ISABEL MITCHELL
Olho para Adam e um arrepio passa pelo meu corpo. Não é de excitação e sim de medo. Não só por mim, mas também por ele. Léon é louco e capaz de qualquer coisa. Só eu sei o tamanho da barbárie que esse monstro pode cometer e, quando seu pai estava vivo, juntos, eram terríveis.
— Léon, solte-a agora. — Seu tom frio faz o meu corpo todo arrepiar.
— Ora, ora, ora... Olha só quem temos aqui, se não é o grande Alfa! — Léon fala ironicamente.
Alfa?
— Que coisa linda, pegando mulheres indefesas — provoca Adam.
— Indefesa? Você não a conhece bem. — O asco é nítido em seu tom de voz.
— Deixe a moça em paz e tudo vai ficar bem — avisa Adam.
— Você não tem nada a ver com isso, Alfa. Essa v***a vai pagar pelo que fez. — Aponta para mim.
Adam me olha, surpreso, e depois volta o olhar para Léon.
Merda! Todo o meu passado, que eu tanto lutei para esconder, está bem na minha frente!
— Não importa o que ela fez, Léon. Vá embora daqui e a deixe em paz.
— Você se acha superior, né? Não tenho medo de você e nem do seu bando, Alfa. Nunca tive, mas não vale a pena brigar com você. Pelo menos não agora. — Léon ri, depois se vira para me encarar.
— Não vou esquecer de você, princesa — ameaça friamente e, em seguida, some no meio da escuridão.
Olho para Adam na mesma hora que o vejo correr em minha direção. Ele me pega em seus braços sem dizer uma palavra e me leva até seu carro, estacionado no final do beco. Sinto minha cabeça pesar e a única coisa que vejo antes de cair no sono é Adam me tirando do carro.
****
Acordo com uma baita dor de cabeça. Sinto minhas costas doloridas, olho em volta e percebo que não estou no meu quarto, mas é óbvio que não. O quarto que estou é muito grande e luxuoso, tem um toque, digamos... masculino.
Só depois de alguns segundos olhando para esse quarto é que a minha ficha cai.
Oh, meu Deus! Eu estou no quarto do senhor Lavisck! Por que ele me trouxe para cá? Me sinto agradecida por ele ter me salvado ontem, mas não precisava me trazer para a casa dele. Levo a mão à cabeça, sentido uma leve dor, e aquelas malditas lembranças voltam a me assombrar.
Por que ele está vivo? Ele tinha que estar morto! Eu mesma me certifiquei de checar! Ele estava com os batimentos fracos e era impossível alguém tê-lo encontrado ainda vivo e o salvado. Pobre pessoa, não sabe o m*l que fez à sociedade salvando a vida daquele monstro.
Sacudo a cabeça para dissipar essas lembranças sombrias e foco no quarto de Adam. Ele é enorme, acho que dá três do meu, ou mais. As paredes vão do preto ao branco, mas tem uma somente de vidro que mostrava uma boa visão da marina de Seattle. A cama é um modelo king size com lençóis e travesseiros brancos; em cada lado da cama tem um abajur todo branco em cima de uma mesinha de madeira envernizada. Vejo três portas da cor branca, uma na minha frente e outra na esquerda, a da direita é uma porta dupla, o que suponho ser um closet. Me levanto e vou para a porta da esquerda, que talvez possa ser o banheiro, e acerto.
O banheiro tem as mesmas cores do quarto. Tudo organizado, luxuoso e bonito. Na banheira poderiam caber umas cinco pessoas.
Me olho no espelho e só agora percebo que não estou com a minha roupa e sim com uma blusa masculina, branca, de manga comprida, que vai até metade das minhas coxas. Olho por debaixo da roupa e vejo que ainda estou com a minha lingerie, branca. Será que a gente transou?
Não, não, não. Isso não!
Vejo meu reflexo no espelho, mostrando uma mulher completamente derrotada, rosto inchado, cabelo bagunçado e uma dor absurda nas costelas. Aquele infeliz me machucou mesmo.
Saio do quarto e começo a andar pelo grande corredor branco ladeado por inúmeras portas e com piso de madeira. As paredes são compostas por várias obras de arte e ao final há uma enorme escada. Desço os degraus e, quando chego ao último, dou de cara com uma sala gigantesca. Olho em volta e percebo que as cores daqui são as mesmas do quarto. Ando mais um pouco e me deparo com dois enormes sofás, na frente deles tem uma grande TV, de última geração. Há uma parede à minha esquerda, só de vidro, e perto dela está uma entrada. Ando até lá, dando de cara com a cozinha mais linda que já vi na minha vida. Ela é toda branca, com o piso também de madeira. A bancada, os bancos, a mesa... tudo só aumenta o ar de puro luxo da casa.
