A Walk On The Wild Side — Uma caminhada no lado selvagem.
VALENTINA DUARTE POINT OF VIEW
Depois que conversei com Lola aquele dia pelo Skype eu fiquei com uma pulga enorme atrás da orelha e sem entender por que ela disse que poderia sumir e pediu para eu procurar o advogado dela se isso acontecesse. E Rafael viu que a conversa era com ela, ele a observou do outro lado, rápido, mas ele analisou cada detalhe dela, como se quisesse lembrar pela última vez, sabe, e depois Nanda disse que o viu chorando destruindo algumas coisas no quarto. Chorando! Rafael, esse brutamonte, chorando! Acreditem se quiserem, mas depois passou rapidinho e ele encheu a cara instante depois.
QUARTA-FEIRA, 19H15
Estamos num jantar entre amigos na casa do Rafa e da Nanda, nada de mais. Lucas não para de alisar minha barriga e a dizer para todos os amigos que vai ser pai, o problema é que todo mundo já sabe e ele não para de dizer isso.
Branco aparece e mostra a Rafael alguma coisa num tablet. Rafael limpa a boca num guardanapo olhando, então pega o aparelho tão rápido e todos já o olham assustados e curiosos.
— Isso não é verdade. Não pode ser verdade — ele diz nervoso passando a mão na cabeça.
— O que foi? — Guttierre ao seu lado pergunta.
Ele joga o tablet na mesa e levanta-se saindo dali. Guttierre olha, n***o, Branco, todos os garotos olham, e todos olham para mim depois, o que está acontecendo?
— O que foi gente? — pergunto já assustada.
— Acho melhor você não ver, amor — Lucas ao meu lado diz e passa a mão nas minhas costas.
— Me diz logo, Lucas! — olho-o nervosa e impaciente.
— É um site amor, onde criminosos de todo os estados unidos colocam fotos de quem eles querem mortos e oferecem uma recompensa para quem matar a pessoa — ele respira fundo.
— Ta, e daí? — digo impaciente.
— A foto de Lola já estava lá há umas semanas, e agora... — ele para de dizer e levanta os ombros com a boca entreaberta procurando palavras — Eu sinto muito.
Levo um tempo para processar a informação e as palavras de Lucas. Não, isso é loucura, por que Lola estaria num site de criminosos, por quê? Corro até a mesa pego o tablet, tentam tirar das minhas mãos, mas eu vou para longe, então eu olho.
— Não — digo sorrindo olhando para eles — Aqui não é ela — olho a foto novamente já com lágrimas nos olhos.
Não adianta negar Valentina, você conhece essa cara de b***a dela há vinte anos, e reconheceria mesmo se estivesse desfigurada. Meu coração dói, eu solto um choro da garganta enquanto levo as mãos à cabeça após largar o tablet. Lola está morta, não, não é possível, minha amiga, minha companheira na vida está morta.
— Nãaao! — grito me curvando para frente já em prantos — Era isso que ela estava falando! — digo enfim entendendo e levo as mãos à cabeça — Nãao! — eu grito sentindo a dor me consumir, do mesmo jeito quando perdi meus pais, a mesma dor dilacerando meu ser.
— Se acalma amor, não faz bem pro bebê — Lucas me abraça.
— Me deixa em paz — digo chorando.
RAFAEL SALVIATTI POINT OF VIEW
Esqueço Lola cada dia um pouco mais, ela já não me faz falta, mas vê-la naquela maldita tela há mais de sete mil quilômetros e meio de distância fez revirar algumas coisas aqui dentro e perceber que nunca a consegui esquecer. Posso ter transado com mais de dez mulheres desde que ela foi, mas no final da noite é do nosso sexo que eu lembro, do beijo, do cheiro, do toque dela que eu lembro. Eu quero me matar por estar sentindo isso. Prometi que a teria para mim, mas os dias passam e sinto que isso não será mais possível e ela mesma disse que está feliz e lá é seu lugar.
Valentina disse que ela pediu para não ter contato com ninguém daqui, que estava bem lá. Tudo estava bem aqui até um amigo me ligar dizendo que a viu saindo de uma festa de gala com o filho de um dos maiores traficantes dos estados unidos, mas não tenho nomes. Então é isso que ela está fazendo lá. Na mesma semana a foto dela apareceu num site e ofereceram cem mil dólares pela linda cabeça dela, e não demorou até a foto dela morta aparecesse no site.
