Capítulo 2

1729 Words
Raissa passou a esperar Guilherme todos os dias no portão da faculdade. Ele já estava ficando louco com aquilo. Sempre dava um jeito de fugir. Saía pelos fundos, mandava Pedro dizer que saiu cedo, mas mesmo assim a menina continuava indo lá esperar ele. Emily sentou na cadeira ao lado dele. O loiro tinha chamado ela para encontrá-lo no clube. Precisava falar com alguém e a única que conseguia acalmá-lo era ela. — O que foi agora? É a Raissa, não é? — falou com raiva. — Ela te falou alguma coisa? — Pediu a mim para marcar com você um cinema, pois queria conversar. Eu sei que ela falou um bando de merda pra você. Pode negar se quiser, mas eu sei que falou. — Falou mesmo. Os dois ficaram em silêncio se olhando por um momento. — O que ela falou? — Coisas nojentas e desnecessárias. — Tipo? — Não quero falar disso. Só... preciso da sua ajuda. Se você puder.... — Como? — Não sei. Preciso de ideias, já disse a ela que não tenho interesse, mas ela não entende. — Hum... — O que eu posso fazer? Emily observou os olhos azuis, notou o desespero que o menino sentia com a situação. Sentia vontade de matar a Raissa por fazer ele ficar daquele jeito! — Vou tentar falar com ela. — Acha que vai te ouvir? — Não. Mas não custa tentar. Ela é teimosa. Não entende quando as pessoas dizem não a ela. É uma mimada. — Eu realmente não sei mais o que fazer. — Se ela não me ouvir e continuar te perseguindo, só tem um jeito.... — Qual? — Você enviar tudo que ela te envia para a mãe dela. Tenho certeza que ela para depois disso, pois a mãe dela vai matá-la. — Acha mesmo? — Sim. Não é a primeira vez que ela faz isso. Eu sei o que ela te mandou. Guilherme desviou o olhar. — Só que o cara gostou, é claro, mas em algum momento não queria mais e ela continuou insistindo. Aí ele mostrou à mãe dela as coisas que recebia. — Nossa... Ela deve ter ficado muito chateada. — Chateada? Ela ficou possessa. Raissa não veria a luz do dia por seis meses e era pouco. — O que você vai falar com ela? — Deixa comigo — disse sorrindo. — Só não me desminta na frente dela. Tudo que eu disser, confirme. — Está me assustando... Emily deu uma gargalhada e ele sorriu. — Se não funcionar, aí você manda pra mãe dela. Te dou o número. — Tá, mas ainda assim você está me deixando nervoso. — Relaxa! Não confia em mim? — Confio, mas essa expressão aí está me dizendo que vai aprontar. Emily sorriu e não respondeu nada. **** No dia seguinte, Guilherme a esperava na entrada do shopping. Estava nervoso. Não sabia o que a Emily estava aprontando, mas tinha uma ligeira sensação de que não ia prestar... Alguns minutos se passaram e ela se aproximou. Olhava para todos os lados e nem falou com ele direito. — O que foi? — disse nervoso. — Eu disse a ela que estamos juntos. Ela deve vir por aquele lado e assim que eu ver ela, vou te beijar. Não me afaste. Guilherme arregalou os olhos com o que escutou. O garoto abriu a boca para falar e Emily avançou em sua direção ao ver Raissa. A menina parou bruscamente olhando os dois. Emily segurava a cabeça de Guilherme com uma das mãos e estava na ponta dos pés. O loiro segurou a cintura dela com certa tensão. Sabia que não podia ser uma ideia normal vindo dela, mas obedeceu e não a afastou. Pensou que Emily fingiria que estava beijando-o, mas se enganou. Sentiu os dedos da menina agarrarem seu cabelo com força, como se para impedir que ele se afastasse. Sempre achou a boca dela linda, mas nunca parou para pensar se seria bom morder aquele lábio carnudo. Fora que não imaginava que a menina beijava tão bem. Era para isso estar acontecendo mesmo? Sentiu Emily puxá-lo para mais perto com o braço que estava em volta da sua cintura e ficou tenso. Isso está indo longe demais! O pensamento de se afastar sumiu completamente quando a menina entrelaçou os dedos em seu cabelo, puxando-o com força. Isso fez com que ele mesmo a puxasse para mais perto e a beijasse com mais vontade. Somente quando os pulmões queimavam que Emily se afastou dele. Ela sorriu largamente olhando além dele. Guilherme encarava a boca dela sem piscar. Logo ela olhou de volta para o rosto dele e ele desviou o olhar para os olhos dela. — Acho que funcionou. O loiro olhou ao redor procurando por Raissa e não encontrou. — Acha que isso faz ela parar? — Não tenho certeza. Só sei que com raiva ela ficou. — E isso não vai estragar a amizade de vocês? — Você vale mais pra mim do que ela. Guilherme ficou em silêncio olhando os olhos cor de mel por um longo momento. Ainda sentia o frenesi do beijo que trocaram, mas claro que não ia demonstrar nada a menina. Isso não deveria