De repente uma mulher sai por uma porta que até então eu não havia visto.
— Bom dia, senhorita Mitchell. Sou Bárbara, a governanta da casa. — A senhora aparenta estar na casa dos 50 anos, bem vestida e ao mesmo tempo simples. Ela é baixinha, morena, tem os olhos castanhos e o cabelo preto com alguns fios brancos, presos em um coque perfeito. A mulher é muito bonita.
— Bom dia. Me chame de Isabel, ou Bel, se preferir. — Sorrio envergonhada.
— Isabel... Um nome bonito para uma jovem tão linda. — Coro com o seu elogio.
— Me desculpe pelas minhas vestimentas. — Ela sorri de novo.
— Não tem problema.
Ela deve estar acostumada a ver mulheres vestidas assim por aqui. Deve achar que sou como as outras, penso.
— Onde está o senhor Lavisck?
— Ele foi correr, como faz todas as manhãs. Logo estará aqui.
— Oh, sim. — Ela começa a ajeitar tudo que suponho ser para o café da manhã. Com muita vergonha, eu pergunto.
— Quer ajuda?
— Tudo bem, menina, não precisa ajudar — responde sem graça.
— Mas é claro que sim, quero te ajudar. — Levanto-me e vou até onde ela está.
— Obrigada.
— Trabalha há muito tempo com o Adam? — indago para passar o tempo.
— Sim! O conheço desde que nasceu. Fui babá dele e o tenho como um filho. Quando ele saiu da casa dos pais, digamos que me "sequestrou" para trabalhar para ele. Faz dez anos que ele mora aqui e que eu trabalho somente para ele e para a sua filha de oito anos.
Filha?
— Eu não sabia que ele era casado. — Estou chocada.
— Mas meu menino não é casado. A mãe da menina Sophia a abandonou assim que ela nasceu. A pequena nasceu com deficiência auditiva; largou ela com o pai e sumiu por aí... — Que mãe faria isso com uma filha?
— Deus! Que espécie de mãe essa mulher é? — falo ainda sem acreditar.
— Ela era noiva dele... — Bárbara diz pensativa.
— E o que houve para ela desistir de tudo? — pergunto curiosa.
— Bom, essa parte eu não sei muito bem, mas pelo que entendi, ela fugiu com um amigo do Adam. Acho que eles eram amantes. — Que p***a!
— Nossa, que coisa triste! Deve ser terrível uma pessoa que amamos fazer algo desse tipo conosco.
— Sim, mas meu Adam faz tudo pela filha dele, ela é a razão da sua vida.
— Eu posso imaginar. — Sorrio. — Onde ela está agora?
— O menino Adam leva a sua filha para a escola todos os dias pela manhã; eles sempre vão andando, já que a escola fica próxima daqui. Depois de a deixar lá ele vai correr. — Ela para de falar e me encara. — Desculpe, mas juro ter a impressão de já te conhecer... — diz, pensativa.
— Deve ser só impressão mesmo — murmuro ainda pensando no fato de Adam já ter uma filha e, ainda de quebra, ter sido abandonado pela noiva.
— Não, é que você me lembra muito a...
— Bom dia. — Uma voz incrivelmente sexy ecoa pela cozinha, interrompendo Bárbara.
Quando olho para trás, vejo Adam com somente uma toalha enrolada na cintura, os cabelos molhados, parecendo ter acabado de sair do banho.
Nossa senhora das periquitas pegando fogo, chama o bombeiro porque a minha está em chamas! Deus! Que homem mais gostoso. E esse tanquinho? Acho que molhei a minha calcinha.
— Adam, vá colocar uma roupa, por favor. — Bárbara ordena e Adam ri, se aproximando dela.
— Que foi, Bah? Não resiste a mim, não é? — Ele ri.
— Olha, menino... Eu vou te dar umas chineladas, hein! — Ela tenta ficar séria, mas não consegue.
— Oi, Isabel. — Me cumprimenta com a sua voz sexy.
Nossa, que calor que ficou aqui de repente.
— Oi. — É a única coisa que consigo dizer.
—Trouxe umas roupas para você vestir, estão lá no quarto. A sua estava muito suja, então mandei lavá-las. — Isso explica porque estou com esta blusa.
— Foi você que tirou a minha roupa? — sussurro sentindo minhas bochechas ruborizarem.
— Sim. — Ele se aproxima.
— Por que me trouxe para sua casa? — pergunto, hipnotizada pelo seu olhar.
— Porque eu quis. — Ele responde tão próximo de mim que posso sentir o calor do seu corpo.
