ISABEL MITCHELL
Entro na sala do senhor Lavisck me sentindo uma criança que logo irá receber uma bronca. Quando ele se senta e faz menção em falar, eu o interrompo.
– Senhor Lavisck, não foi minha intenção dizer aquilo do senhor, é que...
— Não quero lhe dar uma bronca pelo que você disse lá na sala da Abbygrey, mesmo você merecendo muito mais que uma bronca. Sou seu chefe e exijo respeito, não tolero certos tipos de coisas, como as que você fez desde que saiu da minha sala, me chamando de i****a, e até o que disse de mim para outros funcionários.— Seu tom é sério.
— Desculpe. Então por que me chamou?
— Nunca vi você por aqui. Conheço todos os meus funcionários, menos você, o que é muito estranho.— diz, mexendo nas gavetas, logo em seguida, coloca uma pasta preta na mesa e começa a olhá-la.
—Pensei que o senhor fosse mais cuidadoso.— falo sem pensar.
Controle sua língua, Isabel! — me repreendo.
— Eu sou sim e por isso estou analisando seu currículo e sua ficha de funcionária. Quero te fazer algumas perguntas.
— O que precisa saber de mim para trabalhar em sua empresa está nesses papéis, não há nada mais a acrescentar. — Sou ríspida.
—Além de abusada quer se fazer de misteriosa?— Sorri.
Nossa! Que sorriso!
— Não estou tentando me fazer de misteriosa, apenas estou deixando claro que não vou dar nenhuma informação da minha vida pessoal.
— Não disse em nenhum momento que faria perguntas pessoais. — Ai! Essa doeu.— Bom, vamos ver... Você tem apenas dezenove anos mesmo? — pergunta parecendo chocado.
— Por que eu iria mentir sobre isso?
— Você não parece ser tão nova, pelo menos não no físico; é bem desenvolvida, se é que me entende.— Ergue uma sobrancelha.
— Eu sou uma mulher com dezenove anos e muitas experiências.— Ele recosta-se na sua cadeira, inclina um pouco a cabeça para o lado e coça a barba rala.
— Que tipo de experiências?— Posso ver um sorriso cínico se formar em seus lábios.
Credo que delícia... Quero dizer, que abusado, penso.
— Coisas que não te dizem respeito.— Sou grossa.
— Você é muito abusada. Alguém tinha que te dar uma lição para deixar de ser assim. Sou seu chefe e deveria me respeitar e, ao menos, responder às minhas perguntas.— Olho para ele chocada e irritada por suas palavras.
— São perguntas que eu não sou obrigada a responder. São coisas pessoais.— Desvio o olhar.
— Posso te demitir por falar assim comigo.— Ele ameaça, com a voz grave e mais grossa.
— Certas perguntas devem ser respondidas da forma como elas foram feitas.— Ele ri.
— Boca esperta e bonita, gostei.
Ele tira o paletó e se exibe, mostrando seus músculos firmes e grandes, que podem ser notados mesmo com a blusa azul que os cobrem. Retira a gravata e a deixa em cima da mesa.
Esse homem pode ser o que for, mas é muito sexy e lindo, penso.
— Está me assediando? Posso muito bem denunciá-lo por isso.
— Não estou te assediando, não preciso disso para ter uma mulher.— diz com um sorriso debochado.
— Desculpe, senhor Lavisck, mas tenho mais o que fazer, com licença.— Me viro para sair de seu escritório.
— Não mandei você sair.— Paro no mesmo instante e me viro para olhá-lo.
Deus! Como nunca dei atenção para o quanto ele é lindo? Esses olhos azuis que estão me olhando... de um jeito que me arrepia toda, é tão intenso.
— Não tenho mais nada para fazer aqui, senhor Lavisck. Creio eu que essa conversa não vá levar a nada e eu estou sem paciência para certas coisas. Preciso trabalhar e o senhor também.— Me viro de novo para sair, mas mais uma vez sou interrompida quando sinto braços me puxarem e logo em seguida sinto um corpo me pressionando contra a parede.
