Capítulo 29 -Primeiras ordens

1768 Words
Todo nobre de Roveaven sabia que ter um título nobre também significava ter um alvo em suas costas, que atraía qualquer tipo de trambiqueiro. Sem falar nas pessoas que facilmente guardavam rancores e planejavam vingança para destruir tudo o que o nobre tem em posse, ou roubá-lo para si. Por esse motivo os nobres tinham uma guarda pessoal para garantir a segurança. Era comum ocorrer assaltos em carruagens, onde os ladrões roubavam as jóias ou faziam os nobres os seus reféns para conseguirem recompensas mais gordas. Somente um nobre que não sai do seu território se veria livre de tal ocorrência, apesar de ser algo temporário. Claro, Magnus havia passado por algumas emboscadas desde que herdou o título de Grão-duque. E por ter treinado esgrima desde criança, ele sempre soube se defender e garantir a segurança dos seus irmãos. Agora, Magnus precisava garantir a segurança do oitavo príncipe que ainda estava inconsciente. Don, o cocheiro, demorou um bom tempo para alugar uma carruagem comum e buscar os dois rapazes. Magnus deu ordens para que fosse direto ao Palácio Imperial, mas que seguisse para o portão sul, que era próximo ao palácio de Lucian. Já era noite quando finalmente Magnus desceu da carruagem com o príncipe em seus braços, encontrando o mordomo beta esperando ansiosamente na porta do castelo. Assim que Argus viu o seu mestre, ele correu até o Grão-duque. — Vossa Alteza! Ele está dormindo? Ou ele está se sentindo m*l? — Onde fica o quarto dele? — Por aqui, Vossa Graça! Argus guiou Magnus para dentro do castelo, que estava apenas parcialmente iluminado e sem nenhum criado à vista. Foi sábio evitar tecer comentários sobre o quão inadequado aquele palácio era para um príncipe viver, apesar de ser difícil de não reparar nos detalhes enquanto ele era guiado pelos corredores. Parecia um castelo abandonado e assombrado por fantasmas. Magnus gostava daquela atmosfera, só que infelizmente o momento não era adequado para os seus hobbys. O criado do oitavo príncipe subiu as escadarias, e no terceiro andar ele abriu a porta para um quarto frio. Magnus não perdeu tempo, imediatamente se aproximou da cama onde deitou Lucian e o cobriu com as cobertas. A única iluminação veio da lareira que Argus acendeu quando entrou no quarto. O criado se aproximou do príncipe e o observou atentamente reparando nos hematomas em seu pescoço. — E-Ele está ferido? Espera, o que aconteceu com a Sua Alteza? — Quieto — Ordenou Magnus, franzindo a testa — O Imperador e o Consorte já voltaram? — Hã? A-Acho que sim, Vossa Graça. Ouvi alguns criados comentarem que o Imperador pegou um outro caminho para voltar, e que passaram pelo portão leste. — Vá até o Palácio do Sol e chame-os com urgência. Preciso de um médico também, tivemos um inconveniente no caminho de volta. — A-Agora mesmo! Argus não esperou por mais ordens, ele apenas saiu correndo do quarto deixando Magnus sozinho com Lucian. Suspirando cansado, o Grão-duque encostou as espadas na parede e voltou a verificar o pulso e a temperatura do alfa, assim como as feridas em seu calcanhar. — Droga, esqueci de cuidar disso antes. Tsk. Olhando em volta, Magnus procurava por algum pedaço de pano que pudesse rasgar, mas não havia absolutamente nada de útil naquele quarto. Arregaçando as mangas da sua camisa, ele saiu do quarto e vagou pelos corredores até encontrar a cozinha vazia e escura, onde mexeu por todos os armários até encontrar uma pequena bacia e um pedaço de pano. Enchendo a bacia de água, Magnus carregou até o quarto de novo e mergulhou o pano na água. Ele limpou o sangue grudado na pele de Lucian, limpou as suas feridas e tirou a sujeira de grama. — O que raios estou fazendo? — Resmungava ele encarando o rosto de Lucian — Você só está me dando trabalho… Ficando em silêncio pelo tempo restante, Magnus apenas esperou pela chegada do Imperador. E que chegada! Demorou um bom tempo até que a porta do quarto fosse aberta abruptamente, mostrando a figura de Cassander com o rosto completamente pálido e o semblante preocupado. Magnus ergueu a sobrancelha ao ver o Consorte Imperial, pela primeira vez, usando trajes de dormir. — Lucian! Cassander correu até a cama, ignorando por completo a presença de Magnus. Ele se ajoelhou na frente da cama do príncipe e agarrou a sua mão, o olhando cuidadosamente. Na porta, logo apareceu o Imperador e o médico real, expressando a mesma urgência que o consorte. — Onde ele está? O que aconteceu? — Com licença, irei examiná-lo — O médico disse ao entrar no quarto. Magnus cruzou os braços e escolheu ficar do lado do Imperador, próximo à parede, dando espaço para o médico fazer o seu trabalho. — E eu pensando que vocês estavam aproveitando o restante da tarde para terem um momento a sós — Murmurava o Imperador. — Talvez estejam acostumados demais a deixarem ele por conta própria — Respondia Magnus seriamente. O Imperador nada disse. Os dois continuavam em silêncio observando o médico avaliar o estado de Lucian, mesmo que demorasse alguns minutos. Quando o beta finalmente ergueu a cabeça na direção deles, Magnus apertou os dedos em seu braço se sentindo ansioso. — Os hematomas em seu pescoço parecem sinais de enforcamento, o que pode ser a razão dele ter perdido a consciência. Mas