— Jura que vai bancar o arrogante agora? — Adam ergue uma sobrancelha e sorri.
— Eu só respondi a sua pergunta.
Escuto a campainha tocar e Bárbara sai para atender.
— Você é tão i****a — murmuro.
— E você é muito m*l-agradecida. — Sou pega de surpresa quando os braços de Adam circulam a minha cintura, me puxando para si.
— Mas o que...
— Salvei sua vida ontem, poderia apenas me agradecer — sussurra bem próximo do meu rosto.
— Obrigada, mas mesmo assim, tenho muitas perguntas para te fazer. — Olho bem nos seus olhos.
— Eu também. — Adam vai se aproximando dos meus lábios aos poucos e quando vai me beijar...
— Maninho, sábado temos... Nossa! — Desvio o olhar de Adam e vejo Carlos com os olhos arregalados nos encarando. Olho para ele querendo enfiar minha cabeça em um buraco bem fundo.
MERDA!
Sinto que estou vermelha feito um tomate. Ai Deus! Onde foi que eu me enfiei? Por que essa peste me trouxe para a casa dele?
— Carlos, eu posso explicar... — Tento me manter calma.
— Você não precisa me explicar nada, loirinha. O que você e meu irmão fazem não é da minha conta. Só que isso é estranho. — Carlos tenta reprimir uma risada.
— E por que seria estranho? — Adam pergunta. Olho para ele com os olhos arregalados.
Ele é louco? Quer piorar ainda mais a situação?
— Está na cara, Adam. Ela é bem mais nova que você, é atrapalhada, e você detesta pessoas assim, ela adora contrariar todo mundo e você odeia ser contrariado, ela fala m*l de você e ainda por cima é alegre e você sério. Quase nunca te vejo rir como eu vi há alguns minutos. — Já posso matar o Carlos?
— Carlos, seu bastardo — falo irritada.
— Então quer dizer que ela fala m*l de mim? Interessante — comenta Adam, com um meio sorriso. Deus, que sorriso!
Espera! Por que ele está sorrindo? Por saber que falo m*l dele? Definitivamente ele é estranho.
— Desculpa, loirinha, mas é que eu fui pego de surpresa. Nunca, em hipótese alguma, poderia imaginar que vocês....
— Não fizemos nada. Não estamos juntos, não aconteceu nada do que está pensando. — O interrompo.
— Pode até ser, mas é difícil imaginar o contrário vendo vocês nessa situação. — Aponta para nós dois.
— Chega! Eu vou me trocar, quero ir embora. — Saio da cozinha batendo os pés.
Onde já se viu, eu e aquele irritante do Adam juntos? Isso sim é impossível. Só Carlos mesmo para pensar essas coisas absurdas.
ADAM LAVISCK
— O que a Bel realmente estava fazendo aqui, Adam? — Carlos questiona me tirando do transe.
Eu estava olhando-a sair da cozinha, admirado com aquela b***a mexendo para lá e para cá. Como ela é gostosa.
— Ontem à noite um homem tentou estuprá-la no beco escuro perto do ponto de ônibus próximo da empresa. Cheguei a tempo de impedir que o pior acontecesse. Com a confusão ela acabou desmaiando, e eu a trouxe para cá — digo naturalmente.
Boa parte disso é verdade, mas é óbvio que não irei contar o que realmente aconteceu naquele beco. Seria arriscado demais para mim. Carlos não precisa saber que reencontrei Léon.
— Eu já falei para ela inúmeras vezes que quando sair tarde do trabalho me pedir para levá-la, mas ela não me escuta... Eu também fui i****a; antes de sair, Isabel estava conversando comigo. Deus! Poderia ter acontecido algo pior — diz Carlos chocado.
— São tão íntimos a ponto de se sentir responsável por ela? Aliás, eu nunca a tinha visto na empresa.
— Isso é estranho. Você sempre sabe de tudo ali — fala, debochando.
— Muito engraçado — ironizo.
— Hiz e Jena devem estar muito preocupados com ela.
— Quem são eles? — pergunto.
— São os pais adotivos da Isabel.
— Ela é adotada? — Será que ela é... Não, não é possível.
— Sim, ela me contou um pouco da sua história e o pouco que ouvi já me fez sentir m*l por ela.
— E o que ela te disse?
— É o passado dela, Adam. Não posso contar. Ela confiou em mim e na Abby para isso. Abby sabe mais do que eu, inclusive.
— Quando vai assumir logo que você é gamado na minha secretária? — indago lhe dando um tapa no braço.
— Por mim já teria assumido, ela que não quer. Tem medo do que as pessoas vão dizer dela.
— Isso não tem nada a ver. — Realmente não tem.
