MAJU
Tiro minha calcinha pra entrar no banho e no mesmo momento o sangue escorre perna a baixo. A dor no ventre me faz lembrar dos momentos de terror que vivi horas atrás. Mais uma vez fui abusada sexualmente pelo professor de ciências. Eu adorava a matéria e a aula de anatomia humana me pegou de jeito, logo comecei a me interessar cada vez mais pelo assunto e já comecei a me ver uma grande médica.
Até que o corpo a ser estudado passou a ser o meu, ele começou com palavras, ai veio os toques até que passou pra ameaças e estupro. Quando fui tirada dos meus pais aos 4 anos de idade foi justamente por causa de abusos sexuais junto com maus tratos. Eu era bem pequena mais lembro de algumas coisas e depois que passei a ser abusada novamente tudo voltou à tona. Calafrios e pesadelos, choros no meio do dia e por nada, me tranquei e me calei. Por mais que minha Maria Julia interna grita por socorro eu não consigo por pra fora, falar o que ta acontecendo e por isso o professor foi tomando cada vez mais liberdade.
Eu sei bem que poderia contar pro meu pai e o desgraçado teria uma morte da pior maneira possível, mas a vergonha que alguém saiba disso é tão grande que não consigo me abrir. Toda vez que ele manda mensagem marcando o lugar e me ameaçando pra ter certeza de que eu vou sim, eu imagino mil formas de matar ele. Mas quando chega na hora, quando ele vem com aquele sorriso nojento eu travo, sei bem o que vai me acontecer e eu travo fico igual uma boneca a única coisa que se move são meus olhos e as lágrimas que caem por eles. Eu fico completamente a mercê do sexo nojento e brutal daquele monstro.
Amanda: Maju - minha mãe bate na porta eu tento calar meu choro pra ela não ouvir - Filha eu vi que você chegou com sangue. Desceu mais cedo foi?
Maju: Sim mãe. Me manchei toda - tento me acalmar mais a dor no baixo ventre ta cada vez mais forte e o sangue não para de descer. Ele sempre me machuca mais como hoje não. Tá muito pior
Amanda: Ta bom filha, qualquer coisa grita
Resmungo concordando e desligo o chuveiro, um remédio e minha cama quentinha vai me ajudar como sempre. Depois de vestida e com um absorvente noturno para poder suportar tamanha quantidade de sangue me deito e fecho os olhos tentando esvaziar a mente pra não pensar em nada ou sequer lembrar de alguma coisa. Seria bom contar pra alguém, pra Vick por exemplo mais não consigo a vergonha me calava por mais que eu queira não dá. Sem contar que ela também tá cheia de segredinhos, nem deixou eu ver que papel era aquele. Senti a cama ficar quente assim como minhas pernas e dei um pulo ignorando a pontada no útero. E mais uma vez o sangue escorreu perna a baixo.
Tomei outro banho rápido e dessa vez coloquei dois absorventes garantindo que não ia vazar nada. Limpei tudo rapidinho e desci pra lavanderia jogar toda aquela roupa de cama molhada na máquina e jogar um tira manchas.
Menor: Maju, te liga meu - meu pai aponta pra minhas pernas e balança a cabeça - Tu não dia certo pra isso filha? - meu pai é super da hora, ele é demais. Mas nunca que vou falar sobre menstruação com ele. - Quer um colo?
Maju: Não pai, to bem. - dou as costas subindo as escadas e a cada degrau eu sentia sair mais e mais sangue
Amanda: O que é isso Maria Julia? - ela ilha pra minhas pernas e depois pra escada que tem manchas por quase todo os degraus - Você não tá bem
Maju: Ai mãe e...
Assim que acordo a primeira coisa que sinto é o cheiro de desinfetante sanitário e depois minhas costas doendo por conta do colchão duro demais. Abro os olhos devagar e vejo minha mãe conversando com a tia Julia num canto e meu pai conversando o alguém que é médico ou enfermeiro já que agora posso ver bem que estou em um hospital.
Maju: Gente - chamo a atenção de todos ali - O que houve?
***: Olá Maria, sou o médico residente aqui da upa do morro - sorrio tentando ser simpática mas a fraqueza que sinto não deixa muito - Como está?
Maju: Garganta seca, uma leve tontura e muito cansada e fraca. Mais além disso tudo quero muito saber porque estou aqui - o dr olha pros meus pais e depois pra mim. Será que eles sabem de alguma coisa?