ele está fora de perigo. — Então ele irá acordar, certo? — Questionava Cassander. — Sim, Vossa Majestade. Tratarei as feridas de Sua Alteza e observarei um pouco mais o seu estado, mas a princípio ele ficará bem. O Imperador soltou um longo suspiro e desencostou da parede indo até o Consorte para afagar o seu ombro levemente. Em seguida, o Imperador virou-se para Magnus com aquele semblante autoritário e majestoso, lhe dando uma ordem. — Me siga. O Imperador saiu do quarto de Lucian e Magnus desencostou da parede para segui-lo depois de pegar uma das espadas. O cômodo mais próximo era uma sala de descanso, onde o Imperador se aproximou de um candelabro e o acendeu para dar alguma iluminação. Já imaginava o que estava por vir, considerando a urgência da situação. Magnus estava acostumado em ver o Imperador franzir a testa quando lidava com problemas que colocavam a vida das pessoas em risco. Porém, era impressionante vê-lo chegar no palácio do oitavo príncipe imediatamente. — O que foi que aconteceu com Lucian? "Direto ao ponto", pensava Magnus. — Um grupo de mercenários atacou a minha carruagem no caminho de volta — Magnus retirou do bolso o cartão e entregou a Rehael, que leu cuidadosamente — Parece que tinham um alvo. Os olhos claros do Imperador se estreitaram ao ler a curta mensagem contida no cartão. — Estavam tentando sequestrar Lucian? — É o que parece. Eles eram seis, cinco deles tentaram me manter ocupado quando o sexto mercenário conseguiu pegar o príncipe. Estavam bem organizados para um grupo de mercenários. — O que leva a crer que sabiam que Lucian estaria com você. Magnus concordou com a cabeça silenciosamente. Enquanto esperava por Don voltar com a carruagem, ele analisou a lâmina da espada que um dos mercenários usou e que Magnus "pegou emprestado" depois de derrotá-lo. Agora, ele desembainhou a espada e aproximou-se do candelabro que iluminava os desenhos na lâmina. Tal detalhe chamou a atenção de Rehael, que se inclinou para observar além das manchas de sangue seco. — Alguns mercenários não se importam em exibir objetos de valor que conseguiram durante assaltos, apesar da maioria deles evitar a ostentação justamente para se manterem disfarçados. Mas ao que parecia, todos eles tinham o mesmo tipo de espada. — O que quer dizer com isso, Grimwood? Erguendo os olhos carmesins para o Imperador, Magnus mantinha a inexpressividade ao apontar a conclusão em que chegou. — Um grupo de mercenários emboscaram um príncipe e um Grão-duque, e portavam espadas feitas com detalhes que somente um nobre poderia obter. É natural pensar que o contratante é um nobre. Rehael permaneceu em silêncio por alguns instantes, levando a mão ao queixo enquanto pensava em algo. Magnus também olhou a espada, observando o desenho na lâmina. Alguns ferreiros deixavam uma pequena marca como assinatura de suas criações, mas aquele símbolo de uma rosa não remete a nenhum ferreiro que Magnus conhecia. — Faça uma avaliação do material desta espada — Ordenava o Imperador repentinamente — E também preciso que você volte ao local da emboscada. Vá com uma equipe de cavaleiros para tentar descobrir a identidade deles e rastrear de onde vieram. — Eu mesmo já investiguei, e não havia absolutamente nada de útil com aqueles caras que pudesse identificá-los. Apenas o cartão e as espadas. Até mesmo os trajes deles são comuns demais. — Haa… — Suspirava o Imperador massageando a têmpora — Neste caso, consegue mapear as últimas atividades dos mercenários? — Quer tentar encontrar o ponto de encontro deles? Sabe que há vários grupos espalhados na capital, será difícil encontrar algo tão específico. — Eu sei — Disse o Imperador, encarando o cartão novamente o amassando em seus dedos — Mas eu quero saber quem está por trás disso. Tente descobrir de onde eles vieram. Magnus avaliou o Imperador silenciosamente, estando surpreso por vê-lo se importar tanto com um dos seus filhos. Por um instante ele cogitou contar a Rehael sobre o que Lucian lhe disse, a respeito de pessoas tentarem se aproximar dele por estar com Magnus. No entanto, o ômega escolheu ficar em silêncio. Baseado no jeito que Lucian havia falado, era esperado que absolutamente todos do Palácio Imperial fossem suspeitos. Desde o Imperador até os criados. — Como quiser, Vossa Majestade. Então, partirei agora mesmo. — Não deseja ficar com Lucian e esperar ele acordar? — Questionava o Imperador com certa suspeita. — O meu noivo foi ferido na minha frente. Então, preciso descarregar a minha frustração. O Imperador notou o brilho peculiar vindo daqueles olhos carmesins, e a frieza em seu tom de voz. A frustração de um sujeito que luta sem se importar com o sangue em suas roupas poderia ser mais mortal do que imaginava. Magnus parecia nem se incomodar que a sua camisa branca estivesse suja de sangue, nem que as espadas que carregava também estivessem em tal estado. O que esperar de um nobre homem que não fazia questão de esconder o seu poder? — Muito bem. Espero que me traga boas notícias. — Como desejar, Vossa Majestade. Em passos silenciosos, Magnus saiu daquela saleta m*l iluminada. Cerrando os punhos, o Grão-duque se sentia frustrado por quase ter falhado em proteger o oitavo príncipe.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD