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LOLA THOMPSON POINT OF VIEW SOMEWHERE IN NEW YORK — SEGUNDA-FEIRA, 12H45. — Devia ter alguma câmera conectada a outro sistema, eu derrubei todas as câmeras, não é possível que alguém tenha visto o roubo — o cara magrelo das tatuagens, que se chama Jhon diz. — São eles, mano — a loira, chamada Lili diz. — Eles não vão parar enquanto não matar essa garota — o barbudo com cara de mau, Charles, comenta — Você também, Tom. A foto dela já está no site, pediram 100 mil dólares pela cabeça dela e quase meio milhão pela sua, parceiro. — Que site é esse?! — pergunto assustada sem entender nada do que falam. — Um site onde alguns chefes do alto escalão colocam as fotos de quem eles querem morto, e aí bandidos de todos os lugares vai atrás da pessoa, quem matar primeiro leva o prêmio — Charles reponde. Bom, muito bom. Saio de um lugar pra fugir disso e sou ameaçada de morte em outro lugar, onde achei que enfim teria paz. Que diabos têm dentro daquele pendrive que Tom pegou? Meu estômago se revira de medo e um arrepio estranho percorre minha espinha. — Acho que ficaremos mais tempo juntos, Lola — Tom diz alisando meu queixo. — A única forma de tirar o nome dela do site é se ela estiver morta — Jhon diz. Puta que pariu. [...] Ano novo ficamos em casa com meu avô e depois o levei para a varanda e vermos a queima de fogos. Foi simples, mas para mim o melhor ano novo de todos. Conversamos um pouco, já que a voz dele já não sai com tanta firmeza e altura como antigamente. Sentirei saudades de ouvir suas histórias e seus conselhos. Este vai ser O ano. O ano da virada na minha vida. Espero entrar numa das melhores faculdades daqui, estudar, trabalhar, tentar ficar longe de Michael e Tom e o resto vem com o tempo.   UMA SEMANA DEPOIS SEXTA, 22h45 — Meu avô voltou para o hospital, e minha avó está lá com ele agora. Meu pai e eu estamos discutindo por que eu o questionei após o ver no telefone com Márcia, não agüentei, disse que eu sei de tudo, botei as cartas na mesa. — Não, eu não irei contar. O senhor vai. — Lola, eu amo a sua mãe, por favor, filha, não me faça contar isso para ela — ele diz quase como uma súplica. — Amor? — pergunto rindo — Pode ser tudo, menos amor. Quem ama não faz isso. — Ela... Ela não vai me perdoar! — diz desesperado. — Tivesse pensado nisso antes de ir t*****r com sua secretária — digo — Sempre tive vocês dois como maiores exemplos na vida em todos os sentidos, principalmente o casamento, o amor de vocês, e agora vejo que... — respiro fundo e balanço a cabeça — Vejo que tudo era uma mentira — digo e meus olhos se enchem d’água. — Filha, não era, não é uma mentira, eu amo a sua mãe, entenda isso! — Não! Não fale mais que a ama por que você não ama! — digo firme lhe apontado o dedo. — Não me aponte o dedo! — ele segura meu pulso com força, me puxa e me joga com força no sofá atrás de mim. Ele caminha firme na minha direção. Vejo ódio, fúria em seus olhos e em sua expressão. Me encolho no sofá, cubro a cabeça com os braços e ele me acerta um tapa em um deles, que logo começa a arder. Eu começo a chorar alto, ele nunca fez isso comigo, eu nunca lhe apontei o dedo e nunca apanhei dele. Que droga está acontecendo com minha família? — E você não bata na minha filha! — é minha mãe. Fudeu muito. A olho, ela caminha forte na direção dele com lágrimas e mais lágrimas correndo pelo rosto já vermelho. Ela ouviu tudo, agora não tem para onde correr, Joseph Thompson. — Me desculpa, Mônica, me perdoa — ele diz a olhando parado em minha frente. Eu apenas choro e observo tudo. — Você não merece perdão! — ela diz chorando — Eu só não vou embora por causa do seu pai e da sua mãe. Mas pode ter certeza que quando voltarmos eu pedirei divórcio — ela diz firme. — Mônica, por favor, não faça isso! E-eu amo você! — ele diz desesperado parado na frente dela. Seco minhas lágrimas enquanto tento parar de chorar e então ouço um barulho de um tapa. Olho assustada achando que meu pai fez o mesmo com ela, mas foi ela que bateu nele. Mamãe segura o choro parada frente a ele, enquanto meu pai mantém o rosto um pouco virado para o lado, e agora ele levanta a mão e alisa onde recebeu o tapa. — Nunca mais encoste o dedo na minha filha! — ela diz apontando o dedo para ele — E agora? Vai me bater por que te apontei o dedo? — ela diz meio debochada o olhando com as mãos na cintura. Ele a olha e olha para mim, que continuo encolhida no sofá alisando os braços ainda tentando regular minha respiração e parar o choro. Ele não diz nada, apenas vejo uma lágrima escorrer em seu rosto. — Vem Lola, vamos sair daqui — ela vem até mim, seco minhas lágrimas e ela pega minha mão e caminhamos rápido para fora dali. Antes de chegar à porta olho para trás e meu pai continua no mesmo lugar, mas agora chorando com as mãos no rosto. — O que aconteceu? — encontramos Mike na sala, que imediatamente levanta-se do sofá e vem até nós. Mamãe pega nossos casacos no armário, entrega o meu, eu o coloco, pega a bolsa dela e me puxa para fora do apartamento, tudo muito rápido e com pressa. Mike vem atrás de nós. Eu aperto o botão para chamar o elevador. — Nós conversamos depois — eu digo o olhando. — Filho, cuida da sua avó e do vovô, qualquer coisa me liga — ela alisa o rosto dele — Nós vamos para um hotel, eu te ligo quando chegarmos lá. O elevado chega e abre a porta. — Mônica, volta aqui — meu pai sai no hall e vem na nossa direção. Entramos e eu aperto rápido o botão do térreo em seguida o botão para fechar a porta. Ela se fecha e pela minúscula fresta vejo o rosto dele, e então descemos e o único som são meus soluços. Minha mãe me abraça e ficamos caladas até chegar ao hall do prédio. Saímos e está muito frio. Encolho-me e mamãe faz sinal para um taxi, que logo para. Pouco tempo depois já estamos na suíte que mamãe pediu de um hotel perto do apartamento. É grande, bonita. Tiro o casaco, o penduro e sigo para a cama. Aconchego-me debaixo das cobertas e logo mamãe faz o mesmo e me abraça. Ficamos assim por um tempo, ela alisando o braço onde meu pai me bateu e pouco depois pegamos no sono.   TRÊS DIAS DEPOIS “Brigas, desentendimentos de família, todas têm. Mas quando a pressão vem, sabemos que um Thompson sempre pode confiar um no outro.”   Eu pedi, eu implorei aos céus para que não fizessem isso comigo, para que não tirassem meu avô de mim, para que lhe dessem mais tempo de vida, mas minhas preces não foram atendidas. Vovó acordou ao seu lado, o chamou e ele já não tinha mais vida. Meu pai ligou para mim e para minha mãe em prantos, e às sete da manhã já estávamos todos lá, incluindo tio Michael, Tom e Cloe. Ele não parecia estar morto, parecia estar dormindo, mas um sono profundo e eterno. Dói, dói tanto que tenho vontade de arrancar meu coração apenas para não sentir isso. Dói muito. Nós sabíamos que estava próximo, mas não queríamos aceitar, e assim da noite para o dia ele se foi, nos deixou para sempre. Eu só tenho a agradecer por tudo, por quem ele sempre foi, eu tenho um orgulho eterno de ter o conhecido, de ter sido sua neta, de ter crescido ao seu lado, sempre foi e sempre será um exemplo para mim e a todos nós. Ele só não podia ter ido assim, gostaria muito que conhecesse meus filhos, que me visse casar toda de branco entrando na igreja, mas eu sei que de onde ele estiver ele verá isso e estará ao meu lado. Tomara que lá no céu tenha um enorme campo de golfe e bolinhas infinitas, haja o café expresso forte o senhor gosta e gente legal para te acompanhar numa prosa boa. Nunca vou me esquecer de nenhum de seus conselhos, vovô. Lembro-me do último que ele me disse, mesmo sem conseguir falar muito, ele se esforçou para dizer quando me viu chorando num canto e eu disse que era por amor, um amor impossível. "Minha pequena, se você o ama de todo o seu coração, e esse amor é puro, profundo, e recíproco não tente matá-lo dentro de você. A gente só ama assim uma vez na vida! Se entregue, se arrisque, não tenha medo, mas viva seu amor impossível e seja feliz. A única forma de alcançar o impossível é acreditar que é possível." Você ensinou a todos tudo o que sabia, nunca vou esquecer-me de cada detalhe, de cada mania, de cada gesto, você está gravado no meu coração, vovô, e eu te amo muito e sempre amarei. É manhã, um sol brilha lá no alto. Um cemitério bonito, posso dizer até que chique. Muitas árvores, e é como um parque todo gramado. Muitas pessoas vieram se despedir. Vovó está inconsolável, assim como meu pai, tio Michael e até mesmo Tom, que parece ser um cara frio. Foi uma cerimônia bonita, com direito a uma salva de palmas no final conforme o caixão descia à sepultura. Não agüento mais chorar, chorei ontem o dia inteiro, a noite inteira e agora estou me derretendo em lágrimas.   DOIS DIAS DEPOIS — Você vai voltar comigo, filha — minha mãe diz com as mãos nos quadris paradas a minha frente. — Não, ela não vai voltar! — meu pai rebate olhando minha mãe e depois me olha furioso. Por que ele não quer que eu volte? — Eu não quero voltar, mas por que eu não posso voltar, hein Joseph? — o olho de braços cruzados sentada no sofá. — Acha que eu não sei com quem estava andando? Os rachas, as boates, acha que não te vi usando drogas? Ah, é por isso... — Estava me seguindo então? — cruzo os braços. — Então confirma? — rebate rápido me olhando com as sobrancelhas arqueadas. — Patético — reclamo olhando para o lado e balançando a cabeça. Reviro os olhos e olho para o lado. — Está resolvido — me levanto — Eu não vou voltar, ficarei por aqui, entrarei na faculdade e procurarei um trabalho. Tenho tio Michael e Tom. Mas não é por sua causa que não irei voltar — olho Joseph que parece aliviado em ouvir isso de mim.   CINCO DIAS DEPOIS Depois da missa do meu avô, no dia seguinte meus pais e Mike foram embora, vovó foi com eles também, meu pai achou melhor que ela fique ao lado dele. Tatuei em inglês no braço direito a frase que vovô me disse antes de morrer, com as mesmas palavras que ele usou. "A única forma de alcançar o impossível é acreditar que é possível." Estou morando com Michael. Cloe não gostou muito da ideia, ela é chata demais. Nesses últimos dias percebi pessoas me seguindo, já que minha foto continua naquele maldito site, pelo menos não tem o nome, já é um começo. É noite e estou no Skype. Não uso isso há muito tempo, mas sei que Tina usa para conversar com uma amiga e estou precisando muito pelo menos ouvir a voz dela pra me acalmar um pouco. Depois de ela gritar horrores e se acalmar começamos a conversar e percebi que ela está na casa do Rafael. Fernanda agora sentou-se ao lado dela e as duas estão muito sorridentes. — Onde você está? Não parece seu quarto do apartamento da vovó — Tina diz e eu giro o computador pelo quarto da mansão do Tio Michael. — É, eu não estou no apartamento — digo e franzo a testa depois de colocar o note no colo novamente — Meu avô faleceu, meus pais estão a caminho do Brasil com a vovó e Mike. Meus pais irão se separar — dou de ombros.  — Oh, me desculpa amiga, eu sinto muito — ela diz com uma carinha triste. — Mas enfim. — We gotta go, baby (nós precisamos ir, baby) — ouço Tom me chamar. — Quem é? — Fernanda pergunta sorrindo de um jeito engraçado. — Ninguém — digo olhando Tom já se aproximando — Sai daqui — digo em inglês o empurrando e ele logo senta-se ao meu lado e eu cubro a câmera, o que faz Valentina começar a gritar mandando eu tirar a mão. — Estamos atrasados, baby, não demore — ele diz e levanta-se novamente. Louco mesmo. — Hmm baby, quem é? — ela ri — Ele é gato, que Lucas não me ouça — Tina diz olhando para algum lugar e eu dou risada. — Tom Thompson — reviro os olhos. — Thompson?! Tem outro irmão agora?! — Nanda pergunta quase gritando. — Não, ele é meu primo. — Primo?! — Valentina pergunta assustada. Ninguém sabia da existência do meu tio Michael. — É, aconteceram coisas bizarras desde que cheguei, mas isso é assunto para outro dia — reviro meus olhos. E então eu ouço uma voz de fundo, na verdade duas, mas uma se sobressai e faz meu coração acelerar. É ele, e ele ri ao fundo com alguém e eu começo a imaginá-lo rindo, o sorriso, cara, como eu amo ver seu sorriso. As meninas uma ao lado da outra o sofá da sala olham para algum lugar, provavelmente para as pessoas que estão falando. — Quero saber de tudo — Valentina diz. — Com quem estão falando? — ele pergunta e então se joga ao lado de Valentina. E então vejo seus olhos azuis. Ele cortou o cabelo, está lindo. Eu travo, simplesmente travo e não sei o que fazer, apenas fico observando sua reação, que a ver apenas pisca algumas vezes seguidas e franze levemente a testa. — Quer conversar com ela, Rafael? — Nanda pergunta e ele levanta-se resmungando, bufando. — Não tenho nada para conversar com ele — digo ríspida m*l sem esperar Fernanda terminar — E-eu preciso ir meninas, Tom está me esperando — digo o vendo já na porta de novo reclamando com sinais. — Vai tarde — o ouço dizer e reviro os olhos. Imaturo! — Se cuidem meninas. Depois conversamos melhor sem ninguém nos atrapalhar. Mande um beijo para o pessoal aí — sorrio — Estou sentindo saudades de vocês — digo segurando as lágrimas e com a voz já embargada. — Sua v***a, volta pra cá, por favor — Tina diz já chorando. Aí como é melosa essa menina, vai me fazer chorar desse jeito. — Eu estou melhor aqui — dou de ombros sorrindo com os olhos transbordando — Eu estou feliz, aqui sempre foi minha casa, esqueceu? — Não, nunca foi! — Tina diz nervosa. Vejo Nanda levantar e deixar Tina sozinha. — Eu preciso ir, Tom vai me matar — o olho ainda na porta — Valentina, pare de chorar — digo e ela limpa as lágrimas — Ouça bem — eu a olho e respiro fundo — Se você não tiver mais notícias minhas em alguns dias, eu... — respiro fundo tentando conter as lágrimas — Quero que procure meu advogado, ele vai saber o que fazer. — Por que está falando isso? Como assim procurar seu advogado? — ela diz confusa o rosto transbordando em lágrimas. — Coloca os fones, por favor — digo e seguro o choro colocando a mão na boca e ela me obedece, logo se levantando e saindo carregando o notebook para algum lugar quieto. — Diga — ela diz. — Tem coisas acontecendo aqui, mas não quero te preocupar — sorrio tentando tranqüilizá-la — Valentina — digo e sinto aquela vontade absurda de chorar me abater novamente — Eu te amo demais — digo e choro, logo a fazendo chorar soluçando também — Você é a pessoa que mais me importo, então pegue com Mike o número do meu advogado se não tiver mais notícias minha, não esqueça — ela assente com a cabeça e eu respiro fundo entre os soluços que chacoalham meu corpo. — Você está me assustando — disse entre soluços.  — Se eu sumir, diga ao Rafael que eu o amo — digo com certa dificuldade e sorrio de olhos fechados — Amo mesmo com todos os defeitos dele, todas as imperfeições, depois de tudo que aconteceu, eu o amo mais do que o odeio — sorrio — Mais do que imaginava que poderia amar alguém. É sufocante! — respiro fundo — Ao mesmo tempo em que o quero longe, o quero do meu lado, o quero aqui, agora! — coloco as mãos no rosto quando enfim não aguento mais segurar as lágrimas, e elas saem num choro alto, de desespero e saudade. — Você precisa dizer isso para ele poder responder Lola! — ela diz nervosa comigo. — Não! — reviro os olhos e limpo as lágrimas — Já basta que terei que beber pra esquecer tudo isso que eu disse — dou uma leve gargalhada — Diga isso somente se eu sumir — ela assente enquanto limpa as lágrimas. — Não faça besteiras — ela diz. — É tudo que eu venho fazendo — digo e suspiro — Eu te amo, Tina. Preciso ir senão Tom vai me matar. — Aonde você vai? — Tom vai correr, vou acompanhá-lo, acho que correr também, depois boate, beber, dançar, ocupar a cabeça — digo dando de ombros. — Cuidado, v***a, não faça nada que eu não faria. — Não garanto nada — digo sorrindo. Sim, eu fiz um testamento deixando tudo que eu tenho para Valentina. Ela é a pessoa com quem eu mais me importo e caso algo aconteça comigo, quero deixá-la confortável. Depois de uma despedida bem demorada desligamos e pude sair para descontar minha fúria no acelerador, afogar minhas mágoas na bebida e a saudade na dança da forma mais erótica possível.   TRÊS DIAS DEPOIS TOM THOMPSON POINT OF VIEW Foi estranho conhecer novos familiares, ainda mais por parte do meu tio nada legal Joseph. Mas diferente do pai, Mike e Lola são gentes boas. Já conhecia o histórico de Lola e sei que ela se envolveu com coisas do tipo no Brasil. Ela me disse que nos últimos dias vinha sendo seguida por homens estranhos depois que a foto dela no baile de gala que fomos apareceu num site que conhecemos bem, e então agora estamos diante dela estendida no chão gelado da rua da minha casa. Pálida, de perto até se pode ver algumas pequenas veias na testa e nas têmporas, os lábios levemente entreabertos e roxos. O pequeno corpo sobre uma poça do seu próprio sangue. Em seu pescoço próximo a garganta uma poça, respingos no pescoço e rosto. Dois belos tiros no peito. Caramba, garota. 
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