Capítulo 31 - Memória

1873 Words
Alguns dias depois da tentativa de assalto, Lucian já estava se sentindo melhor ao ponto de andar e conversar. No entanto, a presença constante de um certo alfa o impedia de realmente voltar a ativa e fazer as suas pesquisas. Cada espaço livre de sua ocupada agenda, Cassander passava ao lado de Lucian garantindo que ele estivesse sendo bem tratado e tomando o remédio corretamente. No primeiro dia o príncipe não se importou muito, já que passou o seu tempo dormindo graças ao efeito dos remédios. Depois, ele não teve escolha a não ser se acostumar com a sua presença e a felicidade de Cassander estampada em seu sorriso inocente. Até mesmo quando tinha visitas, Lucian se forçou a "fingir" não estar incomodado. — Isso é perigoso, não imaginava que haveria ladrões próximo do templo — Raven arregalava os olhos, virando-se para o Consorte — Ou estou enganada? — De maneira alguma, querida. O templo dispõe da sua própria guarda, os cavaleiros sagrados, que mantêm a segurança da matriz. — Mas os cavaleiros sagrados não podem sair do perímetro do templo. Os ladrões devem aproveitar essa brecha para abordar os nobres. — Não seria um palpite r**m. O que diabos estava acontecendo? Parece que essa era a pergunta mais recorrente. Lucian estava realmente tomando o café da manhã com Raven e Cassander em seu quarto? Com direito a uma mesa enfeitada com um simples vaso de flores e cheia de comida? Que raios de atmosfera harmoniosa era aquela? Da outra vez que viu aqueles dois no mesmo ambiente, havia uma tensão e sorrisos falsos como se atuassem numa ópera. — Fico aliviada que Lucian não tenha sido ferido gravemente — A princesa suspirou, voltando a olhar o seu irmão mais novo, que se mantinha em silêncio durante toda a conversa — Soube que o Grão-duque o protegeu muito bem. — Infelizmente eu não estava consciente para testemunhar com os meus próprios olhos — Dizia Lucian, finalmente, apesar dele ainda sentir o incômodo em sua garganta — Tampouco é necessário, todos sabem que os Grimwood são ótimos com o manejo de espadas. Por isso que muitos cavaleiros ficam ansiosos para participar de torneios e concursos em que o Grão-duque participa ou é jurado. — Isso certamente aumenta a popularidade do meu futuro genro — Cassander servia mais chá a Lucian. — Espero que esse terrível ocorrido não tenha interrompido os preparativos do noivado. Eu já encomendei o meu vestido. — De maneira alguma será cancelado, o Grão-duque também parece muito disposto a manter o compromisso. Lucian realmente queria se enfiar debaixo da mesa. Aqueles dois conversavam tão naturalmente que tornava quase impossível não notar as máscaras que usavam. Era como tomar chá envenenado com o seu assassino o observando de perto só esperando ele cair duro. Ao mesmo tempo, ele se repreendeu por estar em constante alerta. Até aquele dia, nem Raven e nem Cassander lhe fizeram algum m*l diretamente. Pelo contrário, o tratam como se ele fosse realmente parte da família. Chegava a ser irônico que Luciano se sentisse assim dentro do corpo de Lucian. — Lucian! Me diga, por acaso pretende convidar os Sageclaw? Acordando dos seus devaneios, o alfa bebeu um gole do chá buscando manter a sua compostura nem um pouco animada. Principalmente após ouvir aquele sobrenome. — Não sou responsável pela lista de convidados, Raven. A minha única função nos preparativos do noivado é evitar ao máximo não dar pitaco dada a minha falta de senso. — Minha nossa, isso é ridículo. — Hahaha, acho que isso é culpa minha — Cassander cobriu o sorriso com um guardanapo — Devo ter me empolgado demais ao saber que o Grão-duque pediu a mão de Lucian em casamento. — Não se culpe, Majestade. É totalmente compreensível, mas parece que precisamos fazer Lucian se tornar mais ativo. — Eu deveria ter medo das suas palavras, Raven? A ômega se debruçou na mesa, olhando seriamente para o irmão - o que pareceu um tanto quanto adorável a sua tentativa de parecer séria. Raven era o tipo de mulher que, definitivamente, não aparentava a idade que tinha. Principalmente quando suas bochechas ficaram rosadas e ela fazia aquele beicinho. — Deveria estar preocupado, isso sim. Por enquanto você tem a Sua Majestade te ajudando, mas e depois que se casar? Por acaso pretende repetir as suas roupas? Como planeja manter o interesse do Grão-duque? Além disso, você será o consorte do Grão-duque, será o anfitrião de várias festas, você precisa saber como fazer uma. — Minha nossa, você realmente acredita que pedaços de panos são importantes para isso? Tanto o Consorte quanto a princesa piscavam aturdidos pela inocência do oitavo príncipe. Seria a confiança em sua beleza natural? Afinal, mesmo tomando chá usando uma roupa confortável, Lucian parecia um anjo que caiu do céu. Seus longos e lisos cabelos loiros, os olhos claros que brilhavam como diamantes, as bochechas levemente rosadas graças ao calor do chá que bebia… Até mesmo a forma como se movia era delicada e elegante, sendo impecável. Uma imagem que certamente não se espera de um alfa. Só que toda aquela beleza continha pouco conhecimento sobre ser um anfitrião. — Pela deusa… — Suspirava Raven — Estou realmente preocupada agora. — Acho que está se preocupando demais, Raven. Raven ignorou por completo o seu irmão, e se inclinou para conversar com o Consorte. — Acho que deveríamos verificar as roupas que ele estará levando para a propriedade Grimwood. Estou com medo de que algum modelo ultrapassado esteja escondido em seus pertences. — De fato, não pensei