Me surpreendi com toda gentileza do Renzo, ele está tentando ser gentil, do jeito dele, mas está tentando e nesse momento é o que eu preciso, gentileza, carinho e muito afeto, infelizmente tenho que me contentar só com a tentativa dele em ser gentil.
Visto a camisa dele, até que não ficou muito grande, ele é um homem alto, mas eu não sou baixinha, então está ótimo. Ele perguntou se eu queria comer, mas neguei, estou sem fome. A tristeza é tão grande que nem quero fazer a coisa que mais gosto, que é comer. Vou sentir falta do meu pai brincando comigo sobre eu ser comilona. Tudo me faz lembrar ele. Não sei o que vai ser da minha vida sem a presença do homem mais forte, corajoso e amoroso que eu já conheci. Para muitas pessoas ele foi o Capo José, mas para mim, ele foi meu pai e meu amigo. Ele nunca me tratou m*l, nunca foi um mafioso comigo, dentro de casa ele se dedicava apenas a ser um super pai.
Deito na cama e tento dormir, mas não consigo, quando fecho meus olhos consigo reviver a cena do meu pai morrendo na minha frente. Já chorei tanto que sinto minha cabeça doer. Me levanto e vou até a varanda, onde ele está sentado, sem camisa e fumando um cigarro. Reparo nas tatuagens dele, são muitas e ficam lindas nele. Ele é um homem bonito, mesmo com essa cara de bravo.
— Achei que estava dormindo — Ele fala quando me vê.
— Não consigo.
— Pensando no que viu? — Ele solta a fumaça que tragou do cigarro.
— Sim.
— Senta aí — Ele aponta para uma espreguiçadeira ao lado da dele.
— Suas tatuagens são legais — Digo para puxar assunto, mas realmente elas ficam bonitas nele.
— Também gosto.
Ele é um cara complicado, não me dá espaço para conversar, sempre com poucas palavras e com a expressão fechada. Fico sem jeito quando estou perto dele, não sei como agir ou o que falar. Sinto um pouco de medo dele.
— Consigo ver a fumaça saindo na sua cabeça.
— Como assim? — Pergunto confusa.
— Você está pensativa e pela sua cara não é nada relacionado ao seu pai.
— Você é observador, né? — Isso é outra coisa que reparei nele.
— Sou bom em ler as pessoas.
— O que vai acontecer comigo agora? — Pergunto com medo da resposta dele, mas no momento só consigo pensar que eu estou sozinha no mundo.
— Não sei. Você ainda não tem idade para se casar, vou ver com o Rocco amanhã.
— Vou poder continuar no México? — Eu sei que não, mas só quero ter certeza para não criar nenhuma esperança.
— Acredito que não. Você agora passou a ser nossa responsabilidade, não vamos te deixar para trás.
— Entendi.
— Porque você não tenta descansar?
— Eu não estou conseguindo. — Ele não respondo e voltamos a ficar em silêncio.
— Seu pai te escondeu muito bem de todo mundo. — Ele fala e me surpreendo por ele estar puxando assunto.
— Sim, ele sempre fez questão de me manter fora dos assuntos da máfia. Não entendi porque ele fez esse acordo, eu sei que ele estava com a doença muito avançada, mas não pensei que ele fosse fazer isso.
— Ele tinha os motivos dele.
— Você está conformado com isso?
— Com o casamento? — Confirmo — Tenho que cumprir com minhas obrigações na máfia — Então isso que eu sou, um compromisso da máfia.
— Entendo.
— Mas ainda tem um tempo até isso acontecer. Você faz dezoito quando?
— Daqui quatro meses.
— Falta pouco então.
— Sim — Sinto um pouco de frio e passo as mãos no braço.
— Está com frio?
— Sim.
— Quer entrar?
— Estou com medo de ficar sozinha — Confesso.
— Vão lá, vou ficar com você até você dormir. — Quem é esse homem e o que ele fez com o Renzo malvado?
— Sério? — Pergunto empolgada.
— Não se acostume, estou abrindo uma exceção hoje. — E o Renzo malvado volta.
— Por mim está ótimo.
Ele apaga o cigarro, o que já percebi ser um vicio e entra comigo. Eu realmente estou assustada e com medo de ficar sozinha. Sei que ele não é a melhor opção, mas no momento é tudo que eu tenho e já que ele está sendo bonzinho, vou aproveitar. Ele veste uma camisa e deita na cama.
— Vai, deita aí, não vou sair daqui enquanto você não dormir.
— Você não vai dormir? — Me deito ao lado dele.
— Estou sem sono.
— É acostumado a dormir tarde?
— Quase nem durmo.
— Nossa, que r**m — Ele apaga a luz e eu fico com medo. — Eu estou com medo, Renzo.
— Calma ruivinha, está tudo bem, só estamos nós dois aqui. — Eu gosto quando ele me chama de ruivinha.
Me aproximo dele e deito minha cabeça em seu peito, espero ele pedir para que eu saia, mas ele não faz isso. Me sinto melhor assim, fecho meus olhos e me lembro do meu pai, já estou sentindo tanto a falta dele, acabo pegando no sono dessa forma, deitada com a cabeça no peito do meu noivo.