Mateo Narrando
Tô com a porrä da mente apertada desde a hora que a minha coroa gritou que a Samira tava grávida. Ouvir a Sofia gritando lá no camarote, mesmo com a música alta, foi o suficiente para todo mundo ali escutar o que ela tava falando. Minha irmã foi vítima de alguém fora do Brasil, e essa merdä não chegou aos nossos ouvidos. O Cerebrus vai ouvir, e não vai ser pouco. A única coisa que ele tinha que fazer era ficar de olho nelas. Saber que minha irmã foi violentada e eu não fiquei sabendo de nada me fez pirar. Foram quase 2 litro de whisky pra tentar acalmar. Não podia simplesmente prensar ela e perguntar, isso é o jeito que eu queria fazer, mesmo sabendo que não é jeito certo.
Atirar no desgraçado que fez gracinha com ela não foi nada, derrubo um, derrubo dois, derrubo dez se for preciso. Quem tá no Tuiuti e no Rio de Janeiro sabe bem quem é o Mateo e o que eu sou capaz de fazer nessa porrä.
Aproveitando que tô falando aqui, vou me apresentar pra vocês. Meu nome é Mateo, sou o filho caçula, isso mesmo, a "raspa do tacho". Ainda não fui batizado, mas quem corre comigo sabe bem quem eu sou e qual será o meu destino. Não tenho piedade. Se o Imperador e o Master foram homens cautelosos, frios e temidos, imaginem o que é a terceira geração disso tudo. Não aceito "não" como resposta, do mesmo jeito que odeio frescura.
Quem me vê nem acredita que tenho só 17 anos. Com 1,85m de altura e todo tatuado, sou grandão, igual ao meu coroa e ao grande Imperador. Como diz a Imperatriz, sou um "carro-tanque". Faço por onde: corro duas horas todas as manhãs e puxo ferro à noite. Isso me deixa preparado, não só mentalmente como fisicamente. Já tô me preparando pra me batizar. As meninas abriram mão disso, mas, como herdeiro disso tudo, eu não abro mão de jeito nenhum. Alguém tem que levar o legado adiante, e se for eu, tô pronto.
“Mateo – Ainda não entendi por que a vinda delas foi assim, de repente, mas tem algo aí. Preciso ver qual é,” – falo, e o grande Imperador limpa a garganta, engasgando com o whisky.
“Master – Tá devendo, coroa?” – meu coroa pergunta, e já levanto a sobrancelha, olhando para os dois.
“Imperador – Tô de boa. A porrä do álcool entrou no buraco errado.” – balanço a cabeça, olhando para ele.
“Mateo – Vou dar um giro, as duas desceram e ainda não voltaram” – o grande Imperador só ergue o pescoço, olhando para a pista.
“Imperador – Cada dia que passa, o bailão fica mais frenético. Lembro como se fosse hoje, sentado praticamente nesse mesmo lugar, quando a minha morena subiu aquela escada toda marrenta, flechando os corações dos arrombados do camarote. E quem levou ela pra cama fui eu. Me apaixonei no primeiro contato visual, e fodä-se o resto” – ele começa a falar, e eu paro pra ouvir. Amo as histórias dele e da Imperatriz.
“Mateo – Felipe, Vinícius, vem cá, pô. Tão a fim de levar alguém dessa família pro altar ? Escuta aqui o conselho do velho Imperador, porque isso não é pra mim não” – chamo os arrombados emocionados e saio andando.
“Avalanche – Até você encontrar uma que vai te fazer esquecer até seu nome, filho da putä. Aí quero ver tu dizer que não nasceu pra isso” – mostro o dedo do meio pra ele e vou descendo.
“Lipão – Cuidado, ela pode aparecer a qualquer momento e tu se enrolar antes da gente” – continuo descendo, levantando os dois dedos do meio para ele.
Passo por um grupo de patricinhas jogando um traseirö, dou um tapa na bundä de uma delas.
“XXX – Eita, gostoso. Só vale se for na cama!” – ignoro e vou direto pro bar.
“Mateo – Não gosto de mulher oferecida” – falo, apoiando os braços no balcão, quando a Sofia para de um lado e a Samira do outro.
“Sassá – Cara, tu tá um baita gostoso. Se não fosse tua irmã, eu te pegava!” – ela fala brincando, e eu dou um sorriso, segurando o rosto dela com carinho.
Involuntariamente, meus olhos descem direto pra barriga dela, e o olhar dela muda junto com sua respiração. Carälho, pra ter sido tão tenso assim... não foi nada legal o que ela passou.
“Sossô – Nenhuma gata, irmãozinho?” – ela fala, tentando aliviar o clima.
“Mateo – Porrä de gata, Sossô. Sou bicholö solto. Esse lance de coração não é pra mim, então deixa como tá” – uma morena para ao lado delas e olha pra mim.
“Sassá/Sossô – Hanna?” – as duas falam juntas, e dou uma gargalhada.
“Mateo – Patinha feia?” – do jeito que eu a chamava quando era pivete. Ela era a melhor amiga da Sassá e da Sossô na época da escola.
“Hanna – Oi pra você também, Mateo” – me aproximo, olhando a mina de cima a baixo.
“Sassá – Amiga, tu tá muito gostosa. Cadê o Robert?”
“Sossô – Se for aquele ali, parado do outro lado te olhando...” – ela aponta, e o cara vem até onde estamos.
“Mateo – Não vai me dizer que espalhou pra geral do asfalto que tava vindo?” – olho pra Sassá, com a cara fechada.
“Hanna – Não acredito que o pivete cresceu, virou esse homem bonitão e ainda vai continuar cheio de graça pra cima de mim” – a desgraçada se vira, me dando visão do rabãö dela.
“Sassá – Nem todo mundo sabia, mas a Hanna seguiu em contato com a Marcela e a Fabiana, porque a vida continuou” – ela responde secamente.
“Robert – Carälho, Samira, mano! O que 10 anos fizeram com você?” – ele chega afoito, e eu fico só esperando a reação do Avalanche. Se ele fizer graça, eu arrebento a cara dele aqui mesmo.
“Hanna – Quer dizer que 10 anos a deixaram duas vezes mais linda do que já era, né?” – fala e o arrombado olha pra Samira, admirando.
“Robert – Só não acredito que ainda tá solteira, pô” – ela abre os braços, e num instante ele segura a nuca dela e a puxa para um beijo, como fazia quando subia o morro.
“Avalanche – Que porrä é essa, irmão?” – chega metendo o pé nas costas do Robert.
A força do empurrão fez o arrombado cair, e se não fosse pela Hanna e pela Sofia, a Samira teria caído junto com ele.
“Robert – Tá doidão, meu irmão?” – ele pergunta, olhando para o Vinícius, que começa a rir.
Olha para Samira, depois para o Vinícius rindo novamente.
Robert – “Cara, tu ainda tá nessa?” – foi a última coisa que ele conseguiu dizer antes do primeiro soco.
Depois, só ouvimos os sons da briga, até ele cair desacordado no chão....