Capítulo 12
Gio narrando :
Saí da sala do doutor Jorge e senti o chão sumir debaixo dos meus pés. Cada passo que eu dava parecia mais pesado, como se o peso de tudo o que tava acontecendo tivesse se acumulado ali, naquele momento. Fui direto para a minha sala, sem saber direito o que fazer.
Quando cheguei lá, sentei na cadeira e fiquei olhando para a tela do computador, sem realmente ver nada. A notícia tinha me pegado de surpresa, mas ao mesmo tempo, eu já sabia que a situação do hospital não tava boa. Só que, mesmo assim, ouvir aquilo foi um soco no estômago.
O que eu ia fazer agora? E o meu carro? E a grana que eu tava contando pra pagar as contas? Não queria nem pensar nas opções, porque, sinceramente, nenhuma delas parecia boa.
Fiquei ali, no meu canto, tentando não surtar. Mas não demorou muito até minha cabeça começar a dar um milhão de voltas. Uma parte de mim queria sair dali correndo, largar tudo, fugir dessa realidade que parecia só me jogar pra baixo. Mas outra parte sabia que, se fizesse isso, não ia resolver nada.
Foi quando o celular tocou. Era a Carla.
— E aí, Giovana? Chegou bem no trabalho — ela perguntou, com aquele tom de voz que, sabia eu, tava tentando esconder o quanto ela se importava comigo.
— Eu... fui demitida — falei, sem conseguir esconder a derrota na minha voz.
A Carla ficou em silêncio por um segundo, como se não tivesse acreditado no que eu tinha acabado de dizer.
— O quê?! — ela exclamou. — Mas, Giovana, você é ótima no que faz! Não faz sentido!
— Eu sei... Mas é o que eles disseram. Cortes financeiros e tal. Não tinha o que fazer.
Ela suspirou do outro lado da linha.
— Poxa, amiga... Não acredito. Mas olha, não deixa isso te derrubar, não. Você é forte, você vai dar a volta por cima, eu tenho certeza.
— É, eu sei... Mas agora, o que eu vou fazer? Não sei nem por onde começar, Carla.
— Olha, agora você vai sair dessa, e eu vou te ajudar. Vamos, antes de tudo, descansar a cabeça. Depois a gente pensa nas opções. Vai dar tudo certo, você vai ver.
Fiquei em silêncio por um tempo, tentando acreditar nas palavras dela. No fundo, eu sabia que ela tava certa. Eu tinha que respirar, dar um tempo e ver o que poderia fazer daquilo. Afinal, eu não podia simplesmente deixar tudo desmoronar ali.
— Tá bom... Eu vou tentar, Carla. Obrigada por tudo, de verdade.
— Não precisa agradecer, amiga. A gente vai se ajudar.
A ligação terminou, mas o nó na minha garganta não desfez. Fui até a janela e fiquei olhando para o movimento da rua lá embaixo. O mundo parecia continuar girando, enquanto eu tava ali, parada, sem saber o que fazer a seguir.
Eu peguei as minhas coisas e saí da sala, tentando esconder o que eu tava sentindo. O coração apertado, a cabeça a mil, mas eu sabia que não podia deixar tudo transparecer. Não aqui, não agora. Tinha que segurar, pelo menos até sair dali.
Arrumei o que consegui pegar rapidamente e, com a bolsa apertada contra o peito, saí do escritório. O prédio estava lotado como sempre, mas eu m*l conseguia ver as pessoas ao meu redor, a cabeça cheia demais pra prestar atenção em qualquer coisa. Só queria ir embora, sumir por um tempo, esquecer.
Quando saí para a rua, tomei um susto. Lá estava ele. O Hugo. Escorado no carro, como se tivesse me esperado. Só que, ao invés de me sentir aliviada ou feliz de vê-lo, eu só senti raiva. Uma raiva tão grande que quase me fez explodir ali mesmo. Como ele teve coragem de me procurar depois de tudo que aconteceu?
Eu parei alguns passos antes de chegar perto dele. Ele levantou a cabeça, me viu, e fez um movimento com a mão, como se fosse me cumprimentar. Mas eu não me movi. Não queria que ele se aproximasse.
