Julia: Mamãe era uma pessoa inteligente, bonita, humilde, simpática e otimista em tudo. Tinha grande amor pelos animais, e estava sempre disposta a ouvir pacientemente as colegas sobre as suas inquietações e ajudar ensinando-as a livrar-se dos males, como a inveja, mágoas e ambições. A minha avó Maria, informada pelas almas guias sobre os dons da minha mãe, a iniciou nos trabalhos de simpatias e magias brancas, ensinando-a como fazer as coisas, bem como, qual seria a serventia de cada um desses feitiços de proteção.
Julia: Após a iniciação, mamãe passou a atender, em conjunto, as clientes pontuais da minha avó, que preferiam conversar mais com a minha mãe, pois, relatavam que se sentiam em paz após os ritos de limpeza da “áurea”, enquanto a minha vó era mais seca e direta na consulta. Mamãe conseguia fazer com que o bem-estar, das clientes da vovó, durassem mais, indo além do uso das simpatias, o que propiciava o aumento da autoestima para não deixar que os obsessores causassem m*l, ensinando como evitar que eles agissem na vida delas.
Julia: Mamãe, ainda jovem, por meio de amigos em comum, conheceu o meu pai, e foi tomada por uma paixão à primeira vista, e logo começaram a namorar. Mamãe tinha uma beleza encantadora, e nesse quesito puxei a beleza dela. (risos)
Julia: Todavia, por ser muito apegada a mamãe, ela confidenciou alguns detalhes desse encontro e que um dos guias, que a aconselhava, desaprovou o namoro com meu pai, sem revelar o motivo, limitando a informar que seria um relacionamento difícil. O guia informava que ela estava sendo induzida por um espírito da paixão, e precisava aguardar mais um pouco, pois, iria aparecer outra pessoa melhor. O meu pai, nos primeiros dias de namoro, ocultou da mamãe que frequentava centros de magias negras, e que seria um discípulo iniciante, induzido ao serviço por seu pai, conhecido como Chiquinho do tambor, que o queria como sucessor na arte de tocar o tambor nos encontros. O fato que era conhecido pelas almas guias que assessoravam a minha mãe e, não querendo que o meu pai a desencaminhasse, não queriam a aproximação dos dois. Meu pai era seis anos mais velho que a minha mãe, e era um homem muito eloquente, fato que conquistou minha mãe e o fez se destacar diante dos outros pretendentes.
Julia: Todavia, mamãe tinha o segredo de der bruxa branca e, da mesma forma, também ocultou do papai que era descendente de bruxa e que atendia juntamente com a vovó. As almas vagantes que se apresentavam no centro de magias negras não informaram nada a respeito para o meu pai, contudo, ele ficou sabendo que minha mãe era bruxa por uma “amiga”, que estava interessada nele, que ao saber do interesse do papai por minha mãe, passou a difamá-la na cidade, com o objetivo afastá-los e ter chances de namorar com meu pai. No entanto, a ação da “piriguete” não surtiu efeito, pois, o meu ignorou e agiu com extrema frieza ao fato, por ocultar que era aprendiz da magia n***a, seguida por seu pai, o Chiquinho batuqueiro ou Chiquinho do tambor.
Julia: Mamãe, na fase de conhecimento, pouco sabia da vida do meu pai, pois não gostava de ouvir os burburinhos da cidade. Sabia que ele era um professor de história na rede de ensino local, e que se interessava por peças antigas, principalmente aquelas que eram usadas em rituais dos povos antigos e espalhados pelo mundo. Nunca imaginou qual a origem desse interesse pela história das magias, feitiçarias e bruxarias.
Julia: Meus pais namoraram as escondidas, pois, meu avô materno era da linha dura e não queria que mamãe namorasse com nenhum desocupado ou moleque da região. A minha avó Maria, quando informada pelas suas almas guias que mamãe estava namorando, informaram que o homem que era bom, porém, poderia se perder nas trevas e com isso prejudicar o desenvolvimento da mamãe. A vovó assim aconselhou mamãe:
Vó Maria: Tome cuidado minha filha, pois os guias revelam que você sofrerá por causa desse homem, que pode tomar decisões precipitadas. Quando joguei as cartas, para tirar as dúvidas, elas revelam que ele será uma boa pessoa para você, mas o excesso de informações tortuosas pode fazê-lo com que se perca nas trevas, como esses cegos espirituais.
Julia: Eu ainda não havia nascido, mas pelo que minha mãe me falou a respeito desse tempo, mostra o quão era grande a ligação dela com aquelas almas vagantes que ela chamava de guia. Mamãe era uma pessoa de coração bom, mas me questionei: por qual motivo as almas guias da minha mãe e da minha avó não revelaram a vida oculta do meu pai, nos centros de prática de magias das trevas. Se conheciam o futuro, por que não os advertiram sobre as tragédias que aconteceriam conosco?
Julia: Vovó não era uma bruxa tradicional. Ela considerava-se a precursora da renovação da bruxaria, sendo assim uma dissidente dos padrões adotados por outros bruxos, e seguia os ensinamentos das almas guias que a orientava, e assim, fazia uso de muitos amuletos, lia cartas, fazia simpatias, preparava essências e banhos com ervas, fazia defumações com incensos na casa e uso do sal grosso de diversas formas, bem como tudo que representavam magia banca, que não causavam m*l as pessoas, mas a protegia das investidas das almas vagantes. Minha vó fazia consulta as almas guias para ela e para as suas clientes. No meu despertar, questionei-me: quando usamos a ajuda de almas guias para saber coisas sobre nós, não estaríamos tirando essas almas do seu caminho e do descanso? Não foi assim que a o profeta Samuel, quando foi invocado por uma vidente a pedido do Rei Saul disse: Por qual motivo me perturbas no meu descanso? Quando as invocamos pedimos algo, não o transformamos eles em servos dos homens e desviamos eles da real missão, que é assistir diante de Deus? E quem faz isso as almas que penas nas trevas, não estariam selando um pacto maligno com elas?
Julia: Mesmo não contando com a aprovação das almas guias, o amor entre meus pais falou mais alto, como se estivessem conectados antes da vinda para este plano. Eu não compreendia como meu pai, praticante das magias das trevas, era um homem ordeiro e fiel a mamãe, enquanto que muitos homens que frequentavam a igreja, casados, pastores de rebanhos, eram infiéis. Mesmo que divergissem em alguns assuntos, eles conseguiam se entender no amor, e vi que o elo feito pelo amor verdadeiro, é maior que as paixões deste mundo, que são voláteis. Consegui compreender que a fidelidade conjugal não tem ligação com a religiosidade dos cônjuges, mas o quanto você realmente entende e aceita as diferenças do outro e não deixa isso transcender os votos matrimoniais e influenciar o relacionamento conjugal. Como aprendi isso? Você saberá mais quando conhecer a minha história com Benjamim, o relacionamento da bruxinha com o filho de um pastor.
Julia: Voltando a história da minha mãe, em um descuido, engravidou, quando tinha 19 anos. Calma, essa gravidez ainda não era eu, mas meu irmão Juliano, que recebeu esse nome, que derivava do nome de mamãe, que vocês se lembram que se chamava Juliana.
Julia: Por ficar muito preocupada com a reação da família e os buchichos dos parentes e das pessoas próximas, que eram preconceituosas quanto a mãe solteira, hipocrisia seguida pelos meus avós, inicialmente mamãe ocultou a gravidez por 3 meses, até que resolveu falar conversar com a vovó e confessar tudo.
Juliana: Mamãe, não sei como falar.... Sei que ficará decepcionada comigo..., mas eu estou grávida.
Vó Maria: Julia, eu já sabia que você estava grávida, pois, os guias revelaram, e informaram que será um menino. Ele será bem sensitivo em ver, ouvir e sentir os irmãos desencarnados que habitam no plano espiritual. Ele poderá ver tanto os anjos como os espíritos das trevas, que o tentarão, e perturbarão o menino para que ele se desvie do nosso caminho, mostrando-lhe o caminho das trevas. Intentarão fazer o mesmo com você. Você vem ignorando os seus guias pela vergonha deles e para não assustar o seu amado, mas, o seu amado, não pode vê-los, pois não é sensitivo para eles. Quanto a gravidez, não há nada para fazer, pois, o menino nascerá e será amado pelo seu pai e por seu avô, porém, terá um gênio forte. Então acalme o seu amado e diga que não tente enfrentar de frente o seu pai, pois, vejo que serão bons amigos. Quanto a você, não se desvie dos teus propósitos na bruxaria, mesmo que seja combatida pelas forças das trevas.
Julia: Foi mais ou mesmo assim que as duas conversaram, sendo que a conversa durou algumas horas e ao final as duas se abraçaram e planejaram como dariam a notícia para o meu avô Juarez. O meu pai já frequentava a casa, contudo, e tinha longas conversas com meu pai por ser professor universitário e meu avô gostar de histórias antigas, assunto preferido dos dois. Meu avô não teve oportunidade de estudar. Ficavam horas conversando na varanda da casa após o jantar, falando sobre as curiosidades de vários lugares. Segundo contou mamãe, não tendo mais como esconder a barriga, que crescia, combinou com o meu pai como iria agir, e deixasse o resto com ela e a minha avó. Certa noite meu pai fez uma visita formal, pois, a minha avó, preparou um jantar especial. Durante o jantar, a minha mãe iniciou o assunto, enquanto meu pai ficou calado.
Juliana: Meu pai, minha mãe, não sei como falar, mas estou grávida e vou me casar com Júlio. Queria as suas bênçãos!
Julia: Antes que meu avô falasse, minha avó, que falava mais que meu avô, resolveu falar, assim que minha mãe terminou de falar, para evitar que meu avô, um homem rude, fosse deselegante com as palavras naquele momento.
Vó Maria: Minha filha! Como isso aconteceu, não mais interessa, pois, você já é adulta, e mesmo que não aprovássemos o que fizeram, não poderíamos mudar o resultado e a decisão de vocês. O importante é saber que estão enfrentando a situação como pessoas maduras e não como dois inconsequentes. Que sabem da responsabilidade de ter um filho e cuidar, com amor e dedicação, como eu e o seu pai cuidamos de você. Fico feliz que já estão planejando o casório, contudo, eu quero sim contribuir com a organização e ajudar no que for possível. Eu aprovo a união de vocês, pois, vejo que o Júlio é um homem sensato e dedicado ao trabalho e que vai cuidar de você. Vejo que ele tem caráter por ter vindo aqui, e não ter fugido como fazem os moleques. Caráter é virtude que ou a pessoa tem ou não.
Vô Juarez: Eu, ainda estou chocado com a notícia. Não sei o que falar, mas uma onda de decepção veio..., mas... após ouvir a sua mãe, e olhando por esse lado, percebo que vocês, mesmo após a imprudente atitude, estão mostrando maturidade para conduzir a situação. Na minha cabeça vem um filme, que me leva ao passado de quando conheci a sua mãe e, da mesma forma ela engravidou, em uma época um pouco mais rudimentar. Meus sogros, que Deus os tenha, foram super compreensivo, e ainda nos deram uma casa e me colocou a frente dos negócios, que sigo até hoje. Tudo que aprendi devo aos meus sogros. E não podia agir diferente com você, Júlio. Não poderia expulsar, pois não foi assim que os meus sogros me trataram no passado. Juliana é nossa filha única, pois, Maria teve problemas na gestação, e não tivemos mais filhos. Mas hoje, por um lado, sinto receio por achar que não estão preparados, mas por outro lado, fico feliz, por ser avô, e minha filha dar continuidade, nos dando um herdeiro, e que seja homem. Eu vejo a sua dedicação nos trabalhos e estudos. Vejo que és uma pessoa atenciosa e já estava vendo seus olhares para Juliana quando ela vinha, diversas vezes, ver se precisávamos de algo... (risos). Mas... quanto ao receio... só tenho uma forma de resolver, não apenas concedendo as bênçãos a união de vocês e ao meu neto que virá, mas ajudando nesse início de jornada. Afinal, tudo que nós, eu e Maria, temos construído é para ela.
Julia: Mamãe contou que o meu pai e o meu avô, após o jantar foram para a varanda, como era o costume, para beber as cervejinhas deles e falar, não mais de história, mas sobre o casamento, que ficou decidido que seria uma cerimônia simples e sem convidados, e em seguida mudariam para uma cidade próxima, onde ambos iriam começar a vida longe dos “fofoqueiros”. Dessa vez minha avó sentou-se ao lado do vô Juarez e mamãe ao lado do meu pai.
Julia: Meus avós concordaram com o casamento, porém, desaprovavam a mudança de cidade. Depois, reconhecendo que eles tinham uma nova vida, e que tinha direitos de constituir como desejassem a nova família e que não impediriam que dessem esse passo juntos. Meu avô, sendo sempre um homem duro, advertiu meu pai dizendo:
Vô Juarez: Cuide bem da minha filha! Cuide bem do meu neto, caso contrário vou atrás de você onde você estiver.
Júlio: Meu sogro, é claro que cuidarei bem deles, eu amo mais minha família que tudo que tenho na vida. Ah! Eu quero que vá nos visitar sempre, para continuar as nossas conversas, da mesma forma que sempre o visitaremos. Vocês moram nos nossos corações. Você me disse que não perdeu uma filha, mas ganhou um filho... Hummm?
Vô Juarez: Um filho já velho? Hummmm... (risos) Claro que sim, meu filho. Estava apenas testando você. (risos)
Julia: Essa dureza do meu avô era apenas brabeza externa, porém, era um homem formidável, e ajudou financeiramente meu pai para que se estabelecesse na nova cidade. Meu avô, sempre nos visitava, e ficava horas conversando e bebendo com meu pai. Se tornaram muito mais grandes amigos, se tratavam como respeito de pai e filho, gerando inclusive ciúmes na minha mãe, que comentava com ele.
Juliana: Meu pai! Acho que você ama mais o Júlio que a mim... (risos)
Vô Juarez: Não é assim filha! Amo os dois, mas é que você fica mais tempo conversando com sua mãe... e Júlio tornou-se o meu companheiro de longas prozas...
Juliana: Pai! Júlio! Como vocês tem tanto assunto para conversar. Toda vez que vocês se encontram, ficam horas conversando... conversando, e esquecem até das esposas de vocês. Nós existimos, só para constar nessas conversas de vocês... (risos)
Julia: Como declarei no início, eu escolhi seguir a cultura da minha mãe, que é bem diferente do caminho escolhido por meu pai e por meu irmão primogênito Juliano, esse que a minha mãe está esperando, que se tornou um grande praticante das magias das trevas.