Foi um choque. Eu simplesmente não sei o que fazer, não sei o que pensar, apenas ando de um lado para o outro no meu quarto. Eu a deixei ir embora, na verdade eu a mandei embora. c*****o, ela morreu sem saber o que sinto, sentia por ela, nem isso sei mais, tudo por causa daquele merda do pai dela. E se ela também sentia o mesmo? Agora nunca vou saber. Sinto uma dor no coração. Agora eu o matarei mesmo. Fui um babaca também de não ter tentando mais, mas f**a-se. É difícil aceitar, ela está morta, mas é melhor assim, tento me convencer. É, é melhor, de uma vez por todas irei conseguir esquecê-la. Finalmente terei paz.
QUINTA-FEIRA, 08H25
Eu não dormi essa noite depois da notícia. Passei todo o tempo feito um babaca olhando todas as nossas fotos, a maioria fazendo careta, em momentos bons que tivemos, outras apenas dela fazendo coisas simples, como cheirando uma flor, sorrindo para o nada, ou apenas me olhando com aquele sorriso tímido. Amava fotografá-la.
Ouço alguém bater na porta e eu cubro rapidamente as inúmeras fotos espalhadas pela minha cama e levanto-me indo em direção. Abro e vejo Valentina, com uma cara de choro enorme.
— Hey — ela diz baixinho — Podemos conversar?
Abro espaço para que ela entre e assim que ela passa fecho a porta. Ela olha em volta, já que nunca havia entrado no meu cativeiro. Sento-me a cama e ela me acompanha, sentando de frente para mim.
— Mike já lhe disse algo? — pergunto curioso.
— Eu liguei pra ele hoje cedo, e parece que ele ainda não sabe de nada. Lola estava morando com um primo, um tio, sei lá, e acho que eles ainda estão tentando achar uma maneira melhor de dizer para os pais dela que ela foi morta a tiros — ela diz franzindo a testa de cabeça baixa e mexendo na barra da camiseta.
— Me mantenha informado sobre isso. Quando ela chegar, eu... — respiro fundo me segurando — Gostaria de me despedir — dou de ombros.
— Você gostava dela, não é? — a olho e ela puxa uma das fotos de debaixo do cobertor e sorri ao ver Lola fazendo careta, como na maioria das fotos.
— Eu a amo — digo baixo, assim como a cabeça e a balanço.
— Ela te amava também — ela diz e eu ergo os olhos para olhá-la — É, quando nos falamos pelo Skype ela pediu que caso sumisse te dissesse isso. E bem, conheço Lola como a palma da minha mão — ela ri limpando uma lágrima do canto do olho — Ela já gostava de você antes — ela sorri revirando os olhos e eu sorrio — Quando ela falava do Rodrigo os olhos dela brilhavam, ela contava as horas pra te ver. Quando você sumiu por umas semanas ela ficou agoniada — ela ri limpando as lágrimas — Era engraçado, ela ficava falando: “Ah, mas ele não me mandou mensagem, também não vou mandar não!” — ela disse imitando a voz de Lola de uma forma engraçada que me fez rir junto dela.
— É, mas ela sentia falta do Rodrigo, e não do Rafael — balanço a cabeça revirando os olhos.
— Para Rafael — ela pega minha mão — São a mesma pessoa, você só não precisava ter mostrado o lado errado para ela, mas Lola te amava do mesmo jeito, mesmo com seus defeitos, ela mesma disse isso.
Ela me mostrou a conversa que gravou com Lola, e colocou na parte em que ela se declara, e cara... Eu não sei o que senti vendo-a dizer aquelas coisas, mas é algo estranho, amor, dor, arrependimento.
"Se eu sumir, diga ao Rafael que eu o amo. Amo mesmo com todos os defeitos dele, todas as imperfeições, depois de tudo que aconteceu, eu o amo mais do que o odeio, mais do que imaginava que poderia amar alguém. É sufocante! Ao mesmo tempo em que o quero longe, o quero do meu lado, o quero aqui, agora!"
Eu não disse nada, fiquei de cabeça baixa apenas processando as palavras dela, e Valentina entendeu, passou a mão pelo meu ombro e saiu me deixando sozinho com meus pensamentos novamente.
LOLA THOMPSON POINT OF VIEW
Estou deitada no chão na rua da casa de Tom ao lado de uma poça de sangue de verdade que não quero saber de quem é, eles colocaram sangue no meu peito, entre os ossos próximo a garganta forma uma poça, respingos no rosto e a blusa azul suja. Uma bela cena de crime.
— Abre os braços — Charles diz — Tem que parecer natural, de verdade.
Ele vem até mim, me empurra e eu coloco as costas no chão, ele mexe nas minhas pernas para que pareça que eu cai, mexe no meu cabelo e joga minha mão para um lado e puxa meu rosto para o outro. Fecho meus olhos e então Lili tira as fotos de todos os ângulos.
Caramba. Parece de verdade, e foi estranho me ver “morta” nas fotos. E isso mexeu um pouco comigo, me fazendo lembrar-se do meu avô e todas as vezes que dei uma espiada na morte. Vem sendo difícil viver sem a presença dele, desde que ele se foi eu não voltei mais no apartamento, me recusei a olhar o piano, a olhar a copa da cozinha onde tomávamos café e conversávamos. Recusei-me e me recuso até hoje a lembrar dele, das lembranças. É muito difícil.
— Você está oficialmente morta, Lola Thompson — Tom diz me olhando com esses malditos olhos azuis que me lembram outros.
Disseram-me que isso não se passa em nenhum tipo de mídia, é apenas para o site, e para entrar nesse site tem que ter um cadastro bem difícil, algo do tipo, então não tem o perigo dos meus pais verem e morrer do coração de verdade.
00H12
— Você sabe que se eles descobrirem que você está viva, aí sim eles irão te matar, não é. Deveria voltar pro Brasil como seus pais fizeram.
Olho para Tom e ele me olha. Estamos no alto de um prédio olhando a cidade e já é noite. Ouvimos apenas o barulho dos carros lá em baixo.
— Eu sei, mas eu não quero voltar, não tenho nada que me prenda lá — digo balançando a cabeça e olhando para o nada.
— Crie coisas que te prendam. Aqui você está morta, Lola. Se eles souberem que está viva... — nós nos olhamos.
— Vou para outro país, não sei, mas pra lá eu não volto — dou de ombros.
DOIS DIAS DEPOIS
Eu cortei meus longos cabelos, fiz um long bob na altura dos ombros. m*l me reconheci no espelho, mas é bom assim. Ontem Mike ligou para meu tio desesperado, perguntando da foto. Ele está puto comigo, eu não disse que faria isso, não queria preocupá-lo. Ele me disse que Valentina está inconsolável por que os meninos viram e mostraram pra ela, e ela foi até ele.
A merda estava feita.
— Valentina, me desculpa! — eu digo chorando.
— Lola, você quase me fez perder meu filho, eu queria me matar! — ela diz chorando também.
— Você está grávida? — digo sorrindo — Valentina, isso é maravilhoso! Mas opa, por que nunca me disse? — digo franzindo o cenho.
— Tô! E você quase me fez perder! — ela grita comigo.
— Me desculpa! Eu não sabia que vocês tinham acesso a esse site, nunca passou pela minha cabeça que vocês veriam isso, Valentina, me entenda! Depois que a foto foi pro site eu parei de ser seguida, eu vou embora dos estados unidos, vou fugir.
— Vai viver fugindo até quando? — pergunta triste.
— Até eu achar um lugar pra chamar de lar — digo baixas as palavras que saíram me rasgando.
— Lola, o Rafael te ama, volta pra cá. Eu estou te odiando tanto agora, tanto, que juro que vou te bater até te matar quando te ver novamente — dou uma gargalhada entre lágrimas — Mas eu quero que você volte — diz manhosa.
— Não, eu não posso — digo baixo.
— Promete pra mim que não vai sumir — ouço seus soluços e isso me mata — Promete que vai sempre me dar notícias.
— Lola, vamos? — Tom aparece na porta do quarto e eu faço sinal que já vou.
— Prometo, prometo sim — respiro fundo — Mas você precisa me prometer, Valentina, que não vai contar a ninguém que estou viva, a ninguém!
— Mas Lola, o Rafael...
— Não quero saber dele, Valentina! — rebati rápido — Ele pediu pra eu sumir, pois bem, isso que irei fazer. Ele só me fez m*l, custo a dormir todas as noites pensando em tudo que passei. Eu bebo, eu fico alta pra tentar esquecer ele, Tina, ele não me faz bem! O amo, mas ele não me faz bem! — digo nervosa, mas sem gritar com ela — Eu preciso ir, tenho coisas para fazer agora.