nisso antes. Pedirei o catálogo de alguns tecidos e preparar novas peças antecipadamente. Para a noite de núpcias é essencial um traje que… — Por favor, eu ainda posso ouvi-los. — Reclamou o príncipe. Cassander e Raven continuaram a falar sobre a festa de noivado de Lucian, tendo a ômega muito animada para o evento. Lucian esperava por frieza, falsidade, conversas cheias de indiretas, mas o que ele encontrou foi uma atmosfera aconchegante e familiar. Ele já havia desistido de questionar as mudanças do original. Durante o período em que ficou em repouso, Lucian refletiu que talvez devesse observar atentamente e seguir o ritmo de tais mudanças a fim de encontrar alguma pista. Pista sobre como ele deveria realmente agir. Se os personagens queriam ficar em volta dele, o paparicando e enchendo de presentes, que assim seja. Aceitaria tudo e, ao mesmo tempo, manteria a sua guarda alta sem pôr a mão no fogo por absolutamente ninguém além de Magnus. — E como foi o passeio com Dáhlia no outro dia? Faz tempo que não a vejo e parece estar sempre ocupada com algo. — Ah, Vossa Majestade, você sabe como ela é… — Raven baixou o tom de voz e encarou a xícara em suas mãos parecendo hesitar ao escolher suas palavras — Provavelmente está ansiosa para encontrar um marido na festa de noivado de Lucian. Ela tem me perguntado muito sobre a lista de convidados. Cassander estreitou os olhos ligeiramente, mas logo foi substituído por uma expressão mais suave e carismática. Lucian percebeu aquela sutil mudança, voltando a ficar em alerta com aqueles dois. — Por acaso ela está interessada em alguém específico? Posso adicionar alguns nomes de uns pretendentes. — É provável que a mãe dela tenha feito uma lista e discutido com o nosso pai. — Nesse caso, conversarei com a Sua Majestade. Ficarei mais do que feliz em ajudar Dáhlia a encontrar alguém que a faça feliz. Raven sorriu em agradecimento e eles logo voltaram a conversar sobre o noivado de Lucian. O príncipe se manteve quieto o tempo todo, a sua presença tampouco foi realmente notada, já que Cassander tomava a frente para guiar a prosa e impedir a sua participação. Não iria reclamar tanto, afinal Lucian ainda sentia o incômodo em sua garganta. Além de que isso permitia observar bem como Raven e Cassander interagiam, apesar dele entender patavina nenhuma sobre como organizar um evento tão grande. Mais tarde, Raven teve que partir para algum compromisso, deixando Cassander e Lucian para trás. Quando a porta foi fechada, o Consorte suspirou baixo e olhou para o alfa com uma expressão culpada. — Me perdoe, Lucian, sei que fui muito invasivo e não te deixei participar da conversa. Levemente surpreso, Lucian cruzou os braços se sentindo mais confortável para ser sincero. — Por acaso você não se dá bem com a Raven? — Nunca tive nenhum problema com ela diretamente. Mas como deve saber, a mãe dela realmente não gosta muito de mim. Raven era mais velha que Lucian, o que significa que a mãe dela foi uma das amantes de Rehael antes dele casar. Seria compreensível que a amante se sentisse enciumada e invejosa que o homem com quem ela teve uma filha ômega, escolheu se casar com um alfa e não com ela. — Mesmo assim, ela terá que ser convidada para o meu noivado. — Por cortesia, é claro. Apesar que é provável nenhuma delas aceitarem o convite, e por isso enviarão os seus irmãos para representá-las. Lucian concordou com a cabeça, compreendendo a etiqueta por trás daquele convite. Pegando um macaron, o príncipe comeu silenciosamente sem puxar nenhum assunto com Cassander. Estava hesitante em falar sobre o outro dia, ao mesmo tempo que estava curioso para saber mais sobre a relação entre ele e o verdadeiro oitavo príncipe. Queria perguntar tantas coisas, aproveitar que estavam calmos… Sem jeito, Lucian tentou iniciar um assunto e ver no que conseguia. — A Sua Majestade parece muito devoto. — É mesmo? — Cassander se encostou na cadeira e bebeu um gole do chá — Quando ficamos mais velhos, percebemos que passamos por muitas coisas das quais deveríamos agradecer. — O Imperador me disse que o senhor passou por muito sofrimento para… me ter. Não consegui compreender o que ele quis dizer, já que não me lembro de nenhuma situação perigosa além do que passei recentemente. Cassander pareceu surpreso com aquilo, e por um momento Lucian notou a sombra em seu semblante. Não algo assustador como da outra vez, contudo algo diferente como se…. lembrasse de algo. Reviver uma memória triste. Teria ele tocado em um assunto sensível demais? — Depois que tivemos você, Rehael engravidou de novo de um filho meu. Mas por causa desse jogo político, ele sofreu um atentado que o fez perder o bebê. Isso nos abalou fortemente. Lucian arregalava os olhos de surpresa, não esperando por aquela informação. — Me desculpe por tocar em um assunto tão sensível. O Consorte o olhou por um momento e então sorriu ao ponto de suas bochechas ganharem um tom rosado. O alfa estendeu a mão sobre a mesa e segurou a mão de Lucian, apertando levemente os seus dedos. — Obrigado, meu filho. Com o calor das mãos de Cassander sobre a sua, Lucian teve um vislumbre. Ele viu Cassander, com expressões um pouco mais jovens, sentado no gramado enquanto o olhava brincar em um extenso campo fora do palácio. Lucian se viu correndo na direção do alfa e pulando em seu colo e sendo abraçado com carinho. Sentindo uma pontada na cabeça e um leve enjoo, Lucian começava a suar. Aquilo foi uma memória do oitavo príncipe?
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