VITÓRIA
Um mês se passou desde que meu pai fez o favor de quase matar meu namorado. Kaue levou dois tiros, um no peito e um no abdômen. O médico disse que foi muita sorte ele não ter morrido, a bala que atingiu o peitoral dele passou milímetros do coração e saiu nas costas, não complicou nada. Porém a bala que acertou o abdômen essa sim incomodou, ela perfurou o baço e causou uma hemorragia terrível, que se não fosse o atendimento ultra rápido Kaue poderia ter morrido em questão de minutos.
***: Favor dormir em casa dona Vitória! - olho pra bruxa em minha frente com as mãos apoiadas na classe - Você está a dias com essa cara. Os problemas devem ficar em casa mocinha!
Maju: O bom, é que você sabe disso né prof Jade. Mas sempre traz os seus problemas pra escola - olhei incrédula pra montanha de cachos na classe ao meu lado
Jade: Olha bem como você fala Maria Julia. Eu sou a professora aqui - ela cruza os braços e fala com deboche.
Vitória: Aí chega!! Desculpe professora, eu não estou bem. Posso ir tomar água? - a mulher alta e magra com nariz igual um pepino me olha com os braços cruzados e juro q ela irá dizer um não bem grande
Jade: Vai - ela me dá as costas e a vontade que tenho é de enfiar uma faca nela
Levanto da classe sob o olhar de todos ali, mas não me importo nenhum um pouco com eles. Durante esse mês minha vida deu um giro de 360° graus. Ver o Kaue entre a vida e a morte me destruiu, mas tudo que estou vivendo em casa também me destrói. Minha mãe tomou minha dor, e com isso meu pai se revoltou ainda mais, ele sempre foi amoroso e protetor com nós todas porém sabíamos muito bem que o senhor Picasso adora uma arte bem feita, não perdoa praticamente nada de errado e tá sempre pronto pra matar e torturar fazendo jus ao o vulgo que os amigos deram.
Mas agora essas façanhas acontecem dentro de casa também. Meu pai voltou a usar drogas, ou simplesmente agora não se importa que saibamos disso. Porque sempre soube que ele usava, trabalhando com isso e um ex viciado, não tem como largar do nada. Conforme fui crescendo comecei a prestar atenção nas coisas. Mas era tudo tão sutil que passava despercebido. Mas durante esse mês não. Ele chega em casa bem drogado, quando vai na verdade. Essa semana ouvi minha mãe brigando com ele, os dois falavam sobre alguma amante ou coisa do tipo. Minha mãe chorava muito me fazendo chorar também ela me contou que tudo isso foi por eu ter dito que odeio ele. Mas o que posso fazer se toda a mágoa que sinto não sai? E por isso ele precisa machucar ela assim? Só por que ela me apoia e ele não? Meu pai vai ter que aprender que a felicidade dele não é a minha.
Sento em um banco ao lado do bebedouro e fico observando as crianças brincando durante a aula de educação física. Como é bom ser criança, não ter preocupação e viver em um mundo de fadas e príncipes encantados.
Maju: Vamos embora? - ela senta ao meu lado no banco e puxa minha cabeça pra apoiar em seu ombro - Calma sua louca. Tudo vai ficar bem
Vitória: Ouvi meu pai e minha mãe brigando de novo. Eles falavam sobre uma amante que meu pai tem - Maju pigarreia e o nervosismo é visível - Sabe de alguma coisa? Viu falarem algo na tua casa?
Maju: Vick, chega disso tudo tá? - ela me segura pelo rosto - Para de pensar nisso, nos outros
Vitória: Tá nervosa porque?
Maju: Que nervosa c*****o! - ela levanta ficando de costas pra mim e noto um roxo no braço dela - Bora pra aula
Vitória: Espera - seguro ela e olho bem aquela mancha, era bem visível que aquilo ali foi um aperto com muita força - Quem fez isso? Por que na tua casa eu sei que não foi - vejo Maria Julia mudar de cor diversas vezes. Aí tem
Jade: O que as duas estão fazendo fora da sala de aula? - claro o projeto de bruxa tem que aparecer - Vamos as duas entram. Deixe a conversa pra depois
Maju solta o braço e caminha rápido para sala. Eu não sei o que tá pegando mas sei que pra deixar ela assim não é nada bom.