquê mas essa frase me deixou meramente ativa entre as minhas pernas. Assustada tentei disfarçar cuidadosamente.
— Vamos, preciso de um banho.
Levantamos os dois juntos, falamos com o seu irmão, meus pais e convidados.
Usei o reservado para tirar uma peça em volta da cintura. E logo deixei o local, satisfeita com o resultado final. Amei o look.