O Morro Dos Prazeres: O Outro Lado Da Favela

Capítulo 10

Eu estava organizando alguns materiais no centro comunitário quando ouvi falar pela primeira vez de Márcia. O nome surgiu em uma conversa casual entre alguns dos membros da comunidade. Eles falavam sobre a neta da senhora do hotel, uma jovem aparentemente religiosa e muito devota.

Mais tarde, enquanto estava no centro comunitário, a porta se abriu com um estrondo. A figura que entrou era completamente diferente de qualquer pessoa que eu havia conhecido no morro até então. Márcia, com seus cabelos presos em um coque severo e vestida com roupas recatadas, parecia sair diretamente de um mundo diferente. Sua presença era dominada por uma aura de religiosidade extrema.

Ela não perdeu tempo e se dirigiu a mim com um olhar de reprovação. — Você é Milena, não é? — perguntou, a voz carregada de um tom acusador.

Fiquei surpresa com a abordagem direta e não soube ao certo como responder. — Sim, sou eu. Posso ajudar com alguma coisa?

Márcia avançou um passo, sua expressão mostrando uma mistura de desdém e curiosidade. — Ouvi dizer que você tem chamado a atenção de alguns membros da nossa comunidade. O que você tem a dizer sobre isso?

Eu fiquei sem palavras por um momento. Não fazia ideia do que ela estava falando e o tom acusador me deixou desconfortável. — Não entendo o que está acontecendo. Eu apenas estou aqui para trabalhar e começar uma nova vida. Não tenho interesse em causar problemas.

Márcia me observou com um olhar crítico, como se estivesse avaliando minha sinceridade. — A questão é que você está associada a pessoas influentes, e isso não é bem visto por todos aqui. Quero saber qual é a sua verdadeira intenção.

Eu me sentia cada vez mais desconfortável. A última coisa que eu queria era causar problemas ou ser m*l interpretada. Tentava encontrar uma resposta que pudesse acalmar a situação. — Eu não estou aqui para causar problemas. Apenas quero ajudar e encontrar meu lugar na comunidade. Não tenho interesse em me envolver com questões que não conheço.

Márcia parecia não estar completamente satisfeita com minha resposta, mas seu olhar inquisidor começou a se suavizar. — Espero que você realmente esteja aqui para isso. Nossa comunidade valoriza a honestidade e a integridade.

Assenti, aliviada ao ver que ela estava começando a se acalmar. — Sim, pode ter certeza de que minhas intenções são boas.

Com um último olhar de avaliação, Márcia se virou e começou a se afastar. Sua presença era marcante e sua aura religiosa parecia preencher o ambiente. Enquanto ela saía, eu não pude deixar de sentir uma mistura de alívio e preocupação. A visita de Márcia havia sido um lembrete de que minha situação no morro ainda estava cheia de desafios, e que eu precisava ser cautelosa.

Assim que a porta se fechou atrás dela, respirei fundo, tentando colocar os pensamentos em ordem. Havia uma sensação de inquietação que não conseguia ignorar. A vida no morro estava se tornando mais complicada do que eu havia previsto, mas eu estava determinada a enfrentar qualquer desafio que surgisse. Era a única forma de seguir em frente e construir a nova vida que eu tanto desejava.