Menor: Pode sair dr, muito obrigada - mei pai comprimenta o homem com um aperto de mão que sai porta afora - Maju, nunca te proibi de nada, sempre conversei com você eu e tua mãe
Maju: Fala logo pai o que houve? - minha mãe se aproxima interrompendo ele que ia começar o assunto
Amanda: Porque não falou do estupro quando chegou em casa? Ou melhor filha, porque não contou da gravidez?
Maju: O que? Como assim! - tento levantar mas meu pai me segura me pondo de volta no lugar - Eu não to grávida! Não eu não posso
Júlia: Maju calma filha, ouve tua mãe - tia Júlia passa a mão nos meus cabelos pra me acalmar mas nada será possível nesse momento
Amanda: O médico fez vários exames em você. Vários mesmo e descobriu muitos machucados no colo do teu útero o que resultou na perda do bebê. Ele disse que esses machucados não são de hoje a maioria mais hoje era visível que você teve relação e com isso machucou mais e o bebê acabou descendo por isso o sangue todo - ela ta calma, o que me parece só quem ta nervoso aqui somos eu e meu pai
Menor: Maria - ele só me chama assim quando tá brabo - Me fala com fez isso com você. Porque deixou um cara te tratar assim?
Amanda: Você não sabia do bebê? - meu pranto era tão alto que suponho ser ouvido de fora da upa também. - Não chora filha nós estamos aqui
Menor: Quando você veio morar com nós prometemos nunca te abandonar - ele afaga meus cabelos - E vamos comprir filha, custe o que custar
Eu sabia disso e por mais que queira contar não consigo.
Três dias se passaram, e nesses três dias eu só chorei. Não comi ou sequer consegui falar alguma coisa, vivo a base de remédios e tia Julia convenceu minha mãe me deixar por aqui mesmo. Hoje vem uma psicóloga, dizendo o médico que seria bom pra mim e talvez seja sim. Vick vem aqui todos os dias assim como o Gabi mas nem a companhia dos meus melhores amigos é capaz de calar minha dor
Renata: Bom dia Maria Julia - a mulher entra sorridente mas não estou a fim - Me chamo Renata sou psicóloga da ong que dona Júlia montou e estou para conversarmos pode ser? - a mulher fala e fala mas me mantenho calada o tempo todo. Um bebê morreu! Foi uma vida por causa daquele monstro nojento! Ela deveria ter um pouco de consciência, aliás todo mundo por aqui deveria - Sei que pode pensar que a culpa foi sua Maria Julia mas não foi
Maju: Claro que sim. Eu fui culpada, dei papo para ele não cuidei a roupa que usava e ainda não dei um basta no início. - ele me olha séria e até me assusto comigo mesma - E por minha causa uma vida se foi
Renata: Maria, é normal você se sentir assim. Envergonhada, amedrontada e até culpada. Isso é normal em vítimas de estupro. Mas é por isso também que acontece cada vez mais. A mulher precisa entender que a culpada não é ela, não é a roupa que ela usa, ou por ela estar bêbada ou o que for. Ela é só uma vítima Maria. Você foi uma vítima - depois que saíram as primeiras palavras da minha boca as outras foram fáceis. Tomei coragem e contei tudo, timtim por timtim - Agora vou indo. Conversa com teus pais, vai ser bom pra você
E assim que ela fecha porta em questão de segundos os dois abrem ela de volta. O semblante do meu pai é de pura preocupação já minha mãe parece tranquila e aliviada
Amanda: Como foi? - os dois sentam na cama e eu suspiro alto. Acho começar do início.
Contei tudo pra eles, sem vergonha nenhuma. Foi tudo embora e a Renata ta certa a vitima sou eu, e não posso me calar diante disso tudo. Eu tenho que pôr pra fora contar e me impor. Meu pai toda hora passava as mãos no rosto ou no cabelo nervoso. Já minha mãe chorava comigo. E assim que terminei tudo meu pai não disse sequer nem um ai, somente saiu batendo a porta e já sei o que vai acontecer. Um possível churrasco de professor, isso se o Bruno tiver de bom humor.
Apesar de tudo isso não me agradar ou me deixar feliz, apesar dos pesares é um ser humano. Mas se a justiça não faz a parte dela em praticamente todos os casos, deixa meu pai fazer por ela então.
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