Virgínia
Segundo a informação secreta, esse era o local certo.
— Senhor!
Chamei um idoso na entrada dos portões de ferro, descascados pelo tempo. Que lugar deplorável!
— Oh... Como posso ajudá-la senhorita?
Que ótimo, fala a minha língua. Não gosto de usar o inglês, me incomoda muito.
Observou-me dos pés à cabeça, aproveitei para me aproximar mais.
— Esse é o hospício central de Chicago?
— O único. — Ajeitou o bigode pontudo. — Agora se me der licença, vim visitar uma parenta.
— Posso entrar com o senhor? Esse lugar me dá arrepios.
Não me fiz de rogada, e logo enrosquei nossos braços. Ele ficou surpreso, mas consegui o que queria, entrar no refúgio sagrado, no esconderijo dela. Onde papai esconde a sua vergonha.
Evandro
— Thomas, meu irmão, preciso que me prometa uma coisa.
Ditei olhando a vidraça enorme na minha frente, daqui podia ver o centro da cidade quase que por inteira. As melhores partes.
— Quer que usurpe a sua posição na lua de mel, e coma a substituta invés de você? Nunca vi a belezinha, mas se for gata feito a Virgínia, eu topo.
Respirei fundo, a vontade de esganá-lo subiu furiosamente pelas juntas, tanto que fechei as mãos, sufocando a raiva. Ter que ouvir piada fora de hora não me agradava nem um pouco.
— Não, evite falar assim perto da cobaia humana.
— Achei que ia chamá-la de bichinho. Já que vai se casar apenas para se vingar dessa família. Acha mesmo que a noiva sumiu ou pode ser uma mentira dos Lenar?
Me virei, sentando na poltrona da presidência. Meu espaço de elite, onde tudo fazia valer a pena.
— Não sei e tenho raiva de quem sabe. — Falei seco, observando seu sorriso diabólico.
— Podia colocar detetives no mundo inteiro, podemos bancar por isso.
Juntei as mãos sobre a mesa lisa, dava até para enxergar a minha imagem nela, de tão lustrada que ficava. A empregada noturna oferecia uma bela faxina, além de possuir uma incrível anca, adoro o balançar daqueles quadris em pleno exercício da sua profissão.
— Recapitulando, o irmão mais velho que pode pagar por isso, no caso eu! — Apontei rapidamente a mim mesmo, vislumbrando aquele sorriso sínico que todos as caçulas pareciam ter. — Você não possui grana o suficiente. Só se fosse o vice-presidente.
— Cargo vago até hoje que eu saiba.
Levantou-se, indo em direção ao bar improvisado, disponível desde a geração desse patrimônio. Meus bisavós e avós sempre costumavam tomar um licor de menta ao fechar uma ótima negociação.
— Só não mexa na...
— Não irei tocar na sua preciosa bebida, só quero relaxar um pouco, afinal tenho certos receios do que vai me pedir.
Se serviu devagar, gostamos de apreciar o ato em si.
— Não vai ser uma missão difícil. Preciso que vigie a Vânia, lógico, quando não estiver com as duas vistas naquela fedelha.
Ele riu zombeteiro.
— Não acho legal chamar uma mulher feita de fedelha, muito menos a mulher que irá dividir os lençóis.
— A peste deve ser pura, nunca nem a vi! Aquela traíra da irmã não era virgem quando fomos para a cama, você ficou sabendo.
Bebericou de sua bebida preferida, degustando um excelente whisky vindo da Espanha.
— Sim, e a safada ainda tentou fingir mesmo com a verdade se revelando diante dela.
Olhei-o atentamente.
— Parece ter vivido o mesmo que eu.
— Não, mas sei como deve ser o sentimento. Uma moça de família deveria se guardar mais. Só isso irmão.
Tomou tudo num gole só.
— Pois bem, serás um amigo confidente da minha esposa. Quero saber de todos os passos, e quando estiver afim me divirto um pouco com o corpo da garota.
— Sorte sua, ter alguém. Eu... Já estou desiludido.
Olhou pensativamente para um quadro na parede.
— Um hora a moça certa vai pintar e será um lindo casal. — Peguei uns papéis pra revisar antes de ir pra minha despedida de solteiro. — E faço questão de ser o padrinho desse casamento, mas faça uma escolha saiba. Uma herdeira de uma grande fortuna de preferência, assim poderá comandar quando os sogros baterem as botas.
— Pode parecer insano, mas me contentaria ser um sub chefe, e ter a primeira dama no poder.
Ri internamente.
— Uma mulher como uma CEO? Não brinca, Thomas.
Voltei à rotina, deixando-o sozinho com aqueles pensamentos românticos na cabeça. Coitado, se não mudar esse jeitinho de capacho, a mulher sortuda vai passar o salto alto por cima do meu irmão. Ele ainda não sabe como tratar uma dama rica da sociedade.
Sei que um tempo atrás andou enrabichado por uma em questão, mas nunca quis dividir essa informação, apresentar a menina. Devia ser uma qualquer, se não ele teria orgulho de mostrar.
Thomas
Aquela mulher.... Me deixou na mão. Sem destino. Mas prometi a mim mesmo não reclamar, talvez fosse livramento. Virgínia é uma mulher muito perigosa, excepcionalmente sexy, abusando daquele rosto angelical. Qualquer homem cairia aos seus pés, contudo, mesmo Evandro se fazendo de durão, imparcial a respeito da sua fuga, ele a amava, e por esse motivo queria vingança. Usar a mais nova nesse jogo sujo vai fazê-lo se sentir melhor, e se vier frutos desse relacionamento tóxico, o garanhão voltará a atacar outras disponíveis ao seu desejo.
Faria o que me pedir, gosto de sondar as pessoas, estudá-las. Coisa que não fiz com a irmã safada, aquela me levou bonito no bico.
Lembro da nossa primeira vez, aquele doce fingimento, aquela interpretação inocente. E eu me sentindo um podre tarado enganando Evandro, esperando inocentemente nós dois na sala de jantar. Foi na dispensa da mansão dos Castilier, nosso lar.
Tentei me afastar depois do ocorrido, ficaria somente numa noite casual, afinal, aquele papo estranho da sua virgindade me instigou a querê-la, e cai na sua arapuca.
Depois foi um joguinho atrás de outro, ela era apegada a Roleplay. Fazer encenações, algumas até perigosas. E aquilo me atraía mais e mais para ela, até ir embora e acabar com tudo entre nós. Ou foi porque implorei para que não se casasse com Evandro. Isso será uma incógnita em nosso meio, que merda! Onde está você Virgínia?