— Como eu havia dito, você é muito abusada. Merece levar umas palmadas que te deixem sem poder sentar por vários dias e eu teria um grande prazer em fazer isso.— Ele está tão próximo do meu rosto que posso sentir seu hálito quente; sua boca está tão próxima da minha que se eu me inclinar só um pouco, vou sentir seus lábios nos meus. Posso ver claramente a intensidade do seu olhar e estou totalmente hipnotizada por esses olhos. Baixo o meu olhar para os seus lábios e ele os morde, me fazendo engolir em seco.
Ô, tentação!
— Eu tenho de ir.— digo, tentando mostrar que estou calma, mas não estou. Ele coloca uma mão no meu rosto e começa a me acariciar. Confesso que senti minha pele queimar, meu corpo se arrepiar e minha v****a pulsar.
— Não é o que seus olhos me dizem, muito menos seu corpo.— Adam pega na minha cintura e me junta mais ao seu corpo, em um encaixe perfeito.
— Como você é... Convencido.— sussurro e ele dá um meio sorriso que faz meu íntimo se molhar todo.
— Você é tão linda.— Passa o polegar pelos meus lábios, me fazendo fechar os olhos automaticamente, quando os abro ele está me olhando com um sorriso diferente, me despertando do encanto maldito que ele me pusera.
— Com licença.
Junto todas as minhas forças e saio de sua sala, indo correndo para a minha. Dou graças a Deus quando chego lá e não vejo Abby nem Carlos. Me jogo no sofá bege em forma de L que tem no escritório e relaxo.
Meus pensamentos vão logo para o que aconteceu na sala do senhor Lavisck. Que homem mais arrogante! Confesso que gostei, mas isso é errado, ele é errado. Além de ser meu chefe, ele é um grande cretino, que adora f***r qualquer uma e eu não sou qualquer uma. Será que ele estava só de zoação com a minha cara? Não, não estava. Se não tivesse saído logo de lá, ele iria me beijar ou até mesmo... Não, isso não pode acontecer! Não posso largar meu emprego, pois preciso dele. Mas posso evitá-lo.
Isso mesmo! Vou fazer o possível para não dar de cara com ele. Não sei como eu reagiria na frente dele depois de hoje.
Nossa, como estou sendo covarde. Essa não sou eu. Sou Isabel Mitchell, que não tem medo de nada. Tenho certeza que ele irá agir como se nada tivesse acontecido, então se vai agir assim, eu também vou.
****
No meio da tarde eu aproveito que estou com o tempo livre para sair e vou até a cafeteria do outro lado da rua, compro um copo de cappuccino e volto para a empresa. Assim que o elevador se abre, uma pessoa entra na minha frente, quase me derrubando no chão. Quando ergo o olhar, vejo que não é ninguém menos que Adam Convencido Lavisck.
Azar ou sorte?
— Deveria olhar por onde anda, senhorita Mitchell.— diz sem me olhar. Assim que as portas do elevador se fecham, olho para ele, irritada.
— Educação se usa também, sabia? O senhor que saiu atropelando os outros. Não tenho culpa por ser tão... arrogante e m*l-educado. Só porque é dono da empresa não pode fazer isso com as pessoas.— Não escondo a minha irritação e simplesmente não consigo me conter em falar umas verdades a esse i****a.
— Vejo que continua abusada.
— Eu nasci assim, sou assim, esse é meu jeito e não vou mudá-lo por ninguém; sinto muito que não gosta.— falo bem alto, com direito a mão na cintura e tudo.
Adam fica me encarando com a maior cara de paisagem, mas não por muito tempo, pois logo vejo um sorriso se formar em seus lábios.
— Você fica sexy com raivinha.— Sorri.
— Aff! Não dá para dialogar com o senhor.— As portas do elevador se abrem e aproveito para sair dali o mais rápido possível. Mas antes o escuto dizer:
— Não adianta fugir, menina abusada.— Juro que senti vontade de me virar e lhe mostrar o dedo do meio, mas me contive por dois motivos: ele é meu chefe e não posso ficar falando assim o tempo todo; se eu o olhar mais uma vez, vou acabar me derretendo por aquele sorriso de arrancar calcinha.
Meu Deus, sou muito confusa! Uma hora quero enforcá-lo e outra ficar admirando a sua beleza. Droga! Por que nós mulheres não podemos ter o combo lindo, gentil, inteligente, atencioso, humilde e sedutor?
****
— Você está estranha.— Carlos fala, me tirando dos meus devaneios.
