Capítulo 5

1104 Words
ESME BEAUFAY Rua Mouffetard, Nº75 / 09:45 AM Havia três dias que estava na casa dos meus pais e, como se não bastasse todo o infernö que havia se tornado minha vida, ainda era obrigada a vê-los discutir diariamente, como se fossem dois animais selvagens . Meu pai começou a beber com mais frequência, estava depressivo, e toda vez que passava em frente à porta de seu escritório podia vê-lo chorando enquanto tomava whisky . Aquela cena se tornou comum, ao ponto de me questionar o que era toda aquela merdä e o porquê da empresa do meu pai ter entrado em uma bola de neve que parecia não ter fim . Minha mãe, a pessoa que antes apoiava a todos e mantinha as coisas da casa em ordem, tornou-se outra mulher e já não a reconhecia mais . Ela estava diferente, distante . Eram 20:00 horas, e ela estava saindo de casa novamente, usando vestido vermelho colado e batom de cor forte nos lábios, parecendo ser uma garota solteira indo para uma balada ou coisa do tipo . Ela estava agressiva, nervosa com tudo e mesmo não querendo acreditar sabia bem o que aquelas ações significavam . — O que anda fazendo? Sai sem dizer nada e volta completamente bêbada durante a madrugada . Você não devia estar fazendo isso! Não quando meu pai tá quase cometendo suicidiö por causa de toda a merdä que vem acontecendo — falei, já não aguentando mais guardar tudo para mim . Parecia que todos estavam à beira do precipício e não iria suportar ver ninguém pulando . — Você é a última pessoa na face da Terra que pode me falar alguma coisa, pois está tão fodidä quanto qualquer um aqui . Não venha me dizer que estou fazendo algo errado apenas por tentar não ficar deprimida igual ao seu pai . Pisquei, não acreditando no que estava ouvindo, pois foi a primeira vez que minha mãe disse coisas tão diretas . Ela nem se preocupou em pensar nas palavras que saíam da sua boca ou em como me sentiria em ouvi-las . Como se não devesse explicação nenhuma para mim, ela saiu pela porta sem falar mais nada, deixando meu pai e eu para trás, como se não passássemos de empecilhos em seu caminho . — Chega ... Eu não aguento mais! — Eu me joguei no sofá tentando ficar calma, enquanto colocava o braço sobre o rosto . Acabei pegando no sono, sendo acordada algumas horas depois com o telefone tocando alto, tanto que levei um susto e com um pulo levantei, atendendo a ligação mais rápido que pude, pensando que pudesse ser alguma das locadoras das salas comerciais ou algum paciente . Mas não, para minha surpresa, não era nenhum dos dois . — Esme Beaufay? Ouvi a voz séria de um homem do outro lado da linha falar meu nome e senti o corpo enrijecer, mas tão logo consertei a postura no sofá e tentei pensar positivo . — Sim, sou eu mesma — respondi com hesitação ao perceber o silêncio que se estendia . Talvez fosse algum policial, ou algum investigador, já não sabia mais o que esperar . — Sou Pierre Dubois, médico do Hospital Saint-Louis, Jasmine Beaufay acabou de dar entrada por conta de uma överdose, estamos ligando para informar sobre o ocorrido . Congelei, pois aquilo não poderia ser real . Estaria mentindo se dissesse que não suspeitei de drogäs, mas a minha mãe ? Quase deixei o telefone cair, mas me mantive firme, pois era a única com sanidade no momento para fazer alguma coisa . Sabia que não podia contar para o meu pai, então, deixei que ele dormisse em seu escritório e pegando as chaves fui para o hospital sozinha . Eu tinha que ser forte, sabia daquilo, mas quando cheguei e a vi daquela forma, foi demais pra mim . Ela estava em coma induzido e tão pálida . — Senhorita Beaufay? Acredito que Jasmine seja sua mãe … Tivemos algumas complicações e foi necessário colocar um suporte de vida temporário . Ela estava fora de si e acredito que seu quadro deve ter piorado por conta da idade, junto a alguns problemas de saúde que vinha tendo . Eu mäl conseguia prestar atenção no que o médico dizia, apenas me aproximei da cama onde a minha mãe estava e segurei sua mão. Pude ver por estar perto, o quanto ela andava se escondendo atrás da maquiagem pesada . — Ela vai ficar bem? — Foi tudo que consegui perguntar, dada a circunstância em que minha mãe se encontrava . Tudo que vinha à mente era que o pior aconteceria, por isso senti as lágrimas quentes rolarem sobre a bochecha . Naquele momento, já não importava mais demonstrar o quanto estava destruída por dentro . — Sei o quanto deve estar sendo difícil, mas garanto que faremos o possível para que ela fique bem — doutor Pierre falou se aproximando e quando me virei para vê-lo, pude o encarar pela primeira vez após ter entrado naquela sala . Vi o quanto era bonito e até mesmo atraente . Ele se aproximou mais e com a mão delicada estendida em direção ao meu rosto, usou o polegar para limpar minha bochecha . — Uma garota bonita, como você, não deveria chorar tanto . Tenho certeza que vai dar tudo certo. — Ele sorriu de forma simpática me tranquilizando um pouco. Sabia que tudo não passava de protocolo, que mesmo que minha mãe fosse morrer, ele diria a mesma coisa, mas ouvir alguém dizendo que tudo ficaria bem, mesmo que sendo mentira, me fazia sentir um pouco melhor. — Obrigada. — Foi tudo o que consegui dizer, antes do celular começar a tocar e como alguém com 5% de bom senso, eu me afastei, saindo do quarto, vendo no visor o nome do meu pai. Drogä! Ele não podia descobrir aquilo naquele momento. Eu me esgueirei para a saída do hospital, o mais rápido que pude, e quando peguei o celular para atender algo atingiu minha cabeça e tudo ficou escuro. Eu já sabia que estava no fundo do poço, mas quando meus olhos se abriram e me deparei em meio a uma sala com uma luz fraca, presa a uma cadeira e amordaçada, vi que tinha chegado realmente ao subsolo. Havia alguém sentado em uma poltrona grande à minha frente e grunhi de frustração. Que tipo de merdä era aquela? O rosto da pessoa à frente foi levemente iluminado por um feixe de luz e vi um sorriso largo nos lábios de Lorenzo Angelle.
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