Clara e Enrico estavam sentados na grama. Ela o encarava com as sobrancelhas levantadas e braços cruzados. O loiro tinha a cara amarrada e não tirava os olhos dela.
— Ficou louco?
— Não. Só não quero que você fale com ele!
— Mas eu falo com quem eu quiser!
— Só que eu não gosto disso! Será que pode me respeitar?
— Respeitar? Você não está me respeitando pedindo isso!
— Que é hein? Não quer deixar de falar com ele, é isso? — perguntou feroz.
— Não quero.
Enrico a olhou de boca aberta.
— Por quê? — disse histérico.
— Porque você não manda em mim!
— Mas ele gosta de você e está em cima o tempo todo!
— E daí, Enrico? Que d***a! Quantas vezes eu vou ter que falar que estou com você?
— Mas se você se afastasse dele eu ficaria melhor.
— Eu não vou fazer isso.
— Tudo bem. Então escolha... Ou ele ou eu — disse sério.
Clara o olhou indignada.
— Não acredito que você está falando isso!
— Escolha.
— Você é um i****a! — Levantou do chão e saiu dali andando rápido.
Enrico levantou também e chutou a árvore com raiva.
Clara correu pelos corredores furiosa. Queria ficar sozinha e sabia que se fosse para o salão comunal, iam encher ela de perguntas.
Seguiu para a biblioteca. Assim como sua mãe, ela gostava de ficar ali com o nariz enfiado em um livro.
Procurou algo para ler e se sentou em uma mesa. A mesa mais afastada de tudo e de todos. Começou a ler.
No livro falava sobre um garoto que tinha um poder muito antigo e forte. Dizia ali que a mil anos atrás, ouve uma grande guerra no mundo bruxo e que o garoto tinha sido o motivo dela ter começado. Na verdade, seus poderes.
Clara ficou extremamente interessada no livro e continuou lendo.
O garoto era especial e seus dons causavam inveja em todos os outros bruxos "comuns". Os fascinados por magia n***a, eram os que mais invejavam o menino. Queriam ser como ele e fazer o que ele fazia.
Clara não conseguia parar de ler o livro. Ela o pegou por acaso, estava nervosa e só queria ler qualquer coisa e se acalmar. Mas aquele livro era legal.
Ao ver quais eram os dons do garoto, Clara ficou extremamente pálida. Eram idênticos aos que ela tinha.
— Clara?
Ela se assustou e fechou o livro.
— Ei, está tudo bem?
— Sim.
— Você está pálida! Tem certeza? — Se aproximou dela.
Clara colocou a capa de seu uniforme por cima do livro.
— Eu estou bem, Alex.
— Não parece.
— Só preciso descansar.
— Seu namorado veio falar comigo.
— Falar o que?
— Disse pra eu não me aproximar de você se não quiser ser azarado.
Clara respirou fundo. Ela pegou o livro disfarçadamente e o escondeu em suas vestes.
— Não liga pra isso, vou dar um jeito.
— Esse menino se acha.
— Alex... Por favor!
— Tudo bem — disse com as mãos para o ar.
— Obrigada. Agora eu preciso ir.
— Ok.
Clara saiu de perto dele, que ficou olhando ela ir embora. Tinha algo errado com ela... Sabia quando estava escondendo algo. Os dois sempre faziam artes juntos e ele sabia exatamente quando estava nervosa e mentindo.
Mas o que será que ela escondia?
Clara seguiu para o dormitório e sentou no chão ao lado de sua cama. Ela dormia na última e era próxima a parede. Então encostou na cama e ficou sentada de frente para a parede, de forma que quem entrasse, não a visse ali.
Abriu o livro e continuou a leitura.
.....
Na época, o garoto não sabia a proporção de seus poderes. Mas percebia que mexia com as emoções. Não sabia porque os outros eram diferentes dele. E nunca quis saber.
Mas um dia um grande bruxo maligno descobriu o garoto e o enganou. Disse que ele era um dos maiores bruxos existentes e que seu poder se igualava ao de Merlin. Encantado com o que ouviu, o menino começou a se achar o mais poderoso e como ouvia os conselhos do bruxo, fazia tudo o que ele falava, inclusive m*l as pessoas que entravam em seu caminho.
