Depois que as aulas acabaram, Clara foi procurar Enrico. Ele tinha saído da turma sem falar com ela.
— Você está sabendo? — Alyce perguntou afobada.
— De que?
— O Alex está namorando.
Clara paralisou por uns segundos.
— Rápido assim?
— Por quê? Está com ciúmes?
A menina revirou os olhos.
— Claro que não, Alyce! Só que eu nem sabia que ele estava gostando de alguém.
— Sabia sim e era de você, mas como não quis nada com ele... Resolveu dar uma chance para outra garota.
— Quem?
— Shelby Chang.
— Hum... Eu preciso ir. Depois a gente se fala.
— Ok.
Clara saiu de perto dela e continuou procurando Enrico. Ela andava pelos corredores lentamente olhando cada canto. Então decidiu ir até o jardim, pois eles gostavam de ficar juntos ali.
Assim que chegou, sentiu uma fraqueza nas pernas e se apoiou em uma árvore. Sua visão ficou embaçada e ela se sentiu extremamente pesada.
Em pouco tempo estava caída no chão.
Enrico estava mesmo no jardim. Olhava a água do lago com o rosto sério. Por que diabos Clara defendia tanto aquele ruivo i****a? O que ela sentia por ele afinal? Porque o sentimento dele, ele tinha certeza do que era, mas e o dela?
— Ei, Agnelo. — O loiro olhou para trás. Uma garota de olhos puxados chamava.
— O que?
— Sua namorada está passando m*l ali, olha... — Apontou na direção que Clara estava caída.
Várias pessoas estavam em volta dela nesse momento.
Enrico levantou em um salto e correu na direção dela. Ao chegar, empurrou as pessoas e ajoelhou no chão perto de Clara. Estava pálida e ainda desacordada.
— Clara fala comigo! — pediu preocupado.
— Melhor levá-la a ala hospitalar...
O loiro a pegou no colo e seguiu em disparada para lá. No caminho Alyce o viu com Clara nos braços e arregalou os olhos.
— O que aconteceu? — Foi atrás dele desesperada.
— Não sei...
Os dois continuaram andando rápido em direção a ala hospitalar e quando chegaram, a enfermeira pediu para colocar a menina em uma das camas. A mulher expulsou os dois dali e fechou as portas.
Enrico tinha os braços cruzados e batia o pé. Estava nervoso com o que aconteceu. Já Alyce roía as unhas.
— Você viu quando ela desmaiou?
— Não.
— O que será que aconteceu?
— Eu também não sei.
Alex chegou correndo e parou perto de Alyce.
— O que aconteceu?
Enrico revirou os olhos.
— Eu não sei, ela estava desmaiada... — respondeu Alyce.
— Droga...
O loiro ficou observando sem falar nada. O ruivo estava tenso.
Um bom tempo depois a porta abriu e a enfermeira apareceu.
— Entrem.
— Ela está bem? — Enrico perguntou.
Os três seguiram a mulher.
— Me parece bem agora.
— Como assim agora? — Foi a vez de Alex questionar.
— Ela estava desmaiada, ué.
— E por que ela desmaiou?
— Não sei.
— Como não sabe? — Alyce perguntou histérica.
— Ela não tem nada. Não sei porque desmaiou. Se quer tem a pressão baixa.
Alyce e Alex trocaram olhares.
Eles se aproximaram da cama que Clara estava. A menina estava sentada e parecia realmente bem.
— O que aconteceu hein? — Alex perguntou, mas Clara olhava Enrico.
A menina engoliu em seco e seus olhos se encheram de lágrimas.
— Algum problema? — Se aproximou e segurou a mão dela.
Clara apertou mão dele.
— Não.
— Tem certeza? — Fez carinho no rosto dela. Clara concordou. — O que aconteceu?
— Eu não sei. Estava te procurando e quando cheguei no jardim me senti tonta...
— Você comeu algo diferente? — Alyce perguntou.
— Não.
— Que estranho... — disse Enrico.
— Eu estou bem.
— Tem certeza?
— Sim.
Alex a observava em silêncio. Tinha certeza que estava mentido.
— Posso saber o que aconteceu?
Os quatro olharam para o lado e ficaram surpresos ao ver a diretora ali.
— Ela desmaiou... — Alyce respondeu.
— Hum... Poderiam me deixar a sós com a senhorita Malfoy?
Os três trocaram olhares.
— Claro — falou Alex.
— Depois eu venho te ver — Enrico deu um beijo no rosto de Clara.
Os três saíram.
— O que aconteceu, querida?
— Eu não sei. Me senti tonta e cai — disse olhando suas mãos.
Macgonagall sentou no fim da cama.
— Sei que tem mais coisa nessa história. Gostaria que me contasse.
— Por quê?
— Como eu disse antes, Clara, você está na idade que precisa controlar seus poderes. Se aconteceu algo que foi diferente, é melhor me dizer.
Clara ficou em silêncio olhando a mulher a sua frente.
— Eu não contarei a ninguém, só quero te ajudar.
— Eu tive uma visão.
— Isso é normal, não é?
— Eu nunca tinha tido uma acordada. Sempre foi dormindo.
— Hum... Então algo mudou.
— Acho que sim...
— Vamos começar a trabalhar isso. Com o tempo você controlará e não desmaiará mais.
— Como assim? Eu só vejo quando estou dormindo.
— Mas verá acordada e sem desmaiar. Basta trabalhar isso.
Clara a olhou de boca aberta. Como sabia dessas coisas?
— Será?
— Tenho certeza — disse sorrindo.
Será que ela sabe de mais coisas?
— Eu tenho que ir. Está se sentindo bem?
— Sim.
— Ótimo! Depois combino com você como começaremos seu treinamento.
Clara franziu a testa.
— Tudo bem...
A mulher saiu dali em passos lentos. Que cena sinistra!
Teve que passar o dia deitada naquela cama, pois não a deixaram sair. Teria que ficar em observação. O caso foi muito esquisito.
Clara olhava o teto do lugar enquanto lágrimas desciam pelo seu rosto. A menina fechou os olhos e as lembranças da visão voltaram em sua mente.
Ela estava indo à biblioteca junto com o Alex, os dois debaixo da capa de Harry. Chegaram finalmente e quando Alex ia tirar a capa, escutou um barulho. Os dois ficaram em silêncio esperando.
— Você tem certeza?
— Absoluta.
Alex e Clara trocaram olhares. As vozes eram bem conhecidas...
De repente a visão ficou cortada e já pulou para outra parte. Era Enrico e Agnes que conversavam antes, mas agora estavam aos beijos encostados em uma estante. A única coisa que aconteceu foi Alex colocar as mãos na boca de Clara para ela não revelar que eles estavam ali.
Clara abriu os olhos e se deparou com o loiro a olhando.
— Está sentindo alguma coisa?
— Não.
— Por que está chorando? — Fez carinho no rosto dela.
— Você ficaria com outra pessoa?
— Como assim?
— Beijaria outra pessoa?
— Por que está perguntando isso?
— Responde...
— Não. Estou com você.
— Mas você já beijou várias aqui.
Os dois ficaram em silêncio se olhando. Enrico engoliu em seco.
— Agora estou com você.
— E isso te impediria?
— Você está tão esquisita...
— Eu sou esquisita. E você já sabia disso.
— O que deu em você hein? — Enrico franziu a testa.
Clara suspirou. Não podia falar assim com ele, afinal, ele ainda não fez nada...
— Desculpa. Acho que não estou muito bem...
Enrico sentou na cama ao lado dela.
— Vai ficar boa. — Beijou a testa dela.
— Vamos ver...
Ficou com ele até que a enfermeira apareceu e disse que poderia sair. Isso só à noite. Cada um seguiu seu caminho e quando Clara entrou no salão, viu Alex sentado no sofá.
— Você melhorou?
— Sim.
— Que bom.
— É.
— Mas é melhor deixarmos para ir outro dia na biblioteca, né?
— Não. Vamos hoje.
— Mas...
— Quero descobrir logo. Acho que a diretora sabe de alguma coisa...
— Por quê?
Clara contou a ele a cena da ala hospitalar.
— Que estranho.
— É... Vamos deitar, te espero aqui as 2hrs da manhã. Não demora!
— Ok.
Cada um foi para o seu dormitório. Clara deitou em sua cama e virou de frente para a parede. Além de querer saber coisas sobre o garoto, ela também queria ter certeza que aquela visão estava certa.