ter acontecido para começar. Principalmente não deve acontecer mais. — Está tudo bem? — perguntou franzindo a testa. — Tá. — Mentiroso. O que foi? — Nada... — Fala, Gui. Foi o beijo? O loiro comprimiu os lábios e Emily suspirou. — Não vai ficar estranho comigo, não é? Nem foi nosso primeiro beijo. Guilherme soltou uma gargalhada e Emily sorriu. — É claro que foi, Emily. Aquilo não conta. Você nem se lembra. Só tinha três anos. — Mas você lembra. — Sim. — Então pronto. Esse foi o primeiro. — Foi só um selinho inocente de criança! — Não interessa. Esse foi o primeiro. Guilherme balançou a cabeça em negação e a menina sorriu. Ela se aproximou e ele ficou tenso. — Você achou r**m? — Mais um passo à frente. Ruim não era o nome que ele daria aquele beijo, mas não podia falar isso a ela. Bianca o mataria se soubesse o que fez. Ela já o ameaçou várias vezes desde que completou quinze anos. Não achava que ela estava brincando e entendia a situação. Agatha engravidou de Emily com apenas dezesseis anos, Bianca estava traumatizada e não queria de novo. Não que ele fosse fazer uma coisa dessas com a menina, ainda mais que o pai dela nunca apareceu. Mesmo assim a situação era complicada demais... — Não achei. — E gostou? — Se aproximou mais. — Emily... — Só responde à pergunta, Guilherme. Ele engoliu em seco e não respondeu. Emily esperou sem desviar os olhos dos dele. — Isso importa? — sussurrou. — Muito — respondeu com firmeza. Guilherme respirou fundo. Não sabia o que fazer. Estava louco para puxar a menina para perto de novo e grudar seus lábios nos dela sem pensar nas consequências, mas isso não era certo. Era? **** Lucas entrou em casa e deu um leve beijo nos lábios de Laura. Ela estava sentada no sofá, mas não prestava atenção na televisão, que estava ligada. — Está tudo bem? — Comigo sim. — Como assim? Quem não está? A Júlia está bem? — Sim. Encontrei ela hoje. — E o Gui? Laura suspirou. Não sabia o que afligia o filho, mas sentia que algo não ia bem. Porém não sabia o que fazer para ajudar. Ele teria que pedir ajuda e contar o que estava acontecendo e como era igual a ela... — Tem alguma coisa com ele, mas não conta. — Tenho achado ele estranho mesmo. — Fale com ele então. — Vou falar. — Beijou o topo da cabeça dela. — Não se preocupa. Deve ser coisa boba de adolescente. — Espero que sim. **** Emily se afastou finalmente. Guilherme não falaria nada. Não sabia se era por ter gostado ou por não ter gostado, pois ele não assumiria se tivesse e não falaria que não gostou para não a magoar. — Vamos embora? — perguntou ainda olhando ele. — Tudo bem — murmurou. O caminho até a casa dela pareceu mais longo do que o normal. Nenhum dos dois falou nada durante a caminhada. Ambos pensando a mesma coisa. No beijo. Emily fez aquilo para provocar Raissa sim, mas também porque tinha muita curiosidade em saber como era o beijo de Guilherme e sabia que se pedisse, ele não ia beijar. Por qualquer motivo i****a, mas não ia. A menina suspirou. Gostava tanto dele. Não se lembrava de um dia que ele não estivesse por perto. Talvez seja exatamente isso. Ele deve ver ela como uma irmã ou algo próximo a isso, aí não quis dizer a ela que não gostou do beijo para não magoar. Era o mais lógico. — Está entregue — disse assim que pararam em frente à casa. — Me conte se ela te mandar mensagem. — Ok. Emily ficou olhando-o por um momento e deu um beijo em seu rosto, porém bem próximo aos lábios. Guilherme ficou tenso e ela sorriu. Talvez ele só esteja com vergonha... A menina virou as costas e entrou em casa. Guilherme suspirou e seguiu seu caminho.   Assim que chegou em casa, viu seu pai sentado no sofá. Já era tarde e ele achou que estariam dormindo. — Está tudo bem? — Sim. — Eu sei que tem alguma coisa, Guilherme. Vamos pular a parte da mentira, por favor. O loiro suspirou e não falou nada. Lucas levantou do sofá e se aproximou dele. — Aconteceu algo na faculdade? — Não. Está tudo bem. — Então foi aquele seu amigo maluco? Guilherme riu. Lucas sempre pensava que era culpa dele. — Não, pai. Ele é doido, mas não me faz m*l. — E o que está te fazendo m*l então? O loiro comprimiu os lábios. Era sempre assim, Lucas fazia perguntas e sem querer acabava falando alguma coisa. — Não quero falar disso, pai. A Emily já me ajudou. — Hum.... Mas se for algo sério eu quero saber. Não esconda as coisas da gente. Você sabe como sua mãe fica. Ainda mais depois do que a Júlia teve. Guilherme desviou o olhar. Ele ainda não tinha nascido quando Júlia ficou doente, mas ficou sabendo de tudo o que aconteceu com a irmã. 
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