— Estou normal. Só um pouco cansada.— Eu não poderia falar “é que o seu irmão gostoso não sai da minha cabeça”.
— Qual é, loirinha? Você ficou assim desde que saiu da sala do meu irmão.— O que ele te fez?
— Seu irmão é um arrogante.— digo sem pensar.
— Adam nem sempre foi assim. Acredite, ele era um amor de pessoa. Se você me acha brincalhão é porque não o conheceu alguns anos atrás.— Essa última frase me desperta a curiosidade.
— E o que aconteceu para ele ficar assim?
— Não posso dizer, é um assunto pessoal dele. Seria errado te contar.
— Te entendo.— Carlos cruza os braços, ergue uma sobrancelha e com um sorriso i****a, pergunta:
— Mas por que esse interesse de saber sobre meu irmão?
— Só curiosidade mesmo em saber como uma pessoa pode ser igual a ele.— Finjo não me importar.
— Sei..., mas, afinal, o que tanto conversou com meu irmão naquela sala? Se ele não te deu uma bronca nem nada, o que vocês tanto conversaram?— pergunta de novo, desconfiado.
— Ele queria saber quem eu era. Disse que nunca tinha me visto por aqui.— Isso é verdade.
— Hum... Sei.
— Carlos, não aconteceu nada. Agora me dá licença que estou morrendo de fome e sono. Só quero ir para casa e dormir.— Pego as minhas coisas.
— Quer carona para casa? Só vou pegar uns documentos, Abby foi embora mais cedo porque já havia adiantado o trabalho. Tenho de passar para buscá-la em casa para irmos jantar e, como é caminho, eu...
— Não precisa, pego um táxi, já está tarde... Não se preocupe.— Me aproximo e dou um beijo em seu rosto, logo em seguida me viro e saio da sala.
Óbvio que não vou pegar táxi, tenho de economizar.
Assim que passo pela porta da minha sala, dou de cara com Adam saindo da dele também; quando ele me vê, vem em minha direção em seguida. Sei que vai soltar mais uma de suas gracinhas, então decido ignorá-lo e sair logo da empresa.
Já no ponto de ônibus, percebo que, pela hora, minha condução já passou, o que me faz ter de aguardar por outra. Isso me incomoda, porque irá demorar e o lugar está muito deserto.
Sinto que estou sendo observada, olho em volta e não vejo ninguém. Me assusto quando uma mão me puxa.
— Você?— Não tenho certeza que meus olhos estão vendo mesmo ele, os mesmos estão arregalados.
— Oi, princesa, sentiu minha falta? Pensou que tinha me matado não é, lindinha? Se enganou.— Ele me prende contra a parede e aperta meu pescoço.
— Me solta!— grito, o que o faz apertar mais ainda sua mão em meu pescoço.
— Que foi, lindinha? Está com medo de mim? Não foi isso que demonstrou quando tentou me matar, sua vadia.— diz com frieza, o que me faz ter mais medo ainda.
— Era para você ter morrido, seu infeliz.— Cuspi as palavras na cara dele, seu sorriso vai sumindo e dando lugar a um olhar de raiva e ódio.
— Antes de matá-la, vou terminar o que comecei junto com o meu pai há alguns anos, querida Bel.— Ele sorri e me empurra para um beco escuro que tem ao lado do ponto de ônibus e me joga no chão, me fazendo bater a cabeça com força. Grito com a dor que o impacto me causa e ouço sua gargalhada ao ouvir meu grito. Ele me acerta um chute na costela. Infeliz!
— Socorro!— Tento gritar novamente, mas não consigo, a dor é tanta que me impede até de falar.
— Faça o que quiser, ninguém vai te ouvir, princesa. Estamos sozinhos, como nos velhos tempos, meu amor. Pena que meu pai não está aqui para participar dessa festinha.
— Seu pai está no inferno.— Minha voz sai entrecortada.
— Sim, e por culpa sua. Agora, depois de me divertir com você, também vai fazer companhia a ele, e meu querido pai vai te estuprar no inferno!— vocifera se aproximando.
— Não.— Tento me arrastar para o mais longe possível.
— Acabou, lindinha.— Ele me levanta pelos cabelos e quando estava prestes a tirar a minha blusa, ele para ao escutar uma voz.
— Solta ela!— Olho na direção da voz e me surpreendo.
ADAM!