— Não estou doente.
— Então o que é?
— Tem uma garota me perseguindo.
Lucas franziu a testa.
— Fica me mandando mensagem todo dia. Já disse que não quero nada com ela, mas não adianta. Bloqueei ela e arrumou outro número para perturbar.
— O que ela te manda?
— Só fala coisas pornográficas e já me mandou fotos sem roupa.
Lucas arregalou os olhos agora.
— Ignore ela.
— Estou fazendo isso. Só que ela tem ido todo dia na faculdade me esperar.
— Meu Deus... que maluca. E o que você diz quando encontra ela?
— Não encontro ela. Sempre saio pelos fundos ou peço o Pedro pra dizer que já saí.
— E no que a Emily te ajudou com isso? — perguntou com os olhos cerrados.
Guilherme ficou tenso.
— A garota é amiga dela.
Os dois ficaram em silêncio depois do que ele disse. Lucas digeria as informações e Guilherme se remoía por ter contado tudo. Não devia ter falado, até porque a garota deve desistir depois do dia de hoje, mas agora já foi.
— Quantos anos a menina tem?
— Dezesseis.
— Meu Deus — resmungou.
— Espero que o que quer que a Emily tenha dito a ela, funcione — disfarçou.
— É... do jeito que é doida, deve é te enrolar mais ainda. Isso deve ser de família — falou com a testa franzida.
Guilherme riu. Realmente Emily era bem parecida com a avó dela.
— Não me esconda mais nada. Ainda mais algo assim. Se ela não parar, o jeito é procurar os pais.
— A Emily disse a mesma coisa.
— Então não é tão doida quanto pensei.
O loiro soltou uma gargalhada e Lucas sorriu.
****
No dia seguinte, assim que a Emily entrou na sua turma, viu a Raissa sentada em seu lugar. Se aproximou e colocou a mochila em cima da mesa.
— Você gosta de falar de mim, mas também curte um cara mais velho, não é?
— Isso não é da sua conta. Numa boa. Agora sai do meu lugar.
— Fez isso só pra me provocar, não foi? Você sabia que estava interessada nele.
— Eu não te devo satisfação e muito menos perderia meu tempo com algo tão inútil. O Guilherme não está nem aí pra você. Ele gosta de coisas boas.
Raissa a encarou com fúria. Tinha as mãos fechadas com força e lançava um olhar assassino a Emily.
— Sai do meu lugar!
A menina levantou da cadeira e foi para o outro lado da sala. Queria distância de Emily, pois queria arrebentar ela, mas não podia mais levar suspensões ou seria expulsa da escola.
Emily se sentiu satisfeita com o olhar da menina. Ela precisava entender de uma vez por todas que o Guilherme não é para o bico dela.
Durante toda a aula, Raissa ficou encarando Emily, mas ela ignorou completamente. O intervalo não foi diferente também.
— Por que ela está te olhando daquele jeito? Vocês brigaram?
— Só falei umas verdades a ela e parece que não gostou do que ouviu.
O garoto riu. Sempre que Emily “falava umas verdades”, as pessoas ficavam irritadas.
— Não duvido que tenha ficado irritada... Mas vocês não eram amigas?
— Sim, mas ela tentou mexer com uma pessoa importante pra mim.
— Nossa. Você deve mesmo gostar dessa pessoa.
— Por que diz isso?
— Pra brigar com sua amiga assim.
— Amiga entre aspas, né? Éramos colegas.
— Dá no mesmo. Aposto que é um cara — disse sorrindo.
— E se for?
— Sabia! Quem é? É da escola?
— Não te interessa.
O garoto soltou uma gargalhada alta com a resposta.
— Por que não vai cuidar da sua vida, hein Mauro? — disse brava.
— Porque eu gosto de te ver irritada — disse sorrindo.
Revirou os olhos e pela primeira vez depois da discussão na sala de aula, ela olhou na direção de Raissa. A menina ainda a encarava com o semblante sério. Emily ergueu uma sobrancelha.
