Capítulo 30 - Recobrando a consciência

1720 Words
— Parece que eles falharam em trazer o oitavo príncipe, milorde. A voz fria soou como um sussurro espinhoso aos ouvidos do alfa, que cerrava os punhos em frustração pela falha em seu plano. Cerrando os dentes, ele continha o rosnado e a fúria que desejava enfiar a sua espada no peito daquele sujeito tão vigarista. — Dei instruções claras e você me garantiu que não falharia. Como se atreve a me dizer que não conseguiu? — Milorde, eu deixei claro que meus homens eram fortes o suficiente para sequestrar o oitavo príncipe, mas que não poderia criar grandes expectativas tendo o Grimwood o acompanhando. — Que bando de inúteis! — Gritava o alfa, dando um soco na mesa — Foi justamente por isso que mandei que só os melhores fossem para esta missão? Como a sua incompetência permitiu que escolhesse somente esses fracotes? O homem nada disse, apesar de seus olhos deixarem claro o desgosto por aquelas palavras. O alfa, por outro lado, não pareceu se importar com a fúria e ameaça que aquele sujeito transparecia. Afinal, ele era um nobre de sangue puro, um alfa que era forte o suficiente para derrubá-lo caso desejasse. Ele estava com a vantagem ali. Cruzando os braços, o alfa tentou se acalmar. Era necessário encontrar uma outra saída. — Haa… isso só nos faz perder tempo. Não podemos deixar aquele noivado acontecer, de maneira nenhuma. Ou então eu perderei o apoio da Família Imperial — Resmungou ele, encarando os diversos papéis espalhados em sua mesa. Mas foi um em específico que chamou a sua atenção — Ha… hahaha, é mesmo! Ora, parece que ainda temos uma chance de conseguir algo. O homem mercenário permaneceu em silêncio, não desejando se envolver na loucura do seu contratante, que erguia uma carta como se fosse um presente divino. Só que aquele bastardo demorou muito para explicar ou dar as suas ordens seguintes. — O que deseja fazer? O nosso combinado ainda não foi cumprido, então preciso que você me diga o que quer — Não se preocupe, meu caro. Há ainda uma forma de conseguirmos isso. O noivado daqueles dois deve ocorrer em breve, mas o casamento não. Sabe o por quê? — Vocês nobres gostam de planejar grandes festas para encherem a cara e transarem feito uns animais nos cantos. Então imagino que o casamento deles será feito daqui alguns meses. — Exatamente! E por favor, não seja tão vulgar — Sorria o alfa com orgulho, não parecendo realmente ofendido com as palavras do mercenário — Haverá um festival de caça em breve, feito pela própria família imperial. O Grão-duque sempre participa, o que deixará o oitavo príncipe desacompanhado. Os olhos do mercenário brilharam ao notar o ponto que aquele maldito nobre queria chegar. Invadir um evento nobre sempre era divertido, principalmente quando podia se disfarçar entre os criados que eram contratados de última hora. Poderia conseguir algo a mais na ocasião. — Então, me dê as instruções e irei preparar os meus homens para o plano. . {…} . Ao abrir os olhos, Lucian sentia a sua garganta doer. A visão embaçada aos poucos se tornou nítida, e o seu corpo parecia pesado demais para se mover. Movendo um pouco a cabeça, Lucian se deparava com um homem alto que se inclinava em sua direção, demorando alguns segundos para a sua mente trabalhar e lembrar que aquele era Cassander. — Meu filho! — Cassander o chamava, inclinando-se sobre a cama e então virando-se para trás — Ele acordou, doutor! Venha, venha! Lucian não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Apertando os olhos levemente, ele abriu novamente conseguindo enxergar melhor e se deparar com um senhor o examinando. — Está sentindo algo, Vossa Alteza? Consegue me ver e me ouvir? — Questionava o médico e Lucian apenas concordou com a cabeça — Muito bem, eu sou o médico real e irei te examinar, tudo bem? Lucian deixou o médico o examinar, fazendo cada pedido dele como respirar fundo, tentar dizer alguma coisa, apesar que a sua garganta doía e sua voz tenha saído como uma gralha velha e rouca. Conseguindo se sentar na cama, ele se dava conta dos tornozelos enfaixados e por um instante ele se questionou o motivo de estar naquele estado. Mas ele logo lembrou. Os ladrões! — Mag… Magnus… — Lucian olhava em volta preocupado — Mag… — Calma, por favor, não se mova — Cassander o segurou pelos ombros, o empurrando cuidadosamente para se sentar — O Grão-duque está bem, não ficou ferido. Mas ele teve que sair para resolver alguns assuntos. Magnus estava bem? Lucian deixou um longo e pesado suspiro de alívio. — Irei preparar a medicação de Sua Alteza, mas já deixarei avisado na cozinha que preparem algo para ele. Com licença. Assim que o médico deixou os dois alfas sozinhos, Cassander voltou a se sentar na cadeira e observou o rosto do seu filho. Era nítida a tristeza em seu semblante combinada com a preocupação, só que Lucian não conseguia encará-lo direito. Como poderia? Afinal, Lucian não se esqueceu das árduas palavras que direcionou ao Consorte imperial. — Por que você sempre está na sombra da