CAPÍTULO 1

1359 Words
LEONARDO SANTORINI "— Estamos os dois aqui, meu amor. Então, qual é a novidade que você queria nos contar? — Meu pai pergunta a minha mãe, assim que nos reunimos na sala. Ela dá alguns passos andando de um lado para o outro na nossa frente e depois para no meio, respira profundamente. Ela está tão ansiosa e nervosa que já estou achando que essa novidade que ela tem, é na verdade uma má notícia. — Nós vamos ter mais um integrante na família — solta a bomba com um grande sorriso no rosto. — Você está grávida?! Como assim, Rose? Meu amor, isso é… é maravilhoso! — Meu pai não sabe se rir ou abraça minha mãe. E eu? Bom, eu ainda estou digerindo o fato de que: agora eu sou o irmão mais velho. Mas, o que minha mãe disse a seguir foi ainda mais chocante. — Não! Eu não estou grávida, meu amor — ela diz, jogando um verdadeiro balde de água fria para apagar a empolgação do meu pai. — Não? Você adotou um cachorro então? — ela n**a de novo — uma tartaruga? — Não adotei nenhum animal de estimação — minha mãe respondeu rindo. — Certo. Então de onde vai sair esse novo integrante da família? Eu realmente não estou conseguindo acompanhar esse raciocínio. — Na verdade eu adotei uma garota. — Como? — Eu e meu pai perguntamos ao mesmo tempo. — A Marina, ela mora lá no abrigo onde eu sou madrinha, acabou de completar quatorze anos, é um doce de menina, vocês vão adorá-la — fala naturalmente como se adotar uma adolescente não fosse algo tão sério. E pela cara do meu pai, ele não foi informado com antecedência que seria pai novamente. — Espera. Roseli Santorini, você está me dizendo que adotou uma garota, isso é… uma garota mesmo, de carne e osso? — ele questiona, tentando manter a calma. — É, uma garota mesmo de carne e osso, se fosse uma andróide como nos filmes, era só comprar, não precisa usar o termo adoção. Eu tenho vontade de rir da plenitude que a minha mãe usa sempre, em todas as situações, enquanto meu pai está em ponto de combustão. — Mas como isso aconteceu? — Eu conheci a Marina lá no abrigo, como eu já disse… — ela começa a fazer um resumo de como conheceu a garota, como se deram bem logo no início, e no final diz que a decisão de adotar a menina, veio depois de ser salva por ela de um acidente. Eu me lembro desse episódio, foi no início do ano. Eu tinha acabado de chegar da escola quando meu pai entrou em casa desesperado dizendo que minha mãe estava no hospital. Nós saímos correndo até lá, um lugar longe pra p***a, o hospital fica do outro lado da cidade, levamos quase uma hora para chegar lá. A minha mãe estava com um curativo no braço e alguns arranhões espalhados no resto do corpo, mas sua única preocupação era com, segundo ela, a sua salvadora, ela não queria arrastar o pé do hospital porque a garota também estava internada lá. O acidente aconteceu por causa de um homem que desmaiou enquanto dirigia e foi em direção ao canteiro onde o grupo de crianças estava tomando sorvete, essa garota viu que o carro ia acertá-las e empurrou minha mãe para longe, levando todo o impacto sozinha. — Mas ainda não está tudo resolvido, você precisa assinar os documentos e passar com a agente que faz as entrevistas com a família. Eles também vão vir aqui conferir se estamos aptos a receber a garota e oferecer um lar confortável, mas com isso não precisamos nos preocupar — completa, olhando para o meu pai que se mantém estático, acho que ainda não digeriu a novidade — você também vai ter que ir à entrevista, Leonardo. — Eu? Por quê? Eu não vou adotar ninguém, nem tenho idade para ser responsável por mim, que dirá por essa garota aí. — Você será o irmão, então também tem que provar ser capaz de ocupar esse posto! — Diz séria, fazendo-me