10- Conhecendo o Preto

1163 Words
Capítulo 10 Preto narrando : E aí, favela, eu sou o Preto. Na real, meu nome é Rômulo, mas aqui ninguém sabe disso, né? Todo mundo me conhece como Preto mesmo. Eu sou moreno, cabelo na régua, corpo forte e cheio de tatuagem porque eu piro nas tatuagens, mano. Tenho 32 anos e tô no comando do morro desde meus 20, depois que meu coroa foi morto em uma invasão. Minha mãe? Neme lembro mais da v***a, ela foi embora com outro cara e deixou eu e minha irmã pra trás, com o meu coroa. A Natália ainda era bebê na época, então eu e meu coroa tivemos que nos virar pra cuidar dela. O tempo passou, hoje ela tem 19 anos e mora comigo. Somos só nós dois, a nossa família. Crescemos na quebrada, aprendendo a se virar, enfrentando tudo o que a vida impõe pra quem é da favela. Eu vi a parada mudar de perto, e a responsa caiu toda nas minhas costas quando meu coroa se foi. A Natália, ela é firme, mas não vou negar que o peso de tudo acaba caindo pra mim, de alguma forma. No fim, a gente é tudo que tem, e isso é o que importa. A favela nos ensinou a ser fortes, a não abaixar a cabeça pra nada nem ninguém. E é assim que a gente sobrevive aqui. Eu cuido do morro, não tem segredo. A favela é nossa, e quem manda aqui sou eu. O morro não é só de uma pessoa, mas é minha responsabilidade manter tudo nos trilhos, então tudo que rola por aqui, eu tô sabendo. O meu sub que me ajuda é o Tramela, o cara é firme, mano. Ele é o meu braço direito, quem me representa nos pontos mais quentes, cuidando das vendas e controlando o fluxo. O Tramela, sempre atento, é aquele tipo de cara que eu confio, tá logado. Ele é os meus olhos e ouvidos aqui no morro quando eu não tô por aí. Além dele, o Beiçola é o chefe geral das bocas. O cara tem aquele respeito no jogo, é firme e manda bem quando o papo é resolver treta. Não tem como deixar o morro na mão, então, quando a responsa é grande, ele é o cara que a gente chama. Ele e o Tramela, eles fazem o trampo pesado, enquanto eu preciso e sempre estão ali prae dar um mão, crescemos juntos, correndo e brincando pelas vielas do morro, então conhecemos isso aqui como a palma da mão. A parada aqui no morro é assim, todo mundo tem seu papel, todo mundo sabe o que fazer, mas no fim das contas, quem segura o rojão sou eu. O morro é minha vida, é minha família, e eu faço o que for preciso pra manter a paz, manter o controle e garantir que ninguém pisa no que é nosso. Eu não sou desses que acredita em amor, não. Não tem isso de fiel aqui não. Aqui, quem manda sou eu, e ninguém vai me trair de novo. Quando assumi o morro, tinha uma mina que era minha fiel, a Keila. Aí, eu era todo bobo, achando que ela tava do meu lado de verdade, sabe? Eu era apaixonado por ela, queria fazer tudo certo, deixar a parada em casa de boa. Mas, na real, tudo não passou de ilusão. Descobri que ela tava me traindo com um vapor, um desses moleques que tentam se aproveitar da situação. A dor foi f**a, não vou negar. Eu pensei que ela era minha, que tava no corre comigo, mas foi só uma facada nas costas. Eu dei uma surra nela, mano, sem dó, e mandei ela embora do morro. Não tinha mais lugar pra ela aqui, nem na minha vida. Foi a lição que eu precisei pra entender que, no final, ninguém vale o meu coração, ninguém vale a minha confiança. Aquele sofrimento foi pesado, como se eu fosse um cachorro, mas me fez aprender que amor e lealdade não existem aqui no morro. Desde aquele dia, nunca mais me apaixonei. Hoje em dia, eu pego geral, sem apego. Tô aqui pra curtir e pra manter o controle. O morro é o que importa, as minas são só um passatempo. Eu sou o Preto, e é isso que eu vou ser até o fim. E é isso aí, favela. O corre é esse, sem emoção, sem apego. Eu sou o dono do morro, e é assim que as coisas funcionam. Não tem espaço pra fraqueza, não tem espaço pra quem se apega. A vida é dura, e eu aprendi isso na pele. Se você vacilar, vai ser engolido, é simples assim. Mas, como eu já disse, eu sou do corre e tô aqui pra manter meu nome intacto. A vida não me dá tempo de parar e ficar pensando em mulher, em sentimentalismo. Mulher no meu rolê? Só enquanto for conveniente. E olha que nem isso é garantia de nada. Eu não sou mais o cara que se entrega pra isso, não sou mais aquele moleque que sonhava com amor. Já vi de tudo nesse morro, já vi gente se perder, já vi coração se despedaçar. E eu? Eu vou me manter firme, com a mente fria e o controle nas mãos. Só o morro interessa. O resto, é só distração. Eu tava lá, de boa, na minha sala da boca, encarando a fumaça dpei breu enquanto o Tramela entrou e se jogou no sofá como se estivesse em casa. O cara já chegou direto com o papo, sem rodeios, como sempre. — Tá sabendo da boate do Neném que vai inaugurar amanhã? — ele perguntou, com aquele jeitão de quem já sabia que ia me tirar do sério. Eu olhei pra ele, já meio cansado do falatório, mas não quis cortar o clima. — Tô sabendo. — respondi, puxando uma fumaça densa . Não dava pra negar, o lugar ia ser o centro das atenções, e a chance de ver o movimento da favela todo rolando lá era uma oportunidade boa pra nós vender bem, já que o Neném era meu parceiro. Mas o que mais me chamava atenção mesmo era o tipo de gente que ia lotar aquele lugar. — E aí, bora lá, Preto, vai tá cheio de Paty gostosa lá! — ele emendou, todo empolgado, dando aquele sorriso maroto de quem já tava criando as expectativas pro rolê. Eu dei uma tragada e respirei devagar, pensando no que realmente importava. — É, pode crer. Vamos ver no que vai dar. — respondi, sem me empolgar demais, mas no fundo sabia que o rolê ia ser da hora . – Já é então, vamos deixar os Beiçola na frente do morro e vamos curtir sem pressa, a gente tá precisando disso. – Ele diz, acendendo um baseado pra ele. – Tu tá na razão, tô precisando sair um pouco do morro pra espairecer a mente . Continua .....
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