— Promete que vai estar comigo quando meu bebê nascer — ela diz chorando e eu volto a chorar também.
— Prometo, claro que prometo, darei um jeito — sorrio — Te amo muito Tina, muito.
— Te odeio, Lola, muito — ela diz e nós rimos.
— Não conte a ninguém.
— Okay — e desligo.
Dói, dói muito, mas não sei o que dói mais, sentir esse amor doentio, louco pelo Rafael, mesmo sabendo que nunca daria certo, que nunca dará certo, me martirizar por não tê-lo comigo, a falta que ele faz, as palavras ruins dele para mim, ahrg, é tudo uma grande bagunça. Eu o amo e o odeio na mesma intensidade, ele me faz bem e me faz m*l, me quer, mas não me quer, é uma enorme bagunça, preciso tirá-lo da cabeça de vez.
Fui para um racha com Tom, foi bem louco. Ele ganhou e depois saímos pra curtir a madrugada com muito álcool, drogas, mas fiquei só na maconha mesmo, do contrário dele, Cloe e todos os outros meninos do bando, que ficaram loucos de cocaína e outras coisas.
FERNANDA SALVIATTI POINT OF VIEW
Já se passaram cinco dias desde que soubemos da morte da Lola, e tudo ficou mais triste por aqui. Antes dela e Tina saberem da verdade, éramos amigos. Lucas, Vitor, Branco, Gutierre, todos aqui gostavam dela, e então ela morre. Rafael? Meu Deus, não agüento mais vê-lo trancado naquele quarto. Ele tem coisas para resolver e só sai do quarto quando realmente é muito importante. Ele é branquinho, então quando ele chora o rosto fica vermelho, e sempre o vi vermelho quando saiu do quarto. Ele a ama. Ama muito. Acho que os pais dela ainda não sabem, por que Mike não disse nada, então acho que o tio dela está esperando o melhor momento pra contar, não sei, mas também não dá pra esconder por muito tempo, não entendi por que a demora.
LOLA THOMPSON POINT OF VIEW
CINCO DIAS DEPOIS
Depois que meus pais foram embora, eles me ligam todos os dias. Tom e eu ainda precisamos tomar cuidado, em qualquer lugar pode ter alguém que nos reconheça e nos mate, mas ele é tão acostumado com isso e disse para mim não me preocupar com a segurança. Tom matou o barman de um bar que estávamos ontem por que ele errou o drink que ele pediu, reclamou e o barman achou r**m, foi assim, do nada, bem na minha frente. É loucura, outro dia vi Michael torturando um homem atrás da mansão. Eu só vivo um dia após o outro nessa casa louca. Família Thompson sempre foi tão tradicional, jamais imaginei que um pedaço dela fazia parte desse ramo.
Tom me deu muitas aulas de tiro, atirei com diversas armas de vários tamanhos e calibres. Levei chicoteadas monstruosas, algumas faltaram deslocar meu ombro. É gostoso, mas não me trás boas lembranças.
NOVA IORQUE — JOHN F. KENNEDY INTERNATIONAL AIRPORT, 20H40.
— Ele estará te esperando no desembargue. Tenha cuidado — ele alisa meu queixo — Sentirei sua falta — ele sorri de canto.
— Isso por que não gostou de mim quando apareci na sua casa — reviro os olhos e dou uma gargalhada — Eu mando notícias e cartões postais — damos risada.
Tom molha os lábios me olhando, se aproxima, puxa meu rosto para cima dele e deposita um beijo em meus lábios. Deus, quanto tempo não dava um beijo. Eu retribuo, é bom, muito bom, tem gosto de chegada e despedida ao mesmo tempo. Meus dedos em seu cabelo e alisando sua nuca, enquanto os dedos dele afagando minha bochecha. Nos separamos, nos olhamos nos olhos ainda bem próximos um ao outro. Ele me dá um selinho.
— Vai, vai logo — ele diz quando me solta.
UMA SEMANA DEPOIS
SEXTA-FEIRA, SÃO PAULO, BRASIL — 22H05
— Jack! — o grito enquanto desço as escadas da mansão — Jaaack!