rir. — Não ria, Leonardo, isso aqui é muito sério, e isso será bom para você nesse momento — sua expressão mostra tristeza, a minha também. Há dois meses, meu amigo, meu melhor amigo, morreu em um acidente. Foi feio, o carro estava a quase trezentos quilômetros por hora, então definitivamente a situação que ele ficou não foi nada agradável. Eu e meus amigos fazemos rachas quase todo final de semana, quando não é corrida, é um clube da luta improvisado, a adrenalina é boa depois que o carro atinge os quase trezentos quilômetros por hora, ou trocamos socos só para ver o adversário cair e sangrar, é emocionante jogar com o perigo. Mas nesse dia não foi, eu estava competindo com ele, estávamos disputando o primeiro lugar e assim que eu o ultrapassei, o carro dele rodou na pista e capotou várias vezes, eu vi tudo pelo retrovisor, depois voltei e quando cheguei próximo dele, ele ainda estava respirando e gemendo de dor, então foi diminuindo até morrer nos meus braços. Eu estou respondendo processo por isso, afinal é crime e todos nós ainda somos menores de idade, o que nos salvou de problemas maiores, pois no Brasil menores de idade geralmente não cumprem penas por seus crimes. Bom, o fato é que isso foi uma grande dor de cabeça para os meus pais, saiu uma matéria enorme na mídia e o nosso advogado ainda está tentando limpar a minha imagem, o que eu não me importo nem um pouco, mas o meu pai sim, para ele a boa imagem é o que faz o homem ter o respeito de seus subordinados. — Ela vai me ajudar? O que ela é, uma médium que apaga memórias? — pergunto, tentando dispersar essas malditas lembranças da minha cabeça. — Leonardo, eu estou falando sério aqui! Vai ser bom para você ter alguém para conversar e fazer programas de adolescentes. Fora que ela é uma garota muito forte que já passou por uma perda dolorosa igual a você. — Não pode ser comparado, mãe, mas de qualquer maneira, eu não posso contrariar a senhora, então eu faço essa entrevista aí. Agora vou para o meu quarto. Ah, e parabéns pela nova filhinha, papais — digo, parando no meio da escada." Foi assim, desse jeito que a Marina entrou na minha vida: como minha irmã. Eu sou o Leonardo Santorini, tenho vinte e sete anos, sou o CEO do grupo Santorini, uma grande rede de empresas voltadas para o ramo alimentício. Temos fazendas de plantação de várias frutas, principalmente a uva que é a matéria prima do nosso produto mais famoso, o vinho. Nossos vinhos são conhecidos internacionalmente de tão bons que são. Sendo filho único, fui criado sem nenhum limite, tudo que eu quis, eu tive na hora, e sempre do meu jeito, então, já sendo um cara exigente, eu acabei ficando cada vez mais controlador e tudo que é meu, é só meu e segue as minhas regras. Isso vale para todas as áreas da minha vida. Quando a minha mãe adotou a Marina, eu não amei a ideia, mas também não odiei, na verdade foi um "tanto faz" pra mim. Mas quando ela de fato chegou aqui, as coisas começaram a ficar fora de ordem. Pelo menos na minha cabeça em alguns momentos. Eu tentei ver a maldita garota como uma irmã, não ter pensamentos fora do contexto da irmandade, mas a garota decidiu não me ajudar. Desde o primeiro dia, eu notei o seu interesse, ela não sabia nem disfarçar quando me olhava, me comia descaradamente com os olhos. Ela veio para essa casa disposta a bagunçar a minha vida, não é possível. Eu tentei me afastar, manter essa p***a só no pensamento mesmo, mas eu acabei perdendo o controle. Olho no espelho e as cenas de ontem à noite insistem em se repetir, são como flashes na minha memória, não lembro de todos os detalhes, mas eu sei que aconteceu e foi… gostoso pra c*****o.
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