Capítulo 2
Gio narrando :
O dia com a Carla tava sendo bom. Ela sempre tinha essa energia que me puxava pra cima, mas, no fundo, minhas dúvidas ainda tavam ali. Depois de comer a lasanha deliciosa que ela fez, a gente ficou no sofá conversando.
— Amiga, me escuta — Carla começou, enquanto tomava um gole do vinho que tinha aberto. — Você é jovem, linda, bem resolvida. Tá na hora de dar um sacode no Hugo. O cara precisa entender que não é dono do mundo, e você não é uma planta pra ficar parada esperando atenção.
Suspirei, porque, no fundo, sabia que ela tava certa. Mas era tão difícil enfrentar essa situação.
— Eu não sei, Carla. Às vezes, penso que o problema tá em mim. Que, sei lá, eu mudei, fiquei mais feia, ouais gorda... ou ele perdeu o interesse porque a rotina virou um peso. Eu amo ele, sabe? Mas não sei se ele ainda me ama como antes — confessei, mexendo na taça de vinho na minha mão.
Carla revirou os olhos, impaciente.
— Gio, para com isso! Você sabe que não é culpa sua. O Hugo tá confortável, e homem quando tá confortável demais esquece que precisa manter o fogo aceso. Você tem que dar um jeito de tirar ele dessa zona de conforto.
— Tipo o quê? — perguntei, desconfiada.
— Sei lá, faz ele sentir que pode te perder. Vai dar uma renovada no visual, sai, se divertir... Mostra pra ele que, se ele não der valor, outro dá. Não tô dizendo pra você trair ou coisa assim, mas... faz ele abrir os olhos, amiga.
A ideia de jogar com isso me incomodava um pouco, mas Carla tinha razão sobre uma coisa, eu não podia continuar ignorando o problema. Era o meu casamento, e eu não queria ver ele se perder.
Já era fim de tarde quando decidi voltar pra casa. Enquanto dirigia, o céu alaranjado parecia refletir a confusão na minha cabeça. Quando cheguei, vi o carro do Hugo estacionado. Meu coração acelerou. Ele não tinha avisado que viria cedo.
Entrei, e lá estava ele, sentado no sofá, ainda de uniforme. Parecia exausto, mas seus olhos levantaram pra mim assim que abri a porta.
— Chegou cedo — falei, tentando soar casual.
— Falei que ia vir te buscar pra jantar, lembra? — ele respondeu, com um sorriso cansado.
E naquele momento, eu soube que era a minha chance. Eu precisava falar, abrir o coração. E, dessa vez, ele ia ouvir.
Respirei fundo, larguei minha bolsa no aparador e me aproximei do sofá. Hugo me olhava com aquele mesmo sorriso de sempre, mas eu não conseguia mais fingir que tava tudo bem.
— Hugo, a gente precisa conversar — falei, sem rodeios.
Ele arqueou a sobrancelha, como se já esperasse por isso, mas tentou disfarçar com um tom leve.
— Conversar sobre o quê, amor? Achei que hoje era pra gente relaxar, sair um pouco... — ele disse, se inclinando pra tirar os sapatos.
— Relaxar? Hugo, faz semanas que você m*l para em casa. Quando tá aqui, parece que nem tá. Eu tô cansada disso. Parece que eu tô casada sozinha! — desabafei, minha voz saindo mais alta do que eu pretendia.
Ele parou o que tava fazendo e me olhou, sério.
— Gio, não começa. Você sabe que meu trabalho não é simples. Eu não escolho as operações, e quando as coisas apertam, eu não posso simplesmente largar tudo e vir pra casa — ele respondeu, num tom que misturava cansaço e irritação.
— Eu entendo o seu trabalho, Hugo, mas não é só isso! A gente não conversa mais, não sai junto... Você m*l olha pra mim! É como se eu não fosse prioridade pra você — falei, sentindo um nó na garganta.
Ele passou a mão no rosto, claramente desconfortável. Ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder.
— Gio, eu tô tentando... De verdade. Esse trabalho me consome, mas eu amo você, tá? Eu sei que as coisas não tão fáceis, mas... eu tô fazendo o meu melhor.
— Será que tá mesmo? Porque, às vezes, parece que você só tá acomodado. Que você acha que eu vou ficar aqui pra sempre, te esperando, mesmo que você não me dê o mínimo de atenção! — rebati, sentindo as lágrimas ameaçando cair.
Hugo se levantou do sofá, se aproximou e segurou meus braços com firmeza, mas sem machucar.
— Gio, olha pra mim. Eu não tô acomodado, nem esquecido de você. Eu sei que tô falhando, tá? Mas me dá um voto de confiança. Vamos sair hoje, jantar, conversar. Tentar consertar isso juntos, pode ser? — ele pediu, a voz mais baixa, quase implorando.
Eu queria acreditar nele, queria mesmo. Mas lá no fundo, a dúvida ainda tava ali. Será que ele ia mudar, ou era só mais uma tentativa de me acalmar?
Fiquei em silêncio por alguns segundos, olhando nos olhos dele, tentando entender se aquilo era realmente um pedido sincero ou só mais uma desculpa. Meu coração tava partido, mas ao mesmo tempo, eu não queria perder o Hugo. Eu não queria que tudo que a gente construiu fosse em vão.
— Eu... não sei, Hugo. Eu quero acreditar em você, mas tá difícil — falei, minha voz quase embargada.
Ele apertou mais um pouco minhas mãos, como se fosse a última chance de me fazer acreditar nele.
— Eu te amo, Gio. Eu sei que andei errando, mas eu tô disposto a mudar. Você é a mulher da minha vida, e eu não quero te perder por causa de uma rotina que a gente deixou dominar a nossa relação — ele disse, com uma sinceridade que me tocou, mas, ao mesmo tempo, fez meu coração apertar de um jeito que eu não sabia se era por alívio ou por medo de mais promessas vazias.
Eu olhei pra ele e respirei fundo. Talvez ele estivesse falando a verdade, talvez estivesse tentando de verdade mudar. Mas eu também precisava tentar fazer a minha parte, não podia continuar esperando que ele mudasse sozinho.
— Vamos tentar, então. Mas, Hugo, tem que ser de verdade. Não dá mais pra gente viver no automático, entende? Eu preciso de mais... preciso de você, de carinho, de atenção — falei, quase sussurrando, como se fosse a coisa mais difícil do mundo admitir que eu precisava tanto dele.
Ele assentiu com a cabeça, mais sério agora.
— Eu entendo, e vou te dar isso. Vamos sair hoje, e eu prometo que vou te dar toda a atenção que você merece. A gente vai resolver isso, juntos — ele falou, ainda segurando minhas mãos com firmeza.
Me senti um pouco mais aliviada, mas ainda com um pé atrás. Não queria me iludir de novo, mas o Hugo tinha razão em uma coisa, a gente precisava tentar. Por mais que eu estivesse com medo de mais uma decepção, não seria justo com nós dois se eu não desse a chance de ele provar que poderia mudar.
— Tá bom, vamos sair então — concordei, tentando forçar um sorriso.
Eu queria que fosse simples, mas eu sabia que a coisa não ia ser fácil. Nosso casamento tava precisando de muito mais do que um jantar ou promessas. Mas talvez fosse um bom começo.
Continua ....