CAPÍTULO 11

2468 Words
JÚLIA Apoio meus braços sobre o para peito da sacada e observo o morro, as luzes iluminando toda essa imensidão de casas de longe parece mais um monte de vagalume. Vapores e aviõezinhos pra lá e pra cá deixam as ruas e vielas um pouco movimentada mesmo já sendo 2:00hr da manhã, em algum lugar o som do forró toca alto me fazendo pensar que talvez seja lá que o Bruno esteja. Talvez lá com alguns amigos, ou então resolvendo problemas em algum canto do morro ou fora dele que seja. Mil opções vem na minha cabeça me fazendo acreditar que alguma delas seja verdade, mas eu sei bem que não é. As lágrimas inundam meus olhos e um imenso bolo se forma em minha garganta, pensar em tudo que passei nesses 16 anos ao lado do Bruno não é fácil. Mas a esperança de que dê certo sempre esteve ao meu lado, sempre acreditei que meu ogro pudesse mudar e ter uma vida honesta e ser alguém de bem, esquecer todo o rancor e mágoa que existe dentro dele. Seco as lágrimas e saiu da sacada assim que vejo o carro do Bruno chegando no portão, olho no relógio da parede que marca exatos 2:25 hr da manhã. Pra ele ter chegado tão cedo a festinha de hoje não estava muito boa pelo visto. Deito na cama em posição fetal tentando conter os soluços que faz de tudo pra escapar em meio ao choro silencioso. Bruno: Amor - sinto a cama afundar e a coberta que antes cobria minha cabeça é arrancada com força - Olha, eu falei que ia fazer tu morder a língua bebê - ele pisca e levanta agitado já ligando a TV do quarto, as mãos não param quietas e ele bufa como se tivesse irritado. Mas na verdade é só o efeito da droga. Mais uma vez. Atirei o celular nos pés da cama e voltei me cobrir como antes tentado esquecer essa vida - Júlia! Olha isso! - ele grita e arranca de novo a coberta de mim me entregando o aparelho celular Júlia: Cala a boca e não grita. Tuas filhas estão dormindo e não precisam ouvir tu surtando. - aponto o dedo pra ele que só me observa - Já falei muitas vezes pra ti não vir drogado pra casa Bruno! Bruno: Eu fui dar uma volta - ele passa a mão na cabeça nervoso - Eu falei que ia te mostrar do Kaue não disse? tá aí - ele levanta já tirando os tênis e assim faz com o resto da roupa entrando no banheiro Lembro de horas atras quando discutimos mais uma vez sobre o relacionamento da Vitória e do Kaue, e principalmente sobre os tiros que ele deu no guri. Bruno tem cada atitude não pensada, as vezes penso que esse ser só veio no mundo pra fazer merda e infernizar minha vida. Balanço minha cabeça espantando esses pensamentos e olho pro celular na minha mão. Será mesmo, ou é só uma ilusão? Coloco a senha e destravo o celular, nem precisei mexer pois assim que abriu o vídeo já começou a rodar novamente. Era uma festa, várias pessoas, mulheres peladas, lateralmente, mas ali em meio a duas gurias estava uma criatura que conheço bem. Kaue estava transando com duas em uma orgia sei lá onde. Será mesmo? Assim que o vídeo parou eu retornei olhando bem pra ele. E é claro não tem como não ver, é o Kaue sim. Bruno: Eu falei amor - me assusto com o Bruno completamente nu em frente o roupeiro. Que c*****o esse homem tá fazendo - Se eu não quero ele com a Vitória tem motivo, e um deles ta aí - ele cruza os braços ainda pelado me desconcentrando totalmente. Aquela geba perfeita praticamente dura, quase que escorre saliva pelo canto da minha boca - É grande né gostosa? Eu sei - ele diz pegando no p*u e deslizando um vai e vem enquanto vem pra cima da cama Julia: Pode para! - ameaço jogar o celular nele que se assusta Bruno: Que isso novinha? Tá doida é? - bruno sorri e tenta me beijar mas empurro ele Julia: Novinha não! Tenho 36 anos e sou bem vivida. Tu não me engana Bruno - levanto da cama braba mas ele vem e me segura pela cintura. Ele é imenso, e nem parece ter 41 anos e perto dos meus 1,55 de altura parece um gigante - Tu tava onde? Qual vai ser a mentira dessa vez? - bato o pé no chão e ele sorri Bruno: Amor para com isso. Tu sabe que ando puto e tenho minhas fraquezas - era só o que me faltava - O que fiz com o Kaue abalou minha aliança com o n***o, e tu sabe bem que ali não era só uma simples aliança pelo tráfico. Nós era amigão da p***a Juh - ele beija