Ele já odeia muito quando o chamo gritando. Jack é um amigo do meu tio Michael, faz o trampo de intermediador entre traficantes brasileiros e os gringos. Estou morando com ele desde que cheguei. É engraçado. Ele é chato, grosso, vive brigando comigo por eu tomar remédios para dormir e sempre acordo passando m*l no dia seguinte, mas cuida de mim como uma filha por mais que ele tenha pouco mais que minha idade.
— Caramba garota, o que foi dessa vez? — ele diz aparentemente nervoso me olhando com os braços abertos no final da escada.
— Me empresta seu carro? — digo manhosa o olhando após chegar a sua frente.
— Se você ganhar metade é meu — ele aponta o dedo me olhando — E leva isso daqui — saca uma Glock preta e prateada das costas, coloca sobre o balcão e me joga a chave da Lambor. Eu ainda roubo todos os carros dele.
Já fez mais de dois meses que fui para Nova York, uma semana que estou de volta ao Brasil, e meus pais me ligam todo santo dia, mas tive que fazer um ‘gato’ para não perceberem que estou em outro país, aliás, no mesmo que eles. Tom e Michael disseram que era melhor eu voltar, pelo menos até a poeira baixar, ficar próxima de pessoas que eu gosto, e voltei também por Valentina, ela começou a ter algumas complicações na gravidez, e eu quis estar por perto dela.
Os roncos dos motores me excitam, me atiçam e agora estou com a Lamboghini preta de Jack, dá pro gasto. Eu e mais três corredores. Foi tranqüilo, tirando o fato de eu quase rodei na curva por que deixei o volante escapar por segundos, mas deu tudo certo. Cheguei em segundo lugar e perdi cinco mil, mas nem foi tanto assim. Precisava ganhar. Tive que sair do carro para entregar o dinheiro, mas assim que fiz isso voltei direto para ele. Valentina me ligou assim que sai da pista e disse que estava lá e me viu, mas não disse a ninguém.
Estacionei a Lambor em um lugar junto dos outros carros e fiquei esperando Valentina aparecer. Vejo-a caminhar olhando para os lados entre as pessoas e então saio do carro. Ela me vê e corre em minha direção. Nos abraçamos, um abraço tão verdadeiro que eu estava precisando a tempos.
— Que saudade — ela diz ainda abraçada a mim.
— Nem me fale — aliso seu cabelo.
Nós caminhamos por uma rua ao lado mais vazia, e conversamos um pouco, ela disse eu já está com dois meses de gravidez e isso é maravilhoso. E sabe as complicações? Lorota. Ela sabia que eu voltaria se ela pedisse minha ajuda. Uma vaca mesmo, mas só minha.
— Droga, Lucas está me procurando — ela diz olhando o celular tocando em sua mão.
— Vai, também preciso ir embora.
— Não suma sua vaca! — me abraça novamente — Marca um lugar para que a gente possa conversar melhor. Onde você está morando?
— Sim, marco. Com um cara aí — dou risada e ela me olha com a testa franzida — Longa história! Conversamos depois então — logo a cortei antes que ela começasse um interrogatório.
Passamos pelo beco andando rapidamente, ela continuou e mergulhou no meio das pessoas, logo sumindo de minhas vistas. Coloquei as mãos nos bolsos e continuei indo até o carro de cabeça baixa e logo chego até ele e me deparo com um homem o olhando com as mãos nos bolsos da calça jeans e de moletom com capuz.
— Com licença, por favor — digo de cabeça baixa e destravo o carro fazendo os faróis piscarem.
— Oh. Desculpe — ele se afasta — Estava só admirando o carro — eu o olho e ele me olha, fazendo nossos olhos se encontrarem. Novamente.
Não, só pode ser brincadeira. Mas também Lola, entrar na toca da cobra, aqui é a área dele, sabe muito bem que ele sempre está por aqui, por que diabos quis correr aqui? Minha mente me repreende.
Deus, eu sou tão estúpida.
Ele me olha assustado, com os lábios entreabertos, testa franzida e sem acreditar. Achei que quando o visse eu não sentiria mais nada, mas caramba estava muito errada! Sinto um turbilhão de sensações dentro de mim e as malditas borboletas farrearem no meu estômago, minhas pernas faltam falhar e minha respiração pesar toneladas. Esse é o efeito que ele tem sobre mim, e droga, agora percebo que sempre terá.
— O que foi? Parece que viu um fantasma — digo o olhando com a minha melhor b***h face, sorrindo de canto.
Ladies and Gentlemans, the cold hearted b***h is back.