morte? — Sussurrou Cassander, apertando a mão de Lucian — Francamente, fico tão aliviado que o Grão-duque conseguiu te proteger para que nada pior ocorresse… Observando as suas mãos, Lucian não sabia o que dizer - apesar que ele nem conseguiria proferir uma palavra sequer em sua condição. Aquele homem era uma confusão em pessoa, um mistério que sempre deixaria o príncipe sem saber como lidar com ele. Até mesmo levou um puxão de orelha do Imperador por causa dele! Encostando no travesseiro, o príncipe apenas suspirou baixo derrotado. — O… que acon— — Não fale, você precisa se recuperar, então evite falar — Cassander disse calmamente, ajeitando-se na cadeira para então continuar — Eu e o seu pai pensamos que você teria saído com o Grão-duque para passearem na cidade, mas o Grimwood disse que foram emboscados por mercenários no caminho. Lucian acenou com a cabeça, lembrando-se bem do momento em que a carruagem foi atacada. Apesar dele sempre pensar que seu pescoço estava sendo ameaçado, jamais cogitou que realmente aconteceria, e tão cedo ainda por cima. Apertando as grossas cobertas, Lucian sentia o medo de tal ataque ocorrer novamente. O que deveria fazer? — O Grimwood conseguiu evitar que você fosse levado — Sussurrou o Consorte, ainda segurando a mão de Lucian em conforto — E foi ele quem o trouxe de volta. Devo dizer que a minha confiança sobre o Grão-duque apenas cresceu junto com o alívio de que ele cuidaria bem de você. Mas isso não diminui a minha preocupação. Cassander não explicou muita coisa. Mais tarde, quando ele teve que resolver alguns assuntos, Argus entrou no quarto para ajudar Lucian a se banhar e trocar de roupa. Foi nesse momento que o criado explicou a situação — depois de ter chorado de preocupação, é claro. — Francamente, vocês estavam no mesmo lugar, como as Suas Majestades não estranharam a sua demora em voltar? — Reclamava Argus entre lágrimas e um bico manhoso — Fiquei muito feliz quando a Sua Graça apontou tal falha, mas acho que seja justamente por isso que a Sua Majestade, o consorte, ficou o tempo todo ao seu lado. Lucian ergueu a cabeça em surpresa, não esperando ter ouvido aquilo corretamente. Parece que muitas coisas aconteceram enquanto esteve inconsciente. Magnus realmente apontou uma falha do Imperador? Isso requer muita coragem e falta de noção. Além disso, o Consorte também dedicou o seu precioso tempo para ficar ao lado do acamado filho renegado? Fazia sentido? — Não me olhe assim, Vossa Alteza. Estou falando a verdade, a Sua Majestade não tirou os pés deste castelo desde que fui chamá-los — Argus deu uma espiada aos arredores e se aproximou do ouvido de Lucian para lhe sussurrar — Ele até mesmo chamou os criados do Palácio do Sol para virem aqui. O chef real está cuidando das suas refeições, as criadas estão limpando o castelo… Tá uma verdadeira bagunça. — E v-vo… — Ah, não fale, Vossa Alteza — Brigou o criado, que logo em seguida sorriu — O Imperador me ordenou que eu auxiliasse o médico real. Hoje de manhã fui para a cidade comprar os seus remédios. Como eu poderia ficar parado limpando janelas, quando o meu senhor está ferido? Francamente… Lucian sorriu emocionado por ver a lealdade do seu criado. Depois que Argus auxiliou Lucian no banho, o príncipe voltou para a cama, cujos lençóis já tinham sido trocados por conjuntos limpos. E como o criado disse, havia rostos novos andando pelo seu quarto, limpando e abrindo as cortinas e janelas para deixar o ambiente arejado. E supervisionando o trabalho delas estava o consorte. Assim que Cassander viu Lucian caminhar com a ajuda de Argus, ele se aproximou. — Obrigado, Argus. Eu mesmo levarei Lucian, poderia trazer a sopa para ele? — Como quiser, Vossa Majestade. Lucian não queria que o seu criado o deixasse sozinho, mas como ele conseguiria dizer algo naquele estado? Por fim, não teve escolha e deixou Cassander segurar o seu cotovelo e guiá-lo de volta para a cama. O silêncio era um tanto quanto desconfortável, no entanto o consorte não parecia tão incomodado quanto ele. Na verdade, agiu como um pai de uma criança e ajudou Lucian a ir pra cama e o cobriu. Só faltou o beijo na testa para jogar de vez a humilhação na cara do príncipe. — Eu sei que você não gosta disso — Cassander disse como se lesse a mente do rapaz, afagando os cabelos compridos de Lucian — E que guarda muita mágoa. Eu sou falho, eu sei. Mas entenda, Lucian, de maneira alguma eu quero o seu m*l. Por isso, não hesite em pedir ajuda aos seus pais. Realmente era confuso demais. Lucian se ajeitou na cama e suspirou aliviado pela incapacidade de conversar. No seu peito existia aquela sensação nostálgica, que de vez em quando se fazia presente desequilibrando a razão do príncipe. Ficava difícil tentar se manter neutro sobre os personagens daquela história quando aquele sentimento surgia e fazia Lucian ceder às emoções que, muito provavelmente, pertencem ao verdadeiro príncipe. No fim das contas, ele deveria dar uma chance a Cassander?
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