Confesso que me surpreendi ao descobrir que aquela garota é a filha de Sebastian Fontinelli, eu me esqueci que o tempo passa e pensei que ela ainda fosse uma criança, mas não, já é uma mulher e muito linda por sinal, além de muito atrevida e desaforada. Não suporto que batam de frente comigo, não suporto ser contrariado da maneira que ela faz e isso foi mais uma surpresa pra mim, pois ela parece não se intimidar comigo.
Quando conheci Sebastian Fontinelli eu não imaginava que ele fosse fazer uma coisa dessas, me nomear tutor legal de sua filha, a verdade é que ele não tinha mais ninguém nessa vida com quem deixar a menina e lá no fundo, ele já sabia qual seria o seu destino por causa dos seus vícios, Sebastian era amigo da minha família que também se foi me deixando sozinho no mundo, ou filho único e não temos parentes próximos, pelo menos não que eu saiba.
Sebastian surtou depois que perdeu sua esposa e acabou se viciando em jogos e junto com os jogos vieram as bebidas, e isso só complicou ainda mais a sua situação, ele tinha uma empresa de pequeno porte e uma casa muito boa, tinha uma vida estável e não média esforços para cuidar de sua família, mas infelizmente perdeu tudo ao se afundar em dívidas e apenas quando viu que estava literalmente destruído ele me procurou, ele praticamente me implorou que cuidasse de sua filha caso algo lhe acontecesse, mas eu não acreditava que ele acabaria morrendo por conta de suas dívidas, eu até ofereci ajuda a ele mas o próprio Sebastian recusou já sabendo que isso não adiantaria, com certeza ele faria mais dívidas e colocaria a sua vida em risco novamente, e como ele era muito querido por meus pais aceitei ser o tutor legal de sua filha que na época tinha apenas onze anos, eu só a conheci por fotos mas me surpreendi ao ver a bela mulher que ela se tornou.
Quando me comunicaram da morte de Sebastian eu havia me esquecido completamente que tinha uma obrigação com essa menina até os meus advogados me informarem sobre a situação dela, e aqui estamos nós nos enfrentando e nos aborrecendo por qualquer motivo, ela por ser teimosa demais e eu por não querer ser contrariado por ela.
Ontem à noite eu desci para guardar alguns documentos que fiquei revisando até tarde, quando subi naquela escuridão toda acabei me chocando com alguém que foi parar no chão, quando vi a pessoa caída me surpreendi ao vê-la ali usando apenas um blusão como roupa de dormir, na queda a sua blusa subiu o suficiente para que eu não conseguisse evitar olhar as suas lindas pernas "que mulher linda" fiquei sem reação naquele momento apenas admirando a sua beleza até que me dei conta da minha falta de atenção, lhe estendi a mão para ajudá-la a se levantar mas ela me ignorou como havia feito mais cedo.
Me aproximei dela na intenção de saber se ela estava bem e mais uma vez ela me afrontou me deixando puto com isso, tentei ser duro com ela mas falhei ao encarar aqueles lábios tão lindo e tão convidativos. "Mas que merda é essa que eu estou pensando? Desde quando eu sou assim tão fraco com uma mulher?"
Para piorar o meu dia Esthela resolveu viajar sem me comunicar antes, como vou fazer para encontrar uma babá assim tão em cima da hora? Já liguei para a agência solicitando a mesma babá anterior mas ela já havia sido contratada, não tem nenhuma babá disponível para hoje, essa não era a minha semana combinada para fica com minha filha, por isso fiquei tão irritado por não ter tido tempo para me programar.
Esthela e eu nos casamos a alguns anos atrás e desse casamento nasceu a minha filha, Ana Clara de sete anos, eu amo a minha filha mas confesso que não tenho tido muito tempo para ficar com ela, meu trabalho está me tomando muito tempo e com isso me impossibilitando de ficar com a minha princesinha, e por conta disso ela acaba passando mais tempo com alguma babá em casa do que comigo. Eu e Esthela nos separamos a cinco anos e resolvemos compartilhar a guarda da nossa filha, mas ela ainda tem esperanças de voltarmos a ser um casal algum dia, uma coisa que eu sei que jamais vai acontecer depois de tudo que ela me fez.
— Eu não posso desmarcar a minha viagem Chris, eu preciso que você fique com a Clara para mim, vão ser apenas duas semanas e eu não posso levá-la comigo. — Diz estérica dramatizando toda essa situação que para mim é insuportável, por mim eu teria a guarda da Ana Clara só para mim mas Esthela não permitiu.
— Não se preocupe eu fico com a minha filha, mas você poderia ter me avisado antes para eu me programar melhor, você sabe que eu sempre contrato babás temporárias para ficar com ela, mas eu não vou conseguir nenhuma pra ficar com a minha filha hoje... E então Esthela? O que eu vou fazer? Eu tenho uma reunião importante e já estou atrasado? — Esbravejo irritado com a falta de noção de Esthela.
— Eu posso manda a babá lá de casa pra ficar com ela aqui, o que me diz? Você quer? — Pergunta espantada com o meu tom de voz, essa mulher tem o dom de me tirar do sério.
— Eu não quero aquela mulher na minha casa! Ana Clara não gosta dela e já reclamou inúmeras vezes dessa babá, eu pensei que você já tivesse a demitido, com a pensão que eu te p**o por mês dá muito bem pra você contratar uma babá melhor para nossa filha. — Esbravejo ainda alterado e ela me encara ainda assustada.
Não gosto daquela babá, não gosto que ninguém maltrate a minha filha, sem falar que aquela mulher é uma oferecia, não gosto de mulheres assim trabalhando na minha casa pois não tenho paciência para esse tipo de coisa.
— Tudo bem Christian, faça como você quiser mas eu preciso que Clara fique com você... Bom, já que está tudo resolvido eu vou indo. — Diz já se retirando do escritório mas eu chamo por ela.
— Você não vai se despedir da sua filha Esthela...? Você vai ficar duas semanas fora e nem se preocupa em se despedir da sua filha? — Pergunto indignado com a falta de amor que ela tem pela menina, não é porque não estamos mais juntos que a nossa filha tem que ser desprezada por ela.
— Ok...! Peça para chamarem Ana Clara para eu me despedir dela. — Ela força um sorriso que dá para ver que é falso.
Eu sei que Esthela não tem amor por nossa filha, por isso queria a guarda da menina mas ela não aceitou, Esthela perdeu o direito de ter a metade dos meus bens no momento em que ela quis ser uma adúltera, me traiu com um cara que ela dizia ser seu amigo, essa cretina, mas infelizmente pelo bem da nossa filha tenho que aturá-la dentro da minha casa e evitar brigas, Ana Clara já entende as coisas e não quero que ela sofra vendo os pais brigando o tempo todo.
Pedi que Carmen fosse chamar minha filha para se despedir da mãe e enquanto ela não vem, fico no escritório tentando contratar uma babá e repensando sobre essa situação, não sei até quando vou suportar tudo isso, essa mulher não é confiável, aliás, para mim nenhuma mulher é confiável até que me provém o contrário.
Aprendi a não confiar em ninguém quando a mulher que eu pensei que me amava me traiu da pior maneira possível, e ainda sou obrigado a aguentar as suas reclamações, tudo que ela quer é o meu dinheiro mas ela não terá mais do que eu já dou de pensão por mês, e não é pouca coisa, o pior de tudo foi descobrir que ela só se casou comigo por interesse, tudo que ela queria era ter uma boa vida assim como eu dava a ela, mas por sorte descobri a vigarista que ela é e me separei, me afundando em uma amargura que as vezes até eu mesmo não entendo como me transformei dessa maneira.
Passei tanto tempo trancado nesse escritório que nem percebo quando batem na porta, peço que entre e logo vejo Carmen entrar.
— Com licença Sr. Colliman, eu poderia falar com o senhor um momento? É sobre a sua filha. — Ela entra fechando a porta atrás de si.
— O que tem a minha filha? O que houve com ela Carmen? Ela está bem? — Pergunto já me levantado assustado e ela sorrir me mostrando que está tudo bem.