— Giovana — ele começou, a voz calma, como se fosse tudo normal, como se a gente não tivesse acabado de passar por uma tempestade de confusão e mentiras.
Eu só olhei pra ele, sem saber o que falar, sem saber o que fazer. A vontade de gritar, de bater nele, de chorar era imensa. Mas eu sabia que, naquele momento, não podia ceder a isso.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas sentindo que ela falhou um pouco.
Ele deu um passo à frente, mas eu o interrompi, não queria mais ouvir nada. Não agora.
— Não se atreva a se aproximar de mim, Hugo. Você não tem direito. — E, sem esperar resposta, virei as costas e comecei a andar.
Eu sentia o peito apertado, a respiração falhando. O que eu mais queria naquele momento era ser forte, mas parecia que toda a minha força tinha ido embora junto com a demissão, com o peso da traição, com tudo o que estava acontecendo na minha vida.
Eu dei mais alguns passos, tentando controlar o choro, quando ouvi os passos dele atrás de mim. Ele estava me seguindo. Mas eu não ia ceder. Não mais.
— Giovana, espera. Não vai embora assim. Eu preciso falar com você — ele gritou.
Eu continuei andando, sem olhar para trás. Ele podia falar o que quisesse. Eu não queria mais ouvir.
Eu não sabia o que fazer, então decidi sair dali. Não queria mais ver o Hugo, não queria ouvir nada que ele tinha pra dizer. Aquele aperto no peito, aquele nó na garganta... Eu só precisava de um pouco de distância, de um pouco de silêncio, então peguei o primeiro táxi que apareceu.
Entrei no carro, fechei a porta e fiquei olhando pela janela enquanto ele começava a se afastar. Mas a cidade passava como uma borrada na minha visão embaçada pelas lágrimas. Cada rua, cada esquina, parecia me engolir mais e mais. E, mesmo com o ar condicionado ligado, eu sentia um calor que vinha de dentro, como se meu coração estivesse queimando, esmagado por tudo o que eu tava vivendo.
A viagem inteira foi silenciosa, exceto pelo som da respiração pesada e ofegante que eu tentava controlar. Eu não conseguia parar de chorar. Não conseguia controlar esse turbilhão de emoções que parecia tomar conta de mim. De raiva, de tristeza, de decepção... Tudo misturado.
Olhei pro espelho retrovisor e vi o meu reflexo. Eu não me reconhecia. O rosto inchado, os olhos vermelhos e, no fundo, a sensação de estar completamente perdida. Como cheguei até aqui? Como eu deixei as coisas chegarem a esse ponto?
O taxista não falou nada, provavelmente já tinha visto várias pessoas passarem por momentos como o meu. Só o som do carro e o zumbido da minha mente, me martelando com pensamentos que não paravam de girar. Eu olhei pela janela novamente, mas nada me parecia fazer sentido.
Quando o taxista parou o carro, respirei fundo e paguei a corrida. Ele me deu um olhar gentil, e eu só o agradeci, sem palavras, pagando a corrida. Minhas pernas estavam fracas, mas eu precisava me levantar e seguir, nem que fosse apenas até o apartamento da Carla.
A porta do prédio se abriu na minha frente, e eu entrei devagar, sentindo o peso do meu corpo, como se tudo fosse mais difícil naquele momento. Quando finalmente cheguei no andar dela, minha mão foi até a campainha, mas antes que eu pudesse apertar, a porta se abriu. Carla estava ali, com aquele olhar preocupado no rosto, mas eu não consegui conter a dor.
As lágrimas começaram a cair de novo, sem avisar, e eu me joguei nos braços dela. Ela me abraçou forte, sem falar nada, e isso foi o suficiente para que eu desabasse. O mundo parecia ter desabado sobre mim, e eu não sabia como ia conseguir seguir em frente.
— Calma, Giovana, vai ficar tudo bem. — A voz dela era suave, mas tinha uma força que me fez sentir um pouco mais segura.
Continua ....