— Você falando essas coisas para mim? Quem é você e cadê meu irmão? — Ele ri.
Eu sei que mudei muito de uns anos para cá. Me tornei muito frio com as pessoas, incluindo a minha família. Mas ainda sim, eu os amo demais.
— Sou seu irmão, Carlos, sempre que precisar estou aqui. Abbygrey é uma mulher boa e gentil, não é igual as outras da empresa ou as que você já comeu — digo seriamente.
— Isso é verdade. Gosto muito dela e nunca me senti assim antes com mulher nenhuma — confessa, sorrindo igual a um i****a.
— Pelo seu sorriso i****a, deu para perceber — debocho.
— Está muito brincalhão hoje, o que é raro. Isso tudo é por causa da Isabel?
Realmente isso é raro. Para falar a verdade, nem eu sei porque estou de bom humor hoje, penso.
— Não, claro que não — respondo rapidamente. É claro que não é por causa dessa garota.
— Sei — diz desconfiado.
— Já reparou no sobrenome dela, Carlos? — pergunto querendo mudar de assunto.
— Mitchell. O que tem de mais nisso?
— Lembra da Julia e do Benjamin?
— Lembro sim... Espera, agora parando para pensar. Você acha que ela é... — Ele não consegue terminar a frase.
— É possível. Tem anos, mas mesmo assim, a semelhança entre elas é incrível.
— Eu achava que o sobrenome era só uma coincidência, acho que por isso me aproximei tanto dela — confessa.
— E ainda por cima elas são bem parecidas — murmuro pensativo.
— Podemos perguntar mais sobre ela — sugere Carlos.
— Não, talvez ela não seja e não queremos que mais ninguém saiba disso, prometemos a mamãe que esse seria um segredo que jamais seria revelado e que o levaríamos para o túmulo.
— Então o que iremos fazer?
— Será que a mamãe iria reconhecê-la? — pergunto.
— Provavelmente sim. Mas como iremos levar Isabel até a casa da nossa mãe sem que ela desconfie de algo? — Carlos indaga.
— Não sei, mas também poderemos levar a mamãe até a empresa. Seria mais fácil.
— Sim, mas com qual desculpa?
— Não sei, mas vamos pensar em alguma coisa; também não podemos comentar nada com a dona Kátia, não queremos dar falsas esperanças a ela. — Carlos concorda.
— Olha, já está na minha hora e tenho uma reunião importante agora de manhã.
— O que você veio fazer aqui mesmo?
— Saber se no sábado você vai mesmo para o baile de máscaras que a mamãe está organizando. Ela me obrigou a vir aqui e intimá-lo a ir. Espero, pelo seu bem, que vá. — Sorrio, imaginando minha mãe obrigando Carlos a vir aqui.
Dona Kátia é uma mulher de personalidade bem forte. Não é à toa que sou assim, conheço minha mãe e foi a ela que puxei. A amo e, como sempre, ela consegue me convencer a fazer as coisas que detesto, como ir a esse tipo de festa, por exemplo.
— Vou sim, pode avisar a ela. Agora me deixe subir que tenho de me arrumar para ir para a empresa. — Me despeço do Carlos e subo para meu quarto. Antes que abra a porta, ouço a voz de Isabel que parece falar ao telefone.
Sei que é feio ouvir atrás da porta a conversa dos outros, mas preciso saber mais sobre essa menina. Ela é um mistério que quero desvendar.
— Desculpe, Hiz... Quando chegar à casa lhe explico tudo... Sim, aquele homem que te falei que me fez m*l no passado voltou... Estou bem, sim, o meu chefe me salvou dele... Ele perguntou sim, mas sabe como sou, a vida é minha e ele não tem nada a ver... Sim, entendo... Diga para Jena e Pedro não se preocuparem... Vou ter de desligar... Tchau.
Quando ela termina a ligação eu entro no quarto. Ela se assusta e eu me assusto mais ainda com a cena diante dos meus olhos.
Isabel está em pé, de lingerie branca, encostada na porta do banheiro. Merda, como ela é gostosa! Eu a vi assim quando tirei sua roupa para pôr uma blusa minha, mas agora, olhando-a por completo, sinto meu p*u latejar.
Droga, eu não posso! Ela corre para o banheiro, se trancando lá, e eu fico com cara de i****a encarando a porta por onde ela passou.
Como pode uma menina da idade dela ser tão gostosa assim? Deus, ela é uma tentação de mulher. Deveria ser proibida de andar por aí de tão linda que é.
Balanço a minha cabeça. Controle-se, Adam, ela é só uma menina e, se suas suspeitas estiverem certas, você nunca poderá tê-la. Nunca!