— Não se preocupe senhor a menina Clarinha está bem, ela está muito bem por sinal. — Diz se aproximando mais da mesa e eu respiro aliviado, minha filha é a única pessoa capaz de me fazer sorrir de verdade.
— Do que se trata então Carmen? Fala logo porque eu estou um pouco ocupado e estressado também. — Me sento novamente mais tranquilo por saber que minha filha está bem.
— Eu queria saber se o senhor já conseguiu contratar uma babá para menina, senhor? — Pergunta empolgada e eu não entendi o motivo dessa empolgação.
— Ainda não Carmen, mas estou tentando, já liguei para várias agências e até agora nada, parece que todas as babás estão em serviço nesse momento... Eu não posso deixar a minha filha sozinha, eu preciso encontrar alguém logo. — Digo pensativo me preocupando novamente.
— É sobre isso mesmo que eu quero falar senhor Colliman, a menina Clarinha está reclamando que não que ficar com uma babá, ele quer ficar com a Srta. Carolina que por sua vez, disse que se o senhor não se importa ela fica com a menina o tempo que ela permanecer aqui na mansão, ela disse que será bom para não se entediar ficando sozinha o dia todo. — Revela ainda mais animada e agora eu entendi o motivo da sua empolgação.
— Não sei Carmen... Seria uma criança cuidando da outra e eu não acho que Carolina conseguiria cuidar da minha filha. — Comento pensativo sobre essa idéia delas e os meus pensamentos vão para aquela morena atrevida.
— Me desculpe Sr. Colliman, mas acho que o senhor está exagerando um pouco, a Srta. Carolina não é mais uma criança, ela já tem quase dezoito anos, é uma mulher linda o senhor não acha? — Diz espontaneamente com um sorriso largo no rosto e eu acabo viajando nas suas palavras.
— É Carmen... Ela é uma mulher linda... — Me pego lembrando daquele belo par de pernas e aquela boquinha linda, mas me desperto das minhas lembranças com Carmen me encarando com um sorriso bobo no rosto me fazendo limpar a garganta para conseguir reagir. — Bom Carmen, se a Srta. Fontinelli se diz querer cuidar da minha filha por mim tudo bem, desde que você fique de olho nelas, está bem...? Se era só isso pode ir, eu preciso fazer uma ligação antes de ir para construtora. — A encaro meio desconcertado por pensar em voz alta na frente de Carmen.
— Tudo bem senhor como quiser... Com licença. — Ela se retira mas aquele sorrisinho ainda está estampando o seu rosto.
Mas que droga! A presença dessa menina está me deixando confuso, eu não posso e nem devo ter tais pensamento em relação a ela, não é certo, o pai dela confiou em mim para cuidar e zelar pelo futuro dela e eu não posso olhar para ela com outros olhos, eu me sinto um pervertido por pensar nela da maneira que estou pensando.
Saio dos meus pensamentos e ligo para Demétrio, meu vice presidente e aviso que chegarei atrasado na reunião, eu não esperava que Esthela fosse aparecer por aqui com a minha filha, e muito menos a essa hora da manhã, não gosto de chegar atrasado no trabalho para dar o exemplo aos meus funcionários, mas hoje vai ser impossível chegar no horário de sempre.
Depois da ligação feita pego alguns documentos que vou precisar e saio do escritório, vou em direção a sala mas ao passar pelo corredor escuto gargalhadas vindo do jardim, me aproximo da janela e vejo minha filha correndo pelo jardim na companhia de Carolina, eu nunca vi minha filha sorrindo tanto, ela parece tão Alegre, tão feliz, parece que ela e Carolina estão mesmo se dando bem. Me pego sorrindo ao admira-las mas logo me recomponho.
Depois de alguns minutos admirando a minha filha correr atrás de Carolina eu resolvo finalmente ir para construtora, me viro para sair e dou de cara com Carmen me encarando com aquele olhar de surpresa.
— Por acaso está me vigiando Carmen? — Pergunto sério indo na sua direção e ela abaixa a cabeça.
— Imagina senhor, claro que não. — Ela me encara sem graça com um pequeno sorriso no rosto.
— Ótimo...! Fica de olhos naquelas duas lá fora, ouviu? Qualquer problema por menor que seja, me liga imediatamente... Tenha um bom dia! — Passo por ela e a mesma concorda ainda envergonhada.
— Sim senhor, como quiser, bom dia e tenha a um bom trabalho. — Ela diz me acompanhando até a sala e eu apenas agradeço saindo de casa em seguida.
Vou até a garagem e pego um dos meus carros porque hoje eu mesmo vou dirigir, estou tão estressado que não estou com paciência para deixar ninguém dirigir por mim, vou deixar o motorista na mansão caso elas precise ir a algum lugar, e vou levar comigo apenas dois dos seguranças da mansão, Kenay e Diego.
O trajeto até a construtora foi rápido e tranquilo para a minha surpresa, mas enfim já estou dentro do prédio e atrasado para uma reunião que já deveria ter começado a uma hora e meia atrás, tem uma empresa grande querendo fechar negócios com a gente e eu não podia ter me atrasado tanto, mas a culpa é da Esthela que mais uma vez tomou decisões relacionadas a minha filha sem me avisar, só espero que esse pessoal que veio para a reunião, não tenham desistido por conta do meu atraso.
Meia hora depois eu estou saindo da sala de reuniões muito puto por ter perdido um contrato tão valioso como esse, os investidores não quiseram nem me ouvir pois estão muito chateados pelo meu atraso, disseram na minha cara que a minha construtora não é uma empresa séria onde o presidente chega atrasado em uma reunião importante como essa, eu fiz de tudo para convencê-los a não desistir mas não teve jeito, mas pelo menos conseguimos convencê-los a remarcar um nova reunião onde vou melhorar as vantagens em um possível contrato com eles.
— Se acalma Christian! Pelo menos você conseguiu remarcar uma próxima reunião cara, nem tudo está perdido ainda podemos tê-los ao nosso lado na construtora. — Demétrio tenta me acalmar mas está extremamente impossível conseguir isso.
— Não tem como eu me acalmar Demétrio, eu perdi essa reunião por uma irresponsabilidade da Esthela cara... E se eu não conseguisse convencê-los a remarcar essa reunião? Eu não gosto de faltar aos meus compromissos e muito menos deixar a desejar no que faço, eu estou uma fera e a minha vontade é de matar alguém hoje! — Esbravejo visivelmente alterado assustando a minha secretária e até mesmo o próprio Demétrio.
— Eu te entendo Christian mas você se alterar desse jeito não vai adiantar nada meu irmão, tenta se acalmar um pouco por favor! — Pede me encarando preocupado e eu respiro fundo esfregando as mãos nos cabelos. — Quer saber Christian... Tira o dia de folga cara vai relaxar um pouco, vai pra casa ou vai sei lá para onde você quiser, mas por favor se acalma, você não está em condições de trabalhar hoje. — Sugere me encarando atento enquanto eu ando de um lado para o outro sem saber o que fazer par ame acalmar.
— Eu não posso ir pra casa agora Demétrio, tem muitas coisas para resolver aqui hoje eu não posso simplesmente deixar o trabalho. — Digo ainda irritado e vou para minha mesa onde há alguns documentos me esperando para serem assinados.
— Se for para você ficar e trabalhar nesse estado é melhor você ir para casa, você não vai conseguir resolver nada nervoso desse jeito... Os documentos podem esperar um dia a mais para serem assinados. — Ele me encara ainda preocupado com o meu estado pois não consigo se quer raciocinar direito.
— Talvez você tenha razão Demétrio... Eu estou a ponto de explodir e não vou conseguir resolver nada hoje, infelizmente. — Encaro o meu amigo a minha frente que suspira aliviado por eu ter concordado em ir pra casa.
— É a melhor decisão que você poderia ter tomado meu amigo, vai pra casa e descansa um pouco e amanhã se você estiver mais tranquilo mentalmente, você está liberado para voltar ao trabalho, está bem? Pode deixar que eu cuido de tudo por aqui. — Diz de um jeito engraçado tentando me animar.