9- Saindo

1407 Words
Capítulo 9 Giovana narrando: O domingo foi uma tortura. Eu não consegui levantar da cama. O calor do cobertor parecia me abraçar, mas ao mesmo tempo ele só me fazia sentir mais sufocada. Fiquei ali, no escuro, revirando tudo na minha cabeça, revivendo cada momento, cada palavra que o Hugo disse, cada mentira que eu aceitei. A dor no peito não passava, e eu sentia que não tinha forças nem pra sair da cama. Carla tentou me chamar várias vezes, mas eu não tinha ânimo pra nada. Às vezes, ela aparecia no meu quarto e ficava me olhando, com uma expressão de preocupação, mas eu só queria ficar ali, sem falar com ninguém. Só queria sumir. Até que ela apareceu de novo. Ela entrou no meu quarto e, dessa vez, não foi como das outras vezes, com aquele sorriso gentil. Ela estava séria, como se soubesse que eu precisava de um empurrão. — Giovana, levanta daí — ela disse, de um jeito firme. — Não é porque ele fez o que fez que você vai deixar a sua vida pra trás. Você é muito mais do que isso. Você tem que se levantar. Vai pra rua, vai respirar. Você não pode continuar se martirizando assim. Eu fiquei em silêncio, olhando pro teto. Carla tinha razão, mas a dor ainda era tão grande que parecia impossível seguir em frente. Eu não sabia como. Eu só queria que as coisas voltassem a ser como antes, quando eu estava feliz, quando ele estava ali, ao meu lado. Mas sabia que isso não ia acontecer. Carla se aproximou mais da cama, sentou na beirada e olhou nos meus olhos. — Eu sei que você está machucada, mas ficar aí na cama não vai resolver nada. Vai sair comigo. Nem que seja pra dar uma volta. Só pra sair desse lugar. Isso vai fazer bem pra você. Eu respirei fundo, tentando juntar as forças que me faltavam. Levantei devagar, olhei pra Carla e, sem muita convicção, falei: — Tá bom, eu vou. Só... só não me deixa sozinha, por favor. Ela sorriu suavemente e pegou a minha mão, me ajudando a levantar. Mesmo que eu estivesse com o coração pesado e o peito apertado, sabia que era o que eu precisava. Respirar, ver o mundo lá fora, sentir um pouco de liberdade, por mais que ainda estivesse perdida. Eu me levantei, ainda com a cabeça a mil, mas decidi que ia tentar. Tentei ignorar a dor que me consumia e, com a ajuda da Carla, comecei a me arrumar. Coloquei uma roupa leve, algo que eu nem pensei muito, só pra sair dali e dar um tempo na minha cabeça. O calor de hoje ajudava, e a brisa lá fora me chamou atenção. Eu precisava de algo diferente, algo que me tirasse da obsessão dos últimos dias. Carla estava do meu lado, mexendo no celular, fazendo piada e tentando me fazer rir de qualquer coisa. A verdade é que não conseguia rir. O sorriso ainda estava preso, mas ela fazia o possível para me tirar do fundo do poço. E, no fundo, eu sabia que isso era o que eu precisava. Mesmo que estivesse quebrada por dentro, não queria que isso se refletisse nas minhas atitudes. Eu ia tentar sair dessa. — Vai ficar linda, vai ver — disse Carla enquanto ajeitava meu cabelo. — E nada de ficar m*l, hein? Só vai curtir um pouco, nem que seja só por agora. Saímos do apartamento e tomamos um táxi até a praia. O ar estava fresco e, conforme nos aproximávamos da orla, a sensação de liberdade, mesmo que por um instante, começou a me invadir. Eu estava, de alguma forma, começando a respirar de novo. Chegamos a um quiosque que estava bem movimentado. A música ao vivo estava tocando pagode, e eu ouvi aquele som envolvente, com o ritmo suave que parecia ser a trilha sonora perfeita para a tarde. Algumas pessoas dançavam descontraídas, enquanto outras apenas curtiram o ambiente relaxante. — Que tal isso? — perguntou Carla com um sorriso. — Vamos pegar uma mesa aqui perto e só curtir. Eu assenti, tentando deixar os pensamentos pesados de lado, e nos sentamos perto do palco, com vista para o mar. A vista era linda, e o som da música parecia acalmar um pouco minha alma agitada. Carla pediu uma bebida e, mesmo sem muita vontade de conversar, eu não queria parecer distante. A brisa do mar tocava meu rosto e, pela primeira vez em muito tempo, eu senti que estava fazendo algo por mim mesma. Algo que não fosse sobre ele ou sobre o que aconteceu, mas apenas algo para aliviar a carga que estava pesando demais. O tempo parecia desacelerar ali. Eu e Carla trocamos algumas palavras, e ela me olhou com um sorriso encorajador. Às vezes, estar perto de alguém que te entende é tudo o que você precisa para começar a respirar de novo. Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas sabia que, por agora, aquele momento de paz era o suficiente. O som do pagode continuava a embalar o ambiente, e eu sentia que, pela primeira vez em muito tempo, estava conseguindo respirar um pouco mais leve. O clima na praia tinha uma energia boa, como se o vento e o cheiro do mar pudessem limpar um pouco a bagunça na minha cabeça. A música me envolvia, e, por um instante, eu só queria me perder nesse momento e esquecer tudo o que aconteceu. Carla estava ali, ao meu lado, como sempre, me apoiando de forma incondicional. Ela não precisava falar muito, o simples fato de estar comigo já fazia toda a diferença. Ela até tentou me animar mais, contando histórias engraçadas e fazendo piadas, mas eu não estava realmente ali. Minha mente ainda voltava pra tudo o que tinha acontecido. Quando o garçom trouxe os drinques, eu me peguei tentando me concentrar mais no presente, no que estava acontecendo ao meu redor. Tentei, de alguma forma, curtir o momento. As conversas ao redor, as risadas das pessoas, o som das ondas quebrando... tudo isso, de alguma maneira, começou a me distrair. — Então, Gio, como você tá se sentindo? — Carla perguntou, com um olhar preocupado, depois de um tempo em silêncio. Eu respirei fundo, olhando o mar por alguns segundos antes de responder. — Não sei... tô tentando, sabe? Tô tentando esquecer, mas é difícil... Eu realmente achei que ele era tudo pra mim. Carla fez uma careta e me deu um olhar compreensivo. — Eu sei, amiga. Eu sei. Mas você tem que ver que, no fim das contas, ele não te merece. Se ele não foi capaz de te valorizar, você merece alguém que faça isso. Alguém que te olhe como você merece ser olhada. Eu sorri fraco, agradecendo pela sinceridade dela. Mesmo assim, ainda estava quebrada por dentro. O que Hugo fez com a gente, a confiança que eu tinha nele... agora tudo parecia vazio, como se eu estivesse carregando um peso enorme sozinho. A música no quiosque foi ficando mais animada, e alguns casais começaram a dançar perto da gente. Eu observei por um tempo, vendo como eles se moviam, se divertiam. Não era uma diversão forçada, mas uma alegria genuína. Eu queria sentir isso, queria acreditar que poderia ser feliz novamente, mas o que o Hugo me fez parecer tão distante. — Vamos dançar? — Carla perguntou, com um sorriso travesso, tentando me puxar pra fora da minha cabeça. Eu olhei pra ela e hesitei por um segundo, mas depois, pensando bem, aceitei. Era a primeira vez em dias que eu sentia que poderia deixar a dor um pouco de lado. Fui com ela até a pista, onde as pessoas estavam se entregando à música. Tentei me soltar um pouco, não pensando tanto em tudo o que aconteceu, mas na sensação de liberdade que o momento trazia. Carla me puxou mais forte, e eu comecei a me mover com a música. Não era como se eu tivesse esquecido tudo, mas, por um momento, eu consegui relaxar um pouco. Quando olhei ao redor, vi algumas pessoas se divertindo, e percebi que talvez não fosse o fim. Talvez fosse só o começo de uma nova fase pra mim. Eu ainda tinha muito a viver, e, embora estivesse doendo agora, eu não ia deixar que isso definisse tudo. Continua ..... Deixam bilhetinhos 📚 Não esqueça de adicionar na biblioteca 📚😉
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