Sassá Narrando
Eu e Sofia não podíamos imaginar que nossa chegada traria tanto caos. Viemos com a expectativa de uma festa que duraria dias, celebrando nosso retorno. Até me sinto culpada nesse inferno, mas como disse pra Sossô e pra mim mesma, não vou abaixar a cabeça e deixar alguém me dizer o que devo ou não fazer. Eu não pedi para passar pelo que passei. A criança que espero não tem culpa. Ela vai ver o mundo do jeito que eu planejei, gostem eles ou não. Não tenho que viver sozinha pra sempre. Cheguei até aqui sem depender de homem, e não vai ser agora que isso vai mudar.
Vinícius, pelo visto, não vai me dar sossego, vai ficar em cima o tempo todo. Só que ele não sabe que m*l tenho tempo pra mim, imagina pra ele.
Sassá – Para com isso, Vinícius, você vai matar o cara! – puxo ele, que passa o antebraço pelo rosto, com o punho sujo de sangue.
Mateo – Se controla, caralhö – o baile já tava um saco; curtir mesmo, nada.
É em horas como essa, me pergunto se realmente valeu a pena ter voltado.
Avalanche – Ele tem que parar de achar que toda vez que te vê precisa te beijar. O cara é um otáriö – ele tenta me abraçar, e eu me afasto.
Sassá – Era pra ser uma festa de boas-vindas? – pergunto pra Mateo, que ergue os ombros e abre os braços.
Hanna – Pelo jeito, Vinícius ainda tá te cortejando – nem ela acredita que ele continua com isso.
Avalanche – Cortejando não. Já falei que tu é minha e não abro mão. Se você não for minha, não vai ser de ninguém. Aí vão ter que me matar – o jeito que ele fala me faz engolir seco, e minha vista escurece.
Sassá – Gente, não tô... não tô legal... – vou me afastando, e alguém me segura...
Algum Tempo Depois....
Barbie – Meu amor, filha, como você está? – volto a mim com a voz doce da minha mãe. Sorrio pra ela, ainda sem abrir os olhos, enquanto a mão dela desliza pelo meu rosto, pelo meu pescoço e, enfim, pela minha barriga.
Sassá – Ai, não acredito – começo a rir, e escuto a voz das meninas rindo. Abro os olhos e vejo todas sentadas ao redor, na área da piscina.
Barbie – Vai dizer que ele mexeu primeiro pra mim?! – começo a rir, meus olhos se enchem de lágrimas, e balanço a cabeça confirmando.
Sossô – Nossa, conversei com essa criaturinha dia e noite, e nada de uma mexidinha pra titia – ela diz fazendo bico, ajoelhando ao lado da espreguiçadeira onde estou, colocando o ouvido na minha barriga.
Sassá – Ele já te conhece. Ele queria conhecer a vovó – respiro fundo, lembrando de tudo que vivemos.
Hanna – Amiga, você tá tão linda. E que corpão é esse? Se você não tivesse desmaiado, eu não teria percebido que tava de barriguinha – fala, e eu respiro fundo, sentando na espreguiçadeira enquanto elas se acomodam ao meu redor.
Sassá – Primeiro, tô com fome – falo, arrancando risadas de todas. – E depois, quem foi que me trouxe pra cá? Lembro de um braço me segurando, só não lembro de quem.
A gargalhada gostosa da Imperatriz enche o lugar.
Imperatriz – Acha mesmo que eu ia deixar qualquer homem colocar a mão em tu? Tô velha, mas não sou doida – ela se junta a nós.
Sassá – Como assim, só deixaram os homens no baile? – pergunto ao ver tias Helena, Heloísa, Mari e outras já de biquíni.
Fabiana – Com os machos lá, a gente não conseguia te dar uma recepção de boas-vindas. Vamos fazer só entre nós, mulheres – balanço a cabeça, incrédula com a ideia delas.
Barbie – Eu sei que o que você passou pode ser constrangedor, mas você precisa colocar pra fora. Por trás dessa casca dura, por trás dessa mulher forte que você se tornou, ainda existe uma menina machucada. Eu gritei quando te vi porque nunca tivemos segredos – diz, apontando pra nós duas.