meu pescoço mas me mantenho dura como uma árvore. Não vou ceder Vitória: Tuas fraquezas? Tu acha mesmo que tenho ouvir e aceitar as "Tuas fraquezas"? - ele me solta puto e vai pegar uma cueca enquanto entro no banheiro Bruno: Vida, minha princesa, razão do meu viver - começou a ladainha - Tu sabe que Bruno sem Julia não existe meu amor. Tu é tudo pra mim, o ar que eu respiro, minha calmaria. Tu me deu as três pessoinhas mais preciosas n**a, vocês quatro são minha vida, mato e morro por vocês paixão - cruzo os braços e assisto de camarote Julia: Quem foi a p**a da vez? Bruno: Vai toma no cu Julia! p**a o c*****o! - ele me puxa pra cima da cama e não tem nem como me defender do ogro - Diz que tu ama esse teu ogro. Vai gostosa rabuda. Júlia: Cala boca! O assunto aqui é: Vitória e Kaue. - me viro olhando pra ele que por incrível que pareça me olha sério - Como tu conseguiu esse vídeo? Bruno: Com um parceiro que tá sempre com ele. O cara já tinha me dito que ele traia a Vick e mais uma pá de coisas Bruno me contou tudo que o Kauê faz e me mostrou mais outro video. Mostrou também um áudio que ele pediu pro tal cara fazer do Kaue falando da namorada dele. No áudio Kaue diz que a Vick é burra, mimada, e faz o que ele quer. Não tem amor próprio e muito menos personalidade. Se esse guri tivesse na minha frente eu teria dado um tiro na cara dele, com certeza. Um tiro não, teria era dado vários, queria largar ele igual uma peneira. Ninguém fala assim da minha filha. No início pensava que era implicância do Bruno, mas agora vejo que não. E tenho raiva de mim mesma por não ter visto isso antes Bruno: Que isso?! - levanto da cama em um pulo, p**a da vida. Ódio me define Júlia: Olha tudo que ele falou da minha filha Bruno! - como fui tão burra, logo eu tão vivida - Eu quero matar ele! Bruno: Eu tentei fazer isso amor. Sempre quis fazer isso! - Bruno me puxa de volta pra cama e me aconchega em seus braços - Calma minha vida. A gente vai tirar nosso bebê dessa Julia: Mas como? Ela ta cega de amor. E é tão cabeça dura quanto tu. - lembro do vídeo e me dá mais raiva ainda - Não quero que ela veja esses vídeos e ouça o áudio. Não quero machucar ela ogro, mas tenho que da um jeito Bruno: Ela não fica com ele. Amor, juro que não! Sempre achei demais essa proteção toda em cima da Vick, mas meu ogro se sente muito culpado por ter rejeitado ela quando soube da minha gravidez. Depois veio minha fuga quando ela tinha 1 ano e só 3 anos depois que ele foi ver ela novamente. Ele se sente culpado por tudo que perdeu, e com isso tenta proteger com unhas e dentes. E entendo bem ele, também não quero que nada de r**m aconteça para nossas filhas e muito menos que um filha da p**a saia da casa do c*****o pra magoar meu bebê. Acordo com o ronco do Bruno, esse cara dormindo parece bem uma motosserra. Isso faz jus ao apelido de ogro que coloquei nele. Sorrio com a ideia já levantando pra ir ao banheiro fazer minhas higienes. Hoje tenho que dar um jeito nesse tal namoro da Vick com aquele desgraçado. Depois de dentes escovados e uma roupa no corpitcho entrei no quarto da Vitória já que ouvi o som da televisão ligada. Mais um dia que ela não vai a escola Júlia: Filha - ela tapa o rosto com a coberta ao me ver entrar Vitória: Mãe sai daqui me deixa - a voz de choro aperta meu coração e um bolo se forma na minha garganta Júlia: Filha, não faz assim. Vamos conversar - puxo a coberta e ela me olha com aqueles olhinhos de medo. Os mesmo olhinhos de quando ela era pequena. Vai ser sempre meu bebê - Vick, eu tenho uma coisa pra te falar Vitória: É o Kaue? - ela pula na cama ja sentando e chorando mais Júlia: Não fica calma. - suspiro sem saber por onde começar - Amor, vou te contar tudo sobre minha vida e minha relação com teu pai. - ela ergue uma sobrancelha achando estranho claro, nunca falei disso antes sempre fugi do assunto. Vitória: Por que isso agora mãe? - contínuo sem responder ela Júlia: Quando pequena eu não tinha uma vida muito boa, meus pais eram pobres e não podiam me dar o que eu queria e quase nada do que precisava. Quando fiz 18 anos fui trabalhar em uma boate fazendo programa - Vick me olha espantada - Eu precisava ajudar em casa e era o que tinha pra mim. Com 