Na hora marcada, os dois se encontraram e seguiram para a biblioteca. Debaixo da capa, Alex respirava rápido por conta da proximidade que os dois estavam.
— Você tem que me acompanhar, Alex!
— Você está correndo por que? Não tem como ninguém ver a gente aqui debaixo.
— Não estou correndo.
— Eu que sou lento, desculpe — disse cínico.
Clara revirou os olhos.
Finalmente eles chegaram onde queriam. A menina engoliu em seco. Essa parte parecia familiar. Clara começou a falar bem baixinho a mesma frase. "Que esteja errada, que esteja errada!". Os dois continuaram indo em frente e quando Alex ameaçou tirar a capa, eles escutaram um barulho. Clara sentiu um embrulho no estômago e ficou paralisada.
— Você tem certeza?
— Absoluta.
Alex e Clara trocaram olhares. Que d***a! Por que ela não podia errar pelo menos uma vez?
— Vamos entrar Alex... — cochichou.
— Mas é o...
— Eu sei. Por favor, vamos.
— Ok.
Os dois continuaram em frente e entraram na área reservada. Quando estavam bem distante da vista dos dois, Alex tirou a capa.
— Será que eles não vão nos ver?
— Acredito que estarão ocupados... — respondeu sentindo enjoos.
— Como assim?
— Não importa. Vamos procurar...
— Ok.
Ficaram um tempo revirando os livros daquela área. Livros sinistros por sinal...
— Olha aqui... — Alex chamou. Clara foi até ele. — Família Moore.
Os dois trocaram olhares.
— Será que fala dele?
— Não sei, mas de seus antepassados deve.
— Vamos levar.
— Tudo bem, mas eu achei outro.
— Qual?
— Os dons da emoção... É um nome esquisito, mas fala de poderes comandados pelas emoções e esse cara tinha isso, não é?
— É. Vamos levar também.
— Acho que não deve ter mais nada.
— Vamos levar esses e ler. Se não tiver nada voltamos e procuramos mais. Está tarde.
— Vamos embora. — Pegou a capa e cobriu os dois.
Ao passar pelo lugar de antes, Clara estremeceu dos pés à cabeça.
Enrico estava agarrado com a menina mesmo. Ele encostado na estante de livros e ela com uma das mãos no ombro dele e a outra em seu cabelo. Alex apertou os olhos com raiva ao ver isso e quando percebeu que Clara ia se mexer, colocou as mãos na boca dela.
— Melhor não fazer isso... — sussurrou.
— Vamos embora... — falou com voz embargada pelo choro que queria sair. Alex a levou dali.
Assim que chegaram ao salão comunal, Alex tirou a capa de cima deles e observou Clara. Chorava baixinho e não o olhava de jeito nenhum.
— Você viu aquilo antes de acontecer, não foi?
Clara o olhou surpresa.
— Por que está perguntando isso?
— Seu desmaio... Você não tinha nada.
Os dois ficaram em silêncio por uns segundos.
— Vi.
— Então por que quis ir lá hoje se sabia que ia ver isso?
— Eu só queria ter certeza... — respondeu derramando lágrimas.
Alex respirou fundo e se aproximou dela. O ruivo a abraçou enquanto ela chorou com a cabeça apoiada no peito dele.
— Ele não te merece, Clara.
— Estou vendo... — Apertou o braço dele.
— Não fica assim... Eu estou com você.
Clara levantou um pouco a cabeça para olhar o rosto dele, com isso ficaram muito próximos. Alex engoliu em seco. Esse olhar estava deixando-o agoniado. Ia pegar aquele loiro azedo de jeito! Ah se ia...
O ruivo fez carinho no rosto dela ainda a olhando nos olhos. Sem perceber, os dois começaram a se aproximar e em pouco tempo trocaram um beijo. Quando se afastaram, Clara colocou as mãos na boca com os olhos arregalados.
Antes que Alex conseguisse falar algo, ela subiu correndo para o dormitório.
Droga! Não podia ter deixado isso acontecer! Mas ela o beijou de volta... O que isso queria dizer afinal de contas? Será que foi só pelo momento e por que ela estava abalada? Ou ela realmente quis isso?