Com o tempo, o ódio e rancor tomaram conta de seu coração. E como seus poderes eram comandados pela emoção, tudo ficou pior.
O bruxo que o tinha corrompido, armou uma cilada para ele. Queria lhe roubar o poder e faria qualquer coisa para isso. E como tinha a confiança dele. Seria mais fácil.
Alguém abriu a porta e Clara fechou o livro em suas mãos. Respirava ofegante e estava bem assustada.
Será que era um livro de história real ou alguém imaginou aquilo? E se fosse real, por que estaria assim tão fácil o acesso? Tantas dúvidas...
— O que faz aí?
Clara deu um pulo e olhou para cima. Alyce estava deitada na cama dela a olhando.
— Estou pensando...
— Precisa sentar no chão para fazer isso?
— Esses meninos estão me deixando louca!
Alyce deu uma gargalhada.
— Deveria estar feliz. Ao menos tem dois querendo você...
Clara a olhou pensativa.
— Você gosta de alguém, Alyce?
— Eu não — respondeu rápido.
— Tem certeza?
— Absoluta! — respondeu sem olhá-la.
— Hum... Ok. Se você diz...
— O que vai dar de natal para o seu namorado?
— Nem sei se tenho um namorado... — Suspirou. Enrico era um grande i****a, mas ela gostava dele.
— Vocês terminaram?
Clara contou a ela o que Enrico disse.
— Que i****a!
— Sim.
— O que você vai fazer?
— O certo a ser feito.
— E o que é o certo pra você?
— Vai descobrir depois. — Levantou do chão.
— Quanto mistério... — Levantou da cama. Assim que Clara a viu de costas, escondeu o livro rapidamente debaixo do colchão.
Clara saiu do salão comunal e foi procurar Enrico. Perguntou a alguns alunos se tinham o visto e ninguém sabia onde ele estava. Continuou andando pelos corredores e viu o loiro conversando com a menina que fez dupla com ele na aula.
Se aproximou lentamente e quando chegou perto, os dois pararam de falar.
— Posso falar com você?
— Sim.
— Até mais. — A menina se aproximou e deu um beijo no rosto de Enrico. Depois lançou um olhar de desprezo a Clara e foi embora.
— Por que pararam de falar quando eu cheguei?
— Não sei. — Deu de ombros.
— Estavam falando de mim?
— Por que estaríamos?
— Eu não sei, mas quando a gente está falando de alguém e esse alguém chega, geralmente paramos de falar — disse irritada.
— Então é isso que você faz quando conversa com o Weasley e eu chego?
— Ai Enrico não tem nada ver! Isso nunca aconteceu!
— Mas você vive com esse garoto. Quem me garante que não tem nada com ele?
— Eu já entendi...
— O que?
— Essa garota está fazendo sua cabeça com essas coisas idiotas.
— Não...
— Não tenta me enganar, Enrico! Eu sei que ela colocou essas coisas na sua cabeça! Mas já que você gosta tanto de ouvi-la, por que não fica com ela? — perguntou furiosa.
— O que quer dizer com isso? — disse sério.
— Que você está livre para ela.
— Está terminando comigo? — perguntou alto.
— Você falou para escolher, não é? Eu escolho quem não me cobra com quem devo ou não falar.
Os dois ficaram em silêncio se olhando. Apesar de estar séria e decidida, Clara sentia seu peito apertado em estar fazendo isso. m*l tinha começado o namoro e já estavam terminando...
Enrico a olhava furioso. Ela escolheu o Weasley! Não podia acreditar em tal coisa.
— Achei que gostava de ficar comigo.
— E eu gosto.
— Então por que está escolhendo ele, Clara?
— Porque não se deve fazer o que você fez! Eu não gosto dessa sua amiguinha, mas nunca pediria pra você escolher entre mim e ela!
— Se você pedisse ia escolher você.
— Mas eu nunca faria isso. Você fala com quem você quiser. E acredita em quem quiser também...
Os dois ficaram em silêncio. Apesar de estar com raiva, ele não queria perdê-la.
— Eu preciso ir. Tenho que arrumar minhas coisas...
— Eu também.
— Feliz natal para você.
— Feliz natal...
Clara virou as costas para ele. Assim que fez isso, soltou as lágrimas que estava prendendo. Ela começou a andar para longe dele lentamente. Não queria chegar chorando ao salão. Tinha que ser forte!
Enrico a colocou contra a parede antes que conseguisse ir embora. Segurava sua cintura com força. Os dois ficaram se olhando em silêncio. Ambos respiravam rápido.
— Eu quero você... — sussurrou.
— Você me quer só pra você Enrico, isso não é certo.
— Eu... Eu só morro de ciúmes porque ele te conhece há muito tempo e seus pais são amigos dos dele... Devem aprovar você ficar com ele...
Clara riu um pouco. Se ele soubesse o ódio que seu pai tem de Alex e do Rony.
— Não fala besteira. Isso não tem nada a ver. Minha mãe apoia eu ficar com quem eu gosto.
— E seu pai?
— Meu pai não quer que eu namore até completar 50 anos.
Os dois riram.
— Mas ele tem chances com você?
— Se tivesse já tinha ficado com ele, não acha?
— É... Mas você jura que nunca beijou ele?
— Você precisa começar a acreditar no que eu digo.
— Desculpa.
— Eu nunca beijei o Alex, Enrico. Nunca. Até porque eu... — Olhou o chão. — Nunca tinha beijado ninguém até você me agarrar...
O loiro ficou paralisado. Clara não desviava os olhos do chão.
Minha nossa! Ela nunca tinha beijado? Era possível alguém com um beijo tão bom nunca ter beijado?
— Agora eu entendi porque você beija tão bem...
— E por que é?
— Porque eu ensinei. — Sorriu convencido.
Clara revirou os olhos.
— Eu preciso ir.
— Vamos ficar assim mesmo? — Se aproximou bastante e fez ela prender a respiração.
— Você pediu para escolher e eu escolhi.
— d***a Clara! Não quero ficar sem você.
— Então vamos fazer o seguinte: você vai pra sua casa e eu pra minha. E aí você reflete sobre o assunto. Quando voltarmos as aulas, resolvemos isso. O que acha?
— Não vou te ver nesse tempo? — perguntou a apertando.
— Melhor não. Use ele para pensar.
— Tudo bem.
Clara deu um abraço apertado nele e depois seguiu para o dormitório para arrumar suas coisas. Depois de tudo pronto, todos os alunos seguiram para casa.
Ao chegar no terminal, viu seu pai e sua mãe lado a lado e sorriu largamente. A menina correu na direção dos dois e os abraçou apertado.
— Estão bem?
Os dois trocaram olhares.
— Sem mentiras!
— Mais ou menos, mas não vamos falar disso aqui, tá bom?
Clara concordou.
— Agora vamos pra casa! Amanhã faremos as compras de natal.
Os três foram para casa e assim que chegaram, Ethan correu na direção de Clara e pulou no colo dela, o que quase fez os dois irem para o chão.
— Garoto! — brigou com ele, que riu.
— Que bom que chegou! — Narcisa disse sorrindo.
Clara colocou Ethan no chão e abraçou a avó.
— E o vovô?
— Deve estar chegando para te encontrar.
Clara sorriu.
A garota foi se ajeitar em seu quarto e Ethan foi atrás dela tagarelando e perguntando como era estudar em Hogwarts.
Hermione seguiu para a cozinha e Draco foi atrás.
Pensava no dia anterior quando encontrou com a mulher que era o caso de Draco. Ele realmente parecia furioso com a vadia... Mas ela estava tão confusa.
Hermione respirou fundo olhando para fora da janela.
Draco a abraçou por trás e beijou seu pescoço. Hermione suspirou e fechou os olhos. Ela tinha que admitir, mesmo com toda a confusão, traição, discussão e tudo que envolvia os dois, ele mexia com ela como ninguém jamais fez. E causava coisas em seu corpo como ninguém.
— Vamos ficar juntos no natal, não é?
— Sim. Não quero dividir meus filhos.
— Eu sei... Você está bem?
Hermione virou de frente para ele.
— Estou confusa...
Draco beijou a testa dela.
— Tudo isso vai passar. Vamos voltar ao que éramos antes. — Se aproximou lentamente e a beijou.
Hermione levou as mãos ao cabelo de Draco e ele a enlaçou pela cintura.
Os dois trocaram um beijo calmo e lento. Aproveitavam cada segundo sentindo o calor do corpo do outro.