— Como se cara feia me deixasse com medo.
O garoto riu alto. Adorava quando Emily ficava desse jeito. Achava a menina linda. Fora que era diferente das patricinhas da escola e diferente da maluca da Raissa, é claro. A loira já tinha ficado com quase todos os garotos da escola e pelo visto mexeu com quem não devia dando em cima da “pessoa importante” de Emily.
Estava louco para ver as duas brigando de verdade.
Quando finalmente era a hora de ir embora para casa, viu que Raissa esperava no portão. Revirou os olhos e passou por ela como se não tivesse visto, mas a garota segurou o pulso de Emily com força.
— Tira a mão de mim! — Puxou o braço com arrogância.
— Não vou deixar barato o que falou lá dentro!
— Cobre o que quiser eu não estou nem ai! — Virou as costas a ela.
Raissa soltou um grunhido de raiva e partiu para cima da menina agarrando seu cabelo com as mãos. Emily sentiu a pressão na cabeça por causa do puxão no cabelo e xingou. Ela segurou as mãos de Raissa, que ainda agarravam seu cabelo e girou o corpo, fazendo seu cotovelo bater na cara da loira. Raissa a soltou e segurou o nariz com as mãos. Sangue escorria e isso fez a menina ficar mais furiosa ainda. Partiu para cima de Emily de novo, mas dessa vez ela já esperava e acertou um belo tapa na cara da menina, que chegou a ir para o lado.
Vários alunos estavam em volta observando a briga. Muitos filmavam e incentivavam a continuar. Rindo e provocando as meninas. Raissa acertou um soco em Emily e ela passou a mão no lábio limpando o sangue. Logo avançou na menina e as duas rolaram no chão se estapeando e socando.
— Que d***o está acontecendo aqui?
A multidão abriu espaço quando escutou a voz do diretor do colégio. As duas continuaram se acertando mesmo depois de ouvi-lo.
O homem pediu para alguns garotos separarem as duas e depois seguir ele para a direção.
As duas estavam descabeladas e sujas de sangue sentadas na cadeira em frente à mesa dele. O homem as encarava com um olhar severo.
— O que diabos deu em vocês? Parecem marginais brigando no meio da rua!
— Ela que me atacou! Só me defendi — disse Emily.
— Você provocou!
— Vai a merda!
— Chega! — Deu um tapa forte na mesa e as duas ficaram em silêncio. — Vou chamar os pais de vocês imediatamente.
— Não sei que pais. Ela é órfã de pai.
Emily quase acertou a garota mais uma vez. Só não fez isso porque não queria ser expulsa.
— Não quero ouvir um pio!
O homem pegou o telefone e discou o número. Não tirava os olhos das duas. Em alguns minutos a mãe de Raissa e Agatha estavam ali. O diretor contou a elas o ocorrido e disse a Agatha que Emily estava suspensa por três dias. Mesmo a menina dizendo que não brigou dentro da escola. Ele disse que ainda era responsabilidade dele, pois tinham acabado de sair, fora que foi no portão da escola. Já Raissa foi expulsa. A mãe dela tentava negociar, mas o homem estava irredutível. A menina só sabia aprontar e já estava por um fio. Depois dessa briga, ele não podia permitir que continuasse estudando ali.
Emily sorriu com satisfação quando ouviu isso. Pelo menos uma notícia boa!
As duas começaram a discutir tudo de novo quando ela disse isso em voz alta.
— Cala a boca, Emily! — Agatha falou alto e ela ficou quieta.
Depois de assinar o que o diretor pediu, as duas saíram da escola. Emily andava em silêncio. Agatha resmungava sozinha por ter que sair do trabalho por causa de uma babaquice.
— Ela que me segurou primeiro.
— Não quero saber!
Emily revirou os olhos e amarrou a cara.
— Vou te deixar na sua avó e depois te busco.
— Tá — disse de má vontade.