Sossô – Vou colocar um biquíni e trazer um pra você – ela diz. Sem olhar, balanço a cabeça, concordando. Minha mãe segura meu queixo e me faz encará-la.
Imperatriz – Pelo visto, Vinícius e Felipe não vão dar trégua. Eles ainda têm chance nos coraçõezinhos dessas loiras – olho para Sofia, que já voltou e joga o biquíni no meu colo junto com uma embalagem de demaquilante.
Sassá – Não tô pensando nisso agora. Vim focada. Sei que algo está acontecendo. O Imperador não teria nos pedido pra voltar com urgência do jeito que pediu. Estamos aqui pra ajudar o Mateo, e é isso que vamos fazer. Se Vinícius quer provar que mudou, vai ter que mostrar mais do que só quebrar a cara dos outros e me beijar à força. Já não temos 17 anos – digo, apontando para o coração e a cabeça, enquanto ela estende a mão pra me dar um toque.
Barbie – Eu não queria que vocês passassem pelo que eu passei. Vocês foram pra fora do Brasil porque quiseram; eu fui obrigada. Mas foi pro bem de vocês. Dois anos longe do amor da minha vida – dois anos depois de engravidar. Depois que ela conheceu meu pai aos 15, eles passaram dois anos sem se ver. Destino? não sei mas vivemos praticamente vou mesmo.
A conversa fica sentimental, e eu, já sensível com tudo o que aconteceu, sou levada pela emoção. Toda a conversa que tive com Vinícius lá na quadra sobre os pais dele, sobre nós dois. Todas aqui estavam felizes por mim e Sofia, por estarmos de volta com a família, no Rio.
Pérola – Segura aí que a tia vai fazer um lanche caprichado pra gente resenhar. Helô, liga o som. Tá parecendo velório, e a gente pode estar triste, mas não desanimadas – ela ordena, e as tias se dirigem ao som.
Sassá – eu até pensei em falar antes. hoje tem por várias vezes ir na polícia lá na Itália .Só que ai seria eu e Sofia contra a Cosa Nostra... – ela me interrompe.
Imperatriz – Que porrä é essa? Tá dizendo que você está grávida de um integrante da maior organização criminosa da Itália? Na verdade, da América Latina? – ela joga o cabelo pra cima, prendendo no alto da cabeça..
Sossô – Vovó, entenda. Não foi como se ela tirou a roupa e ficou pelada na frente dele. É mais complicado do que parece – as outras, que já sabiam, ficam caladas.
Sassá – Fui vítima, segundo o médico, de um “boa noite Cinderela”. Ele teve que me explicar porque eu não lembrava de nada. Ele percebeu que eu estava machucada e confirmou a gravidez , porque precisei tomar coquetéis – minha vó, ao ouvir, saca a arma e começa a atirar, enquanto minha mãe balança a cabeça na mesma intensidade.
Barbie – Teu pai vai pra Roma no primeiro horário... – seguro a mão dela, impedindo-a de terminar a frase.
Sassá – Não é assim. E você sabe que, se eles quiserem, vêm aqui, me arrancam e me levam de volta. Eles não sabem da gravidez. Tinha uma suspeita de quem poderia ser, mas com ajuda da Abadessa – minha mãe sorri, e as outras me olham, curiosas.
Sossô – as únicas pessoas que sabem, somos eu Sofia o Abade – todos olham para ela com cara de ué – Abade é a pessoa que governa o mosteiro, e abaixo dele, a Abadessa, que deu abrigo pra dona Priscila quando fugia com a gente – ela explica, arrancando risadas.
Barbie – Irmã Carlota? – balanço a cabeça concordando.
Sassá – Povo inteligente. Por um bom tempo, eu e Sofia ficamos lá, incomunicáveis. Quase um ano vivendo no mosteiro. Quando precisei, eles me ajudaram. Sem perguntar nada, fizeram como se eu fosse filha deles – as lágrimas voltam a cair.
Sossô – Então, descobrimos que era Fabrício, herdeiro da máfia Cosa Nostra. Eu pedi domínio próprio e sabedoria a Deus todos os dias porque minha vontade era de matá-lo – ela fala e eu sorrio entre o choro, e ela se abaixa e me abraça......