21 anos vim pro Rio, me fizeram uma proposta de emprego em uma das melhores boates daqui tua avó ficou muito doente e tive que vim pra cá, com o coração na mão abandonei tudo pra tentar ganhar mais dinheiro pra pagar o tratamento dela. A proposta veio de um conhecido, mas não era nada do que ele contou pra mim. Na verdade ele escravizava as gurias lá, não pagava nada a elas e muitas eram vendidas para outros países pra acontecer sabe sei lá o que. Um dia invadiram o local, era teu pai e o teu padrinho Rael, que já era sub dele. Amanda estava comigo lá e Rael foi tirar a irmã e já me trouxe junto. Fiquei alguns dias aqui no morro e assim que consegui arrumar as coisas tentei ir embora. Mas antes fui experimentar o tal baile na favela, fiquei com um menino e teu pai surtou. Matou o cara na minha frente quase acertando o tiro em mim também. Ele me puxou pelo cabelo me jogando no carro e me levando pra casa dele, essa casa aqui - Vick me ouve boquiaberta - Ele me violentou filha. Foi horrível. Depois no mesmo dia tentei ir embora e ele me fez voltar assim que me viu na saída do morro. Naquele dia ele disse que eu era dele e só saia com a permissão dele. Vitória, ali meu inferno começou. Eu não podia sair nem pra buscar um pão na padaria, sem contar as surras que ganhava e os sexo com brutalidade. Nunca voltei pra casa filha, teus avós e tuas tias não entendiam e me julgavam. E eu aqui sofrendo e apanhando. Minha família me excluiu. Tua avó piorou muito e eu implorava pra ir ver ela so uma vez que fosse. Mas ele não deixou. Tua avó morreu de câncer, sofreu muito na hora da partida e eu nunca estive la pra dar o adeus, pra dizer do meu amor - limpo as lágrimas que escorrem como cachoeira penso se conto sobre a rejeição na minha gravidez, e decido não falar - Pouco tempo depois que tu nasceu teu pai bebia e usava muita droga. Um dia ele tava demorando pra voltar e eu fui atrás, peguei ele comendo uma p**a em um casebre no morro. Ele pediu perdão e fez cena, acabei perdoando.Ai quando tu tinha 1 ano comecei desconfiar dele de novo. Pensava que pudesse ta me traindo e fui atrás. E sim filha, teu pai tinha uma amante a meses. Foi ai que fui embora contigo pra Porto Alegre, reconquistei minha família novamente, fui no cemitério dar adeus a minha mãezinha e lá moramos até teus 4 anos. Quando tu foi sequestrada por um inimigo do teu pai. Fui obrigada a chamar ele porque senão te perderia. Ele assim que te salvou entrou na nossa de novo, e fez inúmeras promessas. E tu também, depois que viu ele pela primeira vez não largou mais. Dei uma nova chance e cá estamos nós, 16 anos juntos. Com altos e baixos, teu pai sempre usando droga e me traindo. Quando tu tinha uns 10 anos tentei ir embora com vocês três. Mas ele me pegou Vitória: Ele te bate mãe? Júlia: Não amor. Essa promessa ele fez anos atrás e cumpre até hoje. Mas nesse dia que tentei ir embora ele me puxou pra casa de volta e disse que se eu saísse da vida dele de novo ele me mataria. E tu sabe que teu pai é doido - ela concorda - Mulher de bandido não tem voz ativa filha. Tem que tá sempre de baixo dos pés deles senão ganha pau Vitória: Mas mãe, ele te trai tu sabe e não faz nada? Júlia: Isso são suposições. Não sei se ele realmente me trai, eu acredito que sim. Não quero perder vocês, e não quero morrer então fico no meu canto porque tu sabe que com Picasso não se brinca. Vick, Kauê é um bandido assim como teu pai e o pai dele, tu sabe que ele é estourado e também já recebeu muitas mensagens falando que ele tava com outras. Não acha que isso possa ser verdade? Filha ele não é pessoa boa. Vitória: Que isso mãe? - Vitória levanta da cama braba mas seguro o braço dela - Me solta mãe, não vou ficar aqui ouvindo isso. Não é porque teu casamento é uma merda que o meu vai ser também Solto o braço dela e não tenho palavra para responder tamanha afronta. O que essa menina tá pensando Bruno: Fala direito com a tua mãe guria! - vejo o homem entrar no quarto como um furacão pegando a Vitória firme pelo braço Júlia: Para deixa ela - as palavras saem como um sussurro em meio às lágrimas - Ela só falou a verdade. Meu casamento é uma merda mesmo.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD