A raiva que sentia em relação a Milena queimava dentro de mim com uma intensidade que era quase física. O modo como ela parecia ser a estrela no centro comunitário, a maneira como todos pareciam encantados com ela... era insuportável. Eu não podia permitir que uma estrangeira tomasse o lugar de alguém que, ao meu ver, tinha mais direito a estar ali. Cada vez que a via, a sensação de injustiça se tornava mais opressiva.
Na minha mente, ela era uma usurpadora. A maneira como os homens, e até mesmo alguns dos membros da comunidade, olhavam para ela era nauseante. Eu sabia que o chefe do morro, Maycallison, estava especialmente interessado nela. A ideia de que ela pudesse estar manipulando-o para obter alguma vantagem me enchia de fúria. Eu via através das aparências e sabia que o interesse dele por ela não era apenas de caráter social ou comunitário. Havia algo mais, algo muito mais pessoal e, possivelmente, romântico.
Entrei na sala da minha avó, Dona Celeste, com o rosto carregado de um descontentamento m*l disfarçado. Ela estava sentada na poltrona, lendo um livro, e levantou os olhos para me encarar quando entrei.
— O que foi, minha filha? — perguntou, notando imediatamente meu estado perturbado.
— Aquela Milena está causando problemas — comecei, a voz tremendo com a intensidade da minha irritação. — Ela está roubando a atenção de todos, incluindo a sua. E o pior é que o Maycallison está completamente enredado por ela.
Dona Celeste suspirou, fechando o livro e me observando com uma expressão de cansaço. — Você está exagerando, Márcia. A menina parece apenas estar tentando fazer sua parte.
— Não é só isso — retruquei, minha voz ficando mais aguda. — Eu a vi em ação. Ela está sempre recebendo elogios, e não consigo entender o motivo de todo esse alvoroço. Maycallison a ajuda demais. É óbvio que ele tem algum tipo de interesse pessoal nela.
Dona Celeste balançou a cabeça. — Você tem certeza de que não está sendo um pouco ciumenta? A vida não gira em torno de um só indivíduo, Márcia. Devemos ser pacientes e confiar que as coisas vão se ajustar com o tempo.
— Não se trata apenas de ciúmes — insisti, irritada. — Eu vejo o que está acontecendo, e eu não vou ficar parada enquanto ela tenta usar seu charme para manipular todos à sua volta.
Decidi que precisava agir e fui procurar Maycallison. Ele estava em seu escritório, a atmosfera carregada de um aroma de tabaco e um leve toque de bourbon. Quando entrei, ele me cumprimentou com um sorriso cortês.
— Márcia, que surpresa — disse ele, gesticulando para que eu tomasse um assento. — Como posso ajudá-la?
Sentei-me, tentando manter uma postura meiga e ao mesmo tempo firme. — Maycallison, gostaria de falar com você sobre Milena. Eu a vi no centro comunitário e não posso deixar de me preocupar com a maneira como ela está sendo tratada. É como se todos estivessem completamente encantados com ela.
Ele me observou com um olhar de interesse, mas não fez nenhum comentário imediato. — E qual é a sua preocupação específica com ela?
— Eu sinto que ela está manipulando a situação para seu próprio benefício. E eu sei que você está sendo extremamente generoso com ela. Não consigo entender por quê.
Maycallison franziu a testa, seu olhar tornando-se mais sério. — Márcia, você precisa ter certeza de suas afirmações antes de falar assim sobre alguém. Todos aqui têm o direito de serem tratados com respeito, incluindo Milena. Sua preocupação é compreensível, mas suas palavras soam como se você estivesse projetando suas próprias inseguranças.
Eu fiquei surpresa com a resposta dele. Esperava um pouco mais de compreensão da parte dele, mas em vez disso, parecia que ele estava me repreendendo. — Eu só quero garantir que as coisas sejam justas para todos. Milena pode ser uma boa pessoa, mas sua chegada trouxe um tumulto desnecessário.
Maycallison me olhou com um olhar impenetrável. — A justiça é um conceito relativo. Todos têm suas próprias lutas e desafios. Às vezes, precisamos ser mais compreensivos e menos apressados em nossos julgamentos.
Senti uma frustração crescente. — Claro, entendo. Apenas não quero que essa situação crie problemas para ninguém, incluindo para você.
Com um aceno de cabeça, ele pareceu dar por encerrada a conversa. — Agradeço sua preocupação, Márcia. Vou considerar suas observações. Se precisar de mais alguma coisa, estarei à disposição.
Saí do escritório dele com uma sensação de derrota. As palavras de Maycallison haviam sido um golpe direto no meu plano de expor Milena. Eu sabia que precisava fazer algo mais para garantir que meus interesses fossem protegidos.
Chegando em casa, a raiva e o desespero me tomaram por completo. Olhei para o espelho e vi meu reflexo, com o cabelo liso e comprido caindo sobre meus ombros. Uma ideia perturbadora surgiu na minha mente. Se não pudesse combater Milena diretamente, teria que usar outro método. Em um impulso furioso, peguei uma tesoura e comecei a cortar meu cabelo. O corte foi abrupto e desajeitado, deixando meu cabelo na altura dos ombros. A sensação de cortar o cabelo foi quase terapêutica, mas também me deixou ainda mais enfurecida.
Enquanto cortava, murmurei para mim mesma. — Eu não vou deixar que essa estrangeira se saia bem. Quando eu tiver a oportunidade, vou acabar com ela. Vou fazer o que for necessário para garantir que ela saia do meu caminho.
Com o cabelo agora muito mais curto, minha raiva parecia ter um foco mais claro. Eu me sentia pronta para lutar com tudo o que tinha. A sensação de vingança era quase doce, e eu estava determinada a garantir que Milena entendesse o seu lugar no morro.
A fúria e a determinação que eu sentia eram palpáveis. Não ia deixar que nada me impedisse de alcançar meus objetivos. E, se isso significava usar métodos menos convencionais e, até mesmo, jogar sujo, então era exatamente o que eu faria.
A guerra estava apenas começando, e eu estava preparada para fazer o que fosse necessário para garantir a minha vitória. Milena não tinha ideia do que estava prestes a enfrentar, e eu estava pronta para me certificar de que ela pagasse o preço por sua presença no morro.